quarta-feira, 24 de julho de 2019

A CASA BRANCA (DE BARRETOS)

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" EM 23 DE JULHO DE 2019 (página 2) PELA PROFª KARLA ARMANI MEDEIROS


             
A casa branca como se encontra atualmente.
  Quase que escondida, despercebida, resiste muda e um tanto apagada a antiga “Casa Branca” do dr. Antônio Olympio Rodrigues Vieira, na rua 16, em frente a Praça Francisco Barreto. O gigantismo do hotel ao lado e um inoportuno poste com cabos elétricos tornam aquele antigo palacete uma visão pequena. Exatamente o contrário da magnitude histórica que ali sobrevive.
            Em 23/2/1973, o jornal “O Diário” publicou uma nota alertando para a necessidade da criação de um museu municipal e junto um aviso quanto a conservação da “casa branca” e de todo o material antigo que ainda existia ali. O jornal exclamava diretamente ao prefeito: “Vamos salvar o que ainda não foi roubado da casa branca”.
Dr. Antônio Olympio Rodrigues Vieira
(Fonte: fotografia do acervo do Museu "Ruy Menezes")
            Qual motivo teria a imprensa em fazer tão alarde? Certamente, a prática do memorialismo de um lado, e, de outro, a preservação das fontes históricas. A conservação do casarão incentiva o memorialismo, mas alimenta a História. Somente por ser uma casa antiga, cuja propriedade foi de um ex-prefeito? Não só. Pois, a casa em si foi alvo de importantes acontecimentos políticos e sociais na cidade, justamente pela relevância política de seu dono. Ali, foram vivenciados momentos históricos do coronelismo local, quando o chefe dos “pica paus” foi prefeito, deputado estadual e oposicionista.
            Em 17 de janeiro de 1912, o jornal “O Sertanejo”, cuja direção era do próprio Antônio Olympio, narrou uma extensa reportagem sobre uma perseguição e tiroteio nos arredores da praça central, inclusive na ‘casa branca’: “Os soldados [...] ao frontearem a residência do dr. Antonio Olympio, deram nova descarga sobre o fugitivo, tendo, porém, o cuidado de voltar suas carabinas para a casa em que reside aquele senhor, a qual foi alvejada por 4 balas, uma das quais se alojou na sala de jantar”.
            É ou não é um ícone histórico aquele casarão? Centenária, monumental e memorável a “casa branca”, agora barretense.

Fontes:
O SERTANEJO, jornal hebdomadário de Barretos, edição de 17/01/1912, p. 1. Acervo do Museu "Ruy Menezes".
O DIÁRIO, jornal diário de Barretos, edição de 23/2/1973, p. 4. Acervo do Museu "Ruy Menezes".

Link do artigo publicado no site do jornal "O Diário":

terça-feira, 16 de julho de 2019

OS SOLDADOS CONSTITUCIONALISTAS (PARTE II)

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" EM 16 DE JULHO DE 2019 (página 2) PELA PROFª KARLA ARMANI MEDEIROS

Soldados constitucionalistas em trincheiras.
(Fonte: Acervo do Museu "Ruy Menezes", Barretos-SP)

           Memórias deixadas por alguns soldados constitucionalistas de Barretos nos fazem divagar sobre as cenas de guerra que aquele julho de 1932 experimentava. São essas experiências importantes fontes para a reconstrução da história do Brasil, do estado e da cidade. Reduzir a escala de observação da história é dar voz a esses personagens.
            Os portos do Rio Grande, fronteira entre os estados de SP e MG, foram cenários de guerras reais naqueles três meses de combate. Barretenses e voluntários de toda a região, eram organizados em tropas pequenas para guarnecer as fronteiras, as quais na outra margem apresentavam mineiros, goianos e outros soldados legalistas e mercenários como inimigos.
             Em setembro, Osório Rocha, aos 47 anos, foi ordenado comandante de uma pequena tropa para proteger o setor de Barra Grande, próximo a Guaraci. Ele narra horas noturnas sofríveis, quando por mais de 4 horas os inimigos atiravam e ele solicitava reforços de Olímpia. Descreveu também sobre o acampamento: “No local havia duas ou três choças de capim e palmas de buriti. Armamos algumas barracas. Ao fundo da minha barraca construí uma cabana, que ficou servindo de escritório. Junto à porta, uma pequena bandeira do Brasil. Os soldados, à beira do fogo, à noite, conversavam, contavam piadas e cantavam” (Reminiscências, II, p. 150)
            Dias depois, já no Córrego da Onça, próximo a Laranjeiras, Osório narra as péssimas condições dos soldados: “As minhas praças estão dormindo sobre palhas de coqueiro, inteiramente desabrigadas e sujeitas a contrair moléstias graves, devido ao frio das madrugadas e aos pernilongos transmissores de febres malignas”. (p. 151)
            Se na cidade o panorama era alarmante, visto que várias vezes boatos de invasões exaltavam os ânimos dos moradores, no ambiente rural, onde eram acampados os soldados, o constante barulho de tiros, a insegurança pela falta de estrutura, baixas e capturas, nos fazem enxergar como “bravura” a coragem desses jovens. [fim].

Fonte:

ROCHA, Osório Faleiros (obra póstuma). Reminiscências, volume II. Ribeirão Preto: Editora Cori, 199(?).

OS SOLDADOS CONSTITUCIONALISTAS (PARTE I)

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" EM 9 DE JULHO DE 2019 (página 2) PELA PROFª KARLA ARMANI MEDEIROS


Soldados constitucionalistas de Barretos
 em estudos durante a guerra paulista de 1932.

(Fonte: Acervo do Museu "Ruy Menezes", Barretos-SP)
             Travada pelo governo paulista, militares da Força Pública e setores da sociedade civil, a Revolução Constitucionalista de 1932 pode ser estudada em diversos pontos de vista e assuntos. Por três meses, o conflito motivado pela insatisfação paulista quanto à ditadura varguista, repercutiu na formação de batalhões em diversos munícipios paulistas. Milhares de soldados paulistas (civis e militares), em maioria despreparados, se envolveram em confrontos com soldados mineiros, goianos, cariocas e outros.
            No final, os conflitos geraram memórias individuais, de cada soldado. Memórias nem sempre boas, afinal se tratava de uma guerra civil. Vidas foram ceifadas. No lado paulista, quase 700 baixas oficialmente foram computadas. Analisando o número em estatística, parece frio; mas, o cenário fica real quando olhamos as vidas tiradas individualmente, no contexto da história dos batalhões e das cidades de origem.
            Barretos foi uma das cidades que sediou batalhões e arregimentou voluntários. Foram 583 jovens alistados, a maioria em combate. Alguns foram mortos, os números são até conflituosos. Inicialmente, o Batalhão de Barretos se denominou “Cel Teopompo de Vasconcelos”, mas, semanas depois, esse mesmo batalhão foi incorporado ao “Batalhão Júlio Marcondes Salgado” de Rio Claro. A partir de então, os barretenses divididos em companhias, pelotões e tropas viveram dias difíceis nos Portos do Cemitério, Maricota, Antônio Prado, Taboado, na Barra Grande, Córrego da Onça, assim como em Eleutério, Barão Ataliba Nogueira, Itapira, Mogi-Mirim, São José do Rio Pardo, Campinas e outros locais. Os relatos são interessantes e reais. Alguns, cruéis.
Somente alguns tiveram memórias registradas para o futuro. E, por esses poucos registros, verifica-se a consonância de duas ideias: o entusiasmo de muitos em lutar pela constitucionalização e as péssimas condições de combate. Que hoje, possamos refletir  sobre a vida dos soldados constitucionalistas, inclusive àquelas interrompidas. Muitos eram meninos. Meninos. [continua].

Fonte:
ROCHA, Osório Faleiros (obra póstuma). Reminiscências, volume II. Ribeirão Preto: Editora Cori, 199(?).

terça-feira, 2 de julho de 2019

AO CONFRADE JOSÉ VICENTE

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" EM 2 DE JULHO DE 2019 (página 2) PELA PROFª KARLA ARMANI MEDEIROS


Reunião na sede da ABC no sábado, dia 29 de junho de 2019.
(Foto tirada pela acadêmica Conceição Borges)
         Sábado passado teve reunião na Academia Barretense de Cultura. Estávamos todos os “imortais” em conversa, quando adentrou o confrade José Vicente Dias Leme; sempre acompanhado de sua gentil esposa, Maria Luiza. Com seus passos curtos, voz obstinada, sorriso largo e saudando a todos com seu “aleluia”, já foi logo recebendo palmas. Aclamações sinceras de carinho de todos que ali ficaram felizes em ver um dos acadêmicos mais antigos de forma presente entre nós. Firme.
            Sentou-se ao meu lado. Eu, secretariando a reunião, vaguei meus pensamentos sobre como conheci aquele senhor, que foi o responsável pela minha entrada na ABC. Há 12 anos atrás, era eu estagiária no Museu “Ruy Menezes” e ali conheci José Vicente, contando seus “causos” e dono de uma memória que eu nunca tinha visto igual. Falava de acontecimentos, de pessoas, de datas, reconhecia rostos, comparava fotografias. Eu, interessada em aprender sobre a história da cidade através daquelas pessoas citadas em livros ou em fotos de jornais, me impressionava com José Vicente contando sobre as mesmas pessoas que ele conheceu pessoalmente. Enxergava-o como uma fonte histórica viva. Ativa. Desmedida. Sempre que solicitado, ele ia até o museu me ajudar a desvendar aqueles rostos antigos das fotos amareladas, narrava as datas e os fatos. Eu parecia viver junto com ele a cena contada. Seus olhos exprimiam-se nas recordações.
            Em 2013, ele me ligou dizendo sobre vagas para a admissão de novos acadêmicos à ABC, chamando a atenção para meu possível ingresso. Despretensiosamente, tornei-me a imortal da cadeira 7. Entrei para a ABC, agradecendo por poder conviver com pessoas que eu tanto admirava e me inspirava.
             Nesta reunião de sábado, deparei-me novamente com aquela sensação de enxergar José Vicente como uma fonte viva. Um homem longevo na idade e rico na experiência da vida. 87 anos de uma vida desde cedo dedicada à comunicação, ao rádio, a poesia, a música, a cultura e à Academia Barretense de Cultura. Viva ele!

Artigo original do jornal "O Diário", 2/7/2019, p. 2: