sábado, 28 de abril de 2018

VIAGENS E PENSAMENTOS DE BELÉN DE SÁRRAGA


ARTIGO PUBLICADO PELA PROFª ESP. KARLA O. ARMANI MEDEIROS, EM 26 DE ABRIL DE 2018, NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS", PÁGINA 2 
Fotografia do jornal “A Lanterna”, SP, 29/4/1911, p.1.
Acervo digital da Biblioteca Nacional

            Em edição anterior, expomos a passagem da pensadora espanhola Bélen de Sárraga por Barretos no ano de 1911, em conferência no Grêmio Literário e Recreativo. Pois bem, o fato é que Bélen de Sárraga não passou somente por Barretos. Foi uma verdadeira viajante pelas terras paulistas! Em 1911, a conferencista morava no Uruguai e foi recebida pelas grandes instituições maçônicas brasileiras, as quais organizaram suas viagens por S. Paulo. Ela já tinha vindo ao Brasil no ano anterior, 1910, onde realizou palestras no estado do Rio Grande do Sul, discursando sobre seus ideais feministas a públicos de elite a operários. Mas, foi em 1911 que sua passagem alcançou maiores plateias, pois visitou diversas cidades do interior paulista (diversas mesmo!).
            Seu maior legado foi o discurso de ação que pregava em suas conferências, as quais continham assuntos ousados para aquele início do século XX, muito além do feminismo. Quando chegou a São Paulo, em abril de 1911, alguns jornais descreveram o conteúdo de suas palestras. Como exemplo, o “Correio Paulistano” relatou os temas de suas três primeiras palestras na capital: “religião e livre pensamento”; “a igreja e a família”; “o jesuíta e o porvir da América”. Pelos títulos é perceptível o seu anticlericalismo, isto é, sua reação contra o que considerava dogmático dentro das religiões, principalmente o catolicismo ultramontano. Em resumo, Bélen defendia que as mulheres precisavam se afastar das superstições e crenças meramente sobrenaturais, para de que fato tomassem conhecimento racional do mundo e da vida; assim se emancipassem, e, como a célula básica da família, pudessem criar seus filhos aos olhos da razão. Criticando tanto os preceitos religiosos dogmáticos daquele período, eis o motivo de sua representação pela maçonaria da época.
Fato curioso foi o caso do jornal “A Lanterna: folha anti-clerical de combate”, o qual noticiava todo seu percurso no interior, enaltecendo seus pensamentos em reportagens calorosas. Inclusive, o mesmo jornal, em 24/6/1911 (p.2), reproduziu uma carta de José Hilário dos Santos, de Olímpia (vila de Barretos na época), solicitando a atenção do governo e a vinda de Sárraga para a região em virtude do fanatismo religioso que o “profeta” Francisco Miotti realizava por aqui; de modo que as palavras de Sárraga pudessem alertar sobre os males do fanatismo. Mas sua viagem para cá já estava marcada.
            Por certo que as ideias de Sárraga não se voltavam somente ao viés religioso, mas também político, social e cultural que poderiam obscurecer a liberdade feminina. Ela representava o racionalismo do início do século XX, sobretudo o feminino. Assuntos que, mesmo após um século, continuam a ser evidentes em nossa sociedade. Muito rotineiros, até. Necessários. Assim como as viagens e os pensamentos de Bélen de Sárraga.


Link do jornal para citação de fonte: http://www.odiarioonline.com.br/noticia/73648/VIAGENS-E-PENSAMENTOS-DE-BELEN-DE-SARRAGA

BARRETOS JÁ RECEBEU BELÉN DE SÁRRAGA!


 ARTIGO PUBLICADO PELA PROFª ESP. KARLA O. ARMANI MEDEIROS, EM 25 DE ABRIL DE 2018, NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS", PÁGINA 2 


“Esteve em Barretos Belén Sárraga, conferencista espanhola, de idéias avançadas, muito anti-clerical. Foi alvo de grandes homenagens e atenções, tendo sido eu dos mais entusiasmados [...].” (Osório Rocha, Reminiscências, v. 1, p. 185)

            As palavras do escritor Osório Rocha incitam qualquer historiador a ficar curioso. Fato instigante. Cativante, até. Pois, como uma mulher em 1911, estrangeira, descrita como portadora de “ideias avançadas” chamou tanta atenção da elite letrada masculina de uma cidade interiorana como a nossa? Aliás, por qual motivo Barretos também foi rota de passagem para tal intelectual? Foram tais perguntas que me levaram a querer pesquisar, mesmo de maneira simplória, sobre tal personagem. Então, vamos a ela!
            O Grêmio Literário e Recreativo de Barretos surgiu em 1910, e como uma instituição promotora de conferências e eventos culturais de variados tipos, recebia rotineiramente personalidades interessantes. Foi assim que Belén de Sárraga passou por ali, realizando conferência, a qual fora muito elogiada pela imprensa da época, conforme relatou Osório Rocha em suas memórias daquele tempo.
            Tamanha repercussão em 1911 não é de se espantar, afinal ao pesquisar sua biografia pessoal e intelectual nos deparamos com vastos textos sobre seu legado cultural. De maneira resumida, podemos dizer que Belén de Sárraga (1873-1951), espanhola, foi médica, pensadora e feminista. Atuou como escritora, oradora e envolveu-se em confrontos políticos na Espanha, México e outros países latinos nos quais residiu.  Lutava e pregava pela educação laica, tolerância, democracia e liberdade principalmente voltada às mulheres trabalhadoras e estudantes. Contra o machismo e a favor do secularismo, do divórcio e da emancipação das mulheres, Belén visitou vários países da América Latina fazendo conferências sobre tais ideais; e assim entendemos sua passagem por nossas terras. Era uma viajante, se aventurava em falar sobre os direitos femininos em pleno início do século XX para as mais distantes plateias de cidades interioranas da América.
            Ao passar por Barretos, acompanhada do escritor espanhol Luís Porta Bernabé, Bélen em poucas palavras transcritas no livro de visitantes do Grêmio conseguiu resumir todas suas ideias voltadas à liberdade, às novas gerações e ao progresso que a cultura poderia fomentar. Assim ela disse: “Todo centro de cultura que se fomenta, es como uma flor de progresso que se cuida. Ella, regada continuadamente com el agua de las ideias, esparce perfumes que constituem el aire vital de generaciones nuevas. Julio 18-1911”.

Link do jornal para citação de fonte: http://www.odiarioonline.com.br/noticia/73604/BARRETOS-JA-RECEBEU-BELEN-DE-SARRAGA

MUSEU: UMA CRIAÇÃO NECESSÁRIA


ARTIGO PUBLICADO PELA PROFª ESP. KARLA O. ARMANI MEDEIROS, EM 17 DE ABRIL DE 2018, NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS", PÁGINA 2 

“Para os homens que têm administrado Barretos, museu jamais foi assunto de importância. E quanto documento vem se perdendo! Quantas fotos históricas se estragando! Quantos móveis destruídos pela impossibilidade de serem guardados convenientemente” (O Diário, 23/2/1973, p. 2)

Com tais exclamações, o texto publicado no jornal “O Diário” de 1973 tentava alertar aos leitores da grande necessidade da salvaguarda das peças históricas de Barretos. Aliás, mais que isso, o artigo tinha a visível intenção de chamar a atenção dos gestores públicos para que providências fossem tomadas na criação de um espaço que de fato recebesse a história da cidade: um museu municipal.
Foi então que, no ano seguinte, o prefeito Ary Ribeiro de Mendonça assinou o Decreto n. 2882, no qual a criação do museu foi garantida. Somente em 1979, na gestão do prefeito Mélek Geraige, o museu fora inaugurado graças a esforços de pessoas fortes como a Profª Lydia S. Scortecci e o Profº Raul Alves Ferreira. Este último, em 1961, havia fundado o Museu “Ana Rosa” na atual Escola E. “Mário V. Marcondes”, e foi graças a doação do acervo deste museu que foi possível criar e inaugurar o municipal.
Por ora, vê-se que o nosso museu fora criado pela intervenção de pessoas ligadas à Cultura e à Educação. No entanto, é visível também o clamor veiculado pela imprensa, na intenção de preservar todo tipo de peças, documentos, fotografias e artefatos que se perdiam diariamente pela cidade. A reportagem do jornal cita o exemplo da casa do ex-prefeito Antônio Olympio, que ruía junto com seu mobiliário e acervo histórico.
Passados 45 anos da reportagem, nosso museu municipal, então denominado “Museu Ruy Menezes” acaba de ser reinaugurado pela prefeitura. E sobre isso, nós barretenses precisamos comemorar, haja vista que muitos museus do país passam por difíceis situações. Parte do acervo ainda é composta pelos mesmos objetos do Museu Ana Rosa, fato que demonstra a sensibilidade de se manter a originalidade da instituição. Porém, o museu também possui doações novas que estão em exposição, o que mostra o quão a história da cidade é (e deve ser!) (re)construída a cada momento.
Assim, um museu que possui essa rica história de criação, merece ser mantido com respeito as suas tradições e reativado com novos ares. Afinal, o Museu Ruy Menezes tem a feliz missão de nos mostrar que aquilo que é “velho” pode e deve ser tratado como veículo para novos olhares do passado, presente e futuro. Sempre novos olhares.

Link do jornal para citação de fonte: http://www.odiarioonline.com.br/noticia/73384/MUSEU-UMA-CRIACAO-NECESSARIA


IMIGRAÇÕES EM VÁRIOS TEMPOS


ARTIGO PUBLICADO PELA PROFª ESP. KARLA O. ARMANI, EM  OUTUBRO DE 2015, NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" 

            Todos os dias os noticiários apontam as ondas imigratórias que a Europa vem recebendo da conflituosa região da Síria. São notas de passagens perigosas, números alarmantes de mortes e falta de informações sobre os destinos daqueles que deixam sua terra em guerra na esperança de uma vida pacificada.
            Pois bem, a imigração síria e todas suas consequências nos fazem recordar (e não comparar) de períodos da história do Brasil em que também milhões de imigrantes foram recebidos e estimulados a se fixar no país. O final do século XIX foi a principal época deste fenômeno imigratório por conta da necessidade de mão-de-obra para as lavouras de café no sudeste do Brasil. No entanto, se reduzirmos mais a escala da história, veremos que a nossa cidade de Barretos também foi receptora (e incentivadora) de imigrantes para servirem como força de trabalho à primeira empresa frigorífica do Brasil, que mais tarde passara a denominar-se Frigorífico Anglo.
            Acerca deste assunto, a saudosa historiadora Célia Aiélo publicou sua tese de mestrado “Perfil dos Operários do Frigorífico Anglo de Barretos – 1927/1935” (Unicampo, 2002). Nesta pesquisa, Célia brilhantemente explana as condições de vida e trabalho, salários, atribuições e uma série de referências sobre os imigrantes que trabalhavam no frigorífico. No entanto, o destaque da publicação vai para o final, em que é revelado algo interessante que muitos barretenses talvez desconheçam: a nacionalidade da maioria dos trabalhadores imigrantes da empresa, os lituanos.
            Sim, centenas de lituanos trabalhavam, cultivavam suas tradições e viviam na vila operária. Eram imigrantes originários de um país em conflito, de um tempo em que os países europeus se digladiavam no totalitarismo e em conquistas fanáticas de territórios. O povo lituano sofria com os domínios da Alemanha, Rússia, URSS, Polônia e outros. Foi assim, e estimulados por propagandas ilusórias, que se aventuravam a vir para o Brasil e centenas deles acabavam trabalhando em fazendas e depois vieram para Barretos. O trabalho de Célia ainda denota sobre condições de vida, organizações e costumes deste povo e nos instiga a conhecer muito mais sobre o assunto.
            Logo, as imigrações, apesar de muitas vezes serem trágicas pelas condições em que ocorrem, fazem parte de vários períodos da História e a todo momento explodem em cada canto do planeta. E Barretos também viveu a imigração e a transformou em História.


O Museu e aulas de História


ARTIGO PUBLICADO PELA PROFª ESP. KARLA O. ARMANI, EM  SETEMBRO DE 2015, NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" 

            Em tempos o nosso Museu “Ruy Menezes” recebe visitas de jovens alunos barretenses, que, ao subirem as escadas do Palácio das Águias, não possuem a dimensão do que podem vir a encontrar. Em seu tamanho original, de paredes, tetos e pisos históricos, o Museu oferece aos educandos uma verdadeira aula de História, não só de contemplação, como também de reflexão. Recentemente, tive a oportunidade de concretizar essa experiência com meus próprios alunos. Foi mágico.
            Diante de tantas peças históricas, organizadas em temas e períodos, poderíamos destacar um ou mais assuntos específicos da história do país e da cidade, de modo que os alunos tenham a chance de (re)conhecerem naquelas prateleiras a praticidade do livro didático e como o passado está muito mais próximo do que podemos imaginar.
            Dentre tantos temas históricos, os que geralmente chamam mais atenção dos alunos são os conflitos civis e militares; em essencial aqueles do século XX como a Revolução Constitucionalista de 1932 e a Segunda Guerra Mundial. Ao chegarem no Museu, os alunos somente possuem as referências destes conflitos a nível nacional, e mal sabem que a própria cidade em que vivem protagonizou interessantes fatos dessa época e cultivou memórias de personagens reais.
            Ao se deparar com a estante da Revolução de 1932, os alunos passam a conhecer a curiosa passagem de João Batista da Rocha no Rio Grande por meio de seu velho capacete. Outras peças revelam personagens como a Dona Fiúca, os 52 de Olímpia, Osório Rocha e tantas outras histórias. Já a 2ª Guerra, em sua estante fechada de madeira, faz qualquer jovem curioso se apaixonar por aqueles quatro capacetes de guerra (alemão, italiano, inglês e americano), além do desejo em ver de perto as armas, uniformes, projeteis e símbolos. E são essas peças que dão oportunidade aos alunos de conhecerem figuras como o saudoso Bezerrinha e heróis ainda presentes como o sr. Arlindo Ribeiro e Mario Lemos Ferraz.
            É no Museu que teoria e prática se encontram, educação e cultura se complementam, Barretos e Brasil fazem história e o passado e presente se despertam.

Planalto x Congresso: e quem paga?


ARTIGO PUBLICADO PELA PROFª ESP. KARLA O. ARMANI, EM  SETEMBRO DE 2015, NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" 

            Este é um texto de opinião e indignação. Sobretudo, de desabafo. 
Nos últimos tempos, o assunto da “crise econômica” no Brasil e o aumento de impostos está sempre em pauta. Que o Brasil está passando por uma crise, obviamente motivada por fatores iniciados há anos, e que o atual governo federal precisa fazer algo para saná-la, é fato. Os brasileiros já estavam esperando que o “sanar” da crise fosse corte de gastos de governo e aumento de impostos; fatores que são diretamente ligados a vida de cada um de nós. Porém, existe um outro problema e que muitas vezes nos passa despercebido: a crise política entre o atual governo do Planalto e o Congresso Nacional.
            Nesta semana, a presidência anunciou a proposta de retomada do imposto sob transações financeiras, para sanar parte da crise e mover dinheiro para a previdência. No entanto, tal medida deve ainda ser aprovada pelo Congresso Nacional. Acontece que, para aprová-la, foi divulgado em mídias jornalísticas que o Executivo chegaria a propor o aumento da alíquota de tal imposto afim de que uma parte fosse destinada aos estados, na intenção de que os governadores apoiassem tal aprovação e ajudassem a “convencer” o Congresso. Ou seja, o aumento da alíquota seria mais para conseguir aprovação dos deputados e senadores do que para a crise em si. Dentro desta atitude, fica a pergunta: o Planalto e o Congresso não se entendem e quem é que paga por isso? Os brasileiros! Aqueles que bem ou mal poderão ter o imposto maior devido a pura politicagem.          
            O que os políticos brasileiros precisam entender é que eles representam em primeira instância o povo (quem os elegem), e não o seu partido. Eles precisam ou não aprovar o aumento dos impostos se for bom ou não para a economia brasileira, e o Planalto precisa propor medidas reais e não pensando em reação da oposição. Aos que lá estão, sempre a resposta é a mesma: “política funciona assim mesmo”, “para conseguir aprovação é necessário barganhar”. Frases que mostram como o atual pensamento político brasileiro é muito mais voltado ao partidarismo do que ao povo em si. Lastimável.
            A crise entre Planalto e Congresso existe, e pior que ela é a divulgação de notícias como a “barganha política” sendo lançada normalmente, como se fosse natural o Congresso depender do apoio dos governadores e o Executivo aumentar alíquotas de impostos somente por isso. Bom senso e a velha política do bem comum, e não partidária, é que está faltando ao nosso Executivo e Legislativo. Executem e legislem, literalmente!

Enciclopédia: de antigamente

ARTIGO PUBLICADO PELA PROFª ESP. KARLA O. ARMANI, EM  SETEMBRO DE 2015, NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" 


            Antigamente, tínhamos o costume de irmos às bibliotecas municipais ou das escolas e recorrer a enciclopédia para tirar dúvidas e fazer pesquisas de trabalhos escolares. Pode soar estranho ao leitor o advérbio “antigamente”, pois vários de nós cultivamos este hábito somente há algumas décadas atrás. Acontece que, a enciclopédia como plataforma de pesquisa já é considerada obsoleta na prática escolar e cotidiana da grande maioria dos jovens, que, além de nem conhecerem aquelas enormes coleções de "livrões", já adquiriram como suporte de pesquisa algo mais tecnológico: o smartphone.
            A primeira enciclopédia surgiu em 1772 a partir da publicação de 33 volumes escritos por vários colaboradores e organizados pelos pensadores Diderot e D’Alembert. Naquele conflituoso século XVIII vivia-se o movimento intelectual do Iluminismo, o qual pensadores franceses publicavam obras consideradas “revolucionárias” ao defenderem questões políticas como a liberdade e a soberania popular e aspectos do conhecimento “esclarecido”, ou seja, aquele baseado na razão (em contraponto com o religioso). Desta maneira, a enciclopédia tinha a pretensão de reunir todo o “conhecimento universal”, científico e empírico, baseado na razão, técnica e experimentação. E é justamente por manter este rótulo de “universal”, que, ao longo dos séculos, as enciclopédias tinham a necessidade de ser atualizadas e sofriam críticas por esses e outros motivos.
            Com o advento da internet, a busca pelas enciclopédias diminuíram ao longo dos anos, visto que a agilidade e o rápido acesso se tornaram aliados fundamentais aos pesquisadores e jovens alunos em seus trabalhos escolares. Fato que evoluiu ainda mais com o lançamento do smartphone como novo programa de pesquisa rápido e atualizado, em que, consultando seu próprio celular as pessoas se deparam com resultados instantâneos; que obviamente precisam ser filtrados. Deste modo, é interessante notarmos a evolução das plataformas de pesquisas gerais disponíveis a pesquisadores comuns ao longo do tempo, as quais mudam-se o suporte de leitura (de papel à telas touch), o tamanho e a desenvoltura dos textos, mas a busca pelo conhecimento se mantém seja no revolucionário século XVIII ou no ousado século XXI.

Independência do Brasil: inevitável comparação



 ARTIGO PUBLICADO PELA PROFª ESP. KARLA O. ARMANI, EM  SETEMBRO DE 2015, NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" 

            Mais um feriado histórico se aproxima, o 7 de setembro, dia oficial da Independência do Brasil. Data em que o imperador português Dom Pedro I se eternizou como símbolo de liberdade política e jurídica do Brasil; colônia de seu país natal por mais de trezentos anos. Acontece que, na maioria das vezes que se fala neste assunto tem-se o costume de discutir a respeito da figura de Dom Pedro, do patriarca José Bonifácio, da situação de Portugal e etc. No entanto, hoje o foco será outro: o contexto histórico do século XIX em que não só o Brasil vivia, bem como vários países da América que lutavam por sua independência das metrópoles ibéricas.
            Neste raciocínio, se faz necessário lembrar e discutir a respeito de como as colônias espanholas na América se tornaram independentes e da diferença com o Brasil. A começar, existe a efetiva participação da elite burguesa criolla (comerciantes) e de setores populares em verdadeiras guerras de independência contra a corte espanhola. Guerras que moveram as colônias americanas em busca dos ideais de liberdade política e econômica, influenciados pelo Iluminismo europeu e pelo exemplo de independência dos Estados Unidos. Após tais guerras, as ex-colônias da Espanha conseguiram sua independência e tiveram como consequência a instalação de um novo regime político, a República, o estímulo burguês e a fragmentação dos antigos reinos em países menores.
            Comparando tais feitos do mesmo século XIX com o Brasil, veem-se grandes diferenças. Uma vez que, para a realização da independência pouco se enxerga de guerras, principalmente envolvendo os setores populares. Ao contrário, sabe-se que a independência brasileira ocorreu por manipulação e controle da própria corte portuguesa aliada a uma elite agrária que temia a fragmentação do território, a perda de suas terras e a libertação de seus escravos. Além disso, após a independência, o Brasil não experimentou os ares do republicanismo, e sim caiu em uma monarquia que duraria 67 anos em mãos “portuguesas”. Éramos a única monarquia na América do século XIX.
            Enfim, analisando superficialmente a independência da América Espanhola e do Brasil, ambos da mesma época, são inevitáveis as comparações e também o pensamento do “se”. E “se” tivéssemos vivido a independência popular e o republicanismo mais cedo? Porém, não é o “se” que a História estuda... No caso, a “sorte” já foi lançada!

Aniversário de Barretos: declarações nas redes sociais


ARTIGO PUBLICADO PELA PROFª ESP. KARLA O. ARMANI, EM  AGOSTO DE 2015, NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" 

            No último dia 25 de agosto, a cidade de Barretos comemorou seus 161 anos de fundação e foi lindo ver as mensagens e imagens postadas nas redes sociais por barretenses ou pessoas que escolheram esta cidade para viver; verdadeiras poesias que demonstravam carinho, admiração e orgulho do “chão preto”. É importante registrar aqui esse fato, uma vez que tais mensagens na internet não foram feitas para ser eternizadas, e sim vistas instantaneamente.
            Em particular, fiz uma publicação em meu perfil parabenizando a cidade pelo seu aniversário e utilizei como fundo uma fotografia que tirei de um dos patrimônios históricos mais belos da cidade: a antiga pensão da Família Ferreira na esquina da rua 16 com a avenida 7 (que recentemente foi pintada e conseguiu ficar mais linda ainda). Minha intenção em fazer esta postagem associada a tal imagem era que toda vez que falarmos nos centenários anos de fundação da nossa cidade, que falemos sim das grandes e importantes instituições e marcas que hoje revelam Barretos como uma grande e próspera cidade, mas que jamais esqueçamos de tudo o que ela representou no passado, de cada época que viveu e de como sua urbanidade foi sendo construída. Para registrar novamente meus parabéns, reproduzo aqui a minha postagem (desta vez, à posteridade):
            “Confesso que sou bairrista, amo minha cidade. Confesso mais, amo cada um de seus 161 anos, mesmo porque são esses anos que deram a cor, o formato e a vida que hoje percorre o dia a dia de nós, barretenses. Amo cada curva da bela arquitetura de suas antigas casas, cada paralelepípedo das ruas históricas e cada vestígio de seu tempo de outrora. Amo minha terra! Terra que há tempos é conhecida pelo incrível Hospital de Câncer, pela festa do peão e pelas exposições de gado. Uma terra que vai além disso, que já cultivou grandes nomes como Jorge Andrade, abrigou abolicionistas como Silvestre de Lima, estremeceu e lutou na Revolução de 1932, construiu em décadas uma belíssima catedral do século XIX, e que viveu cada época de sua história se desenvolvendo e se superando. Temos muito a evoluir, mas já somos abençoados por este Chão Preto ser a nossa casa, a nossa terra, o nosso bairro. Aqui eu nasci e aqui escolho para ver minha filha também nascer e crescer. Parabéns Barretos! 161 anos de vida, de História e de memória!”
           

BIBLIOTECA MUNICIPAL E OS NOSSOS AUTORES


ARTIGO PUBLICADO PELA PROFª ESP. KARLA O. ARMANI, EM  AGOSTO DE 2015, NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" 

            Na última quarta-feira, dia 19 de agosto, a Biblioteca Municipal “Afonso d’E. Taunay” realizou uma homenagem aos barretenses que são autores de livros. A cerimônia contou com a presença de vários autores, que tinham sua cadeira específica e sua obra exposta, além de estudantes da rede estadual que puderam conversar e conhecer um pouco mais sobre o universo da literatura dos conterrâneos.
            O projeto da Biblioteca Municipal, em sua singeleza, mostrou a sensibilidade para com os autores da cidade e revelou a própria biblioteca como uma casa dinâmica, que não só guarda os títulos, mas também reconhece a visibilidade de quem os escreve. Barretos, ao longo de sua trajetória, mostra-se com uma cidade que sempre cultivou grandes literatos, talentos que inclusive já foram reconhecidos internacionalmente, como o saudoso Jorge Andrade. Numa terra em que viveu Jorge Andrade, a impressão que temos é o que dom da escrita continuará sendo semeado eternamente.
            A grande maioria dos autores são independentes, ou seja, escreve suas obras e as publicam sem intervenções ou ajuda das esferas governamentais. É claro que existem editais e projetos de incentivos à publicação de obras literárias (avanços importantes no Ministério da Cultura e de secretarias estaduais e municipais), onde os autores têm a chance de publicarem suas obras com apoio financeiro do governo. Mesmo assim, muitos escritores tem de se aventurar pela publicação independente, pela iniciativa privada. Esta questão financeira é importante de ser ressaltada, uma vez que grande parte da população não conhece esses meandros que os autores precisam passar. Ou seja, a criação, anos de produção de escrita, habilidade em escrever no bom português e tantas outros aparatos dos autores, não são a única fonte para se escrever um livro.
            Por tudo isso, a Biblioteca Municipal foi feliz na iniciativa de enaltecer aqueles que, muitas vezes, dedicam anos de produção à escrita, tempo livre entre o trabalho oficial e o livro e muito carinho às letras. Que muitas outras oportunidades como tais continuem a acontecer! A literatura, a cultura e a história agradecem.

Anos 1930: Barretos, músicos e festivais

ARTIGO PUBLICADO PELA PROFª ESP. KARLA O. ARMANI, EM  AGOSTO DE 2015, NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" 


            Convidamos o leitor para conhecer um pouco a respeito das promoções artísticas de Barretos, nos anos 1930, na intenção de mostrar que isso pode ser uma importante reflexão à história local. Nesta época, Barretos era uma cidade que promovia diversos festivais e recitais artísticos, fosse com artistas convidados ou com os da própria terra. O cenário principal da época para tais apresentações era o “Grêmio Literário e Recreativo” e seu público era composto essencialmente por indivíduos intelectualizados da classe elitista da cidade. Para melhor exemplificar, destacaremos um festival promovido no Grêmio em 1934, que priorizou sobretudo a música e os artistas da própria cidade.
            O jornal “A Notícia”, de direção de Gumercindo Ferraz, na edição de 31/1/1934, trazia com a manchete “Artes” uma reportagem enobrecendo o festival promovido por três pianistas da cidade, com a intenção de beneficiar um jovem músico violinista que aspirava se aperfeiçoar em seu instrumento. As três senhoritas eram Antonia Naves Vieira Machado, Adelaide Galati e Haydeé Menezes, e o violinista era o barretense Spártaco Righonatti, tratado como um músico de futuro promissor e que muito honraria Barretos.
            A reportagem destacava a qualidade musical de cada uma das pianistas, e a origem de tamanho talento por seus professores maestros, citados como os srs. Higino Mancini e Samuel Archanjo dos Santos, ambos do Conservatório Musical de SP. Haydeé Menezes, por exemplo, era já citada como uma profissional, que “tornou-se independente bem cedo e já [fazia] arte por sua conta e risco” (p. 2). Essa questão das senhoritas barretenses que se destacavam em festivais de música, por suas honrarias como pianistas e às vezes até profissionais, é uma interessante característica da condição social feminina da época, em principal àquelas mulheres filhas dos indivíduos letrados e/ou mais abastados da cidade.
            Por fim, o exemplo deste festival de 1934 serve-nos para mostrar como determinados barretenses possuíam o hábito de promover ações de artes e música, e a valorização dos artistas eruditos da própria cidade, solidarizando-se em ações. As três pianistas citadas e o violinista Righonatti são somente alguns exemplos do que a elite letrada de Barretos oferecia culturalmente aos seus e às demais cidades do país.

NOVELA, LITERATURA E HISTÓRIA


ARTIGO PUBLICADO PELA PROFª ESP. KARLA O. ARMANI, EM  AGOSTO DE 2015, NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" 

            Ler uma obra de literatura é algo fascinante, pois leva qualquer leitor à imaginação dos cenários, dos personagens e do desenrolar da estória. Quando essa literatura pode ser contada visualmente, ou seja, por meio das novelas, a estória pode se tornar “mais acessível” para algumas pessoas (visto que outras ainda preferem a solta imaginação dos livros). Deste modo, as novelas além de perpassarem o universo do visual, da fotografia e da dramaturgia, têm ainda a característica de origem da literatura, da escrita, do roteiro. E quando a novela e sua trama possuem temáticas da História? Neste caso, o vídeo e a literatura ganham novos companheiros: o passado, a memória, a cultura e a identidade.
            Como a História é uma ciência que se dedica em pesquisar metodicamente recortes temporais e problemáticas da ação humana, ela é compromissada com as fontes e seus pesquisadores e tenta se dedicar ao mais próximo do “real” possível. Tais características a diferem e muito das novelas, uma vez que estas fazem parte do mundo imaginário, de um espaço em que a ficção, o irreal, o possível e o impossível podem caminhar juntos afim de proporcionar os diversos sentimentos ao público.
Desta maneira, muitos críticos tecem comentários negativos a respeito das novelas que utilizam da História como tema para a trama. No entanto, o assunto pode ser visto de ângulos diferentes. Algumas novelas e obras literárias fazem questão de assumirem-se como verdadeiros contos históricos, como se de fato estivessem contando de maneira real e consolidada fatos e temas da História. Tal posição é muito perigosa, pois assume riscos de exibir cenas errôneas, de forçar a ficção e romances a serem históricos e reais. Por outro lado, algumas novelas fazem questão de ilustrar que a trama nada possui de compromisso com a realidade histórica, e sim somente usam da História como cenário e fotografia. O que não anula a possibilidade de certas novelas se aproximarem bastante de aspectos reais da História, como a obra de Jorge Amado “Gabriela”.
Exemplos disso foram as duas últimas novelas brasileiras premiadas pelo “Emmy Internacional” nos anos de 2013 e 2014: “Lado a Lado” e “Joia Rara”. Ambas com temáticas históricas, com alguns vestígios de realidade, foram as escolhidas no mundo como as melhores novelas daquele ano. Fato que demonstra como o público internacional enxerga na “temática histórica” um bom cenário para a teledramaturgia. Cenário.

Os patronos e a história da cidade

ARTIGO PUBLICADO PELA PROFª ESP. KARLA O. ARMANI, EM  JULHO DE 2015, NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" 


“Que tipo de ideia podemos formar de uma época se não vemos pessoa alguma nela? Se só pudermos fazer relatos generalizados, vamos apresentar apenas um deserto que chamamos de história” (Huizinga, século XIX).
            A citação acima é uma reflexão essencialmente sobre pessoas e a História. Se partirmos do princípio básico do conceito do que é História, iremos cair naquela máxima de que é “toda ação humana que atravessa o tempo”. Pois bem, percebe-se assim que a História é natural e cientificamente ligada ao homem, ou seja, às pessoas. Não há como estudar os fatos do passado sem inserir neles seus personagens.
            A primeira reflexão a respeito dos personagens históricos pauta-se no fato de que eles são reais, daqueles que fizeram de algum ponto de sua existência um momento de estudo para o futuro. Estudar e inserir personagens em textos históricos não é falar somente de grandes líderes estadistas, supostos heróis, renomados cientistas, etc. Personagens da História podem ser pessoas que resistiram, lutaram e romperam paradigmas, grupos sociais que tornaram sua identidade uma bandeira ou personagens bem próximos a nós, como antepassados imigrantes, avós, professores, líderes de bairro e até aqueles que levam o nome de nossas ruas, escolas e praças. Os patronos.
            Quando falamos de personagens da história de nossa própria cidade é ato espontâneo lembrarmos dos patronos de nossas instituições. Ou seja, de pessoas que no passado agiram ou representaram algo relevante à sociedade e por isso foram merecedores de homenagens póstumas. No caso de Barretos, vê-se na década de 1950, por exemplo, a nomeação de patronos para os antigos grupos escolares, que passaram a denominar-se “Dr. Antonio Olympio Rodrigues Vieira”; “Fausto Lex” e “Cel. Almeida Pinto”.
            Sendo assim, quantos barretenses param para pensar quem foi a pessoa que leva o nome da escola em que estuda ou da rua em que mora? É importante que saibamos quais atos destes patronos o tornaram dignos de uma homenagem eterna, não para fazermos condecorações ou torná-los heróis, mas sim para entendermos a construção da história da nossa própria cidade e de seus personagens. Avançando mais, que nos atentemos às atuais nomeações de patronos que a Câmara Municipal de Barretos tem feito em formas de leis; afinal estas homenagens precisam ser aos atos das pessoas na história da cidade e não à política. Nossos patronos, nossa história, nossa Barretos.   

SERRA DA CAPIVARA PEDE SOCORRO

ARTIGO PUBLICADO PELA PROFª ESP. KARLA O. ARMANI, EM  JULHO DE 2015, NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" 


            Caro leitor, imagine você que o Brasil possui um rico Parque Nacional, no Piauí, e que há mais de quatro décadas desenvolve pesquisas científicas sobre a Pré-História e a arqueologia brasileira. É como se este parque fosse uma ferramenta de trabalho para pesquisadores descobrirem a história e a formação natural do nosso país há milhares e milhares de anos. Pois bem, agora imagine que estas pesquisas e seus resultados brilhantes possam simplesmente estar destinados ao fim, ao fechamento do Parque, à destruição de milhões de reais e de trabalhos investidos. Sim, este risco é iminente.
            O trabalho desenvolvido na Serra da Capivara, no município de São Raimundo Nonato, é coordenado pela Fundação Museu do Homem Americano, cuja diretora é a arqueóloga Niède Guidon. Esta sra., no alto de seus 82 anos, coordena pesquisas científicas desde a década de 1970 no parque, e foi responsável por descobertas fantásticas a respeito da Pré-História brasileira. Como exemplo, existem os achados de cerca de 48 mil anos naquela região, considerados artefatos produzidos por homens que já habitavam o nosso Brasil. Tais descobertas nos orientam a novas hipóteses de ocupação do território sul-americano, visto que as hipóteses anteriores eram de que o Brasil teria sido ocupado somente por volta de 15 a 10 mil anos atrás. É claro que tais pesquisas foram contestadas por alguns membros da comunidade internacional, principalmente nos EUA, ao proferirem críticas de que tais “artefatos” seriam na verdade simples rochas naturais. No entanto, quanto mais se avançam os anos, mais as teorias de Guidon são aceitas, e mais o Brasil se destaca como ponto de referência em estudos arqueológicos e históricos.
            Porém, todas essas pesquisas estão condenadas por vários motivos, em essencial a falta de repasse de verba pelo governo federal (visto que se trata de um patrimônio nacional) e pelo rompimento das obras do aeroporto do município que há décadas não é finalizado. Segundo declarações constantes de Niède Guidon à imprensa, o Parque se sustentaria pelo dinheiro gerado do próprio turismo, caso o aeroporto fosse finalizado.
            Com isso, fica aquela angústia pelo descaso com o patrimônio arqueológico nacional e com o dinheiro público, a indignação pela falta de ação do governo federal e pelo desrespeito com àqueles cidadãos que valorizam a História. Fica ainda, a expectativa de que a situação se resolva e de que todo trabalho seja respeitado.

DELCIDES DE CARVALHO, UM INTELECTUAL PAULISTA (PARTE II)


DELCIDES DE CARVALHO, UM INTELECTUAL PAULISTA (PARTE II)

Em continuação ao assunto da semana passada, iremos falar mais sobre Delcides de Carvalho, prefeito de Barretos em 1931, e sua obra “São Paulo é Isto!”; publicada um ano após a derrota paulista na Revolução de 1932 com o pseudônimo Antoine Renard.
            É na segunda parte da obra, que Delcides revela aspectos interessantes sobre a Revolução de 1932, e sempre com o intuito de criar uma identidade ao povo paulista. O autor compara a mobilização da Revolução de 1932 à Primeira Guerra Mundial (visto que seu pseudônimo era francês). Ele conclui que a grandiosidade do povo paulista que lutara nos conflitos de 1932 se dá justamente no fato da Revolução ter sido armada inusitadamente, ou seja, sem nenhum tipo de preparo (diferente das nações europeias que se preparavam militarmente antes da eclosão do conflito). Portanto, para ele, esta seria a causa da “alma cívica” do povo paulista: a sua união. Como exemplo, Delcides narra os grandes nomes de combatentes, o alistamento dos jovens soldados, a chegada de cadáveres às suas cidades, os traidores, os discursos incentivadores, as doações de ouro, dinheiro, armas, binóculos, e a participação da imprensa, do clero e das mulheres.
            O interessante dessa obra foi a necessidade do autor em escrever sobre o estado de São Paulo após a derrota na guerra civil que mobilizou tantos jovens combatentes. Uma guerra que teria levado à derrota, mas que mesmo assim, segundo sua visão, contribuiu para a formação do povo paulista. Para mostrar o que ele - e demais intelectuais paulistas - entendia sobre o estado, o livro destaca dados estatísticos da economia industrial e agrícola das cidades paulistas; além de recriar a história de São Paulo a partir de uma trajetória dos bandeirantes, vistos como verdadeiros heróis do povoamento do Brasil. Criava-se a ideia de que os paulistas, então lutadores da constitucionalidade do país, eram imbuídos também da herança “heroica” de seus ancestrais: os bandeirantes.
            Na realidade, esse discurso fazia parte de todo um movimento intelectual criado após a Revolução de 1932, e que perdurou por várias décadas posteriores. E em Barretos, tínhamos também um verdadeiro literato desta obra paulista, Delcides de Carvalho.

DELCIDES DE CARVALHO, UM INTELECTUAL PAULISTA (PARTE I)

ARTIGO PUBLICADO PELA PROFª ESP. KARLA O. ARMANI, EM  JULHO DE 2015, NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" 


            Na semana passada falamos sobre a necessidade de se estudar sobre aspectos posteriores à Revolução de 1932. Como exemplo, citamos a questão do discurso paulista criado após o conflito que enaltecia São Paulo como o estado de um glorioso passado bandeirante e um presente de prosperidade econômica. Criadores destes discursos, intelectuais paulistas de diversas localidades disseminavam essas ideias principalmente em obras literárias publicadas já na década de 30. E em Barretos, tivemos um destes intelectuais (inclusive aqui enterrado), chamava-se Delcides de Carvalho.
            Nesta cidade, Delcides fora prefeito de abril a agosto de 1931, além de ao longo de sua trajetória ter sido comerciante (dono da Livraria Carvalho) e sócio de casa bancária. Foi ainda participante de importantes instituições como a Santa Casa e a União dos Fazendeiros e Invernistas do Oeste de SP. Mas não foi com seu nome que publicara uma das maiores obras da intelectualidade paulista após a Revolução de 1932; assumiu para tal o pseudônimo de Antoine Renard (numa época de ditadura varguista).
            Com o título “São Paulo é Isto!”, Delcides escreveu uma narrativa como se fosse um francês que vislumbrava-se com as riquezas do estado de São Paulo.     A obra é dividida em três partes, que pelo título demonstram a validade de um discurso poético e altamente ideológico ao povo paulista: “A riqueza econômica de S. Paulo”, “A alma cívica paulista” e “A epopeia dos bandeirantes”.
            É na segunda parte da obra que Delcides disserta sobre a Revolução de 1932 como uma luta que, sobretudo, teria trazido ao paulista a identidade de um povo com um passado em comum (os bandeirantes que teriam “povoado” o Brasil) e de um presente de riquezas econômicas. Em seu próprio punho, dizia sobre o conflito: “A luta inicia-se, tremenda, em todos os sectores, sob o metralhar incessante e atordoador do inimigo. Os bisonhos soldados da lei recebem todos o seu baptismo de fogo. Nenhum animo se abate! Ao contrário, a fumaça da pólvora, o troar dos canhões e a saraivada das balas os encorajam ainda mais para a cruenta peleja, como se o espírito dos seus ancestrais bandeirantes, formando á sua retaguarda, alli estivesse a incita-los a todos os arrojos e ás mais temerarias aventuras” (p. 106).
            Na próxima semana falaremos mais dessa obra, e de sua contribuição ao movimento do discurso bandeirante.




A REVOLUÇÃO DE 1932 NA INTELECTUALIDADE PAULISTA

ARTIGO PUBLICADO PELA PROFª ESP. KARLA O. ARMANI, EM  JULHO DE 2015, NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" 


            O feriado de 9 de julho se aproxima, e logo vem à tona notas e curiosidades sobre a “Revolução Constitucionalista de 1932”, a guerra civil em que o estado de São Paulo lutou contra as tropas do governo federal de Getúlio Vargas. Todos os anos nesta data historiadores se dedicam a falar sobre a causa deste conflito, os principais combates, os soldados constitucionalistas, o desfecho e até curiosidades sobre peculiaridades da Revolução em cidades paulistas. Deste modo, faz-se necessário estudar e falar mais a respeito do que aconteceu após a Revolução de 1932, como por exemplo, a questão ideológica que se formou diante à intelectualidade paulista: o enaltecimento do estado de São Paulo como aquele que teria se esforçado para o engrandecimento do país todo.
            Sabemos que a Revolução Constitucionalista de 1932 em sua prática não aconteceu somente por conta da retomada constitucional ou da legalidade do país, que então começava a viver a ditadura de Vargas. Este conflito militar ocorreu principalmente em nome de uma elite paulista que, então afastada do poder, almejava a volta de sua hegemonia política e econômica (diante à crise cafeeira). Por ambos os motivos, o fato é que o conflito aconteceu por pelo menos 3 meses, e paulistas de centenas de municípios se mobilizaram para defender aquilo que chamavam de a “causa paulista”.
            Discursos, cartazes, desfiles, campanhas, livros, melodias e comentários em rádios serviam de estímulo aos paulistas que se sensibilizam pela causa. Era necessário criar discursos de identidade ao povo paulista e à luta que se serviam, de modo que a Revolução ganhasse mais vida. Foi assim que intelectuais como Affonso d.E’ Taunay, Menotti del Picchia, Alcântara Machado, Cel. Taborda e tantos outros se dedicaram a compor obras literárias, notas jornalísticas e até discursos em tons poéticos com àquela finalidade.
            Neste ínterim, quando finda a Revolução e os paulistas se veem diante à derrota militar, para onde vão as tais palavras poéticas da causa paulista? Pois bem, o discurso se remonta. Retoma sua tradição e cria novas elucubrações. Após o ano de 1932, vê-se nascer um discurso que enaltecia São Paulo como a terra de um passado bandeirante glorioso e de um presente de grandiosa prosperidade econômica. (Re)nascia, assim, o discurso bandeirante paulista. E Barretos nisso tudo? Bem, este é o assunto da próxima semana. Também tivemos nossos intelectuais do discurso bandeirante.

MENOTTI DEL PICCHIA EM BARRETOS (PARTE II)

ARTIGO PUBLICADO PELA PROFª ESP. KARLA O. ARMANI, EM  JUNHO DE 2015, NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" 


            Na semana passada, iniciamos uma prosa a respeito do renomado escritor Menotti del Picchia e sua visita a Barretos no ano de 1943. Depois de apresentada parte de sua trajetória intelectual, vamos nos dedicar a reviver os momentos que ele passou nesta terra.
            O jornal Correio de Barretos, em 17/1/1943 (p. 1), anunciava com entusiasmo a notícia da chegada do escritor no dia anterior a Barretos. Dizia-se que ele fora recepcionado por autoridades na Estação da Paulista. À convite do dr. Sandoval Coimbra, o poeta se hospedou em sua casa, após sua palestra no dia 16 no Grêmio Literário - onde a população barretense compareceu em peso.
            Picchia, em seu próprio punho, deixou registrado no livro de visitantes do Grêmio Literário suas e impressões sobre Barretos, onde ficara encantado com o campo de aviação: “Fundas e constantes ficarão no meu espírito as impressões que me deixaram a cidade e o povo de Barretos. Neste Gremio tive a alegria de travar conhecimento íntimo dada a explendida cultura de sua gente. No campo de aviação deste grande entreposto, em que se jugam diariamente fortunas, descobrir a maior vocação dos barretenses: a ancia do voô... É isso que caracteriza o povo de Barretos: um desejo constante da ascenção, para maior grandeza de São Paulo e do Brasil. Janeiro de 1943, Menotti del Picchia” (p. 10, Livro do Grêmio).
            Na época, um dos admiradores da obra de Picchia em Barretos, o médico dr. Geremaro Manhães, em artigo no jornal “Correio de Barretos” de 21/2/1943 (p. 2), escreve sobre o tema da palestra do escritor no Grêmio: “Como os homens amam”. Com este tema, através de um crítica literária, Picchia perpassou diversas obras literárias e históricas afim de refletir sobre o amor por meio da imaginação de grandes artistas. Citou clássicos como “Romeu e Julieta”, “Paulo e Virgínia”, e personagens de livros conhecidos como Cirano de Bergerac e Roxane, Werter, Tristão e Isolda, Des Grieux e Manon. Além disso, abordou outras formas de amor como Dom Quixote, o Barbeiro de Sevilha, e romances como “Inocência” de Taunay e “Capitu” de Machado de Assis.
            O “amor”, refletido por ninguém mais que Menotti del Picchia em Barretos; eis um revelador momento histórico!

MENOTTI DEL PICCHIA EM BARRETOS (PARTE I)

ARTIGO PUBLICADO PELA PROFª ESP. KARLA O. ARMANI, EM  JUNHO DE 2015, NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" 


            Era o ano de 1943 quando a cidade de Barretos recebeu um dos maiores intelectuais e poetas brasileiros, o renomado sr. Menotti del Picchia. Durante a primeira metade do século XX, este escritor paulista fez parte de grandiosos projetos da literatura, artes e cultura brasileiras; principalmente o “Modernismo”. Deste modo, uma cidade pequena como Barretos dos anos 40, receber uma figura deste valor, é de fato digno de nota pela História e também de admiração.
            Chamava-se Paulo Menotti del Picchia, era paulistano, nascido em 1892; faleceu em 1988. Ao longo de sua trajetória intelectual, fora poeta, jornalista, político, romancista, contista, cronista e ensaísta. Com o dom da escrita, fundou e colaborou em diversos jornais de São Paulo e demais cidades paulistas. Como a maioria dos intelectuais paulistas, cursou Direito na Faculdade de Direito de São Paulo do Largo São Francisco.
Neste período, ficou conhecido por seu poema “Juca Mulato” de 1917. Tal poema fora considerado precursor do movimento “Modernista” em sua fase nacionalista, dizia-se que era um “poema nacional”. Como integrante deste movimento que visava sobretudo criar novos rumos para as artes e literatura genuinamente brasileiras, Picchia fez parte da consagrada “Semana de Arte Moderna de 1922”, junto com outros nomes brilhantes como Graça Aranha, Oswald de Andrade, Mário de Andrade e outros. Na mesma década de 1920, realizou junto a ativistas como Plínio Salgado o “Movimento Verdeamarelo”, e também chefiou o movimento cultural da Bandeira (percebe-se isso por suas obras publicadas como a crônica “O Despertar de São Paulo”, e a monografia: “A Revolução Paulista - 1932”). No mesmo ano que visitou Barretos, 1943, tornou-se membro da tradicional Academia Brasileira de Letras – ABL.
Depois de apresentadas algumas das honras intelectuais de Menotti del Picchia, fica compreensível a necessidade de registrarmos sua passagem na cidade; uma Barretos que apreciava deveras a literatura e a cultura letrada. Sua vinda à cidade foi registrada em grande estilo em palestra que ele realizou no Grêmio Literário. Para saber mais detalhes a respeito, publicaremos novo artigo na próxima edição da semana que vem.

RUAS MUDAS E COM ALMA

ARTIGO PUBLICADO PELA PROFª ESP. KARLA O. ARMANI, EM  JUNHO DE 2015, NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" 


            Um morador barretense mais atento, ao perambular pelas ruas 6, 8, 10, 12, 14 e 16 entre as avenidas centrais, pode vislumbrar de uma interessante e histórica paisagem. Mesmo que muitas casas destas ruas já tenham sido destruídas - sempre em nome de “modernidade”, especulação e comércio – as que lá insistem em manter-se em pé e vivas, dão a Barretos o verdadeiro ar de cidade histórica. Elas transbordam nosso passado.
            Já dizia o escritor João do Rio (1882-1922) em sua obra “A alma encantadora das ruas” (1904): “Oh! Sim, as ruas têm alma! Há ruas honestas, ruas ambíguas, ruas sinistras, ruas nobres, delicadas, trágicas, depravadas, puras, infames, ruas sem história, ruas tão velhas que bastam para contar a evolução de uma cidade inteira, ruas guerreiras, revoltosas, medrosas, spleenéticas, snobs, ruas aristocráticas, ruas amorosas, ruas covardes, que ficam sem pinga de sangue... (p. 34)”. Em sua narrativa instigante, vê-se como as ruas traduzem os sentimentos mais humanos que uma cidade pode desenvolver ao longo da sua história.
Assim também foi com Barretos. Em nossa cidade, as edificações antigas são donas de histórias peculiares de temas familiares e até políticos, mas quando se juntam formando o título de “casas daquela rua...”, tornam-se parte integrante de um todo urbano, de um sítio histórico pertencente à história da própria cidade.
Diversos barretenses já se depararam com histórias como o antigo coqueiro da avenida 21 onde se “prendia” os “criminosos”; ou a rua 6 que era chamada de “São Sebastião” onde se deparava com o Largo que mantinha firme o Cruzeiro dedicado ao santo; a rua 8 que abrigava a morada do ícone histórico e ex-prefeito Cel. Silvestre de Lima; a rua 14 que era chamada de “rua da Lindeza” justamente por suas belas edificações e importantes instituições; e a rua 16 que além de abrigar famílias tradicionais, ainda era a rua da praça principal, do Paço Municipal, da Igreja Matriz e do 1º Grupo Escolar.
Hoje, essas histórias mantém-se escondidas em entrelinhas, seja em algumas edificações ainda em pé, ou pelas narrativas dos antigos memorialistas, ou ainda por novas pesquisas a seu respeito. Mas, o importante é lembrar que são dessas ruas mudas que parte da história de Barretos resiste, tentando ser fiel. Preservemo-las.
           

BARRETOS: TERRA DE VISITAS ILUSTRES


ARTIGO PUBLICADO PELA PROFª ESP. KARLA O. ARMANI, EM  JUNHO DE 2015, NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" 


            A cidade de Barretos sempre foi muito rica culturalmente, seja pelos próprios barretenses que se engajaram nas belas profissões de cultura, ou pelos visitantes que passaram por aqui deixando um legado histórico. Desde os primeiros anos do século XX, quando a cidade passava por seu processo de urbanização no centro, estiveram por aqui diversos artistas, conferencistas, cientistas, literatos e outros que, em apresentações culturais, faziam vibrar os barretenses. Para conhecer um pouco sobre este universo de “visitas ilustres”, vamos recortar o tempo nas primeiras décadas do século XX, e usar para tal as memórias registradas na obra “Reminiscências” do pesquisador Osório Rocha, destacando somente três artistas.
            Um dos mais interessantes artistas que visitou Barretos já no ano de 1914, por intermédio de Osório Rocha, foi o fotógrafo Valério Vieira. Inicialmente pintor, Valério se tornou um dos pioneiros fotógrafos brasileiros, criando a moda dos famosos retratos em preto e branco de formandos. Sua excepcional atuação fora a fotografia “Os trinta Valérios”, a qual, em 1901, elaborou uma fotomontagem retratando a si mesmo, como se estivesse participando de um sarau, em diversas posições e personagens.
Em 1917, o próprio Osório Rocha trouxe a Barretos seu amigo Américo Jacomino, que era também um exímio violonista, conhecido por “Canhoto”. Ele era famoso por fazer o dedilhado no violão com a própria mão esquerda sem precisar inverter o encordoamento. Além disso, na época que Canhoto tocava violão, este instrumento era marginalizado pela sociedade, e o artista foi um dos responsáveis por sua valorização.
Barretos recebeu em 1930 a cantora, pianista e folclorista Helena de Magalhães Castro. Talentosa artista que, ao lado do poeta Guilherme de Almeida e demais músicos, fundou a Instrução Artística do Brasil (IAB). Sua ligação com a defesa do folclore a torna ainda mais especial. Segundo Osório ela era: “amável, acessível, cativante e também grande artista. Cantou ao violão e declamou no Teatro Santo Antônio” (Vol.2, p. 130).
Vê-se a nossa terra como a receptora de grandes nomes, vultos culturais que aqui se apresentaram, contribuíram com nosso povo e hoje nos dão a honra de conhecê-los por memórias registradas. Saudemo-nos.

1954: PRODUÇÕES HISTÓRICAS


ARTIGO PUBLICADO PELA PROFª ESP. KARLA O. ARMANI, EM MAIO DE 2015, NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" 

            Há duas semanas, estamos nos dedicando a escrever resumidamente sobre história local, mais especificamente sobre a “escrita da história” de Barretos, na fase da segunda metade do século XX. Continuando esta breve apresentação, depois de falarmos das notas históricas em reportagens nos jornais até os anos 1940, chegamos à “moderna” década de 1950, em que Barretos ganhou duas publicações a respeito de sua história. Ambas, escritas com a intenção de comemorar o primeiro centenário da cidade, “Barretos de Outrora” e o “Álbum Comemorativo do 1º Centenário da Fundação de Barretos” foram publicados naquele ano de grandes recordações; era 1954.
            De autoria de Osório Faleiros da Rocha, a obra “Barretos de Outrora” foi produzida a pedido da “Comissão dos Festejos Comemorativos do 1º Centenário de Barretos” da Câmara Municipal. O autor, que viveu em Barretos há várias décadas, além de possuir memórias próprias sobre o início do século XX na cidade, reunia diversos materiais e documentos antigos e já publicava notas sobre a Barretos dos tempos passados. Assim, seu livro destacava suas próprias memórias, suas análises e conclusões a respeito das famílias Barreto e Marques, aspectos da urbanização, notas sobre instituições e casas, e ricos depoimentos dos moradores mais antigos.
            No mesmo ano, o “Álbum Comemorativo do 1º Centenário da Fundação de Barretos” foi escrito pelos intelectuais Ruy Menezes e José Tedesco. Ambos, além de escreverem narrativas sobre a chegada das famílias pioneiras, convidaram outros escritores a relatar sobre assuntos específicos (como religião, educação, saúde, pecuária, etc), e ainda apresentaram aspectos e dados de Barretos do presente. Vê-se no álbum uma verdadeira intenção de demonstrar a história e cultura da cidade que comemorava seus cem primeiros anos, e ao mesmo tempo, a urbes “modernizada” que estava se tornando.
            Enfim, fechamos as produções históricas da segunda metade do século XX com essas obras que até os tempos de hoje são fontes históricas fundamentais, tanto para consulta quanto para análise de qualquer historiador. Apreciemo-las.

BARRETOS: HISTÓRIA E JORNAIS


ARTIGO PUBLICADO PELA PROFª ESP. KARLA O. ARMANI, EM MAIO DE 2015, NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" 


            Leitor amigo, na semana passada, o artigo desta colunista se dedicou em poucas linhas a falar sobre como a história local foi se tornando nas décadas finais do século XX em uma vertente da historiografia. Como antigamente essa vertente era escrita por intelectuais letrados, é necessário que os destaquemos, já que os mesmos foram os responsáveis pelos primeiros registros históricos das cidades, pelos testemunhos orais coletados, documentos antigos recuperados e até as peças de museus.
            Em Barretos, também tivemos intelectuais que se aventuraram em escrever sobre a história da cidade, quando esta ainda não possuía nem meio século de fundação oficial. Para tal, usavam dos jornais para registrarem suas pesquisas e opiniões de fatos históricos. Façamos então um traçado breve destes escritores na primeira metade do século XX.
            O  coronel Jesuíno de Melo teria sido o primeiro deles. No jornal “O Sertanejo” de 1900, ele escrevia em sua coluna “Tradições de Barretos” artigos sobre a origem da cidade, a família Barreto, os primeiros povoadores e aspectos da paisagem, fauna e flora locais. Ainda nas primeiras décadas do século, tínhamos a coluna “Esboços” de autoria de Caà-Ubi, pseudônimo de Osório Rocha, onde se mesclava narrações da história local com acontecimentos de âmbito nacional e internacional. Na década de 1940, sob o pseudônimo VAF, Vírgilio Alves Ferreira escrevia a coluna “Ecos do Passado” no jornal “A Semana”, em que desdobrava-se a fatos pretéritos e personalidades da história nacional e de Barretos. A coluna “Vultos do Passado”, do jornal “Correio de Barretos”, ainda nos anos 1940, se dedicava em expor biografias de personagens antigos da cidade, que em geral fizeram parte da política no início daquele século. Outra expressiva coluna foi a “Recortes”, de autoria do jornalista José Eduardo de Oliveira Menezes, no jornal “Correio de Barretos”, onde, em notas curtas, o autor registrava fatos, datas e personagens de outrora. A partir da década de 1950, outras colunas jornalísticas continuaram a dedicar-se ao registro do passado da cidade, mas isto é assunto para outra ocasião.
            Logo, Barretos também foi a terra em que homens letrados fizeram questão de deixar para nós, a posteridade, o indício daquilo que seria a nossa história. Resgatemo-la.