ARTIGO PUBLICADO PELA PROFª ESP. KARLA O. ARMANI MEDEIROS, EM 26 DE ABRIL DE 2018, NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS", PÁGINA 2
Em edição anterior, expomos a
passagem da pensadora espanhola Bélen de Sárraga por Barretos no ano de 1911,
em conferência no Grêmio Literário e Recreativo. Pois bem, o fato é que Bélen de Sárraga não passou somente
por Barretos. Foi uma verdadeira viajante pelas terras paulistas! Em 1911, a
conferencista morava no Uruguai e foi recebida pelas grandes instituições
maçônicas brasileiras, as quais organizaram suas viagens por S. Paulo. Ela já
tinha vindo ao Brasil no ano anterior, 1910, onde realizou palestras no estado
do Rio Grande do Sul, discursando sobre seus ideais feministas a públicos de
elite a operários. Mas, foi em 1911 que sua passagem alcançou maiores plateias,
pois visitou diversas cidades do interior paulista (diversas mesmo!).
Seu maior legado foi o discurso de
ação que pregava em suas conferências, as quais continham assuntos ousados para
aquele início do século XX, muito além do feminismo. Quando chegou a São Paulo,
em abril de 1911, alguns jornais descreveram o conteúdo de suas palestras. Como
exemplo, o “Correio Paulistano” relatou os temas de suas três primeiras
palestras na capital: “religião e livre
pensamento”; “a igreja e a família”;
“o jesuíta e o porvir da América”. Pelos
títulos é perceptível o seu anticlericalismo,
isto é, sua reação contra o que considerava dogmático dentro das religiões,
principalmente o catolicismo ultramontano. Em resumo, Bélen defendia que as
mulheres precisavam se afastar das superstições e crenças meramente sobrenaturais,
para de que fato tomassem conhecimento racional do mundo e da vida; assim se
emancipassem, e, como a célula básica da família, pudessem criar seus filhos
aos olhos da razão. Criticando tanto os preceitos religiosos dogmáticos daquele
período, eis o motivo de sua representação pela maçonaria da época.
Fato curioso foi o caso do jornal “A Lanterna: folha anti-clerical de combate”,
o qual noticiava todo seu percurso no interior, enaltecendo seus pensamentos em
reportagens calorosas. Inclusive, o mesmo jornal, em 24/6/1911 (p.2),
reproduziu uma carta de José Hilário dos Santos, de Olímpia (vila de Barretos
na época), solicitando a atenção do governo e a vinda de Sárraga para a região
em virtude do fanatismo religioso que o “profeta” Francisco Miotti realizava por
aqui; de modo que as palavras de Sárraga pudessem alertar sobre os males do
fanatismo. Mas sua viagem para cá já estava marcada.
Por certo que as ideias de Sárraga
não se voltavam somente ao viés religioso, mas também político, social e
cultural que poderiam obscurecer a liberdade feminina. Ela representava o
racionalismo do início do século XX, sobretudo o feminino. Assuntos que, mesmo
após um século, continuam a ser evidentes em nossa sociedade. Muito rotineiros,
até. Necessários. Assim como as viagens e os pensamentos de Bélen de Sárraga.
Link do jornal para citação de fonte: http://www.odiarioonline.com.br/noticia/73648/VIAGENS-E-PENSAMENTOS-DE-BELEN-DE-SARRAGA