quarta-feira, 30 de novembro de 2011

ÁFRICA: UMA CULTURA MILENAR

ARTIGO PUBLICADO POR KARLA O. ARMANI, EM 25 DE NOVEMBRO DE 2011, PELO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" 


“Sonho com o dia em que todos levantar-se-ão e
 compreenderão que foram feitos para viverem como irmãos”.
Nelson Mandela.
            A semana se iniciou com as comemorações do dia da Consciência Negra no Brasil, 20 de novembro. Se a data foi instituída como uma comemoração é porque temos algo a ser relembrado, ou melhor, rediscutido. Não é possível falar da “consciência negra” sem voltarmos os olhos à mãe de tudo isso: a África. É da África que foram retirados povos e famílias inteiras trazidos ao Brasil, fato que levou-nos ao mosaico cultural e populacional que somos hoje. Mas, por que quando se fala da África o que vem à mente de muitas pessoas são fatos negativos? Por que não falar da África como o berço da humanidade e das primeiras civilizações? Por que não enxergar a África como um continente com sua cultura própria?
            Cultura milenar, este seria um bom termo para definir a história da África, aliás as várias áfricas que habitam aquele imenso continente. Todo professor de História é instruído, por lei, a falar sobre a cultura africana e afro-brasileira na sala de aula (lei 10.639/03). Isto porque o passado da escravidão colonial que sofremos e a globalização do mundo de hoje – que a todo tempo compara povos e nações como se todos fossem obrigados a serem países industrializados e neoliberais – incute na mentalidade das pessoas uma imagem negativa da África.
            Quando se estuda história, a principal diretriz que o professor deve seguir e o aluno aprender é que cada povo possui a sua dinâmica na história, cada cultura é única e não deve ser comparada com outra numa escala de superior ou inferior. A África, por maiores que sejam seus problemas sociais e econômicos na atualidade, precisa ser enxergada como um importante espaço na construção da história da humanidade. Foi naquele loco que a vida humana surgiu, se desenvolveu e imigrou para outras regiões.
            Já ouviram falar no “Vale da Grande Fenda”? É uma região localizada na Etiópia, Quênia e Tanzânia onde foram encontrados os fósseis humanos primitivos mais antigos do mundo, o australopithecus. E a civilização egípcia com toda a sua exuberância e vestígios históricos, de onde é? Muitas pessoas esquecem-se de associar que o Egito, aquela civilização dos poderosos faraós, se localiza na África; assim como a cidade de Ifé (hoje na atual Nigéria), que na Antiguidade era um centro aglutinador dos diferentes reinos que gravitavam ao seu redor.
            É claro que o processo de escravização dos africanos, bem como a disputa pelos territórios da África ao longo dos séculos XV ao XIX, contribuiu muito para um atraso no desenvolvimento tecnológico e econômico dos países. Mesmo assim, a dinâmica histórica da África deve ser ressaltada perante os nossos jovens, para que cresçam identificando a importância das diferenças culturais dos povos e, ao mesmo tempo, como somos ligados – pois somos descendentes do mesmo ancestral primata, aquele que saiu da África. 

BANDEIRA: A IDENTIDADE NACIONAL

ARTIGO PUBLICADO POR KARLA O. ARMANI, EM 19 DE NOVEMBRO DE 2011, PELO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" 


                               
Salve lindo pendão da esperança!
Salve símbolo augusto da paz!
Tua nobre presença à lembrança
A grandeza da Pátria nos traz...
            Você provavelmente se lembra deste verso, talvez da época das comemorações cívicas do colégio ou das aulas de História. Foi escrito por Olavo Bilac e apresentado pela primeira vez em 1906, trata-se da primeira estrofe do Hino da Bandeira do Brasil, uma música composta pelo carioca Francisco Braga ainda no alvorecer do século XX. 19 de novembro é o dia em que se comemora o dia da bandeira no Brasil e por isso poderíamos voltar nos tempos da proclamação da República brasileira a fim de compreender como a bandeira se encaixa nisso tudo.
            A bandeira do Brasil foi criada poucos dias após a proclamação da República e isso já demonstra sua ligação com este fato. Em 19 de novembro de 1889 o desenho projetado pelos positivistas Raimundo Teixeira Mendes e Miguel Lemos tornou-se oficialmente a bandeira da “República dos Estados Unidos do Brasil” e desde então adotamos este símbolo como uma identidade nacional. Identidade, esta era a palavra que os republicanos tanto procuravam pelo Brasil afora e que foi surtir efeito na bandeira nacional, no hino, na figura heróica de Tiradentes e outros tantos símbolos criados nesta época.
            O Brasil era um país de povo misto e isolado, um povo que assistiu a passagem do império para a república “bestializado”, isto é, sem entender nada do que estava acontecendo na política brasileira. Era necessário, pois, criar símbolos que fizessem a população se identificar com o país e abraçá-lo numa ânsia de nacionalismo e patriotismo. Foi neste contexto que a bandeira brasileira surgiu, cheia de significados e significantes ao povo brasileiro.
            Muitos dizem sobre as cores e os desenhos da bandeira. A poesia de Olavo Bilac no próprio hino da bandeira diz que “em teu seio formoso retratas, este céu de puríssimo azul, a verdura sem par destas”. Desde a época de sua criação, as cores e os significados da bandeira sempre se resumiram em que o azul representa a esfera celeste, o verde as matas brasileiras, as estrelas são os Estados e a cor branca a paz. Mas, muitos historiadores não conseguem dissociar a bandeira criada na república da bandeira do Império, em que as cores verde e amarelo significariam respectivamente a Casa Real de Bragança (dinastia de Pedro I) e a Casa Real de Habsburgo (dinastia da imperatriz Leopoldina). Uma bandeira republicana de inspiração imperialista?
            Enfim, a bandeira do Brasil é de fato um símbolo nacional, inspirou tradições e revelou novas identidades ao povo brasileiro. É por essas e outras que deve continuar entre as nossas comemorações históricas do Brasil. À bandeira nacional, nossas condecorações.

PROCLAMAS À REPÚBLICA

ARTIGO PUBLICADO POR KARLA O. ARMANI, EM 11 DE NOVEMBRO DE 2011, PELO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" 


O Marechal Deodoro da Fonseca proclamou hontem a República!!!”. Qual seria a sua reação se, de repente, fosse parar em suas mãos um jornal antigo com esta manchete? Este fato aconteceu comigo há três ou quatro anos atrás, quando eu trabalhava no Museu Ruy Menezes, e desde então este assunto tem tomado conta das minhas pesquisas nos últimos tempos. Certa vez, uma senhora adentrou ao museu e me entregou um jornal todo dobrado e bem amarelado dizendo que ela havia encontrado numa lixeira na rua e que por ser antigo ela queria doar ao museu. Fiquei feliz com a atitude dela, e fiquei mais feliz ainda quando abri e li a espetacular manchete que o jornal continha. Agradeci imensamente aquela senhora por ter salvado um documento histórico de tamanha importância, que quase foi jogado no lixo, finalizei argumentando que ela tinha acabado de salvar a história da república brasileira!
O jornal chama-se “Dom Casmurro”, publicado no Rio de Janeiro, o redator chefe era Jorge Amado e o jornalista da matéria de capa era Luis Edmundo. A edição era de 16 de novembro de 1889 e continha detalhadamente os acontecimentos da passagem do Brasil monárquico para a República. O interessante são as imagens caracterizadas no jornal, como por exemplo, o Marechal Deodoro da Fonseca passeando em um cavalo em meio à multidão de pessoas. A história contada no jornal foi revisada por historiadores brasileiros e hoje se admite que o processo de transição para a república brasileira não teve a participação do povo, que, na realidade assistiu a tudo isso “bestializado”, como já dizia Aristides Lobo naquela época.
É certo que a República brasileira, quando proclamada, não foi idealizada da maneira como os republicanos históricos imaginavam que seria. A propaganda republicana no Brasil vinha acontecendo desde 1870 quando foi lançado o Manifesto Republicano. Neste documento constavam as assinaturas de vários políticos brasileiros, que viam na República a melhor saída para os seus interesses e para o “verdadeiro” bem geral da nação. Acontece que em 15 de novembro de 1889 a República brasileira foi proclamada pelo militar Marechal Deodoro da Fonseca, que era amigo do imperador e estava longe de ser um republicano histórico. Mas, os acontecimentos naquela madrugada se passaram tão rapidamente que foi possível ficar para a história a fase mais famosa deste momento: “o Brasil dormiu império e acordou República”.
            Está próximo o feriado de 15 de novembro. Muitos estão felizes por ser feriado e poucos sabem o que significou esta data para a história do Brasil. O feriado de 15 de novembro serve para comemorarmos, isto é, memorarmos juntos, a proclamação da República no país. Proclamada em 1889, a república brasileira pôs fim a um sistema monárquico e instaurou um novo regime político que desde então orienta a política nacional. O fato do Brasil hoje ter em sua história a experiência republicana é resultado deste período turbulento, que deixou marcas e fontes a serem estudadas.                    

REFLEXÕES DE NOVEMBRO

ARTIGO PUBLICADO POR KARLA O. ARMANI, EM 4 DE NOVEMBRO DE 2011, PELO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" 


            Em novembro muitos fatos históricos aconteceram ao longo da trajetória humana na Terra. É possível estabelecer uma vasta linha do tempo utilizando os trinta dias do mês de novembro. Por exemplo, foi no dia 3 de novembro de 1812 que o exército de Napoleão Bonaparte foi derrotado pelos russos; em 4 de novembro de 1920 o arqueólogo Howard Carter descobriu a suntuosa tumba do faraó Tutancâmon; no dia 15 de novembro de 1889 é proclamada a República brasileira; em 20 de novembro de 1695, Zumbi, líder do quilombo dos Palmares, é morto por tropas portuguesas e em 30 de novembro de 1900 morreu o famoso escritor irlandês Oscar Wilde. De tantos exemplos, poderíamos dissertar sobre o dia 1º de novembro de 1512, uma data que ficaria marcada na história da arte de todos os tempos, o dia em que o afresco de Michelangelo foi exibido ao público pela primeira vez.
            Esta data foi muito importante porque uma obra como os afrescos da Capela Sistina marcaram uma nova visão do homem perante a arte, a religião, a cultura e até mesmo à sociedade. Neste período da história, as obras de arte demonstraram a capacidade de criação do homem, é o momento em que o individualismo do artista se torna vigente nas próprias pinturas. O homem passa a ser visto como o centro do universo, distanciando-se aos poucos daquela visão medieval que se pautava puramente na religião como orientação exclusiva da arte e da ciência.
             “Renascimento” foi o termo utilizado pela historiografia para denominar esta época de inovação na mentalidade, que, diga-se de passagem, vigorava exclusivamente no espaço europeu. O nome “renascimento” foi utilizado pelo historiador francês Michelet, que viveu no século XIX, e escreveu várias obras sobre o período medieval tendo como fonte as obras de arte européias que ele conheceu em suas várias viagens pelas cidades medievais. A palavra “re-nascimento” foi escolhida para designar este período pelo fato de “renascer” nesta época os valores da cultura greco-romana, todo o valor dado ao homem (antropocentrismo), a sua capacidade de criação, aos estudos anatômicos do corpo humano, bem como a perfeição das formas do corpo (hedonismo) foram resgatados pelos artistas dos séculos XV e XVI em diante. Nas pinturas e esculturas de Michelangelo é possível verificar a perfeição das formas humanas, visto que o artista dissecava cadáveres a fim de examinar os detalhes do corpo humano para serem retratados da maneira mais perfeita possível.
            Enfim, o Renascimento é somente um dos vários temas que será retratado neste espaço do jornal “O Diário” no mês de novembro. Muito se tem a falar sobre a história do mundo, do Brasil e de Barretos. Que o mês de novembro traga muitas reflexões que sirva-nos como inspirações e reflexões!
           
Fonte: Revista Aventuras na História – nov/2011

NA ERA DO RÁDIO: OS JINGLES DOS PRESIDENTES

ARTIGO PUBLICADO POR KARLA O. ARMANI, EM 28 DE OUTUBRO DE 2011, PELO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" 



“Bota o retrato do velho outra vez, bota no mesmo lugar.
O sorriso do velhinho... faz a gente trabalhar”
            Quem possui mais de setenta anos provavelmente já ouviu o verso acima cantado como marchinha de carnaval. Esta marchinha foi muito difundida nos anos 50 como propaganda ao governo de Getúlio Vargas, que venceu as eleições de 1950 com 48% de aprovações. Este é só um dos vários jingles utilizados nos anos dourados para ilustrar o imaginário social diante às campanhas presidencialistas no Brasil. Nesta época, o rádio não era só o cenário de grandes vozes, radio-novelas ou de notícias, era também o principal meio de comunicação em massa e o propagador dos ideais políticos.
            A era do rádio no Brasil foi conseqüência do aumento do ritmo da industrialização do país no momento posterior à 2ª Guerra Mundial. Com a crescente importação de rádios, televisões e demais produtos tecnológicos, o Brasil vivia o surgimento da indústria cultural, onde os meios de comunicação em massa levaram à consolidação da sociedade de consumo. Ou seja, de modo geral, as pessoas necessitavam adquirir bens tecnológicos que traduzissem os novos valores impostos por essa indústria cultural. É claro que boa parte da população brasileira estava excluída desse consumismo por conta das míseras condições de vida e isolamento social, mas é válido destacar que a indústria cultural desta época conseguiu chegar a pontos até então inatingíveis no Brasil.
            Muitas pessoas nos dias de hoje se recordam das canções e dos artistas do rádio dos anos 50, isso porque a acessibilidade a este meio de comunicação ocasionou profundas transformações nas formas de viver da sociedade. Os jingles cantados no rádio eram uma maneira do político estar mais próximo do trabalhador, da dona de casa e até mesmo das crianças que ouviam o rádio. Era ao redor deste aparelho e principalmente da televisão que a família ficava reunida para ouvir ou assistir os programas que passavam a ser semanais e/ou diários. É claro que isso também poderia gerar a alienação social, onde muita gente perdia o senso crítico frente aos apelos à comunicação em massa.
            Jingles como o que encima este texto e outros como “varre, varre, vassourinha, varre, varre a bandalheira... que o povo já está cansado de sofrer desta maneira... Jânio Quadros é a esperança deste povo abandonado” adentraram para a história do Brasil e no imaginário da população. Enfim, espera-se que todos eles sejam estudados e encarados como fontes históricas do período dos anos dourados e da indústria cultural.

O DESTINO INCERTO DOS IMIGRANTES


ARTIGO PUBLICADO POR KARLA O. ARMANI, EM 21 DE OUTUBRO DE 2011, PELO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" 

            Leitor amigo, você tem sobrenome de origem estrangeira? Quantas famílias você conhece com sobrenomes italianos, portugueses e de outras nacionalidades? Por que é tão comum em nosso ambiente conhecer alguém com estes sobrenomes? A resposta para tais questões certamente está no fato da população brasileira ser um mosaico cultural, isto é, resultado de imigrações e migrações ao longo de toda a história do Brasil. O Estado de São Paulo, em específico, foi a região do Brasil que mais recebeu imigrantes europeus entre os séculos XIX e XX, e a nossa cidade de Barretos está entre as cidades paulistas que se tornaram pólo de atração a estes colonos.
            Em meados do século XIX, o Brasil, país recém independente, possuía como principal produto de exportação e motor da economia o “café”. As fazendas de café avançavam do Vale do Paraíba rumo ao Oeste Paulista num ritmo crescente e os cafeicultores aumentavam sua exportação de modo exorbitante a cada ano, fato que resultou numa busca constante por mão de obra barata e de alto teor de produção. Já pensando como capitalistas, os fazendeiros de café verificaram que a mão de obra imigrante era mais barata que os escravos, visto que o preço do escravo estava alto em razão do fim do tráfico negreiro e a escravidão estava com os dias contados. Deste modo, num processo gradual, o governo brasileiro passou a incentivar a vinda de imigrantes europeus para o Brasil.
            Nos anos 80 do século XIX, foram criadas políticas imigrantistas e propagandas para atrair os sonhos dos europeus que sofriam com a fome, a miséria e o desemprego em vários países, como a Itália e a Alemanha. Assim, o Brasil recebia a cada ano muitas famílias européias, que além de passar dificuldades culturais como a adaptação para o clima quente dos trópicos e o domínio de outra língua, sofriam também com a exploração do trabalho e dívidas que eram criadas assim que aportavam ao Brasil.
            Em Barretos, a história é adaptada para o contexto da pecuária e da indústria frigorífica. O grande número de imigrantes que Barretos recebeu foi em virtude do frigorífico instalado na cidade já na década de 10, uma vez que era necessário contratar operários que de alguma maneira já haviam lidado com manuseio de máquinas industriais. Além dos registros do próprio frigorífico, outro índice que revela o número de imigrantes na cidade é o livro de pacientes internados na Santa Casa de Misericórdia de Barretos. Num período de 10 anos (1921-1931), 15,9% das internações registradas no hospital eram de imigrantes portugueses, italianos, espanhóis, alemães, russos, romenos, sírios, japoneses, entre outros. É interessante ainda destacar, que os lituanos constituíam um grupo de importante expressão entre os imigrantes internados. Além do mais, a principal doença que eles contraíam era o impaludismo (malária) e, vez ou outra, apresentavam esmagamento, cortes e ferimentos.
            Dentro desta breve linha do tempo, podemos entender porque até nos dias de hoje encontramos sobrenomes europeus nas nossas famílias e em demais círculos sociais. A história destes imigrantes é refletida em nosso próprio tempo, afinal a comunidade em que vivemos nada mais é do que a composição de todas estas culturas. Muitos de nós somos ascendentes destes povos que emigraram de seus países e traçaram um destino incerto no Brasil, e boa parte dos brasileiros de hoje é resultado disso.

Fonte: Pesquisa da Santa Casa realizada por mim e discentes da Faculdade Barretos.

UM “CLIC” PARA O FUTURO




ARTIGO PUBLICADO POR KARLA O. ARMANI, EM 14 DE OUTUBRO DE 2011, PELO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" 

            Leitor amigo, já parou para pensar o quanto as fotografias estão presentes no nosso dia a dia? Se existe algo que é registrado com a intenção de ser visto no futuro é a fotografia, pois o momento do “clic” é intencionalmente realizado na tentativa de eternizar determinados momentos que são considerados importantes. Desde o século XIX, em vários lugares do mundo, as fotografias registram cenas de famílias, das escolas, de instituições públicas, da imprensa, dos círculos turísticos e de diversas esferas da vida privada.
            Por conta desta intenção de se registrar momentos para a posteridade, a fotografia é uma importante fonte de pesquisa ao historiador. Em específico, aos historiadores da metade do século XX em diante, porque foi a partir deste período que certas correntes historiográficas começaram a utilizar a fotografia como fonte. Para examinar a fotografia, todos os itens que perpassam a sua trajetória são essenciais para um estudo minucioso. Assim, a produção da cena, os personagens, gestos, atitudes, efeitos especiais, cores, expressões, o ângulo, a circulação e o destino podem denotar a intencionalidade do fotógrafo.
            Ao analisar as imagens fotográficas, o historiador tem a necessidade de compreender a mensagem que elas querem transmitir e captar seus significados mais implícitos, uma vez que elas podem estar imbuídas de ideologias e simbologias.  Desta maneira, as fotografias podem ser vistas como “documento” ou como “monumento”. Analisada como “documento”, a imagem revela aspectos da vida material de um determinado tempo do passado que uma descrição verbal não daria conta, como por exemplo: a arquitetura, a indumentária, formas de trabalho, locais de produção, infra-estrutura urbana e etc. Afinal, nem sempre as palavras são a melhor forma de se definir uma cena, na maioria das vezes a imagem fala por si só. Já como “monumento”, a imagem reflete um passado que determinada sociedade queria demonstrar de si mesma para o futuro.
            Como exemplos de imagens “monumentos”, existem os cartões postais de várias cidades brasileiras em fins do século XIX e início do século XX. No passado, os cartões postais eram tão importantes que eram utilizados como meios de comunicação (cartas) e até mesmo como presente para um parente que residia em lugares distantes. Estes cartões revelavam paisagens das cidades em processo de modernização, isto é, com palacetes públicos, casarões dos coronéis e barões do café, escolas e hospitais construídos aos moldes da arquitetura francesa. Em Barretos, o acervo iconográfico do Museu “Ruy Menezes” guarda cartões-postais de 1917, que exibem o centro da cidade de Barretos como um lugarejo em processo de urbanização, dotado de estabelecimentos comerciais, sociais, educacionais e culturais. Tudo para demonstrar a ideologia republicana e capitalista da época.
            Enfim, as fotografias podem revelar muito sobre os nossos modos de vida, hábitos, ideologias e valores culturais. Mesmo com padrões de modelos fotográficos ou não, as fotografias servem para mostrarem à população futura da forma mais natural possível como era o passado. O “clic” da máquina fotográfica, o ponto de vista do fotógrafo e a revelação da imagem possibilitam um elo entre o presente e o futuro, na intenção de eternizar tempos que não voltam mais.