quarta-feira, 20 de maio de 2020

A PINACOTECA PELO TOQUE DOS DEDOS

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" EM 19 DE MAIO DE 2020 
(página 2) PELA PROFª KARLA ARMANI MEDEIROS 


            São infinitas as possibilidades que a internet oferece a navegantes confinados como nós. “Navegantes confinados” parece não ser um bom termo, mas totalmente apresentável nos tempos de hoje: confinados em nossas casas, mas navegantes pelos mares sem fronteiras da internet. Uma das ferramentas virtuais disponíveis é a abertura dos acervos dos grandes museus do mundo e do país a seus apreciadores. Pelo toque dos dedos é possível chegar bem perto de obras e objetos de museus distantes de nós. Uma interessante dicotomia de espaço (físico e virtual) e de tempo (passado e presente).
            A Pinacoteca do Estado de São Paulo, museu de arte criado pelo governo paulista em 1905, é uma destas instituições que disponibilizaram seu rico acervo online. E que preciosidade de acervo! São cerca de 11 mil peças guarnecidas em seus dois edifícios: a Pinacoteca Luz e a Pinacoteca Estação. De todas essas, algumas são selecionadas e expostas de forma temática em longa duração. E é justamente a maneira como essas coleções são expostas que cria no espectador um canal direto com a história paulista (além da história nacional da arte).
            Chama a atenção os espaços destinados à arte paulista, contextualizada aos pintores acadêmicos e modernistas, que, cada qual ao seu estilo, fizeram parte de momentos relevantes da história do estado. A contextualização histórica presente nos painéis ladeados pelas telas, incitam o público a conhecer a história paulista através das pinceladas – as quais facilmente nos transportam aos áureos tempos do café, à Revolução de 1932, ao IV Centenário de São Paulo e a outros períodos de São Paulo. A contar ainda com a presença da história do interior paulista, com as temáticas regionalistas de Almeida Júnior, e das paisagens eternizadas por pintores paulistas como Monteiro França e Campos Ayres (que, inclusive, visitaram Barretos em 1917 e 1926).
            O passeio virtual vale à pena. Qualquer que seja o olhar do visitante – histórico ou artístico– a Pinacoteca cumpre seu papel de museu; de templo de inspiração.

domingo, 17 de maio de 2020

SIMILARIDADES ENTRE 1918 E 2020

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" EM 12 DE MAIO DE 2020 
(página 2) PELA PROFª KARLA ARMANI MEDEIROS 

Revista "A Careta", Rio de Janeiro/RJ, ed. 537,
05/10/1918, p. 13 - Arquivo da Biblioteca Nacional.

            Quando comparadas as realidades da Gripe Espanhola de 1918 e a pandemia do coronavírus de 2020, notam-se características similares envolvendo o comportamento da saúde pública, dos governos e da população. Diga-se de passagem, as pandemias são ricos objetos de estudo à História, pois além de evidenciar questões sanitárias, revelam as maneiras pelas quais a humanidade se comporta nestas ocasiões. Assim, estudar pandemias é conhecer a sociedade em sua natureza essencial; em tempos de crise.
            Em 1918, quando a “hespanhola” aportou no Brasil, pelo navio Demerara, ela dizimou cerca de 35 mil brasileiros. Contam os estudos que, no início, um sentimento de imunidade pairava na população, subestimando a real gravidade. Um fator que contribuía para isso era a divulgação de teorias conspiratórias. Revistas famosas na época, como “A Careta”, publicavam reportagens e charges direcionando aos “alemães” a culpa da chegada da doença no país, divulgando teorias de que eles colocavam os vírus em garrafas e as espalhavam pelo litoral brasileiro através de seus submarinos. Lembrando que o contexto era da 1ª Guerra Mundial, em que o Brasil havia declarado guerra à Alemanha justamente por ataques de submarianos contra navios brasileiros.
            Quanto à medicina, por mais que os médicos reconhecessem que o distanciamento social era adequado e recomendado, pelo menos em boa parte do país, parece não ter havido quarentena – visto que a consideravam ineficaz frente ao rápido contágio da gripe. Isso acontecia porque os médicos não conheciam a estrutura genética do vírus, e nem sua real forma de transmissão. A suposta salvação vista no “sal de quinino” também fez as prateleiras das farmácias esvaziarem-se deste medicamento – então usado para o tratamento da malária; porém, sem resultados eficazes contra a gripe.
            Teorias de conspiração, bodes expiatórios, xenofobia, sentimento de imunidade, excepcionalidade sanitária, negação da realidade, crenças de salvação, hospitais provisórios, mortes e mais mortes. Tudo isso em 1918. E agora, lhes parece familiar?

Fonte:
GOULART, Adriana da Costa. Revisitando a espanhola: a gripe pandêmica de 1918 no Rio de Janeiro. Hist. cienc. saude-Manguinhos,  Rio de Janeiro ,  v. 12, n. 1, p. 101-142,  Apr.  2005 .   Available from . access on  17  May  2020.  https://doi.org/10.1590/S0104-59702005000100006.

terça-feira, 5 de maio de 2020

AINDA NÃO, HISTORIADOR

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" EM 05 DE MAIO DE 2020 
(página 2) PELA PROFª KARLA ARMANI MEDEIROS 

            Em 25 de março de 2011, publiquei neste mesmo espaço do jornal o artigo “Agora sim, Historiador!”. Naquele texto, eu comemorava o projeto apresentado ao Senado para regulamentação da profissão de “historiador” no Brasil. Nove anos depois – repito, 9 anos! – quando finalmente o Senado aprovou o projeto, que muitos benefícios trariam aos profissionais da área, veio o veto presidencial. VETO!
            A justificativa para o veto? A simples narrativa de que o projeto ofende o direito fundamental previsto na Constituição ao restringir o livre exercício profissional e a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação. Simples assim. Mas, se regulamentar uma profissão que já existe (somente tornando oficial o diploma e a ligação com pesquisas) ofende tanto a liberdade profissional da intelectualidade, cultura e ciência, por que é que as demais profissões já regularizadas também não são assim consideradas? Sem contar que outras profissões afins, como geógrafos (1979), sociólogos (1980) e museólogos (1984), já são regulamentadas há décadas.
            O projeto previa, basicamente, que para exercer a atividade, o profissional deveria ter diploma de curso superior, mestrado ou doutorado em História, ou ser um profissional diplomado em outras áreas, mas, que comprove ter exercido a profissão de historiador por mais de 5 anos. Ou seja, para ser um historiador, é necessário diploma e pesquisa na área; assim como para ser médico, advogado, engenheiro, dentista etc. O projeto não limita mercado e nem o exercício de pesquisa a outros interessados, apenas regulamenta a profissão, demarcando o perfil de seus artífices.
            A argumentação simplista do veto só revela intencionalidades políticas, provavelmente pautadas nas suposições (ilusórias) de que a História está essencialmente vinculada a ideologias e partidarismo. Um total desrespeito ao cientificismo, às pesquisas e ao ofício do historiador. História é ciência, e como tal precisa ser administrada por profissionais capacitados (e regulamentados). Que lástima!

sexta-feira, 1 de maio de 2020

37 ANOS DA ABC

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" EM 28 DE ABRIL DE 2020 
(página 2) PELA PROFª KARLA ARMANI MEDEIROS 
            
Era 1º de maio de 1983, na Biblioteca Municipal “Affonso d’E Taunay”, quando um grupo de 20 pessoas se reuniu para fundar a Academia Barretense de Cultura – a ABC. Passados 37 anos, comemorados nesta sexta-feira próxima, incita-se a reflexão da importância da ABC na sociedade barretense.
            São 40 cadeiras na ABC, ocupadas por membros dos diversos segmentos da cultura: literatura, história, artes plásticas, teatro, música, filosofia, educação e ciência. Ao longo desses 37 anos, é visível que os titulares e antecessores dessas cadeiras promoveram atividades ao público barretense de relevância cultural. A História registra isso por reportagens, fotos e os numerosos livros e coletâneas lançados pela ABC.
            Todavia, é preciso destacar a peculiaridade da Academia perante a cidade, edificada por sua ação à cultura e à história local. A começar pelos patronos e patronesses; escolhidos por contribuírem ao desenvolvimento cultural de Barretos. Nenhuma outra academia no Brasil possui os 40 patronos da ABC, fator que demonstra o compromisso da Academia em estudar e disseminar o “ser barretense”. Com a menção aos patronos e a imortalização de suas obras, a ABC conseguiu não só se fazer presente a partir de 1983 com seus projetos de cultura, bem como retomou (e retoma) a todo instante o passado de Barretos através de seus principais personagens. Dinamizou a cultura no tempo. É função da ABC edificar o nome do grandioso Jorge Andrade, perpetuar as poesias de José Dias Leme, Silvestre de Lima, Nidoval Reis e outros tantos, contar à cidade sobre as obras da Profª Paulina N. de Moraes, reviver o jornalismo de Xavier de Almeida e Emílio J. Pinto; e assim por diante. Aquém dos membros, imortais são os patronos!
            É certo que a contribuição da ABC a Barretos se dá pela cultura de papel, palco, pincel e sons. Mas, para além disso, é sobretudo em Barretos que mora o interesse da ABC, na cultura de seu povo; do passado e do presente. Viva!