segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

PRESENTE DE NATAL: ARTIGO Nº 100



Neste dia de Natal, tão esperado por muitos – principalmente pelas crianças, somos tomados por sentimentos bons que envolvem paz, harmonia, carinho, solidariedade e amor; sendo bem verdade que tais sentimentos deveriam perdurar pelo ano todo e não somente nesta época. Dentro dos padrões religiosos, culturais e tradicionais o Natal representa sobretudo o nascimento de Jesus Cristo, e entre suas festividades estão a realização da Ceia de Natal e a famosa troca de presentes.
Os presentes de Natal possuem vários significados que fazem jus aos tempos passados, como por exemplo a simbologia dos presentes levados pelos três Reis Magos Belchior, Baltazar e Gaspar para o menino Jesus. Ainda mais, existe a figura do Papai Noel que se tratava de um bispo romano do século V, “São Nicolau”, o qual oferecia presentes a crianças pobres pouco tempo antes da data natalina, no dia 06 de dezembro. Este dia então ficou conhecido como o dia de São Nicolau, o qual foi se fundindo com o período natalino, e a simbologia do Papai Noel ganhou espaço em todas as partes do planeta. Entretanto, sabemos que os presentes natalinos não precisam ser necessariamente materiais, boas energias e gratidão ao próximo também fazem partes do espírito de Natal.
Sinceramente, posso dizer que fui muito privilegiada com a oportunidade de escrever este especial artigo no dia exato do Natal.
Leitores, meu maior presente neste Natal é compartilhar com vocês meu centésimo artigo! Pensei muito em o que escrever em um dia tão especial e cheguei a conclusão de que expressar a minha gratidão às pessoas que se dispõem a ler poucas linhas semanais sobre História é sim a melhor maneira de presentear e ser presenteada no Natal. De um lugar muito distante, já dizia uma sábia mulher chamada Joanna: “A gratidão é o sentimento digno que deve viger no homem que recebe benefícios da vida”.
É por reconhecer a oportunidade de estudar História, em destaque à história da nossa cidade, criar laços com pessoas que nem sequer conheço através da escrita, poder passar aquilo que aprendo e também aprender com as mais simplórias experiências da vida, que hoje me sinto beneficiada e digo “muito obrigada” aos leitores e as pessoas que contribuem com críticas e comentários sobre aquilo que escrevo. Agradeço, em especial, ao amigo Luiz Antônio Monteiro de Barros, que diante de curiosas reflexões sobre a história da cidade me convidou em fevereiro de 2008 a escrever no jornal “O Diário”. Para mim, é uma honra saber que daqui muitos anos meus artigos estarão em páginas amareladas do acervo jornalístico do Museu e talvez contriburão às pesquisas históricas futuras. Muito OBRIGADA e um Natal repleto de harmonia, união e fraternidade a todos! Um forte abraço aos leitores.

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO" (BARRETOS/SP), EM 25 DE DEZEMBRO DE 2009.

A ARTE REGIONALISTA POR ALMEIDA JUNIOR

Desde o início do mês de setembro semanalmente coleciono as vinte obras da Coleção Folha “Grandes Museus do Mundo”, entre os quais estão retratadas as mais discutidas obras de artes mundiais, sejam elas pinturas, esculturas, desenhos, fotografias, gravuras, objetos e outras de tempos milenares a contemporâneos. O fato é que dentre todos os museus retratados, como o Museu do Louvre, Museu do Prado, National Gallery, Museu Hermitage e outros, me atrevo a dizer que dentre as obras que mais me chamaram à atenção foram as pinturas de José Ferraz de Almeida Junior contidas na Pinacoteca do Estado de São Paulo.
A Pinacoteca do Estado de S. Paulo completa no próximo dia 25 de dezembro seus 104 anos de inauguração, e seu acervo inicial eram de vinte de seis obras de artistas do século XIX da Missão Francesa até o início do século XX com o Modernismo. Atualmente, a Pinacoteca possui 7.732 obras de artistas brasileiros e estrangeiros que retrataram a temática brasileira, como as obras de Almeida Junior que fazem parte do acervo da Pinacoteca desde 1905.
O retratista Almeida Junior, nascido no berço republicano de Itu em 1850, estudou na Academia Imperial de Belas-Artes do Rio de Janeiro, tendo aulas de desenho e pintura com expoentes artísticos como Le Chevre e Victor Meirelles. Mas, sua grande oportunidade acadêmica surgiu com a bolsa de estudos concedida pelo próprio Imperador Pedro II a ingressar-se na Escola Superior de Belas-Artes de Paris, tendo contato com o famoso Gustave Coubert.
No entanto, a maturidade artística de Almeida Junior surgiu com a intensificação de seu estilo pessoal, o qual misturava sua formação acadêmica com a nova temática regionalista, até então lançada por ele. Por retratar o cotidiano caipira, as cenas mais humildes do interior paulista, os aspectos da vida tal como é e algumas pinturas do cotidiano burguês contrastante, Almeida Junior foi considerado como o precursor da pintura nacional, pois retratava os aspectos paulistas num momento de necessidade da legitimação do sentimento nacionalista. Além disso, retratava aspectos reais do universo feminino, como a belíssima e tocante obra Saudade, na qual demonstra a dor de uma viúva ao perder o marido – sendo também um quadro misterioso por ter retratado seu próprio chapéu ao lado da viúva e morrer assassinado no mesmo ano da obra, 1899.
As obras de Almeida Junior estão disponíveis na internet também pelo site www.pinacoteca.org.br, e os leitores destas poucas linhas que se dispuserem a observar as obras deste retratista reparem na luminosidade impressionista que as rodeiam, é de se emocionar com “a luz do meio-dia do interior paulista”. Nós, barretenses, com certeza nos identificaremos com as cenas de Almeida Junior, que há mais de um século impressiona-nos com a ousadia de destacar as cores do regionalismo brasileiro.
 
REFERÊNCIA: Coleção Folha Grandes Museus – vol. 11, autoria de Carolina Duprat.

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO" (BARRETOS/SP), EM 18 DE DEZEMBRO DE 2009.


CIA DE REIS: TRADIÇÃO EM BARRETOS

No último sábado, o Museu Histórico, Artístico e Folclórico “Ruy Menezes” inaugurou a Exposição sobre as Companhias de Reis de Barretos, em homenagem in memorian ao conhecido “Piquira”, José Carlos Borges – personagem pertencente à tradição da Cia de Reis por mais de quarenta anos, componente da Cia de Reis da Fazenda Armour “Irmãos Borges”.
Pode-se dizer que o principal momento da Exposição foi a leitura da “carta” de Piquira aos convidados, fato que emocionou a todos os presentes. A carta, datada de 28 de janeiro de 1979, anunciava a doação da farda e espada de Piquira ao Museu “Ruy Menezes” e também informava o fim de sua carreira como “Alferes da Bandeira” (palhaço), que se iniciou em 1965 através de uma promessa que perduraria sete anos, mas naquele ano já perfaziam doze anos. Pensamos, pois, que Piquira não imaginaria que a honra de se vestir como “palhaço” de Santos Reis duraria por toda sua vida, já que só deixou de ser folião há pouco tempo quando faleceu neste ano de 2009.
Trinta anos depois da carta, o Museu “Ruy Menezes” recebeu a doação, concedida pela família Borges, de outra farda, espada e máscara de Piquira utilizadas por ele até 2009 na Cia de Reis “Irmãos Borges”. Agora, permanecem como acervo histórico do Museu as duas fardas de Piquira, com a diferença de 30 anos entre ambas, e a memória do folclore barretense está resguardada e pronta para ser difundida à população.
A Exposição é também composta por fotografias das tradicionais Cias de Reis da cidade, entre elas a Cia de Reis da Fazenda Brejinho, Cia de Reis Estrela Sagrada, Cia de Reis do Ibitu e Cia de Reis dos Imãos Borges. Tais Companhias realizaram belíssimas apresentações musicais com versos rimados e enriqueceram ainda mais as homenagens a Piquira. Outra revelação do momento foi a exposição fotográfica de Luciano Junqueira, que captou as mais coloridas perspectivas das “chegadas” de Reis e ressaltou a beleza existente na fé e tradição dos fiéis. Além disso, o artista plástico pintou um quadro “ao vivo” enquanto aconteciam as apresentações das Companhias.
Enfim, entre fitas, flores, cantos, rimas, fé e muita alegria a Exposição sobre as Companhias de Reis em homenagem a inesquecível figura de Piquira certamente marcou a importância da preservação do patrimônio histórico imaterial da cultura barretense. Somente se dá o devido valor à cultura e à história local quando se abrem as oportunidades para elas mesmas se expressarem e, assim, ouvirem o caloroso aplauso do público!

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO" (BARRETOS/SP), EM 11 DE DEZEMBRO DE 2009.





terça-feira, 8 de dezembro de 2009

COROGRAFIAS E MONOGRAFIAS




Em ritmo de final de semestre, os estudantes universitários que cursam o último ano da faculdade, independente das áreas atuantes, passam pelo mesmo momento de final de curso: a entrega e a apresentação do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), conhecido também por “monografia”. A monografia trata-se de uma pesquisa científica que tem por base a investigação de um determinado assunto e seu desenvolvimento é compreendido pela explanação de especificidades, a comparação de teorias de outros autores e o resultado final que certamente contribuirá com o preenchimento de possíveis dúvidas ou vazios teóricos da área escolhida.
Em Ciências Humanas, os trabalhos de pesquisas publicados no Brasil surgiram a partir do século XIX, posterior a chegada de D. João VI, rei de Portugal e mecenas da cultura européia no Brasil. Tratam-se das chamadas “corografias” publicadas, mais tarde, pelos membros do Instituto Histórico e Geográfico do Brasil (IHGB), fundado pelo Imperador Dom Pedro II, neto de D. João VI.
As corografias eram estudos histórico-geográficos que relatavam sobre diversos aspectos físicos das Províncias do Brasil e tinham como referências históricas as citações sobre tradição e memória do recente país independente: Brasil. Inicialmente, as corografias abrangiam a geografia e a história das Províncias brasileiras num sentido geral, com o passar dos tempos, a tendência foi especificar cada vez mais o território estudado e analisar os espaços municipais e regionais. Sendo que, por muito tempo, as corografias foram utilizadas como materiais didáticos nas escolas e enalteciam o forte nacionalismo do Brasil, como a valorização de míticos heróis e o passado glorioso do solo brasileiro.
Esta situação só foi modificada a partir das décadas de 60 e 80 com o advento das inovadoras escolas francesas que traziam as novidades dos diálogos teóricos entre as Ciências Sociais, Ciências Políticas, Antropologia, Geografia Crítica, História, Literatura, Artes e muitas outras Ciências Humanas. Além disso, a micro-história passou a vigorar nas pesquisas monográficas da área de História trazendo como principal foco a História Regional.
É por conta disso que as monografias atuais persistem nos recortes temáticos regionais, aos quais abordam pequenos períodos históricos e os relacionam com a situação geral do país na época estudada. E, esta abordagem regional da História torna-se muito importante por oferecer cientificidade à história de diversas cidades brasileiras e permitir o contato com o autêntico “trabalho de campo”, onde as fontes originais são analisadas pelo historiador e finalmente socializadas com a população da cidade.
Sorte, a todos os estudantes que apresentarão suas monografias!


REFERÊNCIA: MARTINS, Marcos Lobato. História Regional. In PINSKY, Carla Bassanezi (org.) Novos temas nas aulas de História. São Paulo: Contexto, 2009.


ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO" (BARRETOS/SP), EM 04 DE DEZEMBRO DE 2009.

120 ANOS DA REPÚBLICA BRASILEIRA

Desde o início do mês, publiquei três artigos subseqüentes sobre a Proclamação da República de 1889 no Brasil em forma de homenagem aos seus 120 anos celebrados no dia 15 de novembro de 2009. Também neste mês, a Revista “História Viva” publicou uma série de artigos escritos por famosos historiadores brasileiros acerca da República no Brasil e seus principais significados. O mais interessante, no entanto, foi o Raio-X feito sobre os governos republicanos, as eleições e os Presidentes do Brasil.
Leitores, durante toda a trajetória histórica da Republica, foram nossos Presidentes: 21 advogados, 2 jornalistas, 1 médico, 1 engenheiro, 1 sociólogo, 1 metalúrgico, 6 marechais, 6 generais, 2 almirantes e 1 brigadeiro. Percebemos a grande maioria por parte dos profissionais “advogados” e “militares” na Presidência, fato que só foi modificado a partir de 1985, com a redemocratização do Brasil, onde obedeceu-se uma “diversificação de ofícios”. A somatória resulta em 42 Presidentes do Brasil, sendo que alguns não são citados nos livros-didáticos e, por isso, muitas pessoas desconhecem, são os casos dos Presidentes que ficaram pouco tempo no poder. Como exemplo, Carlos Luz que ficou três dias na Presidência no ano de 1955 entre os mandatos de Getúlio Vargas e JK e outros nomes presentes nos períodos ditatoriais. No site do Planalto Federal, www.planalto.gov.br, está exibida a Galeria Oficial dos Presidentes do Brasil e lá vocês encontrarão nomes poucos citados na História da República.
Outra curiosidade perceptível no Raio-X da República é o “incrível” embate de 71 anos de governos eleitos pelo voto popular versus 49 anos de governo com eleições indiretas! Se considerarmos os 49 anos de governos republicanos, de certa forma, “centralizados” – sem participação popular direta, poderemos compará-los com os 49 anos do governo imperial de Dom Pedro II, onde se predominava a Monarquia e os Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário concentrados na figura do Imperador. Ora, que artimanha do destino... a República brasileira que surgiu teoricamente para derrubar o poder centralizador do Imperador, sustentou durante o mesmo espaço tempo governos “parecidos” com a centralização do regime monárquico.
Por fim, são muitas as curiosidades sobre a República no Brasil e vale a pena se informar mais a respeito de sua trajetória histórica, para que nas eleições futuras saibamos ser conscientes politicamente e enriquecer o histórico da nossa República.


ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO" (BARRETOS/SP), EM 27 DE NOVEMBRO DE 2009.