sexta-feira, 28 de agosto de 2009

O “SER” BARRETENSE



Nesta semana a cidade comemorou seus 155 anos de fundação e é nesta época do ano que nós, barretenses, nos sentimos envolvidos pelo sentimento de união. Este é o momento de refletirmos sobre o que é ser barretense? Qual foi nossa evolução? E onde queremos chegar?
É interessante lembrar que o dia 25 de agosto é simplesmente a “data oficial” da fundação da cidade, isto é, o pequeno arraial já possuía vida antes deste período e os nossos patriarcas Barreto e Marques eram os lavradores das respectivas fazendas Fortaleza e Monte Alegre. Datam de 1830 os indícios dos primeiros povoamentos da nossa região, que era conhecida como o “6º quarteirão de Jaboticabal”. Digamos, porquanto, que foram estas primeiras famílias que deram vida e “cor” a terra que hoje chamamos de Barretos e ao povo que hoje somos nós, barretenses.
O dia “25 de agosto de 1854” marcou a fundação de Barretos porque foi o dia em que as famílias Barreto e Marques se juntaram para assinar o documento de doação das terras para o Divino Espírito Santo. As fontes históricas relatam que esta era a vontade do patriarca Chico Barreto e que graças a este ato foram doadas pela família Barreto 62 alqueires de terra e pela família Marques 20 alqueires de terra em prol da construção da Capela do Divino Espírito Santo. Com a edificação da capela, a pequena população da vila foi morar ao redor do santuário e a cidade cresceu a sua volta, sendo este o motivo da Igreja Matriz do Divino Espírito Santo concentrar-se no centro da cidade de Barretos.
Os Barreto foram desaparecendo, alguns forasteiros aqui chegaram, fixaram residência e os costumes foram também modificados. Passamos a ser em 1885 a “Vila de Espírito Santo de Barretos” e em 1891 simplesmente Comarca de “Barretos”. Vivemos diferentes conjunturas da história do Brasil, desde a República Velha até a redemocratização com o fim da Ditadura Militar, e permanecemos sempre aqui com as nossas peculiaridades fazendo da nossa cultura o nosso cartão-postal. Alguns prédios antigos resistem em pé e demonstram a todos que a cidade passou por estes momentos e a “tradição” ainda é seu sobrenome.
Ao todo, até hoje, passamos por 35 prefeitos oficiais e pelas mais diversas tendências da sociedade, contudo é difícil dizer sobre uma “evolução”, pois cada época, desde a origem até os dias atuais, teve seu valor e suas limitadas condições de melhorar a cidade. Se existe uma linha do tempo da história de Barretos, extraordinariamente ela não é linear e crescente, ela é circular e merecedora dos mais altos “Parabéns”, porque em todas as épocas foram germinadas as sementes da boa fé, não por todos é verdade, mas pelos verdadeiros barretenses. Porque ser barretense, não é somente ser descendente direto ou indireto de Chico Barreto e Ana Rosa, é ser abençoado por estes dois e ser apreciador desta história tão grandiosa. E se ainda queremos chegar a algum lugar, é nos dias em que todos serão orgulhosos desta cidade caipira, envolvente e histórica!

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO" (BARRETOS/SP), EM 28 DE AGOSTO DE 2009.

AO CAMPEÃO OSMAR MARCHI



“Osmar Marchi de São Paulo, não teve animal para jogá-lo no chão”
(Música de “Os Jassanãs” – Primeiro Rodeio Furacão)


No clima do mês de agosto, o Museu Histórico, Artístico e Folclórico “Ruy Menezes” apresenta a Exposição “Paixão sem limites” em homenagem ao bicampeão de rodeio em Barretos, Osmar Marchi. A exposição foi aberta no último dia 15 e permanecerá no local até o dia 30 de agosto. Na abertura aconteceram muitos momentos emocionantes como o encantador toque do berrante, declamação de poesias, música caipira ao vivo e inúmeras homenagens sinceras a Seu Osmar. Seus olhos brilhavam...
Mas, se existiu algo que chamou muita atenção em todo momento foram as fotografias. Belas fotografias da vida de um dos maiores e autênticos peões paulistas, que, depois de identificadas por Seu Osmar pareciam falar por si só. É de se admirar a biografia deste barretense no alto de seus 70 anos, casado com a carinhosa Dona Fátima, pai de Rosemeire, Fabiana e Osmar Filho (também peão) e avô de cinco netas.
As primeiras imagens apresentam Osmar Marchi com 17 anos quando era jóquei e já demonstram a habilidade e a paixão do peão pelos animais. Só deixou de ser jóquei quando ganhou peso, mas continuou sua lida com os animais. Sua primeira participação no rodeio foi em 1964 e ficou em terceiro lugar. As fotografias da década de 60 apontam Osmar Marchi como um peão sereno, vencedor de dois rodeios em Barretos nos anos consecutivos de 1966 e 1967.
Contudo, são as fotografias da década de 70 que marcam Osmar como um peão maduro e valente. As figuras lembram aqueles filmes de “bang-bang” e “faroeste”, com a iluminação amarelada, os peões com suas típicas indumentárias, sem faltar o lenço no pescoço, chapéu, botas de couro e fivela, além da pose com as mãos no bolso da calça, a expressão séria do rosto e os bigodes muito bem definidos.
O famoso peão que foi campeão de rodeio em mais de vinte cidades, despediu-se da profissão em 1979, entretanto, nunca deixou de trabalhar neste ambiente de fazendas e animais. Atualmente, Osmar Marchi é um homem experiente, religioso, muito simpático e dono de histórias sensacionais. Parabéns ao grande campeão de ontem, hoje e sempre, Osmar Marchi, a lenda do rodeio barretense.
Leitores, visitem a Exposição, vale a pena!

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO" (BARRETOS/S), EM 21 DE AGOSTO DE 2009.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

FASES E FACES DO CIGARRO



Todos sabem que há uma semana atrás tornou-se válida no Estado de SP a Lei Antifumo, proibindo o fumo em ambientes fechados de uso coletivo. Os fumantes que nos desculpem em não parar de falar nisso, mas, depois de um século das mais diversas propagandas em favor do tabaco, o cigarro finalmente passa a ser visto como grande inimigo de nossa saúde e o respeito aos não-fumantes invade o cenário paulista.
Já dizia o ditado “A propaganda é a alma do negócio” e com este lema a indústria do tabaco atingiu seus tempos de êxtase durante a segunda metade do século XX. Nesta época, a mentalidade dominante era buscar o estilo de vida “luxuoso” para uns ou “libertário” para outros, então a publicidade aproveita desta vontade humana para vender, em primeiro lugar, a ideia do estilo de vida que procuravam e, depois, o produto.
O público fumante se expandia, ainda mais na época da Ditadura Militar, onde os jovens expressavam seus atos de liberdade e fumar livremente era um deles. Mas, o maior público-alvo da publicidade do cigarro foram as mulheres! Era necessário conquistar o imaginário feminino e as marcas dos “cigarrettes” lançavam em seus cartazes imagens de bebês robustos e sadios! Além disso, eram sempre destacados os slogans de que fumar emagrecia, com isso, as mulheres sentiam-se mais próximas e seduzidas pelo produto. Fumar era o seu charme.
Nas décadas de 70 e 80, as imagens de modelos famosas, artistas do cinema antigo como John Wayne, personagens como “Papai-Noel” e profissionais como médicos e dentistas também eram fortes atrativos e referenciais nas propagandas. A partir dos anos 90, a preocupação com a saúde pública foi maior e as propagandas tabagistas perderam seus dias de glória. De anúncios coloridos e alegres, os maços de cigarro passaram a exibir imagens de pessoas gravemente doentes e debilitadas por conta do fumo.
Nos dias de hoje um novo passo foi alcançado, a Lei Antifumo, agora não só a preocupação com o fumante foi pensada, como também o respeito com o não-fumante foi garantido. Para alguns esta lei parece um fracasso, mas se não acreditarmos no apreço dos paulistas, que tipo de cidadãos somos nós? Do mesmo modo como nos acostumamos a usar cinto de segurança, cumpriremos também esta lei. Assim como a mentalidade a propaganda mudou, fumar não é mais bonito, é nocivo e desagradável. A verdadeira face do cigarro veio à tona e a nova propaganda é “Fumar agora, só lá fora”.

REFERÊNCIA: Revista “História Viva” de jul/2009, reportagem de Maria Berenice C. Machado.

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO" (BARRETOS/SP), EM 14 DE AGOSTO DE 2009.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

LUZ, PROJETOR, AÇÃO!




Se existe algo que quase todas as pessoas da geração atual apreciam e algumas têm até como hobby é assistir um bom filme. O cinema reúne tecnologias que incessantemente crescem e surpreendem cada vez mais os limites das artes visuais. Através dele podemos observar lugares e situações que não nos é possível conhecer, além de estimular sempre a nossa imaginação com acontecimentos passados ou futuristas. Ele também brinca com o tempo. Mas, como toda essa tecnologia começou?
A arte da imagem em movimento por muito tempo foi discutida, desde as invenções e experimentos com a câmara escura e a lanterna mágica. Em breve resumo, dizemos que foi no final do século XIX que a ciência óptica alcançou seu maior êxito, pois a Europa fervilhava novas idéias, criações e descobertas. Entre outras coisas, os cientistas desenvolviam máquinas que tiravam fotos em seqüência, que quando expostas rapidamente, davam impressão que as imagens se movimentavam. Contudo, foi com o aumento do tempo das gravações e da capacidade de projetar luz que nasceu a máquina progenitora do cinema: o cinematógrafo.
Criado pelos irmãos franceses e herdeiros de uma indústria fotográfica Auguste e Louis Lumière, o cinematógrafo possibilitou a projeção de filmes para o público, substituindo a ação de várias máquinas fotográficas para registrar um movimento. Em 1895, no Grand Café em Paris, aconteceu a primeira exposição pública de cinema mudo com os filmes de poucos minutos: “A saída dos operários das usinas Lumière”, “O almoço do bebê”, “O mar” e “A chegada do trem na Estação”.
Há quem diga que este último filme causou demasiado espanto nas pessoas, já que elas nunca tinham visto uma projeção de imagem tão grande e tão real, pensaram que o trem fosse de verdade e que iria ultrapassar a projeção e atropelá-las. Este tipo de espanto foi muito comum nesta época, afinal algo “novo” causa espanto em qualquer pessoa e assim é demonstrado nas palavras de Jorge Americano, sobre o cinematógrafo:
“Tinham inventado um retrato que se mexia. Era como se o retrato da gente, balançando na rede, ficasse balançando sempre. Não era como a lanterna mágica, que só mexia quando a gente empurrava um cabinho ao lado. Comprava-se o quadro, pendurava-se na parede e as figurinhas ficavam mexendo sempre, como na hora em que se tirou o retrato”.
O cinematógrafo, por fim, foi uma máquina valiosíssima na evolução das artes visuais e que, literalmente, “iluminou” o cinema mundial. O nosso Museu “Ruy Menezes” possui em seu acervo um belíssimo cinematógrafo da década de 50, que outrora pertenceu a E.E. Cel Almeida Pinto, vale a pena conferir e apreciar!

REFERÊNCIA: www.webcine.com.br
Revista “Nosso Século” de 1981.


ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO" (BARRETOS/SP), EM 07 DE AGOSTO DE 2009.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

DIÁLOGO DOS TEMPOS



Leitores, o que vocês pensam sobre aquela famosa linha do tempo que divide a História somente em marcos importantes? Os acontecimentos políticos de certa forma definiram os períodos da Pré-História, Idade Antiga, Idade Média, Idade Moderna e Idade Contemporânea. O período anterior ao surgimento da escrita humana ficou conhecido como “Pré-História”, como se nesta ocasião o homem não fizesse parte da história, descartando o significado de História como o estudo do homem e sua relação com as transformações do tempo.
Posteriormente, os marcos políticos e digam-se de passagem, europeus, tornaram-se os fatores desencadeadores de um tempo passado para o futuro. É como se o fim do Império Romano do Ocidente, a queda de Constantinopla e a Revolução Francesa ditassem o fim de uma era e de repente regessem as regras da nova geração. É claro que estes fatos foram importantes e até desenvolveram novos hábitos à humanidade, a própria Revolução Francesa irradiou seus ideais em várias partes do mundo. Mas, o que de fato move o tempo da História e faz com que surja uma nova era?
Esta questão é discutida há muito tempo e gera inúmeras reflexões, entretanto, vamos nos ater à “mentalidade” do homem, aquilo que muda mais lentamente, a resistência muda das coisas, as idéias, a cultura, a tradição. Este é o ponto que explica alguns hábitos que possuímos hoje e que surgiram num passado muito distante, porque independente do tempo histórico que vivemos somos parte da mesma espécie e compartilhamos dos mesmos costumes. Por exemplo, em vários momentos da história existiram homens e mulheres que desafiaram a mentalidade de uma época e inovaram seu próprio meio. Entre muitos estão, Jesus Cristo, Alexandre O Grande, Galileu Galilei, Joana D´Arc, Marie Curie, Santos Dumont, Einsten, Gandhi, Che Guevara e outros revolucionários.
Estes exemplos mostram que nenhuma era é mais ou menos atrasada ou adiantada que outra, o tempo não é linear e continuo, pelo contrário, é circular e complexo. Hoje, e quiçá no futuro, temos e teremos hábitos que foram originados na Idade Média ou até antes, como o casamento, a música, a desigualdade social e a tradição da religiosidade humana. Estas práticas são baseadas em fatores ligados desde a divisão social do trabalho até uma desenfreada tendência de moda.
Porquanto, a História, através do estudo das mentalidades, permite um diálogo entre os tempos passado, presente e futuro a fim de que possamos conhecer deveras os pontos em comum dos homens. O que marca a história não é o “fato em si” e sim a junção deste com o próprio homem que transforma a mentalidade da sua era, atualiza o seu meio e expande seus horizontes.

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO" (BARRETOS/SP), EM 31 DE JULHO DE 2009.