segunda-feira, 27 de abril de 2009

CASOS E CAUSAS

O passado traz consigo grandes mistérios, curiosidades e questionamentos sobre a vida do ser humano. Entre seus temas, a história retrata a morte do homem, melhor dizendo, as causas de morte dos homens em suas diferentes épocas e todo o ritual envolvido neste contexto. Paralelo ao estudo da história da morte, a história da saúde relata sobre as principais doenças de um período, bem como as formas utilizadas para curá-las e quem as curavam, os médicos ou os líderes de uma comunidade.
Por vezes cômicos, como podem nos aparentar, são os casos referidos nos atestados de óbitos que aconteciam na nossa cidade de Barretos, quando ainda se chamava “Vila do Espírito Santo de Barretos”, por volta da década de 1880. Osório Rocha aponta alguns exemplos em seu livro: “(...) matado de espingarda ; a 22 de novembro de 1884 faleceu de garruchada por acaso na idade de 31 anos João Alves Cipriano, (...); em 16 de outubro de 1882, faleceu de velhice com 82 anos Antonio Ribeiro Soares”.
Estas causas de morte, no entanto, eram assim descritas pela falta de médicos residentes no arraial. Naquele tempo do período imperial, somente os centros urbanos mais desenvolvidos eram passíveis de universidades e condições estruturais para se manterem os médicos. Por isso, os habitantes da recém formada vila eram organizados em comunidades, praticavam atividades econômicas agrícolas e a responsável pelos registros de óbitos, nascimentos e casamentos era a Igreja.
Contudo, em 1900, já com a categoria de comarca e modernizada a cidade, no jornal “O Sertanejo” eram apresentados breves anúncios de médicos residentes em Barretos, como Dr. A. Batalha, Raimundo Mariano Dias, Mathias Lex, e outros. O curioso destes anúncios é que tais médicos colocavam nas notas suas especialidades (como moléstia dos olhos ou do estômago), seus contatos, os atendimentos a domicílio e no final escreviam “Grátis aos pobres”, fato que hoje é muito raro.
Outros fatos ligados a história da saúde em nossa cidade eram os casos em que os coronéis, chefes do poder político local, eram considerados curandeiros; porém, há de levar em conta que alguns deles eram proprietários de farmácias. Mas, isso já é outro assunto...
Por fim, a falta de médicos no início da povoação de Barretos era o motivo propulsor das precárias condições da saúde pública. A cultura e a religião dos sertanistas eram as bases estruturais que nortearam toda a organização da comunidade, até que chegou a modernização da cidade, os serviços públicos foram controlados pelos novos moradores e se oficializaram os cemitérios, os cartórios, os consultórios e as farmácias.

REFERÊNCIA: ROCHA, Osório. “Barretos de Outrora”, 1954 – pág. 50; e documentos do Museu “Ruy Menezes”.
ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO" (BARRETOS/SP), EM 24 DE ABRIL DE 2009.

domingo, 19 de abril de 2009

OS DIAS QUE FORAM DOS ÍNDIOS

Bem disse a música de Jorge Ben Jor, “antes que os homens aqui pisassem/ nas ricas e férteis terras brazilis/ que eram povoadas e amadas por milhões de índios/ reais donos infelizes/ da terra do pau-brasil/ pois todo dia/ toda hora/ era dia de índio”. Esta música é bastante proveitosa para refletirmos sobre a participação do índio em nossa formação cultural. Mais do que nacional, esta formação da cultura foi também regional.
As ciências humanas atuais ressaltam a participação dos índios nas terras brasileiras como ponto de partida de nossa história, já que a história do Brasil não se iniciou com a chegada dos portugueses. O Brasil já era habitado por populações nativas de culturas e tecnologias diferenciadas dos colonizadores. Paralelamente, podemos dizer que assim também aconteceu com a nossa região do norte paulista no século XIX. De acordo com as evidências, antes do período de migração dos entrantes mineiros para São Paulo e suas instalações por aqui, nossas terras eram habitadas por indígenas. Mas, quem eram esses povos? Será que tiveram contato com os entrantes mineiros quando estes atravessaram o Rio Grande ou Rio Pardo?
Estas dúvidas são pertinentes até os dias hoje, não sabemos ao certo quais eram as etnias que aqui habitaram antes da segunda metade do século XIX. Em 12 de maio de 1900, no Jornal “O Sertanejo”, o Cel. Jesuíno de Melo dissertou algumas informações sobre os antigos índios desta região, conforme os depoimentos que lhe foram apresentados, e concluiu que “os indios passaram pelos sertões de Barretos em epocha remotíssima, muito anterior à vinda dos primeiros exploradores mineiros (...), esse movimento emigratorio deve ter sido mesmo no sentido de Norte e Sul para toda a região que se extende entre o Amazonas e Paraná”.
Já em 1954, Osório Rocha indicava o povoamento de caiapós e coroados na região do Rio Pardo, e em 1985, Ruy Menezes também citava a participação dos caiapós, “bronzeados senhores da terra”, na mesma região. Segundo as pesquisas da internet, os Kaiapós dividiam-se em três grupos e com o passar dos tempos habitaram a região amazônica, as planícies sertanejas e o litoral paulista, sendo portanto possível as suas passagens por aqui.
Como se percebe, ainda há muito que se pesquisar sobre os nossos ancestrais indígenas. Dúvidas e curiosidades não faltam como estímulo às pesquisas, só restam procurar mais fontes. Em nossa região paulista, o índio foi um importante símbolo na constituição da cultura caipira, uma cultura um tanto perdida, mas algumas de suas características ainda perduram na nossa língua, música, literatura e história. Dezenove de abril, Dia do Índio, mas antes de aqui chegarmos, todos os dias eram dias dos índios!

REFERÊNCIAS: Documentos do Museu “Ruy Menezes”; ROCHA, Osório. Barretos de Outrora, 1954; e www.isa.org.br

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL ''O DIÁRIO'' (BARRETOS/SPo), EM 17 DE ABRIL DE 2009.

sábado, 11 de abril de 2009

A ASTRONOMIA FESTEJA: 400 ANOS DE GALILEU!




É certo que em algumas épocas da história tivemos homens e mulheres que desafiaram a mentalidade muitas vezes conservadora de suas sociedades e, por isso, permitiram o descobrimento de várias tecnologias utilizadas pela humanidade. A Idade Média, por exemplo, algumas vezes julgada precocemente por “idade das trevas”, foi uma época em que apesar de tão pouco desenvolvimento científico, houveram descobertas altamente significativas, como alguns instrumentos astronômicos de Galileu Galilei.
Neste período, a vida humana em si era totalmente controlada pelos desígnios da Igreja feudal. Até mesmo o tempo do dia a dia, como horas de trabalho ou de almoço, era indicado conforme as batidas dos sinos das igrejas, a alimentação através do calendário cristão onde não se podia comer carne durante a quaresma – sujeito a fortes penitências, e os exames universitários eram feitos dentro da igreja durante as missas. Como percebemos, a vida na Idade Média era bem restrita no que diz respeito a explanação da ciência e da filosofia, já que somente os monges tinham acesso aos livros e a maioria da população não era alfabetizada.
Contudo, isso não foi motivo suficiente para vetar a curiosidade e a inteligência do italiano Galileo Galilei. Nascido em Pisa, em 15 de fevereiro de 1564, o cientista estudou medicina na Universidade de Pisa e, neste e outros locais, foi também professor de matemática. Depois de muitos inventos e teorias, em 1609, Galileu ouviu falar de um aparelho do holandês Hans Lipperhey que enxergava a distância, e mesmo sem o nunca ter visto construiu sua própria luneta (telescópio).
O fato histórico, porém, é que Galileu foi o primeiro cientista que utilizou o telescópio com visão noturna, permitindo-lhe com o tempo ter a percepção das montanhas da lua, das manchas do sol, dos anéis de saturno, das fases de Vênus e outros. Posterior a muitos estudos, Galileu quis comprovar a teoria anterior de Copérnico, “heliocentrismo”, em que o sol que girava em torno da terra e não o contrário, como era pregado pela Igreja através dos escritos bíblico. Foi então que, por conta da Santa Inquisição, Galileu foi condenado a prisão domiciliar até sua morte (1642) e suas publicações foram proibidas.
Bem, exatos 400 anos depois, neste ano de 2009, a astronomia está em festa comemorando o “Ano Internacional da Astronomia”, graças à experiência do telescópio de Galileu em 1609. Ele estava correto em seus estudos, os quais revolucionaram o pensamento astronômico da Idade Média e permitiram a organização desta ciência. A ousadia deste italiano medieval, que desafiou seus próprios princípios religiosos, contribui demasiadamente para o desenvolvimento tecnológico das futuras sociedades e garantiu a nossa noção de espaço no universo. Salve Galileu!

REFERÊNCIAS: FEBVRE, Lucien. Domínio da Religião sobre a vida.
http://astro.if.ufrgs.br

OBSERVAÇÃO: Além dos 400 anos de Galileu comemorados em 2009, neste ano comemora-se também 40 anos em que o homem pisou na lua pela primeira vez! Coincidência?

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO" (BARRETOS/SP), EM 10 DE ABRIL DE 2009.

domingo, 5 de abril de 2009

HISTÓRIA NA SALA DE AULA

Ensinar História hoje pode-se dizer que é um desafio misto de paciência, dinâmicas e leituras. É bem verdade que em todas as épocas houveram aberturas ou dificuldades no ensino, pois, por maiores que sejam as diferenças entre os homens e as gerações, somos partes da mesma espécie e, por isso, algumas características permanecem mesmo com o passar dos tempos. Alguns falam que “antigamente”, nos tempos dos avós, o ensino era melhor porque havia ordem e respeito, outros, porém, relatam que não adianta ter ordem se não há também reflexões, liberdade de opinião, críticas e debates. As opiniões são divergentes, e os professores atuais buscam alternativas que estão ao seu alcance para estimularem os jovens, tão precocemente informados, a compreender o passado e a valorizá-lo.
O respeitável historiador inglês Eric Hobsbawn já disse: “... quase todos os jovens de hoje crescem numa espécie de presente contínuo, sem qualquer relação orgânica com o passado público da época em que vivem. Por isso, os historiadores, cujo ofício é lembrar o que os outros esquecem, tornam-se mais importantes que nunca no fim do segundo milênio”. Ou seja, a geração atual de jovens preocupam-se demasiadamente com o presente, sem se dar conta do passado comum que possuem. É neste ponto que os historiadores e os professores de história são fundamentais para a educação, demonstrando o valor, a complexidade e o significado do passado.
Para tal, os historiadores e os professores unem respectivamente a “pesquisa histórica” e o “saber histórico escolar” com a finalidade de trazer conhecimento aos alunos. Na prática docente de sala de aula, os professores são orientados a utilizarem os mais diversificados recursos pedagógicos, como apresentações audio-visuais e textos complementares de diversos teores. Mas, como executar tal orientação se muitas vezes as escolas não dispõem de tais recursos? Ou ainda, como ensinar e refletir com os alunos a complexidade da história, se a disponibilidade de aulas é tão pequena (três ou até duas aulas semanais)?
É muito fácil culpar o desinteresse do aluno e os erros dos livros-didáticos, tapar os olhos e não considerar os imensos problemas culturais que vivemos. Muitos alunos não se identificam mesmo com a aprendizagem de História e até a recusam, por certo isso acontece pela falta de oportunidades e estímulos da escola e da família. Por fim, algumas crises abalam nosso sistema educacional há muito tempo, soluções estão tentando ser aplicadas, contudo, o ensino de História e de outras ciências humanas clamam por maiores atenções. Afinal, os alunos, os professores e toda a sociedade merecem ser conhecedores de seu passado e presente e ainda caminharem para a construção da cidadania autêntica!

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO" (BARRETOS/SP), EM 03 DE ABRIL DE 2009.