quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

ANACRONISMOS

 ARTIGO PUBLICADO PELA PROFª KARLA O. ARMANI NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS", EM 13 DE JANEIRO DE 2012



            Leitor amigo, você já ouviu falar em “anacronismo”? Esta palavra, de origem grega, refere-se a um erro de cronologia, de coerência com uma determinada época. Esse tipo de erro pode ocorrer em um texto, uma pintura, um filme e pode causar danos às análises do passado. Por exemplo, é um anacronismo a restauração de um quadro do início do século XX onde o artista-restaurador decide inserir uma televisão na pintura, sendo que naquela época não existia esse tipo de tecnologia. Outro tipo de anacronismo são as generalizações, em que personagens do passado são analisados genericamente, como se fossem parte de um único estereótipo padrão. Assim, julga-se todo escravo “submisso” (sem resistência), todo índio “preguiçoso” (pois não trabalha o dia todo) e todo coronel como um poderoso proprietário de terra e escravos.
            É neste personagem, o coronel, que alguns anacronismos podem ser cometidos quando se imagina os coronéis de Barretos. Sabe-se que, pelo menos dentro da história geral do Brasil, o coronel era aquele “fazendeiro” que recebia ou comprava uma titulação da Guarda Nacional e, por isso, exercia influência na política e na economia local. Mas, os exames da história regional e local podem provar que nem todo coronel era assim, poderia sim exercer de fato um grande poder político, mas nem sempre tinha em sua propriedade vastas extensões de terras e muitos trabalhadores.
            Na própria história de Barretos existiam pessoas que possuíam titulações da Guarda Nacional como major, tenente, capitão e coronel, mas que eram na realidade intelectuais, no sentido de “bacharéis”, formados em universidades nas capitais brasileiras e que exerciam poder e influência política por meio de seus textos publicados nos jornais barretenses. Em sua maioria, esses coronéis adquiriam estas titulações para conseguir fazer parte da elite de Barretos, composta ate então somente pelos fazendeiros. Eram estes o Cel. Silvestre de Lima, o Cel. João Machado de Barros, o Cel. João Carlos de Almeida Pinto, o Cel. Jesuíno da Silva Melo, entre outros.
            O Cel. Jesuíno da Silva Melo é um dos principais exemplos que fogem às generalizações traçadas aos coronéis.  Mineiro, era agrimensor e também atuava como diretor de colégios. Chegou a Barretos ainda no século XIX, foi colaborador do jornal “O Sertanejo” e neste espaço foi o primeiro a escrever sobre a história de Barretos, colhendo depoimentos das pessoas mais velhas e vestígios materiais nos lugares antigos da cidade. “Sua residência em Barretos era um verdadeiro museu de antiguidades, de arte e de história natural, a que era dado com fanatismo, além de pequenos objetos curiosos, para todas as serventias”, escreveu Osório Rocha. Além disso, em 1902, o Cel. Jesuíno foi nomeado diretor do Instituto Benjamim Constant do RJ, onde capacitava e educava crianças cegas. Foi quando se mudou para sempre de Barretos, mas nunca deixou de ser citado na nossa imprensa como o primeiro historiador da cidade.
            Leitor, entende agora que não é possível generalizar um personagem dessa estirpe “intelectual” como um coronel padrão proprietário de terra e mais nada? É por isso que existe a historia regional e local, para colocar em evidência personagens diferentes como o Cel. Jesuíno longe de generalizações anacrônicas. Sem querer criar heróis, é claro. Que assim seja, cada época analisada com os olhos da época! 

2012: PREVISÕES E COMEMORAÇÕES



 ARTIGO PUBLICADO PELA PROFª KARLA O. ARMANI NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS", EM 6 DE JANEIRO DE 2012

            2012 é um ano que promete surpresas. O ano está só começando e muitas informações já se têm sobre ele, ou ao menos o que se espera dele. Trata-se de um ano bissexto do calendário gregoriano e que a ONU definiu como o “Ano Internacional da Energia Sustentável para todos”. São esperados os Jogos Olímpicos de Verão no Reino Unido e a expectativa também é grande diante às eleições para prefeitos e vereadores no Brasil, bem como de presidente na Venezuela e nos Estados Unidos. 2012 é um ano de previsões sobre o futuro, alguns temem pelo fim do mundo em dezembro por conta do término do calendário maia, um calendário que é cíclico, portanto, representativo do início de uma nova era. Mas, 2012 é sobretudo um ano de comemorações, afinal não só de expectativas é composto o ano, e sim de memórias sobre acontecimentos no mundo, no Brasil e até mesmo em Barretos, para nós que cá estamos.
            É claro que não seria possível enumerar os principais acontecimentos do mundo e do Brasil nestas poucas linhas. Porém, alguns deles são: o centenário do naufrágio do navio Titanic e do Santos Futebol Clube (1912); os 90 anos da Semana de Arte Moderna ocorrida no Teatro Municipal de São Paulo (1922); os 80 anos da Revolução Constitucionalista de 1932; os 70 anos da Batalha de Stalingrado durante a 2ª Guerra (1942); os 60 anos que o Gen. Fulgêncio Batista deu um golpe de Estado em Cuba (1952); os 50 anos do embargo econômico imposto a Cuba pelos EUA e a Crise dos Mísseis (1962); os 40 anos da inauguração das transmissões televisivas a cores no Brasil (1972); os 30 anos da Guerra das Malvinas entre Argentina e Inglaterra (1982); os 20 anos da renúncia do ex-presidente Fernando Collor de Melo (1992) e os 10 anos da conquista do “penta” pela seleção brasileira de futebol na Copa do Mundo e a morte de Chico Xavier, um grande líder espiritual no Brasil (2002).
            Em Barretos também existem datas a serem relembradas e pesquisadas, tais como: o centenário do 1º Grupo Escolar de Barretos instalado em setembro de 1912 em um prédio belíssimo; os 90 anos de nascimento do dramaturgo Jorge Andrade (1922); os 80 anos do “Grupo dos 52” da Revolução Constitucionalista (1932); os 70 anos da morte do político dr. Antonio Olympio (1942); os 50 anos da morte do Profº Adão de Carvalho (1962); os 40 anos das polêmicas sobre a demolição do prédio do 1º Grupo Escolar e outras datas que ainda serão estudadas ao decorrer do ano. Visto que, os acontecimentos dos anos 70 em diante ainda são muito recentes e precisam de certo distanciamento de tempo para ser estudados.
             A memória que é resgatada com as comemorações das datas é algo de extrema importância para a comunidade pelo fato de proporcionar momentos de reflexões e críticas dos acontecimentos. 2012 é um ano de expectativas boas e ruins, de boas vibrações e ansiedades, um ano de previsões e comemorações!  

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

MENSAGENS DE ANO NOVO



ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" EM 01º DE JANEIRO DE 2012 PELA PROFª KARLA O. ARMANI

“Adeus ano velho, feliz ano novo / Que tudo se realize no ano que vai nascer /
Muito dinheiro no bolso, saúde pra dar e vender!”
            O verso acima é uma das várias canções que são comuns neste momento de passagem de ano. Esta é a fase em que pensamos sobre as realizações, as perdas e ganhos do ano que finda e também começamos a fazer as vibrações para o ano que se inicia. Aquilo que se espera para o ano que vem é mentalizado a fim de se tornar realidade, e na maioria das vezes, como é visto no verso acima, o que mais se deseja é prosperidade e saúde. Neste momento de final de ano, as mensagens rolam soltas em cartões impressos e nos emails, pois palavras inspiradoras são muito bem vindas para o ano que vai nascer.
            É interessante apreciarmos a fundo o conteúdo destas mensagens, pois elas carregam os desejos mais íntimos da sociedade que vivemos, mostrando nossa cultura em termos gerais. Assim, é notável um verso retirado do primeiro jornal de Barretos, O Sertanejo, em que os escritores da época comentavam e festejavam a passagem do ano de 1900 para 1901, ou seja, a passagem do século XIX para o XX. O Cel. Almeida Pinto, muito conhecido na época, com o pseudônimo de João Bobo enalteceu em sua “Chronica da Terra” as seguintes rimas: “Leitoras, as boas festas; boas festas, ó leitores! Que vossa vida futura, seja coberta de flores / Desejo-vos mil venturas, neste século que vem: que Deus a todos proteja, como ao João Bobo também / Que leve o diabo deste ano: velho, feio, rabugento; que nada me deixe a mim, em seu negro testamento! / Surja, em fim, a nova aurora, venha, afinal, vida nova. E que Deus livre o cronista de tomar alguma sova!”.
            A mensagem de “João Bobo” pode nos parecer no mínimo “exótica” no que se refere às palavras de hoje, mas é que naquele tempo usavam-se muitos termos rotulados de antíteses, isto é, bem e mal; Deus e diabo; claro e escuro, novo e velho. Além é claro, da “pitada” de humor também presente na formulação das rimas. Desta maneira, é interessante perceber que, mesmo com as diferenças expressivas, mensagens de finais de ano continuam a permanecer em nossa sociedade; mesmo com um século de distância.       
            As mensagens do tempo presente são carregadas de palavras que aguçam nossas emoções, como por exemplo, este trecho retirado do poema “Receita de Ano Novo” do inesquecível e incomparável Carlos Drummond de Andrade: “Para ganhar belíssimo Ano Novo, cor do arco-íris ou da cor da sua paz / Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido (mal vivido talvez ou sem sentido) / [...] / Para ganhar um Ano Novo, que mereça este nome / Você, meu caro, tem de merecê-lo / Tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil / Mas tente, experimente, consciente / É dentro de você que o Ano Novo cochila e espera desde sempre”.  
            Belas e sábias palavras de Drummond. Então, que neste ano novo possamos merecê-lo da forma mais simples possível: acordando-o dentro de nós mesmos! Feliz Ano Novo!  

VALORES DE NATAL



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RTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" EM 25 DE DEZEMBRO DE 2011 PELA PROFª KARLA O. ARMANI

            Desde os tempos da Antiguidade é comum comemorar a passagem dos anos em festas, fosse para homenagear os deuses, festejar o bom resultado das colheitas ou até aproveitar o momento para a reflexão de certos valores. Na sociedade em que vivemos, ocidental, é muito comum festejarmos o natal, isto por conta da crença predominante no Cristianismo. No final do ano, as pessoas são tomadas pelo “espírito natalino”, isto é, entram no clima dos presentes e do Papai Noel, no entanto, o real motivo da festa natalina são os ensinamentos de Jesus Cristo.
            Tais ensinamentos foram disseminados ainda na era Antiga e mesmo com o passar dos séculos (aliás, milênios) continuam presentes em muitos discursos de ordem religiosa e/ou filosófica. Podemos afirmar que são valores atemporais, ou seja, perpassam a linha do tempo, o espaço geográfico e até mesmo as culturas, pois são vistos em todas as sociedades que almejam a igualdade entre os homens, a bondade e a humildade.
            Os dizeres de Jesus Cristo estão registrados na Bíblia e foram escritos por seus apóstolos. De tudo o que Cristo profetizou, o Sermão da Montanha (Galiléia, 30 d.C) sintetiza muito bem a direção que se deve tomar para que as pessoas não cometam atos contrários do que pregavam os 10 mandamentos. É neste sermão que Jesus prega a importância do pensamento como condutor de uma ação, boa ou má. Seus ouvintes deveriam controlar suas idéias para comandá-las ao bem. Por exemplo: “não só não se deve matar, como também não se devem ter pensamentos irados; não só não deve cometer adultério, como também não se devem ter pensamentos luxuriosos; não só não se deve roubar, como também não se podem ter pensamentos sobre necessidades materiais”.
            A importância de nossas ações está no pensamento que elas se originam, esta é uma das mensagens que Jesus quis demonstrar no Sermão da Montanha. Nesta época de natal, em que independente das crenças as pessoas comemoram o nascimento de Jesus, mensagens como esta são muito importantes para aqueles que enxergam o natal como um momento de renovação e reflexão de valores. Vigiai os seus pensamentos e orai nesta passagem de ano. Feliz Natal a todos!!!

REFERÊNCIA: KIDDER, David; OPPENHEIM, Noah. O Livro do Sabe Tudo. 2009.

A (RE)INAUGURAÇÃO DO CINE-BARRETOS



ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" EM 16 DE DEZEMBRO DE 2011 PELA PROFª KARLA O. ARMANI

“A história de uma mulher que muito pecou porque muito amou! Ela queimou sua alma num inferno de ciúmes... Impressionante película de amor.”
            Esta frase estampava o cartaz de um filme muito esperado pelos barretenses há exatos 65 anos atrás. Com palavras profundas, o cartaz do filme “Amar foi minha ruína” exibia belas fotos do ator amerciano Cornel Wilde e da bela Gene Tierney e anúncios atrativos para que a população fosse prestigiar a inauguração do mais recente e moderno cinema de Barretos, o Cine-Barretos. Um cinema que ao longo do século XX passou a ser considerado “velho”, mas que agora passa a ser reinaugurado no dia de hoje.
            Ao ler os jornais dos anos 40, percebe-se que na época da construção do Cine-Barretos as expectativas eram as melhores por parte da comunidade. Em uma reportagem do jornal “A Semana”, de fevereiro de 1946, foi escrito cada detalhe de como seria a estrutura do novo cinema, que era comparado com a “Radio Cultura” de São Paulo (na Av. São João) por ter a fachada parecida com a mesma. Faziam menção também às 1200 poltronas que seriam colocadas no cinema, os 12 “modernos” aparelhos renovadores de ar e os 2 projetores de filmes. Todos os pontos foram citados, por exemplo: as bilheterias, o toilette para as senhoras, a sala de espera, o declive do salão de projeção, a decoração e a iluminação da fachada a cores pelo “sistema fluorescente”. Como se vê, o novo cinema era tido como um símbolo de modernidade e tecnologia para os habitantes de Barretos dos anos 40, que esperavam pela inauguração nos meses de junho ou julho, mas que acabou por acontecer em dezembro de 1946.  
            Já na época da inauguração, o Cine-Barretos foi caracterizado como um “colossal e elegantíssimo edifício de concreto armado” pelo jornal “Correio de Barretos” e assim foi recepcionado com grandes salvas pela população. Em 17/12/1946, numa 3ª feira, às 16 horas, foi inaugurado o moderno cinema ao lado do antigo e belíssimo Teatro Santo Antonio, na rua 20. Nos jornais da época foram muitos citados os nomes dos srs. Pedro Bibo e Oswaldo Sampaio da Empresa Teatral Paulista, que foram condecorados com as honras de dotar a cidade com um “régio presente de natal”.
            Ao que consta, no dia da inauguração do Cine-Barretos foram feitos pronunciamentos por parte do sr. Nadir Kenan, diretor da Radio PRJ-8, que em seguida passava o microfone para as demais pessoas. Outro detalhe interessante, agora retirado das atas da Santa Casa de Misericórdia de Barretos, é que a renda arrecadada no dia da inauguração do cinema seria revertida para o hospital. Além disso, existem pessoas ainda hoje que presenciaram este dia, como o sr. José Vicente Dias Leme (que diga-se de passagem possui uma memória fantástica!), outra fonte de inigualável valor para nós que estamos aqui tentando reviver este momento de 65 anos passados.
            Se no passado o momento foi de festa pela inauguração do “moderno” Cine-Barretos, o presente também se alegra com o fato do “antigo” cinema ter suas funções revigoradas, mesmo sem todas as suas características originais. Afinal, é sempre uma alegria ver um patrimônio histórico em funcionamento! Luzes, câmeras, ação!

FONTE: Acervo de jornais do Museu “Ruy Menezes”.