sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Patrimônio Escolar


“Sejamos bons brasileiros, forçando no ensinar,
Sejamos pois escudeiros, na defesa do escolar”
(Aluna: Salomé V. Maittan – Hino da E.E “Cel. Almeida Pinto – 1953)

Através do estágio realizado na E.E. “Cel. Almeida Pinto”, percebi o quão importante é a preservação da memória escolar e quanto significativa é a reflexão sobre a história para os alunos das mais diversas escolas. Neste estabelecimento observei, entre muitas coisas, algumas atitudes que acarretam na rica defesa do próprio patrimônio escolar. Obstante de tentar traçar um tradicionalismo, o interessante de tal escola é a articulação de alguns artefatos do passado com atividades do presente.
A começar pelo próprio prédio escolar, construído em 1944, quando ainda era denominado “3º Grupo Escolar”, sendo o mesmo inaugurado somente em 15 de setembro de 1951. Característico da arquitetura da década de 50, é uma obra de engenharia edificada em dois pavimentos, localizada na Praça São Sebastião, construído mesmo para ser uma instituição de ensino. É muito belo ver que por maiores adaptações que foram feitas na parte exterior, o prédio continua o mesmo, preservado!
A sala da entrada principal já demonstra certa sensibilidade quanto à história da escola. Na parede do lado direito está exposto um quadro com a fotografia do patrono, o famoso Cel. Almeida Pinto, que, segundo depoimentos, prestou em sua época “eciclopédicos serviços à população sertaneja, como curandeiro, advogado, escrivão, jornalista, professor”.
Em outra parede esta anexado um interessante painel em azulejo pintado, onde está desenhado a figura do Padre Anchieta escrevendo um poema. É curioso notar que tal quadro foi doado pela ex-diretora, Prof. Idalina Silva, em razão da comemoração de seu cinqüentenário de magistério. Além do mais, são guardados também os acervos documentais da origem da escola, como livros de ponto, atas e fichas de matrículas.
A atitude de preservar não somente o prédio, como também alguns artefatos da história da própria instituição, deve ser valorizada como uma ação de sensibilização à sociedade. Fica, portanto, o apelo aos alunos que continuem conservando o rico patrimônio escolar que lhes são próprios, a disseminação do conhecimento patrimonial pelos professores e os PARABÉNS ao Diretor Gerson Rodrigues, a Vice-Diretora Vera Gori, a coordenadora Magda Zimaro, ao corpo administrativo e docente por estimular o zelo pelo Patrimônio, pela História!

REFERÊNCIAS:
ROCHA, Osório. Barretos de Outrora. (página 238)1954.
Documentos da E.E. “Cel Almeida Pinto”.

A Esposa e o Coronel

A vizinha cidade de Bebedouro foi fundada em 1884 e também vivenciou o atuante sistema político da época: o Coronelismo. Em poucas palavras, o Coronelismo foi um fenômeno histórico visto em várias cidades do Brasil, a partir do século XIX, onde muitas pessoas eram, por vezes, manipuladas politicamente por uma determinada elite agrária conforme as peculiaridades de cada local.
O caso de Bebedouro é um tanto quanto interessante, na medida em que apresenta uma particularidade curiosa. Segundo os estudos da licenciada em História, Marilena Correia, o mais famoso Coronel da cidade era o Cel. João Manoel, uma personalidade que na época exerceu grande influência e realizou importantes projetos para Bebedouro, como a instituição da Estação Ferroviária da Cia. Paulista em 1902.
Pois bem, todo este cenário demonstra um constante desenvolvimento do município. Contudo, a estudiosa do caso indagou: Quem assegurava o poder do Coronel? Foi então, que percebeu a participação ativa das mulheres como sustentação do poder coronelístico. Aprofundando o tema, notou-se a instituição “Senhoras da Caridade” como um agente de informações para o Coronel. Tal instituição era constituída por sua esposa, Maria Novaes Manoel, e algumas outras mulheres. Deste modo, elas organizavam festividades e passeios afins de sempre estarem atentas à vida social da cidade e, depois, instruir o Coronel, informando-lhe dos mais diversos casos.
Ainda mais interessante é um artigo publicado no primeiro jornal de Barretos, “O Sertanejo”, em fevereiro de 1902, onde o autor escreve sobre as comemorações da inauguração da Cia. Paulista de Bebedouro. Ao descrever os brindes levantados na festa, ele ressalta, in verbis: “Por ultimo fallou ainda a intelligente menina Geny Manoel, filha do Cor. João Manoel, saudando tambem a Companhia. Todos em geral, mas especialmente a ultima, foram, ao terminar, calorosamente, applaudidos.” Esta citação pode ilustrar também os estudos sobre as mulheres, de fato a filha do Coronel fora muito aplaudida, talvez porque tinha forte atividade na vida comum dos bebedourenses, sustentando também o poder de seu próprio pai.
Por fim, um tanto esquecidas pela história tradicional, as mulheres dos tempos passados estão sendo valorizadas pela historiografia das mentalidades. Parafraseando o final do artigo do jornal “O Sertanejo”: “um HURRAH enthusiastico” às mulheres que lutaram, de algum modo, pela política de cada época!

REFERÊNCIA: Apresentação da tese de Marilena de Almeida Correia, na “Semana de História” da FAFIBE – em setembro de 2008 e
Documentos do Museu “Ruy Menezes”.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

O Trabalho do Historiador

Atualmente, a profissão de historiador, seja em licenciatura ou bacharelado, parece não estar sendo muito procurada, isso talvez aconteça por causa da falta de informações sobre o mercado de trabalho para os jovens vestibulandos. Nessa era de ascensão do capitalismo, as profissões são frias e previamente escolhidas pela juventude, com a visão de ver o retorno do lucro investido nos suados anos de uma faculdade. De fato, quando se escolhe a opção “história” em um vestibular, com certeza não foi pensando no lucro, e mais tarde descobrem-se as várias áreas que o mercado de trabalho do historiador pode apresentar.
Gradativamente, em cerca de dez anos para cá, o profissional de história conquistou um lugar na mídia. Com o acontecimento do dia 11 de setembro em 2001, destruição das Torres Gêmeas em Nova York (EUA), o historiador passou a ser mais requisitado em vista de sua capacidade de explicar e analisar os fatos. Por este motivo, muitas vezes o graduado em história é convocado para entrevistas e/ou palestras em escolas, universidades, redes de televisão ou emissoras de rádios.
No âmbito de licenciatura, para ministrar aulas em redes municipais ou estaduais, o historiador precisa prestar concursos e depois se efetivar. Já no ensino superior as aulas são ministradas de acordo com a sua especialização, isto é, os docentes de universidades são pesquisadores de teses acadêmicas e suas aulas são focadas a partir dos assuntos dessas teses.
Outra abordagem do mercado de trabalho do historiador é a preocupação social com a memória e, com isso, a atuação do mesmo em museus com o cargo de curador. Nesse sentido, cabe ao profissional preservar os documentos, participar das pesquisas, organizar os acervos, conscientizar as pessoas sobre a importância do patrimônio histórico e atualizar a instituição com as novas tecnologias. Além disso, o historiador também pode trabalhar em “Casas de Cultura”; promoção de livros junto às editoras; auxiliar em pesquisas iconográficas; na política - como assessor de planejamento, projetos e pesquisa; como memorialista empresarial; como analista de pesquisa para órgãos de imprensa e intérprete de documentos originais.
Com efeito, aquele que optar pela profissão de “historiador” terá um vasto campo de trabalho, além da importante bagagem cultural que se absorve com as leituras e análises. Sim, o historiador é um leitor compulsivo. É alguém é apaixonado por conhecimento, e principalmente por disseminar entre as diferentes pessoas o que há de comum entre elas, a cultura, a arte, a história!

REFERÊNCIA:
Palestra com os docentes do curso de História da FAFIBE – na “Semana de História”.
ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL ''O DIÁRIO'' (BARRETOS / SP), EM 10 DE OUTUBRO DE 2008.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

A Poesia do Museu

São várias as intenções das pessoas quando visitam o nosso Museu “Ruy Menezes”, desde uma visita cultural escolar, uma pesquisa acadêmica ou até mesmo em busca de agradáveis recordações. Costumo dizer a estas pessoas, principalmente as crianças, que olhem para as peças não como uma “coisa velha” e sim como um objeto único, que caracterizou uma época e que foi importante para o homem. Ou seja, é necessário manter um olhar “histórico”, crítico, e ao mesmo tempo “sentimental” quando se entra no Museu. Ainda mais, é preciso também despir-se da mentalidade capitalista que temos para verdadeiramente sentir e entender a nossa história, nossa arte, nossa cultura!
Para demonstrar com propriedade os sentimentos e as informações que o Museu pode despertar nas pessoas, cito dois fatos ocorridos no mês de setembro que apesar das peculiaridades, transitaram por este “olhar histórico e sentimental”:
No dia 19 de setembro, a Deputada Estadual Luciana Costa visitou o Museu e neste dia ainda permanecia a Exposição “Reminiscências... Teatro Barretense”. Desta forma, quando a Deputada deparou-se com o cartaz em homenagem a saudosa atriz barretense Eunice Espíndola, seus olhos encheram de lágrimas e os sentimentos de emoção e felicidade vieram à tona. Luciana Costa relatou suas recordações sobre Eunice, pois a atriz foi sua professora no primário. E, além de ter proporcionado cultura a Luciana, Eunice também a alimentava com sua merenda, “pão com manteiga”. Sendo assim, o Museu possibilitou à Deputada meigas lembranças de um passado feliz.
Já no dia 21 de setembro, recebemos como visitante a advogada Thaíz Martinez, da capital paulista. Thaíz é deficiente visual, mas, isso não foi motivo para que ela não se encantasse pelo Museu, tanto pelo ambiente, quanto pelas peças. Acompanhada por sua amiga e diretora do Museu “Ruy Menezes”, Sueli Fernandes, a advogada sentiu cuidadosamente com suas mãos os mais variados objetos. Fascinou-se, pois, com a máquina de escrever de uma tecla só (Gundka), o Gramofone, o órgão a fole e a sela feminina. Percebemos então que o Museu despertou em Thaíz um sentimento do “novo” e que será guardado sempre em sua memória.
Nestes dois exemplos distintos, um de “recordação” e outro de “novidade”, encontramos evidências suficientemente capazes de confirmar o quão bom, fascinante e importante é uma visita ao Museu. Afinal, a palavra Museu vem do grego mouseion e significa um local inspirado por musas. Por isso, entendam como “musas” a poesia sentida em um lugar que inspira e respira por história e arte!
Visite-nos!
ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL ''O DIÁRIO'', EM 03 DE OUTUBRO DE 2008.