segunda-feira, 19 de outubro de 2009

ENTRE AS PEDRAS... EIS O EDUCADOR!

“No meio do caminho tinha uma pedra, tinha uma pedra no meio do caminho” já dizia a poesia do sábio Carlos Drummond de Andrade, que se adapta a realidade de muitos profissionais de diversos setores do Brasil. Entre estes estão a classe dos professores, ou melhor dizendo “educadores”, nos quais são os profissionais que contribuem com a transformação da realidade que nos cercam. Mas, para conseguir tal efeito é necessário ultrapassar as “pedras” que impedem o sucesso do processo de ensino-aprendizagem e driblar os obstáculos do cotidiano educacional.
As “pedras” que os educadores precisam enfrentar vão desde o sistema educacional brasileiro que aprova a “progressão continuada”, a infra-estrutura muitas vezes falha das escolas, a ausência de consciência de seus colegas enquanto “classe”, a triste falta de interesses de alguns alunos e a carência de tempo para progredir e atualizar seus estudos. Além disso, os profissionais da educação não possuem um específico Código de Ética de trabalho e ainda enfrentam as críticas originárias de pessoas que não vivenciam o cotidiano da sala de aula e não sabem de fato como é a “prática” docente.
A denominação do profissional da educação modificou-se com o passar dos tempos, quando na ditadura militar era conhecido como “mestre” e nos tempos atuais a tendência é o “educador”. Esta mudança de termos que parece tão simples, na verdade conota a verdadeira atividade do educador, onde este profissional age com a intenção de transformar a realidade dos alunos através de práticas pedagógicas previamente estudadas. Nesta nova abordagem, o educador é o mediador entre o conhecimento acadêmico e o saber escolar, fato que, diga-se de passagem, não é nada fácil de concretizar, pois exige uma habilidade extensa acerca da linguagem acadêmica e o vocabulário na sala de aula.
Por todos estes fatores, parabenizo a todos os educadores, àqueles que puderam comemorar ontem, seu dia 15 de outubro, refletindo ou mesmo trabalhando. Ao eterno “mestre” e educador de hoje, que mesmo entre as pedras no caminho da educação, conseguem exceder os problemas e atingir firmemente seus objetivos: EDUCAR – cultivar a sabedoria e sempre aprender com ela. Àqueles que hoje estão desanimados com a profissão, que voltem ao âmago do início da carreira, quando queriam revolucionar o mundo através de suas palavras; àqueles que reinventam maneiras de reeducar os alunos e finalmente àqueles que nos ensinam a ter consciência humana através da leitura, pois é graças a eles que conseguimos chegar até aqui e ler estas poucas linhas. O educador possui um poder inigualável e Carlos Drummond sabia disso... que continuem a caminhar entre as pedras, já que se não fossem elas talvez não sentiríamos o quão belo é educar!

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO" (BARRETOS/SP), EM 16 DE OUTUBRO DE 2009.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

BARRETOS NA HISTÓRIA DO BRASIL

O final do século XIX foi um dos principais momentos de transformação na História do Brasil, onde vários debates acerca do abolicionismo e republicanismo envolviam os intelectuais da época e atingiam também as classes sociais economicamente subalternas. Poucos anos antes da Proclamação da República, veio à tona uma série de discussões, veiculadas através da imprensa paulista, diante da questão do “separatismo paulista” e suas reivindicações políticas ao Imperador Pedro II.
O estudo da historiadora Cássia C. Aducci levanta os artigos publicados pelos separatistas nos jornais paulistas e os relacionam com o contexto político da época, tendo como resultado um importante estudo sobre a micro-história, tornando possível também chegarmos a história de Barretos. Primeiramente, a Província de São Paulo nos anos de 1880, era dona de grande parte do poderio econômico do país, em razão de suas atividades cafeeiras e agrário-exportadoras, porém, alegava que o governo imperial não lhe concedia espaço e autonomia no cenário da política nacional.
Em vista disso, surgiram em 1887 os “separatistas paulistas” justificando seus pensamentos por motivos como: corte de verba a São Paulo, nomeação de interventores não paulistas à Província, progresso espantoso da Província, exigüidade numérica de sua representação e grandeza de sua renda. Entre tais separatistas, Cássia Aducci destacou os nomes de Martim Francisco Ribeiro de Andrada Filho (neto de José Bonifácio, líder da Independência do Brasil) e Joaquim Fernando de Barros. E é através deste último nome que podemos chegar a história de Barretos.
Segundo a historiadora, Joaquim Fernando de Barros aderiu à luta separatista quando publicou no jornal A Província, em 11/02/1887, o artigo “Amigo Nemo” – Nemo era o pseudônimo de Martim Francisco. Porquanto, Joaquim Fernando de Barros também foi o ator da principal obra separatista deste período, A Pátria Paulista, onde foram organizados os artigos de tais separatistas publicados na imprensa. Todas estas informações também constam no jornal de Barretos da época, “O Sertanejo”, o qual no dia 07 de abril de 1901 publicava o falecimento do Juiz de Direito Joaquim F de Barros.
Sim, o mesmo Joaquim Fernando de Barros citado no artigo da historiadora Cássia é o mesmo Juiz de Direito nomeado em Barretos desde 1895, um dos fundadores da Maçonaria Fraternidade Paulista e que hoje jaz no Cemitério Municipal de Barretos. Foi empresário de serraria a vapor em São Paulo, morador de Itu, membro da Assembléia Provincial na época do Império e, depois, na República, membro do Partido Republicano Paulista. Esta personalidade, com certeza, é digna de maiores especulações de estudo, pois traz consigo um passado político curiosíssimo e pode-nos ajudar a contextualizar a história de Barretos com a História do Brasil, tornando possível o preenchimento de algumas lacunas da história do período republicano barretense.

REFERÊNCIA: www.scielo.org

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO" (BARRETOS/SP) EM 09 DE OUTUBRO DE 2009.

CRIME NAS LINHAS DE “O SERTANEJO”

Barretos já foi cenário de turbulentas agitações populares por conta de assustadores crimes que aconteciam no final do século XIX e início do século XX, em pleno início da população barretense, onde eram muito comuns as migrações de pessoas vindos dos lugares mais diversos do país. Para alguns estudiosos da história de Barretos de épocas passadas, este tipo de comportamento era considerado como “falta de civilidade”, mas hoje sabemos que estas atitudes eram efetivadas em razão de vários fatores que vão desde o sistema policial até a questão da mentalidade da época tão influenciada pelos antigos costumes violentos do Brasil Colonial.
Um destes crimes chamou deveras a atenção da população barretense no ano de 1900 e, foi tamanha a agitação popular, que tal crime mereceu uma edição especial do jornal “O Sertanejo” do dia 15 de outubro de 1900. Nessa edição, que neste mês comemora 109 anos de publicação, o boletim especial assustadoramente exaltava: “Crimes espantosos: bigamia ,desonra, infanticídio e parricídio”. Foram levantadas todas as dúvidas que rondavam o caso do desaparecimento e assassinato do lavrador José Roza do Nascimento, conhecido como Juca Branco, morto a tiro de espingarda pelo seu próprio filho Pedro Roza do Nascimento de 18 anos, menor na época.
Foram muitos os motivos do crime e giravam em torno dos abusos que o pai cometia sob suas filhas, enteadas e ex-esposas. De acordo com a perícia executada no local do crime pelo Cel. Almeida Pinto e outros, os jornalistas anunciaram o contexto que levou o filho a matar seu próprio pai, taxado pela população como “monstro”. Os peritos encontraram três esqueletos de crianças embaixo do solo da casa, alguns outros a seu redor, e então entenderam que o finado violentava seus filhos e enteados e depois os matavam. Pedro, então, assassinou seu pai em defesa de sua irmã, de 14 anos, que estava prestes a ser violentada em seu quarto. O mais interessante de toda esta história foi a imagem encontrada debaixo da caixa de arroz, tratava-se de uma figura de Santo Antônio sem a cabeça! Seria somente superstição?
O inquérito policial terminou com a agitação da população pela absolvição de Pedro, que foi julgado e absolvido com voto de Minerva e intervenção do juiz de Direito Joaquim Fernando de Barros, sendo o advogado de defesa o Cel. Almeida Pinto. Entretanto, passado algum tempo, Pedro voltou para casa e foi picado por uma cobra justamente no local onde havia enterrado seu pai. Coincidência? É o que os escritores de “O Sertanejo” indagaram e o que nós, 109 anos depois, ainda podemos pensar. Vale a pena ler mais sobre este caso, que envolve criminalidade, superstição, participação popular, polêmica e história!

REFERÊNCIA: ROCHA, Osório. Barretos de Outrora. 1954 – p. 89 e 90.
Jornal “O Sertanejo” de 1900 a 1902 (Acervo Museu “Ruy Menezes”).

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO" (BARRETOS/SP), EM 02 DE OUTUBRO DE 2009.