segunda-feira, 30 de junho de 2008

Imaginação e Inovação

O estudo da história amplia cada vez mais suas fontes, a metodologia e a própria maneira de escreve-lá. Desta forma, nota-se, entre muitas outras, uma nova abordagem ou um novo tipo de história denominada de “história vista de baixo”, na qual se aplica um corretivo a “história da elite” e permiti uma mescla entre as experiências do cotidiano das pessoas com as temáticas tradicionais analisadas pela história até então. Por exemplo, tratando-se de uma guerra, a história não será analisada somente pelo ponto de vista do general, e sim pela relação da perspectiva do soldado com o general.
Percebe-se, nesta abordagem, que os historiadores utilizam de fontes documentais oficiais ou não, e conseguem adaptar informações precisas sobre as experiências, costumes e modos de vida dos indivíduos passados, em ligação ao contexto político e econômico de determinada época. Além disso, verifica-se uma forte análise sobre as influências que a classe dominante e a classe subalterna incorrem-se entre si, demonstrando, assim, o caráter cíclico das classes sociais.
Por isso mesmo, observa-se o auxílio da sociologia e da antropologia em alguns estudos da história vista de baixo. Uma vez que, a história social admite constatar os problemas e a formação de uma sociedade, bem como a atuação dos dominados nos grandes movimentos. E, a antropologia aborda os aspectos culturais das comunidades de certos povos e etnias, a serem relacionados com os tópicos exteriores a elas.
No entanto, a tentativa de estudar história deste modo envolve algumas dificuldades, relativas as evidências, aos conceitos e as ideologias. Pois, é lógico que quanto mais antiga a época a ser estudada, mais restritas serão as fontes evidenciais das classes inferiores. E, há obstáculo, muitas vezes, em conceituar “o que é baixo?”, por exemplo: o próprio povo, em algumas épocas, pertencia a variados grupos, estratificados econômica, cultura e sexualmente. Paralelo a isso, ainda existe a questão de desenvolver um trabalho de acordo com uma única visão tradicional, não abrindo espaço para diferentes interpretações.
Mesmo assim, a história vista de baixo constitui um ramo de inovação e imaginação aos historiadores, permitindo uma abrangência das temáticas estudadas. Proporciona, principalmente, um meio para reintegrar a história daqueles grupos sociais que podem ter pensando tê-la perdido, ou que nem tinham conhecimento da existência de sua história. Afinal, o que seria do futuro da humanidade se não fossem os relatos passados de nossos mais diversos ancestrais?

REFERÊNCIA:
BURKE, Peter. A escrita da história: novas perspectivas.
Tradução de Magda Lopes – SP: Editora Unesp. 1992.


ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL ''O DIÁRIO'' (BARRETOS/SP), EM 27 DE JUNHO DE 2008

quarta-feira, 25 de junho de 2008

Noites de Festanças

Em virtude das comemorações, festividades, homenagens, simpatias e tradições do mês de junho, analisemos a história e as curiosidades da festa junina. Percebe-se que, nesta época, todo o Brasil, mesmo tendo diferentes regiões, festeja em ritmos e danças semelhantes à cultura caipira. Isso demonstra as fortes ligações de um povo e outro, interagindo mutuamente na construção cultural do país.
A festa junina originou-se de algumas celebrações de rituais de fertilidades de povos bárbaros da Europa, norte da África (egípcios) e Oriente Médio (sumérios e sírios), no período de solstício de verão. Posteriormente, a Igreja Católica adaptou estas celebrações para as comemorações do dia de São João (24 de junho). Por isso, no princípio era chamada de “Festa Joanina” e por ser no mês de junho, logo, passou a denominar-se: “Festa Junina”; homenageando Santo Antônio, São Pedro e o próprio São João.
Nota-se, desta forma, diversos elementos culturais vindos de países distintos e adaptados às regiões correspondentes. Por exemplo, a quadrilha é uma dança nobre francesa, mas, originada de contra-danças inglesas do século XVIII (contry dance = dança rural); a tradição de soltar fogos veio da China, que é o país fabricador da pólvora e a dança de fitas é proveniente dos países ibéricos. Além disso, verificam-se doces, salgados e bolos derivados do milho, em vista de o mês de junho ser a época de sua colheita.
No Brasil, alguns historiadores afirmam que a festa junina foi trazida pelos portugueses no período colonial. Atualmente, no nordeste as festas ganham mais expressão, pois, por ser uma região de muita seca e o mês de junho apresentar chuvas, os habitantes comemoram a melhora na agricultura e também na economia, já que o consistente turismo gera ainda o aumento de empregos. Na região sudeste é comum a realização de festas populares como as quermesses nas Igrejas, empresas e até mesmo nos sindicatos.
Em essência, o mais relevante significado que as festividades juninas podem oferecer é a interação dos povos. Posto que, desde sua origem até os dias atuais sempre foram influenciadas por diversas composições culturais e formadas com as peculiaridades dos lugares. Portanto, divirtam-se “nesta noite de festança, todos caem na dança, alegrando o coração, foguetes, cantos e troca na cidade e na roça, em louvor a São João”.


REFERÊNCIAS:
www.suapesquisa.com
www.brasilescola.com
Música de João B. Filho “Pula a fogueira”.
ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO" (BARRETOS/SP), EM 20 DE JUNHO DE 2008.

sexta-feira, 13 de junho de 2008

O Caipira e a Civilização

Partindo da premissa de que a identidade cultural brasileira foi formada através da miscigenação de brancos, negros e índios, analisemos as especificidades de um elemento parcial resultante dessa mistura: o caipira. Para a sociedade capitalista, este indivíduo, nada mais é do que alguém de origem simples e atrasada, que se veste mal e fala errado. No entanto, definições, como esta, nada mais são que reducionismos ignorantes, vinculados com a não compreensão da sociedade regional. Reflete-se, então, quem é o caipira?
A palavra caipira deriva-se do tupi caapora, sendo caá = mato e porá = habitante, ou seja, “habitante do mato”. De acordo com Antônio Candido, em seu livro “Parceiros do Rio Bonito” (1975), o caipira é proveniente do cruzamento do índio nativo com o português colonizador. Este processo acelerava-se na medida em que esses indivíduos se fixavam no interior paulista, entre os séculos XVI ao XVIII (período do bandeirantismo).
Por um lado, o caipira herdou do índio a familiaridade com a natureza, o faro na caça, a crença nas ervas, o encantamento pelas lendas, as festividades, alguns ritmos e danças (como o cateretê e a catira). Por outro lado, a língua, alguns costumes e crenças religiosas, a música e a viola são fontes recebidas dos portugueses.
No mundo de hoje, globalizado e avançado em tecnologia, alguns destes costumes estão sendo perdidos. Além disso, o caipira é estereotipado pela sociedade contemporânea com preconceito (por exemplo em piadas), e, isto acontece justamente por ele negar a urbanização. Em outras palavras, é um sujeito marcado pela economia de subsistência e rural, sem necessidade de acumular capital e vender seu excedente de produção. Entretanto, a tendência atual é que o caipira também se torne um trabalhador assalariado e participe da economia de mercado.
Resgatemos, portanto, a cultura caipira! Este indivíduo ligado à natureza, a musicalidade, a religião, as festas folclóricas e ao coletivismo, não pode se perder! Talvez o que há de mais belo no caipira seja a resistência de brasilidade, no momento em que ele utiliza da viola para declamar seus sentimentos de alegria, tristeza ou esperança em relação a sua vida e ao país. Em síntese, é como disse Almir Sater, na música “Peão”: “... pelo alto sertão, que agora se chama não mais sertão, mas de terra vendida... civilização”.


REFERÊNCIAS:
CANDIDO, Antônio. Parceiros do Rio Bonito – estudo sobre o caipira
paulista e a transformação dos seus meios de vida. 1975.
www.unimep.br
www.ub.es/geocrit/sn-69-22.htm
ARTIGO PUBLICADO EM 13 DE JUNHO DE 2008, NO JORNAL "O DIÁRIO" (BARRETOS/SP)

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Conhece-te a ti mesmo!

Responda rápido: Qual o local em que qualquer pessoa absorve conhecimento teórico-prático e aprende a valorizar seu patrimônio histórico-cultural? Ora, o Museu! Em locais, como este, o acesso ao público em geral, promove, entre muitas outras coisas, a inclusão social dos indivíduos com a construção da história de seu espaço e permite a conservação da memória como fonte para pesquisas cientificas.
A origem da palavra “museu” é do grego mouseion e significa “templo das musas”. Por isso, percebe-se que, na mitologia, era um local de inspiração divina, de onde provinham as musas que estimulavam a criatividade dos artistas e intelectuais das ciências. Historicamente, os primeiros museus foram criados no século XVII, em países como a Itália e Inglaterra, através de doações particulares. Em 1793, no governo da Revolução Francesa, foi instaurado o primeiro museu popular, o Museu do Louvre. E, no Brasil, tivemos o Museu do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico de Pernambuco, em 1862.
Nos dias atuais, segundo o site do Ministério da Cultura, são contados sessenta mil museus em todo o mundo; sendo três mil deles no Brasil, encontrados somente em 20% dos municípios brasileiros. No ano de 2003, foi instituída a “Política Nacional dos Museus – Memória e Cidadania”, com a finalidade de promover a valorização, a preservação e a fruição destes patrimônios. A partir de então, muitos resultados foram alcançados, como os aumentos de visitação, dos investimentos em capacitação dos profissionais, da oferta dos cursos de graduação em museologia e dos movimentos de incentivo a encontros culturais.
Em Barretos, a Prefeitura Municipal administra o Museu Histórico, Artístico e Folclórico “Ruy Menezes”. Este, por sua vez, além do próprio contexto histórico de seu prédio (inaugurado como Paço Municipal em 1907), possuí também acervos como peças em exposição, jornais, fotografias, pinturas e documentos, a fim de estimular e auxiliar os cidadãos nos mais diversificados trabalhos.
Por conseguinte, de acordo com o art. 2º do Projeto de Lei nº 7568/2006, que, institui o Estatuto dos Museus; os princípios fundamentais dos mesmos estão relacionados com a valorização da dignidade humana. Nesse sentido, os museus, por manter uma relação entre o presente, passado e futuro, se instituem como orientação para o desenvolvimento da pessoa humana, para que tal pessoa se esclareça como cidadão e reconheça a importância da memória. Em suma, conhecer museus é conhecer a ti mesmo!

REFERÊNCIAS:
www.cultura.gov.br
www.museus.gov.br
www.museus.art.br
www.geocites.com

ARTIGO PUBLICADO EM 06 DE MAIO DE 2008, NO JORNAL "O DIÁRIO" (BARRETOS/SP)