quarta-feira, 23 de março de 2011

O JAPÃO NA MÍDIA E OS DIÁLOGOS NAS ESCOLAS



ARTIGO PUBLICADO POR KARLA O. ARMANI NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS", EM 18 DE MARÇO DE 2011


            Pessoas do mundo inteiro se comoveram com a tragédia que devastou as cidades litorâneas do Japão, abaladas por terremotos e tsunami nesta última semana. Os japoneses, que bem conhecem e convivem com tremores quase que diariamente, foram surpreendidos por um terremoto de 8.9 na Escala Richter e um tsunami devastador na área litorânea. Os efeitos de tal tragédia climática não só causaram destruições materiais, bem como a morte de milhares de pessoas e riscos de explosões de usinas nucleares. Depois de vinte e cinco anos do acidente na usina de Chernobyl, na Ucrânia, não muito distante, parte do continente asiático se assusta com a possibilidade de maiores contaminações radioativas decorrentes de acidentes em usinas.
            Com todos estes acontecimentos, acidentes, possibilidades e prevenções, a mídia televisiva enfoca seus anúncios em entrevistas com geógrafos, sismólogos, químicos, historiadores, ambientalistas e psicólogos, tudo para entender a tragédia climática em si e seus efeitos materiais e morais na vida das pessoas. Nesse sentido, assuntos sobre terremotos e tsunamis passam a fazer parte da vida das pessoas, que passam a acreditar que tais fenômenos estão ocorrendo com mais freqüência nos últimos anos, quando na verdade a globalização e a mídia sem fronteiras são as responsáveis pela grande bagagem de informações que o tempo todo rondam nossas vidas.
            Deste modo, a acessibilidade em discutir tais assuntos tornou-se comum em vários momentos de nosso cotidiano, inclusive em uma conversa de esquina com o vizinho a até em diálogos na sala de aula. E é exatamente na escola que o assunto pode despertar o que os pedagogos contemporâneos adoram e denominam “interdisciplinaridade”, mostrando quão próxima é a relação do nosso cotidiano com o papel das disciplinas escolares. Em outras palavras, diante um assunto tão atual, professores de geografia, história, matemática, português e outros podem trabalhar em conjunto, mesmo que num curto espaço de tempo, demonstrando ao aluno que um assunto atual e rotineiro pode ser discutido em todas as disciplinas.
            Assim sendo, o professor de geografia pode explicar sobre os significados de abalos sísmicos, porque acontecem e como podem ser evitados e estudados através da escala Richter. Como se trata de uma escala de princípios logarítmicos, entra em cena o professor de matemática explicando suas determinadas funções. Para estudar sobre os possíveis efeitos físicos destes abalos, é solicitada a explicação dos professores de química, física, biologia ou ciências. E ao professor de história é dada a função de contextualizar os principais fenômenos climáticos ocorridos ao longo do tempo que resultaram em novas condições históricas e sociais a populações de todo o mundo. Sendo tudo isso sintetizado em uma bela redação avaliada pelo professor de português.
            Enfim, mesmo a mídia sendo muitas vezes sensacionalista, as informações destacadas por ela podem gerar estímulos e curiosidades a certos assuntos que são revertidos para dentro da sala de aula. Fato que coloca a escola num patamar muito próximo a nossa própria realidade.
Ao povo japonês a nossa solidariedade.

AS BARRETENSES DE OUTRORA



ARTIGO PUBLICADO POR KARLA O. ARMANI NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS", EM 11 DE MARÇO DE 2011.

            Na semana do Dia Internacional da Mulher muito se falou das conquistas do universo feminino em vários segmentos da sociedade, visto que as mulheres alcançam cada vez mais os espaços que em tempos passados eram exclusivos aos homens. Rotuladas por estigmas, as mulheres passaram a se organizar em movimentos feministas sólidos a partir da segunda metade do século XX, uma época de movimento nas relações econômicas e tecnológicas de praticamente todo o mundo ocidental.
No entanto, há de se ressaltar que estas manifestações feministas não apareceram de um dia para o outro, já em tempos remotos as mulheres se manifestavam de alguma forma, mesmo que isolada e timidamente, rumo ao caminho da igualdade de gêneros. Principalmente aquelas que trabalhavam no campo intelectual como as escritoras, professoras e artistas. Barretos foi um exemplo deste cenário. Na imprensa barretense no início do século XX, praticamente restrita aos homens abastados e donos do poder político, determinadas mulheres foram notícias célebres das primeiras páginas, sendo é claro componentes das classes altas, visto que as mulheres de classes desfavorecidas não eram sequer citadas na imprensa.
A começar pela sra. Noemi Hilda de Mello Nogueira, filha do ex-prefeito Pedro Paulo S. Nogueira, colaboradora do jornal “O Sertanejo” desde seus primeiros números em 1900. Noemi era a única mulher presente entre os colaboradores do jornal e ao que tudo indica escrevia textos e traduzia romances, sendo também diretora de um colégio para meninas naquela época. Outras professoras de destaque eram a Profª Glorinha, que regia a escola onde estudavam as filhas dos coronéis, e a Profª Antonietta de Almeida Prado, que ministrava aulas no Frigorífico.
Como outro relevo encontravam-se as artistas, em principal aquelas donas de talentos musicais, as pianistas. Estas apareciam como honrosas à sociedade barretense, como se fossem verdadeiras jóias a seus conterrâneos. Afra de Lima, filha do Cel. Silvestre de Lima aparece em jornais dos anos 20 só recebendo elogios por participar de vários concertos musicais. Outra que assim era considerada era a sra. Haydee de Menezes, que foi exaltada na imprensa por tocar piano no belíssimo Teatro de Manaus e orgulhar os barretenses. Na mesma época, nos anos 40, a barretense Izolda de Morais Dias, filha do conhecido médico Raymundo Mariano Dias, era a primeira advogada a se formar em Barretos e a primeira mulher paulista a ingressar em concurso do Ministério Público. Além dela, Suzana Dias Leme também foi enaltecida no campo da intelectualidade feminina por ser a primeira barretense formada em filosofia pela USP.
Estas foram algumas das mulheres abrilhantadas pela imprensa barretense numa época patriarcalista, muitas outras deixaram de ser destacadas nos jornais talvez por suas condições sociais. Mas, isso não impediu o avanço feminino nos dias de hoje, pois, mesmo distante, a igualdade de gêneros intenta a caminhar junto à igualdade social. Que as barretenses de outrora sejam um exemplo de luta às mulheres de hoje, assim... como se fosse um espelho a ser refletido na época de agora.  

quinta-feira, 10 de março de 2011

A TRADIÇÃO DAS DATAS



ARTIGO PUBLICADO POR KARLA O. ARMANI NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" EM 4 DE MARÇO DE 2011



      Diariamente são publicadas no jornal “O Diário” duas notas chamadas “Memória” e “História” componentes do “Colunão”, coluna assinada por Domingues Neto e localizada no canto esquerdo da segunda página do jornal. Estas notas, para muitos, são atrativos interessantíssimos do jornal pois revelam os acontecimentos passados das datas em que são publicadas. Com isso, os barretenses passam a ter um contato maior com a história da própria cidade, uma vez que as datas recordam as inaugurações de instituições, nascimento, casamento e óbito de determinadas pessoas, assim como acontecimentos cotidianos que se tornaram marcantes ao longo do tempo.
            As notas são assinadas com “Recordar é viver”, o que demonstra as intenções que lhes são cabíveis, isto é, trazer de volta um passado com o objetivo de revive-lo e não deixá-lo dormente. É claro que, quando se estuda história, a gravação de datas não é o ponto mais importante, em vista delas serem consideradas um segundo plano em relação ao contexto. No entanto, as datas são responsáveis pela localização deste contexto e elas podem situar mais precisamente o momento histórico em questão. Nesse sentido, o hábito de estudar e publicar datas é comum na imprensa barretense desde meados do século XX, já que o jornal foi o meio escolhido pela classe de “intelectuais” para propagar seus ideais e começarem a buscar a história da cidade. Como a história de Barretos no passado era escrita por uma classe restrita, o modo costumeiro de publicar os fatos passados e as “descobertas” era pelo jornal e o ponto central das discussões sempre foi a questão das datas, a preocupação primeira de todas as coisas.
              Em 1943, o jornal “Correio de Barretos” lançava a coluna “Recortes – Coletânea de J.E.O.M” assinada pelo seu então diretor, sr. José Eduardo de Oliveira Menezes. Este, por sua vez, era uma das figuras mais procuradas nesta época quando se falava em história de Barretos, justamente por publicar em seu jornal notas que revelavam as datas marcantes da cidade, tais como inauguração de escolas e seus primeiros diretores, a atuação dos primitivos médicos, advogados e juízes em Barretos, realizações de conferências de visitantes ilustres e informações diversas sobre acontecimentos passados. Por essas e outras, o jornalista dizia receber arquivos históricos sobre Barretos de pessoas diversas e depois de analisá-los publicava no jornal.
            Logo, não é só a história de Barretos que foi pesquisada ao longo do tempo, bem como sim as pessoas que a compuseram e o modo como fizeram. A prática de revelar as datas marcantes em jornais vem sendo perpetuada há tempos, e, por conta da perda de muitos jornais do começo do século XX, essas datas são muito benquistas pelos historiadores contemporâneos que as usam como âncoras para contextualizar os diversos momentos componentes da história de Barretos.
Ao Colunão os nossos reconhecimentos e o endosso de que “recordar é viver”.
             

MUSEU EGÍPCIO DO CAIRO (II)


ARTIGO PUBLICADO POR KARLA O. ARMANI NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" EM 25 DE FEVEREIRO DE 2011 

            Na semana passada, este espaço do jornal dedicou-se em tratar da história do Museu Egípcio do Cairo, vítima de ataques e roubos nos últimos tempos em decorrência de manifestações populares na Praça Tahir contra o presidente Mubarak.
            Pois bem, depois de viajar para o tempo em que Napoleão Bonaparte organizou expedições para encontrar achados arqueológicos da história do Egito e transportá-los para a França, partiremos para o momento em que houve uma corrida desenfreada em busca destas especiarias entre países europeus. O governo egípcio daquela época estava mais interessado em política do que na própria cultura, o que resultou no desembarque de antigas estátuas, sarcófagos, enxovais funerários e outros objetos egípcios rumo à Europa para enfeitar coleções de museus ocidentais.
            Esta situação só foi mudar a partir da segunda metade do século XIX com protestos de homens como o pesquisador J.F. Champollion, o cônsul Mimaut e o literato Tahtauy. Tempos mais tarde, surgiu a figura do arqueólogo francês Auguste Marriette, o primeiro a buscar alternativas para o fim da exportação do patrimônio egípcio. Marriette conseguiu das autoridades locais um estudo direcionado das escavações e o arquivamento das peças guardadas em um pequeno museu criado no Cairo. Conforme a coleção aumentava foram necessárias algumas ampliações no Museu, que foi instalado no bairro central de Bulaq perto do Rio Nilo.
            Foi exatamente esta proximidade com o Nilo que permitiu uma triste inundação neste Museu no ano de 1878, o que resultou na necessidade de transferi-lo a um lugar mais adequado. Esta transferência demorou a acontecer e o próprio Marriette, fundador do Museu Egípcio do Cairo, não viu se concretizar. Então, depois de ficar guardada alguns anos em uma das casas do Vice-Rei do Egito daquela época, a coleção do Museu Egípcio do Cairo finalmente ganhou um espaço adequado a sua grandiosidade.
            Em 15 de novembro de 1902 foi inaugurado o Museu Egípcio do Cairo instalado na Praça Midan el-Tahir, onde perdura-se até os dias de hoje. Trata-se de um prédio belíssimo, pintado com cores rosadas, disposto em grandes salas ligadas em dois andares por escadaria suntuosa. Nele estão devidamente guardadas e preservadas as 150 mil peças do Antigo Egito, como, por exemplo, a Estátua do faraó Djoser, a Tríade de Miquerinos, a famosa estátua do Escriba Real, o colosso de Amenófis IV, a cabeça de Nerfetit e o belíssimo sarcófago de Tutankhamon.
            Enfim, quantas maravilhas históricas guardam o Museu Egípcio do Cairo? Quanto tempo levou para que os próprios egípcios valorizassem seu patrimônio? Por quanto tempo o Museu esperou por um lugar adequado? E em quantos segundos vândalos podem destruí-lo? Oremos para que os manifestantes populares possam proteger o Museu e afastá-lo destas ameaças. Afinal, é neste museu que respira a história de seu povo.       

REFERÊNCIA: EINAUDI, Silvia. Museu Egípcio, Cairo. Rio de Janeiro: Mediafashion, 2009. (Coleção Folha Grandes Museus do Mundo). 

MUSEU EGÍPCIO DO CAIRO (I)



ARTIGO PUBLICADO POR KARLA O. ARMANI NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" EM 18 DE FEVEREIRO DE 2011

            Nos últimos dias a mídia televisiva tem dado seu enfoque repentino à revolta popular estourada no Egito, onde manifestantes buscam a renúncia do presidente Hosni Mubarak, no poder incrivelmente há trinta anos. Parte da população egípcia que se une em função disso, reuniu-se na praça central da capital Cairo, Praça Midan el-Tahrir, para manifestar a insatisfação com o governo ditatorial do presidente. Nesse sentido, ondas de violência estabeleceram-se no país e acabaram por destruir parte do maior patrimônio histórico do Egito.
            Ataques de vandalismo foram registrados contra o Museu Egípcio do Cairo, localizado na Praça Tahir, guardião de cerca de cento e cinqüenta mil achados da história do Antigo Egito. Arqueólogos e historiadores do mundo inteiro estão entristecidos. Ao que se consta, estes ataques não foram atos dos manifestantes populares e sim ações de saqueadores que aproveitaram o momento para roubar e destruir pelo menos oito das peças do acervo do Museu. Há de se ressaltar inclusive que algumas pessoas há dias atrás formaram um cordão humano envolto ao museu para protegê-lo de mais ataques. O povo sabe do valor que a história do Egito representa ao mundo inteiro, como berço da cultura africana e de civilizações orientais.
            A história do Museu Egípcio do Cairo faz parte de um longo trajeto, onde o interesse pela arqueologia egípcia foi inicialmente valorizado por povos ocidentais e aos poucos os próprios egípcios foram despertando diante à importância do patrimônio histórico que possuíam a sua frente. Tudo começou com a primeira expedição francesa liderada por Napoleão Bonaparte em 1798 rumo ao Egito, que tinha por finalidade afastar este líder popular da França e conter o avanço britânico no Mediterrâneo. Acontece que o general francês ficou fascinado por aquele país rico de história, ainda mais pelos feitos heróicos de Alexandre, O Grande do qual ele mesmo se identificava.   
            Foi então que, além dos levantes militares contra os ingleses, Napoleão organizou expedições ao longo do Rio Nilo de norte a sul afim de encontrar achados arqueológicos da história do Egito. Estas expedições faziam parte de um grande projeto cultural-científico que era composto de uma caravana de estudiosos como literatos, cientistas e artistas. Nesta época foram descobertos inúmeros objetos das dinastias faraônicas e até mesmo de períodos pré-dinásticos, livrando do esquecimento e dos montes de areia a história de uma civilização de 4000 anos a. C. No entanto, os franceses perderam as batalhas para os ingleses e estes levaram uma séria destes objetos para a Inglaterra, como a incrível Pedra de Rosetta.
            E então, o que aconteceu depois? Quando os egípcios tomaram consciência desta corrida desenfreada por seus patrimônios? É o que veremos na próxima semana. Aguardem...
           
REFERÊNCIA: EINAUDI, Silvia. Museu Egípcio, Cairo. Rio de Janeiro: Mediafashion, 2009. (Coleção Folha Grandes Museus do Mundo).