sábado, 27 de junho de 2009

FESTAS JUNINAS: A RESISTÊNCIA POPULAR



Céu estrelado, vento frio, fogueira acesa, o suave som da viola, chapéu de palha, comida doce e salgada, bochecha rosada e camisa quadriculada, estas são algumas características que vemos durante estes meses de junho e julho. São as festas juninas, as quermesses ou os famosos “terços”, que podem ter desde uma alegre dança de quadrilha, com o simulado casamento da noiva e noivo caipira, até uma sincera reza ao santo de devoção, seja Santo Antônio (o casamenteiro), São João Batista, São Pedro ou outros padroeiros.
Nos dias atuais, celebramos nesta época do ano a festa caipira para manter a tradição, mas nos tempos antigos as festas do mês de junho eram as maiores festas do ano. Posto que, o “ano caipira” era um tanto diferente do ano atual, era como se o final do ano fosse em junho, mês de encerramento das colheitas, por isso, os habitantes das pequenas vilas e bairros se juntavam para festejar o sucesso das plantações.
Com o passar do tempo, o setor e a organização rural perderam espaço para o avanço das atividades urbanas, contudo, as festas no meio do ano continuaram a existir, algumas vezes com a única intenção de solenizar o santo padroeiro da cidade. No caso de Barretos, o padroeiro é o Divino Espírito Santo, então, desde o início do século XX tínhamos a famosa Festa do Divino, que por vários anos ficou estagnada pelo tempo, mas, recentemente foi retomada e a comemoramos todo meio do ano.
O interessante são as propagandas da Festa do Divino Espirito Santo no jornal “O Sertanejo”, que aconteciam desde 1900, entretanto, a festa era realizada em três dias no final do mês de janeiro e início de fevereiro. As comemorações começavam com as salvas de 21 tiros e, depois do som ao vivo da Banda Euterpe Barretense, eram feitas as novenas, os leilões de prendas, a missa cantada e o sorteio do festeiro para o próximo ano. Este festeiro sempre fazia a promessa de realização da próxima festa e no jornal “O Sertanejo” aparecem como festeiros os senhores Antonio Machado de Campos Barros e o primeiro prefeito de Barretos Raphael da Silva Brandão.
Portanto, sejam as antigas festas caipiras para comemorar as colheitas, as festas dos santos padroeiros ou as festas juninas temáticas que fazemos todos os anos no mês de junho, todas representaram e ainda representam a nossa identidade de cidade interiorana e resiste às tendências do presente que muitas vezes contribuem para o definhamento da nossa própria tradição popular.

REFERÊNCIA: CÂNDIDO, Antônio. Os parceiros do Rio Bonito. RJ: 1971.

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO" (BARRETOS/SP), EM 26 DE JUNHO DE 2009.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

O PENSAR PARA AS CRIANÇAS




Quem foi Dom Pedro II? Você sabe responder? Esta pergunta que parece tão simples fez muita gente parar, coçar a cabeça e dizer: “Ah... já ouvi falar sim, mas não me lembro quem foi”. Faço esta pergunta aos pré-adolescentes de 5ª e 6ª séries e alguns levantam a mão dizendo que conhecem Dom Pedro II, entretanto, quando pergunto quem ele foi escuto respostas do tipo: “Filho de Dom Pedro I” ou “Isso eu não lembro”.
Estas respostas são comuns para alunos de 5ª e 6ª séries, com a faixa etária de 11 e 12 anos, já que eles são mais novos e a tendência do ensino de História atual é mais baseada em conceitos do que em personagens históricos, enfim estamos deixando de lado a história tradicional. Entretanto, com estudantes já adultos esta situação é de se pensar. Perguntei a vários estudantes que cursam diferentes graduações, que acabaram de sair do Ensino Médio, e a maioria não soube responder quem foi Pedro II. É claro que esta pergunta foi somente um teste para identificar até que ponto o saber histórico esta presente na memória das pessoas. Mas, porque esta situação acontece?
Estas problemáticas me fizeram lembrar as reflexões que nós, formandos de História, levantamos durante toda a graduação sobre o ensino de História, principalmente sobre o Ensino Fundamental, uma vez que é neste momento que a educação age como a principal ferramenta para formar indivíduos pensantes. Não há outro meio senão a educação. Discutimos então sobre a solução que propôs a Dra. Paula Ramos de Oliveira, estudiosa da Unesp de Araraquara, em relação a criança e sua experiência com o pensar.
Filosofia para crianças já no ensino primário seria uma ferramenta a mais na metodologia de trabalho do educador. É claro que não seria uma disciplina complexa citando os grandes pensadores, mas algo que desenvolvesse o raciocínio da criança e a fizesse ter uma melhor noção sobre o tempo histórico e o espaço geográfico em que vive. As crianças passariam a ter melhores estruturas de raciocínios e quando chegassem na 5ª série em diante teriam condições necessárias para administrar a bagagem cultural que as rodeiam.
Perguntaram a uma menina de 8 anos, qual é a diferença entre “dúvida” e “pergunta”? Assim foi a resposta: A dúvida e a pergunta são iguais, mas diferentes, é como a água e o gelo. A dúvida é a pergunta que não mudou de estado, ela está só no pensamento e não saiu pela boca. Querem resultado melhor que este? Acreditam que esta criança, quando adulta independente de qual graduação for seguir, saberia responder quem foi Pedro II e muitas outras questões sobre o país em que vive? Formar pensadores e cidadãos conscientes, esta é a lacuna que a educação preenche.

REFERÊNCIA: Palestra com a Dra. Paula no Colóquio de Pedagogia da Fafibe, em 03/06/2009.

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO" (BARRETOS/SP), EM 19 DE JUNHO DE 2009.

domingo, 14 de junho de 2009

DO LIVRO, UM PRÍNCIPE...



A menina, desde muito menina, sonhava com um Príncipe Encantado que sempre ouvira falar nas estórias de contos de fadas. Um príncipe que não fosse parecido com os galãs da Rede Globo, que não tinham o autêntico olhar de um “Romeu” apaixonado, mas um príncipe como a descrição de Antônio Maria, no conto “O café com leite dos amantes”. Dizia assim: Para os chamados "grandes homens"a mulher é sempre uma aventura (...). É melhor ser-se um "pequeno homem”. (...) O homem só tem duas missões importantes: amar e escrever à máquina. Escrever com dois dedos e amar com a vida inteira. A menina cresceu e, mesmo o mundo real não sendo encantado, imaginava que um dia poderia encontrar seu príncipe, mas que não tivesse o trágico destino de Romeu e nem a triste vaidade dos príncipes dos contos de fadas infantis. [Exigente não?].
O menino? Bem, o menino não se importava muito com isso, gostava mesmo era de vídeo-game, desmontar aparelhos eletrônicos, ler enciclopédias de História e Ciências, comer as delícias preparadas pela avó e escutar as histórias de futebol vividas pelo avô. Entretanto, algumas vezes confessava baixinho em seu próprio pensamento que seria interessante encontrar, no futuro, alguém que lhe completasse, afinal tinha como melhor exemplo a vida e o amor de seus avós. Talvez alguém que gostasse de Star Wars. [Também exigente não?].
Foi então que, passados vários anos, os dois se encontraram! [Leitores, acalmem-se, o primeiro encontro foi virtual]. A primeira impressão foi um choque, pois os dois faziam aniversário no mesmo dia 07 do mês de outubro, porém, com a diferença de sete anos. “Seria o destino?”, era o que pensavam. Trocavam palavras por horas e horas no mundo virtual, até que ele tomou coragem e a chamou para sair, e ela alegremente aceitou. O convite foi magistral. Encontraram-se pessoalmente no fabuloso Teatro Pedro II e assistiram uma peça teatral de comédia. Encantaram-se. Apaixonaram-se.
A menina sentia que o menino era o tal príncipe encantado, eram impressionantes suas afinidades. [Suspiros...]. O menino encontrou a outra metade da laranja, “como vovô e vovó”. Parafraseando Clarice Lispector, “Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com o seu amante”. O tempo verbal saiu do passado e agora entra no presente: o conto de fadas saiu dos livros e tornou-se realidade e, hoje, “estão” sendo felizes para sempre!
Esta é a nossa cintilante história de amor, meu Bruno, meu Príncipe. Seu sorriso e o entrelaçar de nossas mãos, me fazem entender o motivo que o amor brilha todos os dias em meu pensamento e encantadamente faz bater meu coração. Te amo com a vida inteira! Feliz Dia dos Namorados. Sua Princesa.


ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO" (BARRETOS/SP), EM 12 DE JUNHO DE 2009.

domingo, 7 de junho de 2009

À ESPERA: CEM ANOS DA ESTAÇÃO FERROVIÁRIA

“Lá vai o trem sem destino,
pro dia novo encontrar.”
(Heitor Villa Lobos)

No dia 25 de maio de 2009 a nossa Estação Ferroviária completou o centenário de sua inauguração em Barretos. Ansiosamente, o dia 25 de maio de 1909 foi muito esperado pelos moradores da cidade na época, tudo porque estava a caminho o primeiro trem vindo direto de Bebedouro a Barretos, uniam-se as linhas férreas destas duas cidades. A população estava assim tão eufórica porque eram certos os benefícios que uma linha de trem traria ao desenvolvimento econômico e social da cidade, desde novos empregos a novos moradores e contatos com diferentes culturas.
O Prefeito era o Cel. Silvestre de Lima, no qual aceitou o acordo com o então presidente da Companhia Paulista, o famoso Conselheiro Antônio Prado. Afinal, mesmo o café sendo o maior propulsor econômico do período, a pecuária da nossa região também necessitava do transporte férreo, não foi por acaso que foi inaugurado, 4 anos depois, o primeiro frigorífico da América Latina aqui em Barretos.
Segundo os históricos do Museu “Ruy Menezes”, o jornal “Correio de Barretos” já em 1908 apontava as boas vindas da futura Estação: “Felizmente para os grandes interesses de toda a extensa, populosa e rica Comarca de Barretos, (...) vae-se dia-a-dia se acentuando a verdade que em breve tempo, a Cia de Estrada de Ferro Paulista, tocará aqui os seus trilhos, facto este geralmente ambicionado. (...). Um futuro risonho e breve nos sorri. Esperamos”.
Contudo, foram nas palavras do jornal “Correio de Barretos” de maio de 1909 que ficaram registradas as emoções da população no momento das festas de comemoração: “Amanheceu um dia esplendoroso, com um sol cearense irradiando calor e torrando as ruas do nosso torrão e as carnes flacidas dos coroneis. Mas mesmo assim os acordes das bandas acordaram a população, precedendo uma salva de 21 morteiros na praça da República, saudando a Aurora.”
Percebemos, portanto, que a chegada da linha do trem em nossa cidade foi bem recebida pelos moradores e que mesmo com a falta de eletricidade, as comemorações foram honrosas e dignas de elogios. Principalmente quando se trata da música tocada pela Orquestra, música ao vivo era sinal de que haveria um grandioso evento. Tão grandioso que depois de 100 anos ainda foi lembrado, parabéns a nossa antiga Estação Ferroviária, hoje Estação Cultura, e que outrora foi um dos palcos da nossa história! A espera pela sua chegada valeu a pena.

REFERÊNCIAS: Documentos do Museu “Ruy Menezes”.

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO" (BARRETOS/SP), EM 05 DE JUNHO DE 2009.