sábado, 29 de setembro de 2012

LENDAS GREGAS E AS ESTAÇÕES DO ANO

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" EM 25 DE SETEMBRO DE 2012 PELA PROFª KARLA O. ARMANI


            Nos últimos dias, um assunto em comum tomou conta do cotidiano das pessoas (principalmente as barretenses): o clima, o calor insuportável em pleno fim de inverno. E talvez nesta semana, este assunto ganhe ainda mais destaque. Isso porque, no último final de semana, se inicia a estação da Primavera no hemisfério sul, e o clima tende a sofrer ainda mais mudanças. A estação da primavera é considerada por muitos como o período mais bonito do ano por conta do florescimento das plantas, árvores e jardins. 
            Para nossa sociedade, onde poucas pessoas observam a beleza da natureza primaveril, isso pode passar despercebido. No entanto, na época da Grécia Antiga, quando tudo era explicado pelos mitos, os gregos sentiram necessidade de esclarecer a diferença de clima e de paisagem entre as estações de florescimento e fertilidade (primavera e verão) e aquelas de mais seca e frio (outono e inverno). Para os gregos, explicar a origem dos fenômenos da natureza era uma necessidade, aliás, era mais do que isso; fazia parte do próprio cotidiano grego, independente da casta social, falar a respeito de suas lendas. Mitos que sempre eram baseados nas histórias dos seus vários deuses e deusas. Naquela época, as lendas politeístas eram transmitidas pela tradição oral e isso só foi rompido a partir do nascimento da filosofia e da ciência, que substituíram as explicações míticas.
            Com a finalidade de entender a diferença entre as estações do ano, existia a lenda de “Deméter” (deusa do interior da terra, ligada à fertilidade do solo) e sua filha “Perséfone”. Contava-se que Hades (deus do mundo subterrâneo, “inferno”), buscando encontrar uma esposa, decidiu raptar Perséfone. Foi então que, Deméter, mãe de Perséfone, saiu a sua procura tanto no Olimpo (morada dos deuses) quanto na Terra. Por conta de não achar sua filha, Deméter ficou preocupada, irada e muito triste e tais sentimentos teriam causado uma seca prolongada, já que ela era a deusa da fertilidade do solo. Para tentar acalmá-la, Zeus (deus dos deuses) resolveu intervir e fez um trato com seu irmão Hades: Perséfone teria que passar seis meses do ano ao lado de Hades no mundo subterrâneo, e os outros seis ela estaria “liberada” para passar ao lado da mãe. Isso, para os gregos, explicaria a origem do inverno, ou seja, seria o período em que Perséfone estaria ao lado de Hades e sua mãe muito triste. Por outro lado, os seis meses de fertilidade e flores (primavera e verão) seria o tempo em que a moça passaria ao lado de sua mãe.
            Essa é uma das lendas gregas que serviam para explicar fenômenos da natureza, como, por exemplo, as quatro estações do ano. É muito interessante perceber o imaginário do povo grego da Antiguidade, onde a necessidade de explicar as coisas levou a construção de mitos que se perpetuaram ao longo do tempo. Mitos que não podem ser meramente considerados como “mentiras”, afinal eles eram construídos de acordo com a mentalidade, a cultura e a história daquela época. Logo, aprender mitologia grega é mais do que ler sobre lendas que podem parecer “estranhas”, é viajar no universo de uma das maiores civilizações da humanidade, a Grécia.

REPÚBLICA: UM TEMA PRESENTE


ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" EM 16 DE SETEMBRO DE 2012 PELA PROFª KARLA O. ARMANI



            É impressionante como a República no Brasil no final do século XIX e início do XX tem sido um tema muito recorrente em peças de teatro, cinemas e televisão. Inclusive, na última semana, se iniciou mais uma novela “de época”, denominada “Lado a Lado” pela emissora Rede Globo. Já é perceptível que essa, como outras novelas passadas, trata de um romance fictício tendo como pano de fundo o cenário da capital do Brasil, o Rio de Janeiro, nos seus primeiros anos como sede da República brasileira.
            Por mais que a novela retrate uma narração fictícia, o cenário e a fotografia revelam o visual da época e isso que pode se tornar um atrativo para o estudo da História. A recente novela retrata vários aspectos do ano de 1903 e 1904, sobretudo da política, sociedade, economia e cultura da cidade carioca. Cada um em suas diferentes faces.
A política é demonstrada tanto pelo lado dos republicanos que subiram ao poder, quanto pelos políticos que decliniram por ficar ao lado da monarquia, muitos perderam status e dinheiro. A economia também é salientada pelas exportações de café que estavam a todo vapor naquela época, bem como as ferrovias que era o meio de locomoção do “ouro verde” brasileiro. A sociedade é o aspecto mais bem retratado na novela, por demonstrar, sobretudo, a desigualdade social daquele período, desde as posições sociais até as diferenças de trabalho, moradia e vestimentas. A cultura também se enquadra nesse fator de diferenciação, uma vez que há um grande afastamento entre a cultura popular (rodeada de tradições religiosas, africanidades e crenças) e a cultura erudita (regida pelos moldes franceses). Essa vertente cultural é o que deixa o diálogo “presente-passado” mais interessante. Afinal, aspectos que faziam parte da cultura popular naquela época, hoje já veiculam na elite da sociedade, como é o caso do carnaval. Por outro lado, hábitos da classe mais rica, como jogar “foot-ball”, atualmente é parte da cultura popular brasileira.   
Outras características importantes presentes na história da República brasileira e que são retratadas na novela são as pressões que a população marginalizada que vivia no centro Rio de Janeiro sofreu em nome da “modernização”. A antiga capital do Brasil, aos olhos da recém República, passava por reformas urbanas para se tornar o “cartão postal” do Brasil. Era como se o Rio de Janeiro se transformasse numa verdadeira “Paris”, com avenidas largas, iluminadas, ajardinadas e enfeitadas com belos palacetes dos barões do café e dos recentes industriais brasileiros. Mas, para isso se concretizar, era necessário “passar por cima” da população pobre que vivia nos cortiços do centro carioca. Além disso, também se encontrava a “preocupação” de higienizar a cidade, desinfectando locais insalubres e vacinando a população pobre, à força diga-se de passagem.
Foi neste cenário que nasceu a República no Brasil, pelo menos na capital. E é com olhares críticos e curiosos que podemos enxergá-la numa novela. Pensemos. 

OLIMPÍADAS DE HISTÓRIA DO BRASIL

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" EM 9 DE SETEMBRO DE 2012 PELA PROFª KARLA O. ARMANI


A internet, como um meio de comunicação eficaz e rico em informações, pode ser utilizada de maneiras positivas em prol da educação, em especial ao ensino de História. E é isso que vem acontecendo desde o dia 20 de agosto com a abertura da “4ª Olimpíada Nacional em História do Brasil” promovida pela Unicamp no Museu Exploratório de Ciências. De uma forma atraente e bastante consistente, a Olimpíada de História conseguiu ganhar a adesão de mais de 120 mil alunos e professores, que, juntos estudam uma nova proposta de História do Brasil.
A “Olimpíada Nacional em História do Brasil” conta a participação de alunos das escolas públicas e particulares de todos os estados do Brasil. Cada equipe é composta por três alunos e um professor orientador, tendo ainda uma identidade pois precisam ter um nome e uma imagem própria. A olimpíada é composta por seis fases, das quais cinco são online e a última é presencial, e cada fase tem um número determinado de questões de múltipla escolha e uma tarefa. Nesta edição, a olimpíada possui como tema e inspiração “Conflitos e embates em história”, o qual será utilizado como  tema de pesquisa para a história local. Assim, os alunos terão de pesquisar movimentos de resistências, conflitos e protestos dentro da história da própria cidade!
Exercícios como este fazem com que os alunos aprendam a pensar a história de modo diferenciado, como uma construção e não como uma disciplina estática. Aquela “velha” imagem da História como uma matéria de “decoreba” é completamente quebrada com os exercícios da olimpíada. Nesta, os alunos são convidados a refletir sobre determinados períodos da história do Brasil a partir de análises de documentos. Desta maneira, não há como responder as questões e tarefas com informações simplistas e decorativas. O atrativo da olimpíada está exatamente na leitura e análises dos documentos, que podem gerar respostas mais completas baseadas na interpretação dos documentos. É como se aluno se transformasse num “historiador”, pois passa a trabalhar diante das fontes históricas.
A variedade de documentos lançados pela olimpíada em cada questão é muito importante não só para o universo do aluno, que passa a perceber a construção da história através das fontes, mas também para o professor, que tem a chance de acumular materiais que poderão ser usadas nas salas de aulas, trabalhos e avaliações. A partir do momento que a olimpíada divulga estes documentos nas questões e os lugares (sites e livros) onde estão disponíveis, o aluno compreende como pode usar a internet e livros acadêmicos como fontes de estudos. Sobretudo, a disponibilização destes documentos evidencia a importância de preservá-los, bem como seus lugares de guarda (museus, bibliotecas, universidades), já que eles são a chave para se pesquisar o passado e dialogar com o presente.
Por esse e outros motivos, o curso de História da Unicamp e o Museu Exploratório de Ciências estão de parabéns pela bela iniciativa de renovar o estudo da história do Brasil! Que venham as novas edições!

INDEPENDÊNCIA DO BRASIL: A TRANSPARÊNCIA DE UM HERÓI


ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" EM 2 DE SETEMBRO DE 2012 PELA PROFª KARLA O. ARMANI


Já raiou a liberdade
No horizonte do Brasil
(trecho do hino da Independência do Brasil)

            A frase acima revela como o episódio da “Independência do Brasil”, proclamada pelo Imperador Dom Pedro I, era visto como um ato que repercutiu na tão sonhada “liberdade” para o país. Por muito tempo, esta visão de “liberdade” trazida pela Independência esteve presente não só em melodias, mas também em desfiles, homenagens, biografias e até mesmo na sala de aula. Uma liberdade que sabemos que nunca existiu, mesmo após a Independência. Neste 7 de setembro que se aproxima, serão completados 190 anos do dia da Independência do Brasil. Por isso, seria interessante analisarmos este fato com os novos olhares da historiografia brasileira.
            Tempos atrás, muito se falava do dia da Independência, onde “no dia 7 de setembro de 1822, às margens do Rio Ipiranga, Dom Pedro I, teria bradado retumbante: Independência ou Morte!”. Este episódio até hoje é muito comentado e revisto pelos historiadores, não só por conta de ser o dia em que oficialmente houve o desenlace do Brasil de Portugal, mas por todas as fontes históricas que eternizaram este dia, como o quadro de Pedro Américo (que hoje se encontra no Museu do Ipiranga em São Paulo). Assim, além da idéia de “liberdade” ter sido atribuída ao ato de Pedro I, este ficou eternizado como um verdadeiro “herói” da nação. Visto que, trajado de vestimentas militares, empunhando uma espada diante àqueles que eram contra a emancipação do Brasil, e montado num cavalo branco, Pedro I pôs-se à frente de um conflito pelo Brasil.
            Esta idealização, na verdade, vinha até mesmo antes do “7 de setembro”, ela também era vista no famoso “Dia do Fico”. Uma vez que, Dom Pedro estava sendo pressionado pelos portugueses a retornar a Portugal, mas, ao receber um abaixo-assinado dos brasileiros teria decidido “a favor” do povo brasileiro dizendo: “Como é para o bem de todos e felicidade geral da nação, estou pronto. Diga ao povo que fico!”.  Logo, a sua imagem como o “salvador” do Brasil já estava sendo preparada para ficar à “história” e esta passagem foi reafirmada, mais uma vez, pelo hino da independência na seguinte passagem: Brava gente brasileira! Longe vá... temor servil: Ou ficar a pátria livre, ou morrer pelo Brasil”.
            Atualmente, versões como estas, em vez de serem “aclamadas” e “glorificadas” são analisadas por historiadores e professores como verdadeiros “documentos históricos” que demonstram a intencionalidade do governo brasileiro em transparecer a imagem de Dom Pedro como um “herói da pátria”. Não que ele fosse o herói, mas sim que foi intencionalmente transparecido como herói por uma ação política. E assim, caminhamos para uma nova história do Brasil, onde antes de valorizar personagens e fatos, valorizamos as fontes históricas como os quadros, os documentos e o hino da Independência.

25 DE AGOSTO: UMA DATA OFICIAL


ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" EM 26 DE AGOSTO DE 2012 PELA PROFª KARLA O. ARMANI


            Não são todas as cidades que possuem uma data de fundação oficial, ainda mais com dia, mês e ano. Às vezes, algumas delas possuem o ano ou simplesmente a década que se originou o povoado. Barretos, possui sua data de fundação oficial baseada em um documento, que ficou caracterizado como a “certidão de nascimento” da cidade, mesmo sabendo que o pequeno arraial já estava se formando antes desta data. Mas, o “25 de agosto de 1854” não foi desde sempre considerado o “dia da cidade”...
            Foi na década de 1940 que o documento encontrado pelo ex-prefeito de Barretos, Jerônimo Serafim Barcellos, veio à tona e se transformou na “certidão de nascimento” da cidade. Tratava-se de um documento escrito por Antônio Leite de Moura, um dos poucos alfabetizados naquela época, em que as famílias de Francisco José Barreto (já falecido) e Simão Antonio Marques doavam o total 82 alqueires de terra ao “Divino Espírito Santo” para que se formasse um patrimônio e se edificasse uma capelinha. Foi assim que aquele pequeno povoado que ainda pertencia ao “Quarteirão de Jaboticabal” do “Termo da Vila de São Bento de Araraquara” aos poucos se transformou no “Arraial dos Barreto”. Este documento era datado de 25 de agosto de 1854 e, por registrar a doação de terras que deu origem à cidade, esta data ficou conhecida como o “Dia da Cidade”.
            Ruy Menezes, em seu livro “O Espiral: história do desenvolvimento de Barretos”, narrou que no começo dos anos 1940, após a descoberta de tal documento, a imprensa barretense já estava promovendo reportagens sobre a história da cidade a partir de biografias dos antepassados de Barretos. Foi então que ele teve a ideia da Acib promover a primeira festa de comemoração do “Dia da Cidade” no dia 25 de agosto daquele ano, 1943. Ou seja, o primeiro aniversário da cidade foi comemorado quando ela tinha 89 anos! Já em 1948, quando Ruy Menezes era vereador, ele apresentou à Câmara Municipal de Barretos um anteprojeto de lei que, depois de sancionado pelo prefeito João Ferreira Lopes, se transformou na lei municipal nº 268 de 18/8/1948, onde o dia “25 de agosto” tornava-se oficialmente o “Dia da Cidade” e feriado.
            A partir de então, todos “25 de agosto” dos anos que se sucederam foram comemorados em Barretos através de homenagens, desfiles cívicos, discursos, bandas, concursos e outros. Sendo válido lembrar a comemoração do “25 de agosto de 1954”, quando Barretos completou 100 anos, que, apesar dos preparativos e do lançamento do “Álbum Comemorativo do 1º Centenário de Barretos”, não resultou em grandes festividades devido ao suicídio do presidente Getúlio Vargas um dia antes.
            Assim sendo, Barretos possui sim uma data oficial de fundação, o que não quer dizer que a cidade surgiu exatamente naquele dia. Uma vez que, a região já vinha sendo povoada desde os idos de 1830 e a capela só foi eregida em 1856. Mas, é importante que essa data oficial seja comemorada e lembrada todos os anos para que as gerações futuras não se percam da origem da cidade, dos patriarcas e até mesmo da própria história do “25 de agosto”.
            Parabéns Barretos!

Referências: Ruy Menezes, 1985, p. 30-34 / TCC de Priscila V. Trucullo, 2011, Unesp.

UM MONUMENTO HISTÓRICO

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" EM 19 DE AGOSTO DE 2012 PELA PROFª KARLA O. ARMANI


            Há quem se lembre em Barretos de um antigo busto que ficava na Praça Francisco Barreto próximo à catedral. Este monumento, além dos símbolos inscritos em si próprio, possui interessantes passagens que fizeram parte da história da cidade. Como todo monumento, ele foi retratado com um propósito para ficar à posteridade, como um símbolo de algo que era valorizado na época em que foi criado e que representava uma dada ideologia. Os monumentos geralmente são criados para eternizar certas passagens da história e, por esse motivo e pelas reflexões que podem ocasionar, deveriam ser sempre preservados. Esta preservação não é somente uma questão de respeito com o passado, mas é também a construção da nossa própria história, daquilo que foi vivido pelos antepassados e que hoje ainda se mantém. Trata-se da aceitação da nossa própria memória.
            Muitas pessoas na cidade ainda pensam que o busto que ficava na praça central era a representação da Princesa Isabel de Órleans e Bragança, aquela que assinou a lei de libertação dos escravos. Talvez pela aparência e pela significação dessa princesa na história do Brasil, a informação de que o busto era de Isabel passou de geração em geração. Quando na verdade, o que aquele símbolo representava era justamente o contrário do que uma figura monárquica, era a encarnação da República!
            A República foi representada por uma figura feminina desde os tempos da Revolução Francesa no final do século XVIII. Para representar o governo contrário a monarquia (representada geralmente por homens/reis), a figura feminina chamada de “Marianne” foi usada como símbolo da República por vários países, inclusive o Brasil. Este, cem anos depois da Revolução Francesa, em 1889, proclamou a República como novo sistema político do país e a partir de então a representação da República sempre era a de uma mulher. Tal como o busto que ficava no praça Francisco Barreto.
            Era o ano de 1922 quando o busto foi colocado na praça em Barretos, no governo municipal do dr. Antonio Olympio. A ocasião era o “Centenário da Independência do Brasil” (1822-1922) e para tal homenagem foi colocado o busto da República. Um tanto contraditório não é mesmo?! Afinal, a independência do Brasil representou nada mais do que a instalação da monarquia no Brasil, e o busto simbolizava justamente o contrário. Pois, além de demonstrar a figura feminina da República (Marianne), possuía também em sua imagem um barrete frígio (touca utilizada pelos revolucionários franceses), o lema republicano brasileiro “Ordem e Progresso”, a figura de um homem se libertando das algemas e o rosto de Tiradentes (tido como o herói da nação nos tempos da República).    
              No mesmo ano em que o busto foi colocado na praça, uma réplica foi instalada no salão principal do Paço Municipal (hoje Museu “Ruy Menezes”). Até hoje esta réplica se encontra no museu, assim como o busto que foi retirado da praça, mas que infelizmente não está em perfeitas condições. Um símbolo que mais queria demonstrar que Barretos era uma cidade “moderna” por ser partidária dos ideias republicanos, do que comemorar a independência do Brasil. Tantas histórias num único monumento... Apreciemos.

Referências: Doutorado de H. Perinelli Neto (2009), e artigo de Ruy Menezes (1992).

BARRETOS E MINAS

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" EM 12 DE AGOSTO DE 2012 PELA PROFª KARLA O. ARMANI


            O mês de agosto já chegou e então a procura por vestígios da história da cidade começa a aparecer. Neste momento, muitos educadores e pesquisadores de comunicação social começam a publicar textos sobre a história de Barretos, principalmente no que diz respeito à origem da cidade. É neste ponto que Chico Barreto e toda a herança mineira que nos foi legada vem à tona. Muito se ouve por aí, que Barretos parece pertencer mais ao estado de Minas Gerais do que de São Paulo, seja pela localização geográfica, ou pelo fato de nosso fundador ter saído de lá ou ainda pelo “jeitinho” de falar.
Toda a tradição vinda de Minas Gerais que se proliferou em Barretos foi originada ainda nos tempos da formação do arraial. Sabemos que a maioria das pessoas que vivia aqui, naquele meados do século oitocentista, era oriunda do canto sul de Minas Gerais. Falando das cidades do interior paulista no geral, a vida naquele tempo era pautada no ambiente rural, onde as pessoas viviam mais nas fazendas do que na “cidade”. Assim, as primeiras aglomerações que se formavam eram resultado da necessidade da produção de certos recursos de sobrevivência que não tinham como ser vendidos nas fazendas.
É neste ponto que o comércio entra como principal atividade econômica destas pequenas vilas, pois era ali que as pessoas faziam compras, se socializavam nos finais de semana, íam às missas e etc. Estes locais de comércio conhecidos como “empórios” ou “armazéns” eram construídos para abrigar o comércio e a moradia do proprietário. Geralmente, as paredes eram de taipa de pilão e o telhado de duas águas, sendo esse tipo de construção uma tradição das antigas construções de Minas Gerais. Na parte da frente, sempre com muitas portas, se abrigava o comércio de vários tipos, como por exemplo: tecidos, alimentos, ferramentas, bebidas, mantimentos ou ainda artigos de couro e luxo. Já na parte central e traseira destas construções, ficava a moradia da família do proprietário; hábito que passou a mudar tempos depois, quando as atividades comerciais começaram a ser desenvolver mais e exigir espaços próprios.
               Essas construções, que eram praticamente comum em todas as cidades interioranas, compunham o cenário dos primeiros arraiais. Através delas se desenvolveram as atividades comerciais e o estabelecimento de profissionais liberais como os sapateiros, serralheiros, boticários, médicos, advogados, professores e tantos outros. Mesmo com as ruas ainda de terra ou macadame, essas casas comerciais eram o que tinha de mais moderno naquele tempo do século XIX. E hoje, o mais interessante é que, mesmo um tanto escondidas e alteradas, construções desta época ainda podem ser vistas na cidade. Quem nunca andou pelas ruas do centro, e até em bairros próximos, e não avistou construções antigas com várias portas de madeira? A história está diante nossos olhos, basta querer enxergá-la! Aproveite o mês de agosto e reflita sobre isso.

Referência: “A história contada através da arquitetura de uma rua”, Eder D. da Silva.

A LONGA DURAÇÃO DA IDADE MÉDIA

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" EM 5 DE AGOSTO DE 2012 PELA PROFª KARLA O. ARMANI


            Na escola, quando se estuda História, desde o ensino fundamental ao médio, é muito comum as pessoas associarem a “História” com a “Idade Média”. É como se todo o período que a História estuda, da Pré-História à Idade Contemporânea, se resumisse no tempo medieval, afinal o que as pessoas mais se lembram são: “senhores feudais”, “castelos”, “servos” e “guerras”. É interessante notar como um período que acabou há quase seis séculos ainda fica marcado na mente dos indivíduos, talvez porque algumas manifestações culturais daquela época ainda fazem parte da mentalidade ocidental.
            “Falar em feudalismo implica falar de castelos, cavaleiros, senhores feudais, vassalos, cruzadas e rebeliões. Implica falar da guerra e do exercício de poder através da ‘lei do mais forte’ - além de falar de heróis, cavaleiros de armaduras reluzentes empenhados em salvar os fracos e oprimidos ou resgatar donzelas de castelos encantados e salvá-las de... dragões” (Rezende, 1998, p.3). Esse fragmento nos demonstra o quão “mágica” a Idade Média pode ser apresentada aos alunos, como um período que saiu dos contos de fadas infantis e de repente se transformou em matéria de estudo para a disciplina de História.
            O tempo medieval na verdade foi caracterizado por muitas guerras, disputa de poder e uma mentalidade extramamente religiosa e temente a Deus. Do século V ao XV, a Europa passou um período de ruralização, escassa atividade comercial, descentralização administrativa e predominância da religião na vida cotidiana e cultural. Essas caracterítiscas, quando estudadas na Idade Moderna (século XV ao XVIII), foram consideradas “atrasadas”, como um período de “trevas”. Por esse motivo, o longo período entre 476 e 1453 foi visto como aquele que estaria no “meio” entre as “prósperas” idades Antiga e Moderna, onde as cidades e o comércio foram as principais atividades econômicas, diferente do “regresso” que teria sido a Idade “Média”.
            Nos tempos atuais, o ensino da “Idade Média” não pensa dessa forma, afinal cada época tem que ser analisada com os “olhos” da época. Assim, o “Medievo” é estudado como um tempo que teve sua política, economia, sociedade, cultura, tecnologia e mentalidade própria. Além disso, também são dignas de nota as manifestações culturais desta época que se predominam no tempo presente, como tradições de longa duração. Como por exemplo, as festas juninas, o carnaval, o natal, o 1º de janeiro e até as superstições. Enfim, por motivos como estes que a Idade Média é tão relembrada pelas pessoas e, as vezes, confundida com a própria História. 
            

HISTÓRIA NA NET

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" EM 29 DE JULHO DE 2012 PELA PROFª KARLA O. ARMANI


            A História é uma ciência que estuda o homem em sociedade ao longo do tempo através de vestígios que restaram do passado. Exatamente por estudar o “homem”, ela pode estar presente no cotidiano das pessoas, uma vez que todos nós somos sujeitos históricos e estamos inseridos nos tempos passado, presente e futuro. Assim, falar de história não é só falar dos “fatos marcantes”, das nações ou de seus personagens políticos, é também refletir sobre a nossa vida e como ela pode se relacionar com os acontecimentos da cidade, do país e do mundo. Como vivemos em sociedade e compartilhamos de experiências em comum, é formada entre nós uma “memória coletiva”, uma identidade. Esta memória é sempre relembrada pelas pessoas e pode se tornar um assunto interessante, divertido e instigante, inclusive pela internet.
            Nos tempos atuais, a vida está cada dia mais ligada à internet, principalmente às redes sociais. O hábito de conversar na calçada de casa com os vizinhos, na roda de amigos em um bar ou até nas praças públicas, cada vez mais perde para os “chats” das redes sociais. A internet, bem ou mal, disponibiliza conversas on-line, adição de amigos virtuais e compartilhamento de textos, vídeos e fotografias. E é neste ponto que a História tem sido muito discutida na atualidade.
            É como se estivesse na “moda” falar de História (um fenômeno), em especial às histórias de vida que as pessoas (ou grupo de pessoas) de uma cidade, empresa ou bairro possuem em comum. Geralmente, as “conversas” em que as pessoas dividem suas experiências são registradas em blogs ou grupos montados em redes sociais. Nestes espaços, os indíviduos compartilham suas lembranças através de depoimentos escritos e fotografias digitalizadas.
            É interessante analisar este fenômeno notadamente por conta da fotografia. Desde o princípio da evolução humana, a sociedade sempre foi muito ligada à imagem, fosse por desenhos em cavernas, tabuletas de argila, papiros, esculturas, livros ou fotografias. Na época atual, a imagem está em grande evidência, uma vez que a mídia de televisão, jornal, publicidade e outras cada vez mais a utiliza como atrativo. Deste modo, dentro do fenômeno das redes sociais sobre História, as fotografias antigas também estão em destaque, uma vez que as pessoas as compartilham na intenção de recordarem sobre determinados acontecimentos do passado. Isso acontece porque a imagem pode informar sobre detalhes que, muitas vezes, as palavras não conseguem alcançar. Esta disponibilidade de imagens e depoimentos é muito importante à História, bem como aos historiadores, porque além de ajudar nas pesquisas históricas, auxilia também na valorização e preservação das fontes históricas.
            Este fenômeno da internet diante à História, que cada vez mais atinge várias cidades da região, inclusive Barretos, demonstra ao poder público e à sociedade em geral que as pessoas se preocupam SIM com sua história e memória. É perceptível a satisfação e a alegria de muitos cidadãos em declararem suas lembraças e informarem sobre lugares de memória e personagens do passado que não existem mais. Que isto sirva como exemplo ao poder público de como o povo gosta de sua história e a quer preservar. Afinal, um povo sem história não é mesmo nem um povo!

AS REVOLUÇÕES DE JULHO

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" EM 22 DE JULHO DE 2012 PELA PROFª KARLA O. ARMANI


            O mês de julho é um período marcante na memória nacional, pois é composto de várias datas que rememoram episódios interessantes da história do Brasil. A Revolução de 1932 é o acontecimento mais lembrado neste mês, em especial pelos paulistas, por conta de sua repercussão na capital e nas cidades do interior de São Paulo e pela quantidade de voluntários que ela movimentou. No entanto, existem outros fatos que poderiam também ser discutidos nesta época do ano, como, por exemplo, a Revolução de 1924, ocorrida em São Paulo no dia 5 de julho daquele ano.
            A Revolução de 1924, na verdade, fez parte de um contexto maior conhecido como “movimento tenentista”. Este, tinha por principal finalidade a queda da exclusividade política das oligarquias agrágrias que sustentavam o cenário político brasileiro desde o final do império e a instalação da República. Os “tenentes”, como ficaram genericamente conhecidos, eram homens de patentes mais rasas do exército brasileiro que, dentre outras reivindicações, queriam reformas na política brasileira, inclusive mais participação deles (militares) nas decisões do governo.
            A primeira manifestação deste movimento foi a “Revolta dos 18 do Forte de Copacabana” no Rio de Janeiro (capital do Brasil na época). Onde, em 5 de julho de 1922, os manifestantes envolvidos pretendiam fazer um levante contra o presidente Epitácio Pessoa e o próximo que assumiria o cargo, Artur da Silva Bernardes. Este movimento foi abafado pelas tropas federais, pois os dezoitos últimos homens (sendo um civil) foram mortos.
            Foi assim que, dois anos depois, em 1924, exatamente no mesmo dia 5 de julho, outro levante tenentista veio à tona, agora na cidade de São Paulo. Cerca de mil homens, envolvidos no movimento tenentista, armaram ataque a pontos estratégicos da cidade na intenção de destituir o presidente Artur Bernardes do poder e atingir também o presidente de São Paulo, Carlos de Campos. Os “tenentes” ficaram vinte e três dias na cidade de São Paulo, chegaram a atacar uma sede do governo estadual e outros lugares da cidade. Inclusive, indícios confirmam que este foi o maior conflito bélico dentre da capital paulista. Recente publicação da “Folha do Est. De São Paulo” demonstra fotografias deste período onde se percebe prédios depredados, soldados armados e nuvens de poeiras das explosões recorrentes deste período.
            Este levante, assim como o “movimento tenentista” em geral, repercutiu além das capitais de São Paulo e do Rio de Janeiro. Muitas cidades se envolveram nestes conflitos do primeiro lustro da década de 1920, cada uma com sua participação peculiar. Barretos foi uma delas que, com o caso do capitão Philogonio Teodoro de Carvalho, também teve parte na Revolução de 1924 e na posterior revolta de 1925. Por fim, é interessante como a história do Brasil pode se revelar um mosaico de acontecimentos sempre aptos à reflexão, como estes rememorados por nós em julho. Sempre julho.

ANOS 20: COELHO NETO EM BARRETOS


ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" EM 15 DE JULHO DE 2012 PELA PROFª KARLA O. ARMANI


            É certo que Coelho Neto não seja um nome muito comum nas conversas dos jovens hoje em dia. O mesmo não se pode dizer das pessoas mais velhas que viveram em Barretos, pois, certamente algumas delas já ouviram falar das visitas que este cidadão fazia à cidade. Pode ser que estas pessoas não foram testemunhas oculares das passagens de Coelho Neto em Barretos, uma vez que isso se deu na década de 20, mas pelo menos já escutaram histórias a seu respeito contadas por seus antepassados. Deste modo, seria interessante “rever” um pouco de uma de suas visitas que, segundo Osório Rocha, foi “o maior acontecimento de setembro, para não dizer do ano de 1921”.
            Chamava-se Henrique Maximiano Coelho Neto, nascera em 1864 no Maranhão, mas cedo mudou-se para o Rio de Janeiro. Ali ingressou na faculdade de Medicina, mas terminou o curso, depois entrou para a faculdade de Direito em São Paulo. Nesta época, pelos idos de 1883, participou do movimento abolicionista e republicano, inclusive mantendo contato com José do Patrocínio. De volta ao Rio de Janeiro, passou a escrever na imprensa carioca, onde desenvolveu mais a sua arte da escrita, e chegou até a ocupar cargos políticos. Mais tarde, tornou-se professor da Escola Nacional de Belas Artes, onde entrou em contato com o teatro, e foi membro da Academia Brasileira de Letras. Já conhecido, Coelho Neto escrevia romances literários que, apesar de não se prender a um só gênero, sempre foi rotulado como “parnasiano”.   
            É incrível como a vida intelectual e profissional do escritor Coelho Neto se assemelhava com certas personalidades de Barretos, como, por exemplo, Silvestre de Lima (que não estava mais em Barretos nos anos 20). Por este motivo, uma personalidade como Coelho Neto, quando visitava a cidade, representava não só possíveis acordos políticos, como também uma aliança intelectual. A elite barretense, no início do século XX, sempre recebia essas personagens com a maior pompa. Osório Rocha narra que, quando Coelho Neto chegou à cidade, em 10/9/1921, foi recebido festivamente na Estação Paulista pelo prefeito Antonio Olympio e várias pessoas. A banda de música “Orphelina Barretense” executou uma peça e os alunos do Ginásio Sírio-Brasileiro cantaram um hino patriótico ao visitante. Em seguida, depois de repousar e fazer refeição nas residências de homens como Antonio Olympio e Emilio José Pinto – seu grande amigo, Coelho Neto visitou instituições públicas e particulares como o Grupo Escolar, a Santa Casa (ali ele inaugurou o livro de visitantes), o Grêmio Literário e Recreativo (onde inaugurou o retrato do visitante em sua biblioteca), o Sport Clube e o hipódromo. Tudo isso foi cercado de discursos e poesias recitadas pelo escritor, que, todas as vezes que vinha a Barretos era ovacionado por tal público.
            Desta maneira, os lugares de sociabilidade da elite barretense formavam uma espécie de “passagem” aos homens letrados e políticos do Brasil, como era Coelho Neto. Tudo isso para demonstrar que Barretos também tinha os seus locais de “modernidade” e “civilização”. Ali, ouviam-se os romances literários, os discuros políticos e as poesias; o que era muito comum na época. Estes costumes, que faziam parte da cultura letrada, podem ser interessantes aos olhos do historiador de hoje, que contempla-os como verdadeiras representações ideológicas.

Fonte: Osório Rocha, “Reminiscências”, vol. II.

80 ANOS DA REVOLUCÃO CONSTITUCIONALISTA DE 1932

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" EM 8 DE JULHO DE 2012 PELA PROFª KARLA O. ARMANI


            A memória paulista relembra neste ano os oitenta anos da Revolução Constitucionalista de 1932, que se iniciou em 9 de julho e terminou em 2 de outubro do mesmo ano. Durante todos os anos que se sucederam à revolução de 1932, recordações e homenagens aos soldados constitucionalistas têm tido espaço no mês de julho. O “9 de julho” foi por tantas vezes aclamado um dia de “glória” a São Paulo que até se tornou a “Data Magna” do estado. A história da “Revolução de 1932”, ao longo destes oitentas anos, foi escrita de maneiras diferentes e seria interessante rever algumas delas.
Por vezes, encontram-se autores que relatam a “Revolução Constitucionalista” de 1932 como um fato marcante na história paulista e adjetivado de glórias, conquistas e sentimentos de superioridade perante os outros estados. Isto se fez, principalmente, através do discurso “bandeirante” que foi muito utilizado nas décadas de 30 a 50. Para uns, o início da revolução era o retorno da era bandeirante, quando São Paulo adentrou o interior do Brasil para povoá-lo e, por isso, teria sido o estado responsável pelo desenvolvimento do país. Como a revolução de 1932 tinha como lema a “reconstitucionalização” do Brasil, era como se, novamente, São Paulo tivesse lutando em nome de uma causa maior, do bem comum ao país.
Sobre o acontecimento de 1932, existem muitas dissertações, teses e monografias atuais a respeito do desenrolar da revolta, principalmente, nos âmbitos locais. Cada cidade paulista teve sua participação que se tornou peculiar à história das localidades. Deste modo, falar sobre a escrita da história da Revolução de 1932 nos dias de hoje é algo muito mais complexo e difícil de generalizar. Mas, o que mais se tem visto nos livros, em principal os didáticos, é uma história paulista menos adjetivada, com restrições aos fatos, as “glórias” paulistas, e mais voltada à participação do povo, ao cotidiano e à memória que ainda vive dos soldados.
Nos dias atuais, a história da Revolução de 1932 disserta mais a respeito do motivo político que estava em jogo naquela ocasião. Ao analisar o contexto da década de 20, percebe-se que a oligarquia paulista que, junto a Minas Gerais, dominou todo o cenário político do Brasil na Primeira República, estava perdendo o poder. Com o início da Era Vargas, a elite paulista necessitava de ter mais espaço na política, principalmente por causa da produção cafeeira que estava em declínio. Além disso, é claro que o motivo da volta da constituição que Vargas havia suprimido em seu governo ditatorial também era evidente nas reivindicações dos paulistas.
Cá estamos, oitenta anos depois daquele 9 de julho de 1932 que tanto foi motivo para “glorificar” os paulistas na história. Uma história que não é mais escrita como naquela época, afinal o próprio modo de escrevê-la torna-se diferente conforme a visão do momento presente. Que a cada ano, a história da Revolução Constitucionalista possa ser mais revisada, pesquisada e rememorada na eterna intenção de descongelar o passado.

O PATRIMÔNIO DA ESTAÇÃO

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" EM 1 DE JULHO DE 2012 PELA PROFª KARLA O. ARMANI


            Aos olhos de um historiador, ou até mesmo de um morador mais “saudosista”, é incrível ver como Barretos possui belos prédios antigos, prédios que de alguma maneira contam a nossa história. Estes prédios, desde que estudados histórica, arquitetônica ou culturalmente, em conjunto, podem nos dizer muito sobre uma época, um ciclo ou uma memória coletiva. São resquícios peculiares de uma cidade, e, por isso, são úteis e devem ser preservados.
            A antiga “Estação da Cia Paulista de Estrada de Ferro”, atual “Estação Cultura”, é um desses prédios que faz qualquer barretense se orgulhar do patrimônio da cidade. Porém, é interessante notar que o prédio da estação é “um” dentro de todo o patrimônio histórico ferroviário que se localiza no alto da avenida 3, entre o perímetro das ruas 14, 16 e 18. Naquele local, é possível perceber componentes materiais da época de ouro do “trem”. O prédio da estação, a Praça Conselheiro Antonio Prado, as casas dos funcionários da antiga Cia Paulista (muitas ainda possuem a antiga numeração), o barracão (que, se revitalizado, poderia se transformar em alguma instituição), os vagões; enfim, todos estes, em conjunto, são prédios que compõem o patrimônio ferroviário de Barretos. Um patrimônio que começou a ser construído em 1909, reconstruído em 1929 (e outros anos) e reformado em 2008.
            Cada canto daquele “sítio histórico” da ferrovia reserva em si uma memória particular que constrói parte da história da cidade. Os depoimentos dos antigos funcionários e maquinistas podem revelar detalhes cotidianos, o desenho arquitetônico das fachadas falam por si só da modernidade da época, os paralelepípedos da rua demonstram aspectos da cidade, a famosa grade com a marca do tiro na época da Revolução de 1932 e detalhes como o “relógio” podem desvendar mistérios. Ah, o relógio, esse sim possui uma história interessante!
            Hoje, quem passa em frente à Estação Cultura, pode não se dar conta de que um belo relógio enfeita o topo da fachada. Um verdadeiro relógio “Michelini”, italiano, e comum na época para adornar os topos de prédios desse tipo. Acontece que, aquele relógio apresenta algarismos romanos para orientar as horas e minutos e, quem passa por ali despercebido, não percebe que o número 4 está representado por “IIII”, e não por “IV”, como conhecemos. Quem repara isso, pode imaginar que se trata de um erro, quando na verdade não é. Trata-se de uma característica da época que aparecia em alguns relógios, principalmente os mais antigos. Existem algumas hipóteses para explicar tal simbologia, mas uma delas é deveras interessante: diz-se que, durante a Idade Média, as catedrais medievais adotaram o algarismo “IIII” porque o outro símbolo (“IV”) lembrava “JU”, já que no alfabeto latim I=J e V=U. Assim, este algaraismo “IV” parecia lembrar a palavra “JUpiter”, e este era um antigo “deus romano”, o qual seu culto era considerado um paganismo pela igreja naquela época. Lembrando que isso é uma hipótese, outra perspectiva diz que a troca foi simplesmente por questão estética.
            Histórias como estas deveriam ser mais instigadas, revistas e disseminadas entre os barretenses. Tudo isso para que estes passem a enxergar que não só o prédio da estação possui “história” e sim todo o patrimônio que o cerca. Cada canto, cada detalhe, pode revelar uma pergunta, uma pesquisa ou até uma boa conversa. E é isso que torna o patrimônio ferroviário tão importante. Pensemos.

HOMENAGENS EM 2012: NOVOS OLHARES

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" EM 24 DE JUNHO DE 2012 PELA PROFª KARLA O. ARMANI


            O ano de 2012 está repleto de comemorações que estão rendendo homangens a um “punhado” de gente. São centenários de artistas, de composições de grandes obras artísticas, literárias, fílmicas ou musicais, ou, ainda, acontecimentos na história do Brasil e mundial. Estes tipos de homenagens, mesmo que privilegiem as datas “marcantes”, acabam por popularizar a história. Trata-se de um modo das pessoas se tornarem mais próximas do passado, conhecê-lo através de novas linguagens como as novelas, os filmes e os livros.
            Isso tudo é resultado dos impactantes anos 10 do século XX, que, no Brasil, foram os responsáveis pela “modernização” de algumas cidades, principalmente àquelas da região sudeste do país. Nesta década, em regiões mais prósperas economicamente, muitas cidades foram palco de transformações sociais e políticas. A década de 10 foi a época de nascimentos de poetas como Jorge Amado (1912), revoltas messiânicas como a Guerra do Contestado, e até acontecimentos mundiais como o trágico acidente com o Titanic.
            Os centenários destas datas têm inspirado as produções ou reproduções de grandes filmes, seriados e/ou novelas. Estes meios de comunicação são mais acessíveis à população e, por usar o recurso da “imagem”, também se tornam mais atraentes. Desta maneira, temas históricos têm sido mais discutidos e disseminados na sociedade contemporânea. É claro que aprender “história” através dos livros e das aulas de história continuam sendo os recursos mais importantes na aprendizagem. No entanto, estas comemorações centenárias, ao utilizar tais recursos imagéticos, acabam por atrair determinados indivíduos ao estudo da história, à imaginação do passado e à memória.
            Por exemplo, o remake da novela “Gabriela” atualmente exibido pela Rede Globo de Televisão em comemoração do centenário de Jorge Amador (autor do romance literário), pode chamar atenção das pessoas em relação à situação da Bahia no início do século XX. Ao juntar o conhecimento básico em história que adquirimos na escola, com a imaginação que o cenário novelístico pode oferecer-nos, é muito mais palpável o acesso ao passado, principalmente em relação à percepção de suas mudanças e permanências. É claro que, existem os “poréns” quando se trata de novelas, filmes ou literatura. Estes são recursos mais fictícios, não voltados à ciência como é a história, mas isso não significa que não podem ser analisados como fontes históricas. As ideologias presentes nas novelas e nos filmes também querem dizer algo da época, mais até do que o próprio conteúdo a ser abordado.
            Enfim, o fato é que as diversas comemorações que estão acontecendo neste ano de 2012 são de suma importância não só para as homenagens a pessoas ou fatos marcantes, bem como aos novos olhares que podem surgir perante as obras clássicas. A história está aí para ser revista, inclusive de novas maneiras.

70 ANOS: O DIÁRIO DE ANNE FRANK

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" EM 17 DE JUNHO DE 2012 PELA PROFª KARLA O. ARMANI


“Para mim, as lembranças são mais importantes do que os vestidos” (Anne, jun./1942)

            12 de junho de 1942, setenta anos atrás. Nesta data iniciava-se a produção de uma das fontes mais preciosas do holocausto, o diário de Anne Frank. Publicado pelo pai de Anne, Otto Frank, em 1947, o diário da menina judia, morta aos 15 anos pelos nazistas, é a prova viva do sofrimento de uma família de judeus durante a 2ª Guerra Mundial.
            Anne ganhou o diário de sua família em seu aniversário de treze anos. Nesta época, a família toda (Anne, a irmã Margot, o pai Otto e a mãe Edith) morava em Amsterdã na Holanda. Apesar de ter nascido na Alemanha, Anne e sua família mudaram para a Holanda no começo dos anos 30. Vivendo uma vida financeiramente estável e “traquila” até então, no ano de 1942, a família de judeus sentiu-se obrigada a esconder-se num anexo secreto devido à perseguição de Hitler, o füher dos nazistas. Isso porque naquele ano já estava acontecendo a 2ª Guerra Mundial e a todo momento era temida uma possível invasão à Holanda e a perseguição aos judeus que lá habitavam. O que de fato aconteceu.
            O antissemitismo, empreendido pelos nazistas, fazia parte de um ideario racial de que todas as raças eram inferiores aos germarnos, a “raça pura”. Para os nazistas, o povo judeu era o responsável pela deflagração econômica da Alemanha, por conta de sua rica economia organizada e fechada em si mesma, numa época de caos para o país. Hitler acusava os judeus de espalharem-se por vários países e “desnacionalizar” os povos. Desta feita, depois de perseguidos e aprisionados, muitos judeus foram mortos nos campos de concentração nazistas. Anne Frank foi uma deles.
            A família Frank, a família Van Daan e Albert Dussel (pseudônimos) ficaram escondidos no anexo de um escritório em Amsterdã por mais de dois anos. Durante o tempo que lá permaneceu, Anne escrevia em seu diário todas as aflições, os momentos depressivos, as esperanças, as alegrias e as notícias daquele tempo de guerra. Ela registrava os barulhos das bombas e aviões, os constantes assaltos na cidade, a fome, a clandestinidade dos judeus, o mercado negro, etc. É interessante ver também o papel do rádio como o portador de notícias e discursos daquele momento. Além disso, se tirassemos o contexto histórico envolvido do livro, poderíamos pensar que se tratava de uma adolescente atual. Afinal, Anne passava pelas novidades da adolescência, sonhos e até uma paixão pelo jovem Peter Van Daan, também aprisionado.
            Tudo isso “acabou” em 4 de agosto de 1944, quando alemães da policia SS invadiram o anexo e prenderam as oito pessoas que lá escondiam-se. Todos foram mortos nos campos de concentração, com excessão do pai de Anne. Ou melhor, a vida de Anne não terminou ali, pois o seu sonho de tornar-se escritora foi realizado com a publicação de seu diário e de seus contos, que a fez se perpetuar na história.
Setenta anos depois, a Anne, as nossas saudações.      

FUTEBOL: DA ELITE AO POVO

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" EM 10 DE JUNHO DE 2012 PELA PROFª KARLA O. ARMANI


            É vísivel a paixão que o brasileiro até hoje nutre pelo futebol. Mesmo sendo originário da Inglaterra, esta modalidade esportiva se adaptou à cultura brasileira e hoje é praticamente um “símbolo” quando se fala em “Brasil”. Isto porque, o futebol é um esporte de massa, acessível ao brasileiro desde a infância e praticado por muitos, mesmo que amador. Mas, será que sempre foi assim? Sempre foi um esporte popular?
            O “pai do futebol brasileiro” foi Charles Miller, filho de um industrial inglês, que, depois de uma temporada de estudos na Inglaterra, trouxe o futebol para o Brasil. Miller foi responsável pela introdução do futebol competitivo no país e das regras do jogo, fatores essencias para a sua expansão. A partir de então, o futebol passou a ocupar um patamar de “diversão” à elite brasileira (aquela ligada a região sudeste, mais próspera na economia). A elite inglesa (industrial) e a cafeeira (agrária), principalmente a de São Paulo, passaram a ter mais um espaço de confraternização nos jogos de futebol. Com o incentivo de Oscar Cox, surgiram as primeiras ligas e clubes de futebol no RJ (“Fluminense”, 1902) e em SP (“Paulistano”, que na década de 30 deu origem ao atual São Paulo F. C.).            
            Reuniam-se homens e até mulheres em estádios armados para assistir jogos amadores de futebol. Ali eram os espaços de sociabilidade da elite, um verdadeiro passatempo. E a presença feminina na platéia afirmava bem esta característica elitista do futebol primitivo no Brasil. Em Barretos, isto não foi diferente, o primeiro clube futebolístico foi montado em 1907, mas, vários campeonatos amadores eram realizados na cidade, principalmente alguns em prol de instituições de caridade como a Santa Casa. É só observar as expressões de “modernidade” utilizadas numa reportagem da época: “Alcançou real sucesso o grande festival esportivo, em bôa hora lembrado pela senhorita Caridosa, e que se realizou no domingo ultimo, a tarde, no Estadio do Barretos Futebol Clube em beneficio da Santa Casa de Misericórdia desta cidade. Ás 14 horas, já estavam replectas as archibancadas, predominando o elemento feminino, a pelouse encheu-se também de mais de cincoenta automóveis e de uma grande multidão, que não escondia o anseio de assistir a grande partida da tarde, o jogo de futebol entre os doutores e os contadores (A Semana, 09/07/1927, p.2).
            No entanto, com o advento da indústria e a crescente classe do operariado brasileiro, o futebol começou a ser difundido entre a massa. Assim, existia os times da elite e os times populares, o que poderia ser traduzido em “amadorismo x profissionalismo”. Para a elite, o futebol era um entretenimento, nada de profissão; o que para alguns indivíduos das classes mais baixas não era realidade. Pois, muitos deles viam neste esporte uma modalidade profissional, séria, uma fonte de renda. Com isso, a partir do final da década de 20 e dos anos 30, que tinha em pauta a questão da “identidade nacional” o futebol foi sendo cada vez mais incorporado ao povo. Tanto que, nos anos 30, o craque da época era Leônidas da Silva, o “Diamante Negro”, um afro-descendente que foi artilheiro na Copa de 1938. Era a democratização do esporte. Sendo válido lembrar que, a torcida também foi importante para a profissionalização do futebol, já que incentivavam os clubes, exigiam melhoras, pagavam ingressos e etc.
            Muito interessante perceber a dinâmica que o futebol brasileiro atravessou em pouco mais de um século. Outrora elitista, e agora popular.

Fonte: “Histórias do Futebol” (Arq. Pub. Est. SP), Lívia G. Magalhães, 2010.

“OSSOS DO BARÃO”: UMA AULA DE HISTÓRIA!

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" EM 3 DE JUNHO DE 2012 PELA PROFª KARLA O. ARMANI


            No último dia 26, o Centro Cultural “Osório Faleiros da Rocha” foi honrado com a encenação da peça teatral “Ossos do Barão” de autoria do barretense Jorge Andrade. A peça, que na verdade finalizou a semana em comemoração dos 90 anos de Jorge, foi encenada pela Companhia “...” de São Paulo. Tratava-se de uma comédia muito interessante, que, aos olhos de uma professora, tornou-se uma bela aula de história, bem dinâmica por sinal. Deste modo, vou comentar sobre a peça de acordo com o que ficou na minha memória, diante aquilo que soou como mais relevante.
            “Ossos do Barão” sintetiza a situação da capital paulista em meados do século XX, quando alguns fazendeiros faliram por conta da crise de 1929 (dentre outras coisas), e, outros, porém, enriqueceram-se com o advento da indústria. O que a peça narra, brilhantemente, é a perpetuação dos títulos e dos nomes e sobrenomes das famílias dos tradicionais barões da época do café. Na ocasião do 4º Centenário de São Paulo, estes indivíduos “tradicionais” ficaram conhecidos como “quatrocentões” em alusão à continuação das mesmas famílias que desde a época da fundação de São Paulo ainda permaneciam na cidade, talvez não com o mesmo prestígio financeiro, mas com a tradição consanguínea ainda corrente. Ao menos, era assim que pensavam.
            A peça tem um cenário maravilhoso de uma casa antiga, da época de um barão de café (o barão de Jaraguá), que foi comprada por um italiano industrial que enriquecera como colono na fazenda deste barão, o sr. Egisto Giotto (o personagem mais cômico). Esta situação mostra muito claramente a falência de muitos antigos fazendeiros e a ascensão de colonos imigrantes que vieram para “ganhar a América”. Tanto que, mesmo com móveis luxuosos e antiquíssimos, o aparato principal da sala da casa do italiano, eram dois rastelos e duas peneiras de café. Este italiano, que comprara quase tudo do antigo barão, tinha a intenção de unir as famílias. Tanto que, por meio de cômicas cenas, tenta unir seu filho, Martino, com a bisneta do barão, Isabel Pompeu. Estes dois jovens, porém, representavam o pensamento mais moderno, uma vez que não ligavam para o tradicionalismo dos nomes das famílias.
            Passam-se dois anos e Martino e Isabel se casam, e tornam-se pais de um menino. O fim do teatro é o batizado deste menino, onde são convidados o tio e as tias “quatrocentonas” de Isabel, que demonstram vêemente a decepção do menino ganhar o nome italiano do avô e não aderir ao sobrenome “tradicionalíssimo” da família (que estava ali em São Paulo desde os tempos da caravela). É muito interessante ver o desenrolar desta história, onde sempre é tocada esta questão da “tradição do nome” dos antigos fazendeiros (mesmo que falidos) e o enriquecimento de alguns colonos. Sendo válido notar que, esta questão da tradição também pode ser encarada como uma crítica à propriedade de terra que sempre foi concentrada no Brasil, afim de expor que uma mesma família era dona das terras por séculos e séculos. Afinal, mesmo com o advento da industrialização e da modernidade, propriedade e família eram questões de “honra”.
            Enfim, a peça de Jorge Andrade é muito mais do que estas poucas linhas. Mesmo assim é possível perceber como o dramaturgo conseguiu utilizar da história como um veículo de informação e pano de fundo para o teatro. E o melhor, para uma comédia! Uma bela aula de história. Jorge Andrade, se não fosse dramaturgo, poderia ser historiador.

UM POUCO SOBRE JORGE ANDRADE


ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" EM 27 DE MAIO DE 2012 PELA PROFª KARLA O. ARMANI

“Jorge Andrade era um homem movido pela paixão, tudo o que escrevia, vivia ou dizia era dominado pela paixão. Emoção, coração apertado e nó na garganta, são sensações que não nos abandonam na leitura de suas peças. (Autor não identificado, folheto “Vereda da Salvação”, década de 90, Acervo Museu Ruy Menezes)
            A frase acima dá-nos a sensação de ter conhecido um dos barretenses mais renomados na arte teatral, Aluísio Jorge Andrade Franco. Seria muito bom aos jovens de hoje ter a oportunidade de “conhecer”, ou ao menos se aproximar, das obras e da vida que levou um dos maiores dramaturgos desse país, nascido em berço barretense. Jorge Andrade ficou conhecido por escrever peças teatrais genuinamente brasileiras, numa época em que o país importava, cada vez mais, cultura estrangeira.
            Nesta semana, no dia 21 de maio, se estivesse vivo, Jorge Andrade completaria 90 anos de idade. Em razão disso, o Studio Claudia Avila de Atores realizou uma justa homenagem ao dramaturgo neste final de semana no “Centro Cultural Osório Faleiros da Rocha”. Foi uma iniciativa de atores para dramaturgo, e de barretense para barretense; o que tornou o evento algo muito confortante. Deste modo, gostaria de apresentar para aqueles que não conhecem Jorge Andrade, que são raros, um pouco da carreira que lhe proporcionou grandes títulos.
            Jorge Andrade, como era conhecido, nasceu em Barretos em 21 de maio de 1922, fruto de uma família tradicional. Como tal, viveu na fazenda “Coqueiros”, de propriedade de seu pai, até que nos anos 40, resolveu estudar Direito na capital paulista. Por não se adaptar ao ambiente, retornou a Barretos. No entanto, na década de 50, iniciou sua carreira no teatro ao entrar para a “Escola de Artes Dramáticas de São Paulo”. A partir de então, começou a escrever peças teatrais e até novelas.
                Escreveu, entre os anos 50 e 70, dezoito peças teatrais, publicou dois livros e compôs sete telenovelas, entre elas: “Os ossos do barão” (globo), “O Grito” (globo), “As gaivotas” (tupi), “Dulcineia vai à guerra” (bandeirantes), “Os adolescentes” (bandeirantes), “Ninho da Serpente” (bandeirantes) e “Sabor de Melo” (bandeirantes). Suas obras tinham uma característica muito marcante, principalmente as peças teatrais dos anos 50 e 60. Afinal, ele retratou em muitas delas o declínio do patriarcalismo paulista depois da década de 30 e, em outras, a vida rural de miséria de muitos brasileiros. Como foi o caso de “Vereda da Salvação” (1958), onde é retratado o cenário de trabalhadores rurais, movidos por um certo messianismo, que tentam superar a miséria que os assola através do fanatismo religioso.
            Certamente, sua vida e obra daria uma rica pesquisa histórica e literária. Afinal, uma complexa descrição da realidade brasileira em seus confins, na luz do teatro que tudo pode, com certeza merece mais destaque em nossa história.

HISTÓRIA DE BARRETOS E REGIÃO: PONTOS EM COMUM


ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" EM 20 DE MAIO DE 2012 PELA PROFª KARLA O. ARMANI

            Até agora tenho escrito muito em meus artigos sobre as particularidades que Barretos possui em relação à história do Brasil. São tantos os acontecimentos e depoimentos que evidenciam situações peculiares da cidade. São histórias particulares. Mas, podemos nos perguntar: e o que a história de Barretos tem em comum com as das cidades da região? Vejamos.
            Comecemos pela formação dos arraiais da região. Praticamente todos (o que não quer dizer que sejam todos) foram formados a partir da doação de terras de fazendeiros mais abastados. Na maioria das vezes, as terras doadas por estes fazendeiros acabavam por pertencer à igreja, como consequência, começava-se a edificação de uma capelinha. A partir disso, as cidades cresciam ao redor destas igrejas primitivas, formando casas, praças, estabelecimentos comercais e outras instituições. Isso repercutiu até nos dias atuais, pois, em quase todas as cidades da região existem igrejas que ficam no centro da cidade, sempre acompanhadas das praças públicas, que modelam seu perímetro urbano.
            Paralelo a isso, existem as histórias dos padroeiros. Em quase todos os casos, os doadores das terras faziam à doação em nome de um santo, fosse por promessa ou por devoção. Estes santos acabaram por se tornar os padroeiros destas cidades. Foi assim que, surgiu o “Divino Espírito Santo” do Chico Barreto e o “Senhor Bom Jesus” de Felipe Cassiano Alves, um dos fundadores de Monte Azul Paulista,
            Outra questão interessante que Barretos se assemelha a Monte Azul Paulista é referente às punições dos “desordeiros” das cidades ainda no século XIX e início do XX. Conta Osório Rocha que, quando Raphael da Silva Brandão chegou a Barretos, ele ficou curioso com a cena em que um “criminoso” estava amarrado num coqueiro da avenida 21. Afinal, era assim que se puniam os criminosos, antes da criação da cadeia pública. Em Monte Azul Paulista, um estudioso local conta que a mesma prática também acontecia por aquelas bandas.
            Em relação à imprensa, muitas semelhanças são vistas nos jornais da região. Ribeirão Preto, Bebedouro, Barretos, Monte Azul Paulista e Viradouro eram cidades que desde muito cedo trouxeram a imprensa a seus habitantes. Em Viradouro, o jornal “O Progresso” foi criado antes mesmo da vila se tornar município, assim como Barretos possuía “O Sertanejo” antes de se chamar somente Barretos. As oficinas tipográficas, como podem ser vistas em fotografias, e as formatações dos jornais eram muito parecidas. Além do mais, as próprias folhas imprensas eram distribuídas de uma região a outra, o que poderia influenciar nessa semelhança.
            Certamente, outras semelhanças poderão ser vistas nos históricos das cidades da região, em principal no que se refere aos contextos nacionais como o coronelismo, os conflitos armados, a ditadura, as crises econômicas e etc. Afinal, tais cidades foram criadas e desenvolvidas quase na mesma época, o que lhes rendiam características em comum. Sendo válido lembrar, porém, que diferenças e peculiaridades também são notadas entre elas, fato que é ressaltado pela história regional. Estudemos.