sábado, 23 de abril de 2011

NOVOS DESCOBRIMENTOS


ARTIGO PUBLICADO POR KARLA O. ARMANI NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" EM 22 DE ABRIL DE 2011


           22 de abril, dia oficial do descobrimento do Brasil por parte dos portugueses. Esta ideia perdurou na historiografia tradicional por muitos séculos. Mas, se pudéssemos contar a história por outro ângulo, baseado em novas interpretações? O que teríamos? Se começássemos a história pela flecha dos nativos que aqui habitavam e não pelas caravelas dos portugueses?
            O perigo de contar uma história única é bastante preocupante na medida em que cria rótulos e esteriótipos a seus personagens. Foi por conta da insistência de que a história do Brasil se inicia com a chegada dos portugueses que os mesmos ficaram conhecidos por muito tempo como os heróis que trouxeram a “civilização” e os índios como meros povos passivos. Além disso, foi a história tradicional foi a responsável por centenas de anos terem se passado sem a preocupação de se estudar a pré-história brasileira. A maioria das fontes históricas que fazem menção aos nativos ameríndios foi escrita pelos próprios portugueses, por isso, são impressões carregadas inicialmente da visão do colonizador e não do próprio índio.
            Ao se estudar a Pré-História brasileira, isto é, o período anterior à colonização portuguesa, deparamo-nos com inúmeras hipóteses quanto à origem dos nativos. Até pouco tempo atrás, a teoria oficial era que os nativos brasileiros eram originários das migrações que ocorreram no Estreito de Bering devido a uma era glacial, ou seja, da Ásia para a América do Norte e depois para a porção sul do continente. Entretanto, pesquisas feitas no Parque Nacional da Serra da Capivara, Estado do Piauí, realizadas pela renomada arqueóloga Niede Guidon, apontam antigos instrumentos utilizados por hominídeos no Brasil por volta de 40-60 mil anos atrás. Com isso, a teoria de que a ocupação da América obedeceu ao sentido norte-sul foi colocada em dúvida. Muitas hipóteses ainda surgirão para descobrir qual a verdadeira origem de nossos ancestrais.
            Por enquanto o que se sabe é que o momento em que Portugal iniciou a colonização no Brasil, a população indígena que aqui habitava sofreu uma grave extinção. O mais interessante é que estudos contemporâneos revelaram que o principal fator de extinção não foram as guerras entre ambos os povos, e sim as doenças que os indígenas desenvolveram após a chegada dos europeus. Isso porque, anterior ao contato com os europeus, os nativos da pré-história brasileira viviam isolados e provavelmente sem a presença de animais domésticos; fatores que contribuíram para a ineficácia imune contra os micro-organismos que os destruíram. Foi a partir daí que surgiram graves doenças como a tuberculose, a varíola e a sífilis.
            Enfim, é visível que o dia do descobrimento do Brasil ainda tem muito a revelar sobre o passado que o envolve, afinal não há como se estudar uma época sem conhecer seu momento anterior sob vários pontos de vistas. Porquanto, muito se tem a descobrir sobre o passado pré-colonial brasileiro e sobre seus ancestrais que certamente fazem parte da miscigenação que hoje compõe o mosaico da população brasileira. Novos “descobrimentos” ainda estão por vir.
            REFERÊNCIAS: GURGEL, C. Doenças e curas. SP: Contexto, 2010.

NOSSO HINO, NOSSO SÍMBOLO (II)


ARTIGO PUBLICADO POR KARLA O. ARMANI NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" EM 15 DE ABRIL DE 2011

             Na semana passada, como manda o figurino, este espaço dedicou-se a tratar sobre a origem do hino nacional e os motivos do seu dia ser 13 de abril. Pois bem, dito isso, o estudo voltou-se ao momento em que surgiu no Brasil o regime republicano e o hino ficou sem letra até que se encontrasse uma composição que enaltecesse este novo momento histórico e vigorasse as cores brasileiras. Então, quando isso aconteceu?

            A letra do hino nacional (tal como é hoje) foi escrita em 1909 pelo poeta Osório Duque-Estrada. Este, por sua vez, era um temido crítico literário, que gostava de polêmica, e no passado foi defensor da Abolição e da Proclamação da República. No governo do Presidente Epitácio Pessoa, a letra foi oficializada em 6 de setembro de 1922, isto é, um dia antes do Centenário da Independência do Brasil.

E a letra em si, no que ela se refere à independência? Ao patriotismo? A natureza do Brasil? Tudo começa com “Ouviram do Ipiranga as margens plácidas/ de um povo heróico o brado retumbante”, organizando a frase: “As margens plácidas do Ipiranga ouviram o brado retumbante de um povo heróico”. Percebe-se, então, que o sujeito da frase são “as margens plácidas”, ou seja, a paisagem foi o testemunho da independência – fazendo menção ao paraíso das riquezas naturais do Brasil. Além disso, segundo a mesma frase, quem bradou “o grito da independência” foi o povo heróico, e não Pedro I, porque a ideia era apagar o passado colonial. Outra passagem interessante é onde fala que a “pátria amada, idolatrada” é “gigante pela própria natureza (...) e o teu futuro espelha essa grandeza”. Ou seja, aquilo que os brasileiros possuíam em comum, as riquezas naturais, era o que garantia o futuro grandioso do país.
            O hino nacional tornou-se legalmente oficial somente em 1971, por meio da Lei nº 5765, no governo ditatorial de Emilio Garrastazu Médici. Nesta ocasião, sua correção ortográfica ficou ordenada conforme a “Convenção Ortográfica entre Brasil e Portugal de 1943”. Em relação à linguagem do hino, vê-se que são palavras de alto padrão cultural, onde muitos brasileiros não sabem seu significado, sendo necessário, portanto, um estudo específico nas salas de aulas das escolas.
            O hino, quando tocado, desperta emoção nos brasileiros, que se identificam como um povo vivente de uma única pátria. Um povo, no entanto, que muita desigualdade ainda tem a combater e, como bem diz o hino, o que possui em comum é o território natural brasileiro e a nacionalidade. Num passado não muito distante, o hino nacional era tocado diariamente nas escolas, como se fosse um hábito, e hoje este cenário não é visto com tamanha freqüência. Nos dias atuais, ele é considerado mais um símbolo de respeito à pátria e executado em cerimônias especiais que representam a nação brasileira diante datas comemorativas e cívicas, eventos esportivos e outros.
            Por fim, um hino que representou diversos momentos históricos do Brasil, não podia deixar de ser comemorado em uma data específica. Que o nosso hino seja melhor estudado nas escolas, encenando não um passado glorioso que não existiu, mas sim um ícone de coletividade aos brasileiros. Nosso hino, nosso símbolo.

NOSSO HINO, NOSSO SÍMBOLO (I)



ARTIGO PUBLICADO POR KARLA O. ARMANI NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" EM 8 DE ABRIL DE 2011
  
            O mês de abril parece estar em sintonia com a História do Brasil, sendo este o período em que se comemora o dia do índio, o “descobrimento” e o dia do Hino Nacional. Coincidência ou não, o fato é que o mês de abril está presente na história do nosso país contada em livros-didáticos e até mesmo em atividades escolares. Dentre tais datas comemorativas, o dia 13 de abril é considerado o Dia do Hino Nacional e a história tem muito a revelar sobre isso.
            A origem do hino nacional brasileiro remonta aos tempos do início do Império, quando Dom Pedro I alcançou o momento que conhecemos como Independência do Brasil em 1822. Que na verdade nada teve de independência e sim de uma continuidade política e econômica liderada pela corte portuguesa. “Um país independente reinado por um português”, era assim que alguns brasileiros liberais viam a situação do Brasil. Quando Dom Pedro I abdica de seu trono em 7 de abril de 1831 e embarca para Portugal no dia 13, são realizadas várias comemorações, entre elas a execução da melodia do hino nacional (tal como é hoje) composta pelo músico Francisco Manuel da Silva em um teatro na capital do Império. Por isso, o dia 13 de abril ficou conhecido como o dia do Hino Nacional, em comemoração a abdicação e a retirada de Pedro I.
            A melodia de Francisco Manuel da Silva, conhecida como “Marcha Triunfal” ou “Hino ao grande e heróico 7 de abril”, foi novamente tocada na posse do jovem Imperador Pedro II em 1840, agora com uma letra que exaltava as qualidades do recente monarca. Este hino, porém, passou por todo o período do segundo reinado (49 anos) sem ser oficializado. A situação iria mudar com o advento de um novo regime, um momento que precisaria apagar os signos do período imperial. Surge a República.
             Como o regime republicano se originou por atitudes da elite política brasileira e, por isso, o povo assistiu esta transição “bestializado”, era necessário criar símbolos que se adequassem a este novo período e conquistassem o imaginário popular, de modo que a massa se identificasse com o “novo” modo de se fazer política (que na verdade nada tinha de novo). Foi então que foram criados símbolos como heróis (Tiradentes), a bandeira nacional, a estátua da República romana e outros. No entanto, o hino nacional continuou o mesmo, isto é, com a mesma melodia de Francisco Manuel da Silva, mas sem letra alguma. Era necessário compor uma letra que vigorasse este novo momento no Brasil, que apagasse o passado colonial e ressaltasse as novas luzes brasileiras.
            Então, quando chegará esta composição? O que certos versos do hino têm a dizer sobre a história do país? É o que veremos na próxima semana.... Aguardem!

terça-feira, 5 de abril de 2011

LUIZ BRANDÃO: UM DENTISTA, UM PERSONAGEM

ARTIGO PUBLICADO POR KARLA O. ARMANI NA REVISTA "AÇÃO E VIDA DA SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DE BARRETOS" EM 3 DE ABRIL DE 2011.


A saga de um personagem da história barretense, que atravessou longos anos do século XX, e até hoje é dono de suas próprias histórias. Trata-se de um ex-dentista, também envolvido em atividades socioculturais na cidade, que mesmo tendo ficado pouco tempo na Santa Casa de Barretos, possui lembranças preciosas sobre a vida do hospital nos anos 40. Apresentamos-lhes os curiosos casos de Luiz Brandão...

            O que é ter noventa e três anos? Certamente é ter vivido quase um século, acompanhado os mais diferentes momentos da história e ter a oportunidade de contar todos os “casos” que lhe vem à cabeça. Talvez seja assim que o velho moço Luiz Agostinho da Silva Brandão se sinta, alguém capaz de viver e reviver momentos que só ele pode tornar real. E é neste clima de recordação e contação de histórias que esperamos que a entrevista concedida por Luiz Brandão torne-se sólida na construção dos noventa anos da Santa Casa de Barretos, que, na verdade, são paralelos aos seus noventa e três anos de idade.
            Para começar, Luiz Brandão é filho do primeiro prefeito de Barretos, Cel. Raphael da Silva Brandão, nomeado prefeito em 1891, numa época em que o cargo se chamava “intendente municipal”. O Cel. Raphael Brandão estava presente nos anos iniciais da fundação da Santa Casa, fosse como um representante da política local ou como coletor federal, deste modo, o coronel assinava as primeiras atas do hospital.
            Luiz Agostinho da Silva Brandão, assim se chama em homenagem a Santo Agostinho, nasceu em Barretos no dia 28 de agosto de 1917. É filho do Cel. Raphael Brandão e de Dona Verdiana Gomide Brandão, sendo também o caçula de quatro irmãs. Estudou inicialmente no Externato São José em Barretos, depois fez o exame de admissão no 1º Grupo Escolar e terminou a escola no Ginásio em Bebedouro. Quando indagado sobre a escolha de sua profissão ele diz: “Na época que eu terminei o ginásio, os pais queriam que os filhos se tornassem advogados ou médicos, principalmente que seguissem a carreira da medicina. E como meu preparo no ginásio, modestamente, foi bom, eu fiz exame de medicina na Escola Paulista de Medicina e fui aprovado. Lá eu fiz o primeiro ano de faculdade, mas, ela não era de caráter federal e sim particular, sendo então a mensalidade um tanto pesada. Eu fiz o primeiro ano, mas já no fim do ano meu pai faleceu e em virtude da morte dele eu não pude continuar esta faculdade. Voltei para Barretos, e, pouco tempo depois, decidi que iria fazer odontologia, foi então que eu me preparei para fazer o exame na recente Universidade de São Paulo (USP). Passei no vestibular e me formei na Faculdade de Odontologia e Farmácia em 1939”.     
             Depois de formado, sempre com o desejo de montar seu consultório próprio, Luiz Brandão continuou em São Paulo e começou a trabalhar como ajudante de revisor de uma redação, da qual o diretor do jornal era o famoso poeta Guilherme de Almeida. Nesta mesma época, o recém formado dentista não saiu de São Paulo porque estava fazendo o curso de três anos do exército brasileiro, o CPOR (Centro de Preparação de Oficiais da Reserva do Exército Brasileiro). Quando terminou o curso e a caserna, Luiz Brandão tornou-se Oficial da Reserva do Exército Brasileiro e, mais tarde, 2º Tenente da Reserva da Infantaria; ficando nomeado para o 2º escalão destinado a lutar na 2ª Guerra Mundial, mas seu escalão não chegou a ser convocado.
            Depois de ter terminado os cursos do exército, Luiz Brandão voltou a Barretos no ano de 1945 e foi neste momento que sua história se liga à Santa Casa. Mesmo que tenha sido por poucos meses, a sua relação com o hospital já se mostrou sólida por conta das seguintes lembranças: “Havia necessidade de dentista no departamento infantil da Santa Casa, porque os adultos já recebiam assistência dentária de particulares. Nesta época, era dentista o dr. Canôas e eu me dava muito bem com ele, porque o Canôas toda vida foi um intelectual...poeta. Então, nesta época o Canôas assumia a responsabilidade do serviço dentário, mas eu tive de substituí-lo por um tempo, quando ele tirou licença. Foi quando eu assumi o departamento infantil e algumas passagens de histórias com crianças marcaram minha memória. A Santa Casa neste momento ainda era naquele antigo prédio, lá da época do meu pai, a enfermaria das crianças tinham as janelas viradas para o pátio, onde tinha um jardim no centro e entravam os raios solares e a ventilação. Sempre que precisava recorrer a algum médio lá estava o dr. Meira para me ajudar. Sobre o departamento dentário, tínhamos uma sala reservada, éramos em quatro dentistas e eu ia todos os dias. Nesta época, os dentistas do hospital não eram remunerados e trabalhávamos com um único gabinete dentário, movido a pedal e com a cadeira desmontável”.
            Sobre o público infantil atendido na Santa Casa na época em que Luiz Brandão trabalhou no hospital, década de 40, ele recorda que os principais problemas da saúde bucal eram relativos à falta de alimentação desta parcela populacional. Nesse sentido, o trabalho dos dentistas na Santa Casa também era relacionado com a prevenção de doenças e com a instrução de hábitos saudáveis. Além disso, neste período, era comum a atuação dos “práticos licenciados” na área da Odontologia, uma vez que eram poucos os dentistas formados em universidades.
            Desta maneira, pode-se dizer que a carreira de Luiz Brandão começou quando a Odontologia passou a se organizar como um ramo da saúde no país. Principalmente em Barretos, pois, em meados da década de 40, num sete de setembro, foi fundada a Sociedade Odontológica de Barretos, da qual Luiz Brandão foi um dos membros fundadores. “Depois que tomou vida a Sociedade Odontológica de Barretos, passamos a nos organizar melhor e o próprio consultório dentário da Santa Casa foi ampliado e melhor aparelhado”, explicou o ex-dentista.  
            Depois de findar seu trabalho na Santa Casa, Luiz Agostinho já tinha conseguido realizar o desejo de montar seu consultório próprio e passou a fazer parte de atividades sócio-políticas de Barretos. Em 1954, o ex-dentista lembra-se da morte de Getúlio, visto que era vereador e se encontrava em sessão na Câmara Municipal. Fez parte da edilidade por duas legislaturas e atuou também como presidente do Grêmio Literário e Recreativo, foi fundador e presidente da Liga Barretense de Futebol, redator de “O Grêmio”, colaborador de “O Diário” e até hoje é membro da Academia Barretense de Cultura ocupante da cadeira nº10. No entanto, a fama de Luiz Brandão entre muitos barretenses é referente à fundação do Clube “Os Independentes”, do qual ele fez parte do grupo de rapazes dos anos 50 que criou a iniciativa de fundar o clube, e de onde resultam histórias que Luiz Brandão conta como ninguém, exclusivamente como ninguém.
            E hoje? Quem é Luiz Brandão? Diríamos que é um homem inteiriço de vitalidade por emanar de seu olhar e de suas falas as memórias mais completas e marcantes do século XX em Barretos. É o marido de Dona Jerônima Brandão (Nega Brandão), pai de duas filhas e um “vovô” da cidade inteira de Barretos, pois, qualquer barretense que pare para ouvir suas histórias identifica-se, apaixona-se, completa-se. Afinal, ser um personagem original da história que construímos em comum e ter vivenciado todo o histórico da Santa Casa, não é sinônimo de velhice, é virtude e privilégio para aquele que cultiva e dissemina a nossa memória.
           
REFERÊNCIAS: Entrevista com Luiz Brandão no dia 21/1/2011

A HISTÓRIA ORAL DA SANTA CASA DE BARRETOS

ARTIGO PUBLICADO POR KARLA O. ARMANI NA REVISTA "AÇÃO E VIDA DA SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DE BARRETOS" EM 3 DE ABRIL DE 2011.



“Se alguém colhe um grande ramalhete de narrativas orais, tem pouca coisa nas mãos. Uma história de vida não é feita para ser arquivada ou guardada numa gaveta, como coisa, mas existe para transformar a cidade onde ela floresceu”.
Ecléa Bosi

Qual é o valor histórico que a Santa Casa de Barretos representa em sua vida? O que você tem a contar sobre momentos que vivenciou no hospital? Conhece alguém que dedicou parte da vida em trabalho para a instituição? Quais são suas lembranças sobre os antigos administradores e funcionários? Como a sua memória pode colaborar com a construção da história da Santa Casa?
Todas estas perguntas têm por finalidade constituir os noventa anos da Santa Casa de Barretos através da memória da própria comunidade. Elas fazem parte de uma metodologia que os historiadores contemporâneos denominam de “história oral”, isto é, aquela contada em testemunhos na busca da verdade, da realidade e da percepção do passado. Muitos trabalhos acadêmicos da atualidade têm partido desta metodologia, que, apesar de algumas críticas quanto a sua finalidade e seus meios, tem crescido na comunicação visual e escrita nos últimos anos no país. Afinal, no mundo de hoje, cada vez mais globalizado e sem fronteiras, as pessoas buscam por identidade e é na experiência daqueles que vivenciaram momentos de origem que elas se identificam e constituem aquilo que lhes é coletivo e, ao mesmo tempo, peculiar.
Dentro das Ciências Humanas, a palavra História vem do grego antigo historie (significado: testemunho, no sentido daquele que vê) e sua origem é atribuída às “investigações” do historiador Heródoto, cujo termo em grego antigo é Ἱστορίαι (Historíai). Nesse sentido, mesmo com toda a importância dos documentos escritos, pois foi exatamente a escrita que marcou o período que denominamos “História”; foram os testemunhos orais que marcaram os primeiros registros da humanidade, como exemplo os relatos da Bíblia e os poemas épicos de Homero, “Ilíada” e “Odisséia”.
A oralidade surgiu junto com o nascimento da História, uma vez que o primeiro historiador, Heródoto, praticava o que chamamos de “história oral pura”. Ou seja, ao compor os relatos da história da Antiguidade, Heródoto, valia-se apenas das entrevistas e observações com pessoas do povo, soldados, administradores e agentes palacianos. No entanto, outro historiador conhecido na Grécia Antiga, Tucídides, preferia não confiar tanto na memória, fato que o fez gerar um método onde combinavam-se os testemunhos das entrevistas com fontes escritas, isto é, a “história oral híbrida”. Tucídides assim agia por receiar o uso exclusivo de entrevistas, já que os entrevistados poderiam ser considerados instáveis em relação a estado de saúde e ânimo, tendência política, dentre outros fatores.
Com o passar das épocas, principalmente depois da invenção da imprensa por Gutenberg no século XV, a oralidade acabou por se tornar submissa à escrita e por muito tempo ficou nas entrelinhas do estudo do passado. Entretanto, a partir da Segunda Guerra Mundial, com o advento de novas escolas históricas e o surgimento de aparelhos eletrônicos cada vez mais avançados, a história oral voltou a ser critério nas pautas de trabalhos científicos e o uso do gravador entrou em ação. Sendo necessário ressaltar que os rádios e o jornalismo foram fatores essenciais nesta volta da história oral, posto que os primeiros relatos históricos foram difundidos nestes setores de comunicação e a sua intenção era causar a comoção social diante às memórias não mais revalidas pelo tempo.
Paralelo a tudo isso, pode-se dizer que, para construir e organizar a história da Santa Casa de Barretos, utilizar-se-á a história oral, classificada como uma “história híbrida e temática”, onde o tema é o resgate dos noventa anos do hospital e a técnica é a mistura dos depoimentos com as fontes escritas e iconográficas. A comunidade a quem se destina os depoimentos são todas as pessoas que direta ou indiretamente participaram da vida da casa de saúde e que possuem experiências comuns ou individuais refletoras de um passado não muito distante.
Até a presente edição da “Revista Ação e Vida” foram entrevistadas oito pessoas, viventes das mais diferentes épocas e experiências ligadas à Santa Casa. E é com grande reconhecimento que agradecemos as memórias da Dona Solange Galvão, Sr. Ibraim Martins da Silva, Dra. Nilda Bernardi Carreira, Irmã Maria Angélica de Oliveira, Sr. Antonio Magrini, Sr. Althayr Pereira. Sra. Elsa Lucia de Meira e Sr. Luiz Agostinho da Silva Brandão.
E você? O que tem a nos contar? Revele-se, espalhe sua memória e ajude-nos a construir a nossa história. Seja bem-vindo à história oral do hospital da vida.

REFERÊNCIA: MEIHY, José Carlos Sebe; HOLANDA, Fabíola. História oral: como fazer, como pensar. São Paulo: Contexto, 2007.

GRUPO SANTA CASA SAÚDE

ARTIGO PUBLICADO POR KARLA O. ARMANI NA REVISTA "AÇÃO E VIDA DA SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DE BARRETOS" EM 3 DE ABRIL DE 2011.




Nilton Celestino Ferreira, economista e superintendente do Grupo Santa Casa Saúde, relembrou o nascimento do plano de saúde que ancorou as dificuldades do hospital desde os anos 90, estabelecendo uma linha do tempo que se perpetua paralela à história do tempo presente da Santa Casa de Barretos.

            Agosto de 1993, esta é a data da implantação do Plano Santa Casa Saúde. Pode parecer pouco tempo e por conta disso uma época isenta de memória, no entanto, ao contrário do que se pensa, o nascimento do Plano Santa Casa Saúde é parte de um contexto histórico ligado aos ditames nacionais e a própria Santa Casa de Misericórdia de Barretos. Trata-se, portanto, de uma história do tempo presente, onde se encontra um passado não muito distante.
            No início dos anos 90, o Brasil era cenário de turbulentas manifestações na área da política e da economia, uma vez que depois de um grande período de ditadura o país passava para a redemocratização e a economia oscilava em inflações inesquecíveis. Nesta mesma época, ainda mais pela queda do Muro de Berlim, parte do mundo ocidental se assumia como países capitalistas baseados no regime neoliberal, sendo o Brasil um deles. Desta maneira, emergia no país a ampliação dos setores de empresas privadas como uma onda que até hoje circunda nossa economia. De acordo com as necessidades dos brasileiros causadas pelas mudanças dos “novos tempos” e com a falha estruturação do sistema governamental, vários segmentos dos setores privados surgiram como alternativas para movimentar o mercado brasileiro, entre eles estavam os planos de saúde.
            Nesse contexto, encontrava-se a Santa Casa de Misericórdia de Barretos com dificuldades financeiras obtidas pela alta desproporção entre os atendimentos dos indivíduos pagantes e os não pagantes. Além disso, o problema que gerava os déficits do hospital era a baixa verba que o SUS (Sistema Único de Saúde) enviava para atender o alto número de pessoas, sendo 100% dos atendimentos da Santa Casa viabilizados pelo SUS.  Deste modo, durante a provedoria de Ibraim Martins da Silva, em 1992 surgiu a ideia de criar um plano de saúde da própria Santa Casa de Barretos como mais uma alternativa de receita para o hospital, já que os valores pagos pelo SUS não sustentavam suas despesas.
            “O objetivo da criação do plano de saúde era o hospital oferecer um atendimento melhor para as pessoas, porque mesmo se compararmos com os números atuais 80% dos nossos conveniados eram SUS antes. Ou seja, era necessário criar um segmento que completasse aquilo que o SUS não poderia oferecer. Essas pessoas então foram transferidas para o plano, passaram a ter um atendimento diferenciado nos consultórios e nas internações e com isso o hospital passou a receber um valor melhor do que o SUS pagava na época”, explicou Nilton.
            Assim sendo, depois de pesquisas feitas em outras cidades que já possuíam planos particulares de saúde, foi contratada a empresa especializada “São Francisco Clínicas” de Ribeirão Preto para prestar consultoria na implantação do plano. Entretanto, não houve investimento inicial no plano por parte da Santa Casa, pois cinqüenta por cento da primeira mensalidade dos planos comercializados foi revertida à empresa contratada.
            Em agosto de 1993 o plano de saúde ganhou sede própria, sendo o setor administrativo transferido para o prédio onde hoje é a Captação de Recursos na avenida 25. Pode-se dizer que o nascimento do Plano Santa Casa Saúde se deu nesta época e contava com a atuação exclusiva de dois funcionários que eram o gerente e a recepcionista, contratados pela própria Santa Casa já que o plano ainda não gerava receita. Somente a partir de 1997 que a situação mudou e a sede foi transferida para o prédio atual da Rua 28.
            “Comecei a trabalhar no Santa Casa Saúde em 1994 e desde essa época eram vistas muitas dificuldades. A começar pelo corpo clínico, houve baixa adesão dos médicos, eram poucos aqueles que aderiram ao plano, pois eles alegavam que poderia prejudicar a produção dos consultórios. No entanto, com a habilidade da Santa Casa, aos poucos os médicos sentiram a necessidade da implantação do plano e passaram a ser credenciados, sendo hoje cento e setenta médicos aderidos”, disse Nilton. Outra dificuldade dita pelo superintendente era a falta de regulamentação dos planos de saúde no país, visto que não existiam leis específicas para o segmento. Desta maneira, muitas pessoas tinham “desconfiança” de aderir ao plano pois sentiam-se inseguras diante algo não regulamentado e sem precedentes organizacionais. Em relação a isso Nilton ressalta: “De 1999 para cá, os planos de saúde passaram a ser regulamentados e as pessoas passaram a confiar mais nestas empresas como é o caso da Santa Casa Saúde. Eu pude perceber que a marca “Santa Casa” é muito forte, porque mesmo com as dificuldades financeiras as pessoas acreditam na Santa Casa já que a conhecem há muito tempo”.
            A partir de então, o Santa Casa Saúde passou a agregar cada vez mais usuários e com isso aumentar sua rede de serviços. Em julho de 2001 foi criada a farmácia privativa do Santa Casa Saúde, sendo o objetivo oferecer mais acessibilidade aos usuários diante a compra de remédios. No ano de 2002, o investimento passou a ser no plano odontológico, onde em clínica própria os conveniados podem zelar da saúde bucal. Em março de 2007, mais uma conquista se concretizou com a inauguração do Pronto Atendimento do Santa Casa Saúde anexo ao hospital. Além do mais, as campanhas preventivas em parceria com empresas privadas têm sido um dos serviços desenvolvidos pelo plano, onde funcionários de empresas recebem acompanhamento de saúde em tempos periódicos.
            Por tantas adaptações e investimentos em serviços diferenciados revertidos a seus usuários, o Plano Santa Casa Saúde passou a denominar-se Grupo Santa Casa Saúde e hoje atende em cinco unidades da região: Barretos, Guaíra, Colina, Colômbia e Jaborandi. Os números comparados ao passado revelam um crescimento na aquisição do plano e uma seqüente dinamização da saúde, sendo que cada vez mais pessoas de diversas classes sociais aderem-se ao convênio. Mesmo assim, devido ao quadro sócio-econômico sustentado pela desigualdade ainda vigente no país, a Santa Casa continua com a maioria dos atendimentos via SUS, num índice de 70% contra 30% de conveniados. E são estes trinta por cento de conveniados que geram receita ao hospital e conseqüentemente completam aquilo que era dever do SUS garantir aos brasileiros.
            Por fim, o Grupo Santa Casa Saúde, um departamento da Santa Casa de Misericórdia de Barretos, gerador de receita ao hospital, garante que desde sua origem seu objetivo era o melhor atendimento da Santa Casa e nos dias atuais a sua busca é pela humanização de seus usuários, pela valorização de seus prestadores e pela adaptação de seus serviços em união às necessidades da nossa sociedade.

REFERÊNCIAS: Entrevista com Nilton Celestino Ferreira no dia 17/2/2011

DR. MEIRA NA PEQUENA GRANDE BARRETOS




ARTIGO PUBLICADO POR KARLA O. ARMANI NA REVISTA "AÇÃO E VIDA DA SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DE BARRETOS" EM 3 DE ABRIL DE 2011.

Elsa Lucia de Meira, filha única do médico Aldemar de Meira, que atuou nas enfermarias da Santa Casa na década de 40, se emociona em recordar o trabalho vivenciado pelo pai em épocas remotas do hospital. Um passado em poucas linhas...

            Em entrevista, Elsa Lucia de Meira, filha do dr. Meira, como era conhecido, contou suas recordações que, na verdade, são memórias que ela guarda diante às histórias que seu pai lhe contava, sobre partes da biografia do médico mineiro e sua relação com a Santa Casa de Barretos. Trata-se de uma história que se inicia nos anos 30 no hospital e que repercutiu duas citações de outras entrevistas registradas nesta revista. Afinal, o dr. Meira muito tempo ficou na Santa Casa e seu trabalho ainda é lembrado por alguns barretenses e retratado no presente como uma maneira de ilustrar parte dos noventa anos do hospital. Partiremos, então, do princípio de que as recordações de Elsa são como peças de um quebra-cabeça e como montá-lo seria a interpretação que nós, leitores, daremos à entrevista.
            “Papai nasceu no dia doze de janeiro de 1899, em Belo Horizonte. Era filho de Justino Augusto de Meira, dono de minas de ouro e escravos. Se casou com mamãe, também Elsa de Meira, em dezenove de março de 1927, e tiveram uma única filha, eu, nascida em Patos de Minas no ano de 1935”, começou a explicar Elsa. A mesma ainda destacou que, desde muito cedo, seu pai tinha paixão por Medicina e então conseguiu cursar a Faculdade Federal de Medicina de Belo Horizonte e, simultaneamente, trabalhar no Instituto Ezequiel Dias – um pólo de tecnologia e pesquisa na área da saúde. Aldemar de Meira tornou-se “doutor” em 1927, quando se formou na faculdade e especializou-se em Cirurgia e Ginecologia e Obstetrícia.
            Antes de vir a Barretos, sua história com o Estado de Minas Gerais é reconhecidamente interessante, uma vez que é citado por memorialistas mineiros como Pedro Nava. Uma de suas passagens fez parte da rivalidade entre paulistas e mineiros nos anos 30, onde Aldemar de Meira foi capitão-médico da Revolução Constitucionalista de 1932, chegando até Sorocaba, lutando pelo lado das tropas federais de Getúlio Vargas. Outro caso interessante é a participação de Aldemar de Meira na fundação do “América Futebol Clube”, um dos mais amados times do Estado de Minas Gerais. “O América foi fundado bem dizer no porão da casa do meu avô, entre os membros fundadores estavam o meu pai e meu tio, Alcides, sendo o meu pai o secretário da primeira diretoria do clube. Eles contavam que foi muito engraçado a escolha do nome do clube, entre muitos nomes sugeriram até “Arlequim”, imagina só... ainda bem que, em sorteio, a tia do meu pai sorteou AMÉRICA, assim em letras maiúsculas!”, disse carinhosamente Elsa.    
            Depois desses acontecimentos ainda no Estado de Minas Gerais, Aldemar de Meira mudou-se para Barretos no ano de 1936, quando Elsa era um bebê. Quando perguntamos sobre o motivo da família ter vindo para Barretos, ela sorriu e disse que foi por um guia espiritual de Patos de Minas, o qual disse que Barretos “era uma cidade pequena grande” e o dr. Aldemar deveria seguir viagem rumo a esse destino. O resultado foi a mudança da família para Barretos e a chegada do dr. Meira na Santa Casa no fim dos anos 30, quando o hospital passava pela construção do Pavilhão Titinha Franco.
            A atuação do dr. Meira na Santa Casa não se restringiu somente ao corpo médico, do qual ele foi diretor-clínico nos anos 40 e introduziu melhoramentos nos setores de transfusão de sangue. Aldemar de Meira também fazia parte de comissões organizadoras de eventos como quermesses, bingos e outras festas para angariar fundos em prol de atividades da Santa Casa. “Lembro-me das quermesses que a Santa Casa fazia na Praça Francisco Barreto, eu era menina e acompanhava meu pai... era muito bom”, recordou Elsa. 
            Além disso, o dr. Meira foi membro fundador da “Sociedade Médica da Santa Casa de Misericórdia de Barretos”, criada em 3 de maio de 1942, com finalidade de interagir as experiências médicas do hospital e os avanços da medicina da época entre os membros do corpo clínico. No registro do primeiro boletim da Sociedade Médica consta a nomeação do dr. Aldemar de Meira como tesoureiro, e, assim soam as palavras na ata: “Como tesoureiro, temos um mineiro, símbolo de honestidade e de segurança, na pessoa de Aldemar de Meira”.
            Quantas histórias o dr. Aldemar de Meira teria para nos contar? É o que sua filha também se pergunta depois de mais de quarenta anos vendo seu pai se dedicar tanto à Santa Casa, “papai foi o primeiro médico a usar penicilina em Barretos, ele tratou de um paciente que tinha osteomielite e este acabou sendo curado. Além disso, ele chegava a dormir no hospital quando tinha alguma parturiente para cuidar”, disse Elsa. Dr. Aldemar de Meira, médico mineiro que trabalhou quatro décadas na Santa Casa de Barretos, conhecedor das línguas alemã, francesa e inglesa, na sua personalidade e experiência de vida deixou-nos a sua memória, que, por meio de sua filha, resulta na composição de partes da história do hospital. Nossos sinceros agradecimentos.

REFERÊNCIAS: Entrevista com Elsa Lucia de Meira no dia 24/1/2011. Pesquisas em atas e boletins médicos dos anos 40 pertencentes ao acervo da Santa Casa de Barretos

ANTONIO MAGRINI: O CONSTRUTOR DA SANTA CASA



ARTIGO PUBLICADO POR KARLA O. ARMANI NA REVISTA "AÇÃO E VIDA DA SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DE BARRETOS" EM 3 DE ABRIL DE 2011.

Antonio Magrini, funcionário da Santa Casa de Barretos há quarenta e cinco anos, contou em entrevista como participou das principais obras de construção do hospital e como eram seus antigos cômodos. Uma memória glorificada pela ação de tantos anos de trabalho que vale a pena dividir com a comunidade e com os funcionários da casa de saúde. Trata-se de uma história de vida que as vezes se confunde com a própria trajetória dos noventa anos da Santa Casa.

            Antonio Magrini, mais conhecido como “Seu Magrini”, é uma das referências mais citadas pelos atuais funcionários da Santa Casa de Barretos quando se trata de “histórias” a contar sobre o hospital. Dotado de uma memória incomparável, Magrini revela muito entusiasmo em lembrar-se dos acontecimentos passados da Santa Casa e da sua íntima ligação com a instituição. Tudo isso deve-se ao fato de Magrini ser um funcionário considerado dedicado e conhecedor dos mais ínfimos cantos do hospital, o que de fato ele prova ser verdade.
            A vida de Antonio Magrini se inicia com seu nascimento, em vinte e seis de fevereiro de 1932 na cidade de Olímpia, mas o primeiro contato com a Santa Casa de Barretos aconteceu anos mais tarde, como ele mesmo recorda: “Me lembro que em 1945 meu pai foi fazer uma mudança de material de construção de Olímpia para Barretos e eu vim junto com ele, e, de fato, quando eu vim parei em frente à Santa Casa. Lembro que eu estranhei aquele prédio, porque eu morava em sítio, olhei e falei assim: “Nossa... a Santa Casa!”. Depois nós viemos morar aqui em Barretos no dia 3 de outubro de 1949, onde minha mãe quebrou a perna e ficou internada na enfermaria coletiva da Santa Casa e eu passei a conhecer melhor o hospital. As visitas eram somente na quinta-feira à tarde e no domingo. Engraçado que a primeira moça que nos atendeu, a enfermeira Aparecida Chaves, hoje é minha esposa”.
            Em 1951, o irmão de Antonio, sr. Amâncio Magrini, já trabalhava como pedreiro na construção da maternidade. Com o passar dos anos, Antonio Magrini, que também era pedreiro de uma empreitada, começou a trabalhar na Santa Casa em 19 de abril de 1965 e recorda-se muito bem dessa época, onde se iniciou a Ditadura Militar e o governo do Marechal Castelo Branco. Com a função de pedreiro, Magrini participou de muitas construções, inclusive o Pavilhão iniciado em fins da década de 50, na gestão de Husseim Gemha, e finalizado em 1967 na última administração de Teóphilo Benabem do Vale. “Quando comecei a trabalhar em 1965, ajudei a colocar os azulejos na parte do prédio da Rua 30 e o último serviço naquele pavilhão foi a colocação dos pisos brancos que até hoje estão no andar térreo, fomos eu e o Manoel que assentamos”, explicou.
            Em 1967, ainda na gestão do sr. Teóphilo, estava em processo a construção da lavanderia, obra em que Magrini também trabalhou: “para construir a lavanderia tivemos que desmanchar a gruta que ficava bem no canto do muro da Rua 28. O trabalho era dividido entre mim, um pedreiro, dois serventes, o encanador e o mestre de obra; nós trabalhamos aos poucos, porque a Santa Casa estava sem recursos. Me lembro ainda das caixinhas em forma de coração que os diretores mandavam fazer para arrecadar dinheiro para terminar a construção do novo pavilhão”, ressaltou. Ainda mais, em fins da década de 60, devido a necessidade de ampliação do Raio-X, a antiga Capela de Santa Isabel teve de ser derrubada e, sobre isso, Magrini diz: “A antiga capela parecia a nossa Matriz, mas, era menor, ela tinha 12 metros de altura e seu tamanho aproximado era de 8x8 metros, seu piso era em mosaico e na frente tinha uma bela escadaria. Ela teve de ser derrubada para construir o Raio-X, porque até então ele ocupava um espaço pequeno e funcionava onde hoje é o Pronto-Socorro”.
            Magrini contou que depois da demolição da Capela de Santa Isabel, as obras em que ele participou foi a construção do departamento de Raio-X (o mesmo da atualidade), a caixa d’agua que comporta 82 mil litros de água e o antigo velório (atual Cedib). Mas talvez a obra mais “histórica” que Magrini trabalhou no hospital foi a demolição do prédio mais antigo da Santa Casa, aquele inaugurado em 1921, que ficava na frente da Avenida 23. Sobre esta obra ele tem muito a contar: “O que posso dizer sobre aquele prédio é que ele foi muito bem construído, só aquela bola de concreto que enfeitava a parte central da fachada tinha mais ou menos duzentos quilos. Os tijolos também eram grandes, no tamanho de 28x13 cm, e eu me lembro do Seu Chico, um velho colega, que contava o trabalho que ele teve na época em transportar estes tijolos da olaria que ficava perto do Frigorifico até a Santa Casa usando um carro de boi. Ele falava que demorava um dia para fazer isso”.  
            Em relação aos funcionários mais antigos ele se lembra de histórias divertidíssimas do sr. Simões, chefe de escritório, o Quinzinho, a Irmã Maura e os médicos dr. José Conde e dr. Meira. Já sobre os provedores ele recorda: “quando eu entrei no hospital o provedor era o João Rocha e depois foi o Teóphilo. Eu me lembro que, em 1967, quando nós estávamos construindo a lavanderia, ele quis fazer uma festinha na fazenda dele e cada um daria cinco cruzeiros novos para contribuir com a festa, mas infelizmente a caminho da sua fazenda ele acabou morrendo num trágico acidente de carro antes mesmo de fazermos a festinha. Ele foi um provedor que lutou muito pela Santa Casa, foi muito corajoso. Em seguida, entrou o Pedro Falco e ele conversava muito com a gente, perguntava a nossa opinião nas obras de construções. Na época do sr. Althayr eu lembro que houve a continuação das obras e também a reforma na antiga enfermaria coletiva. Com o seu Ibraim também participei da construção do Pavilhão novo, desde 1983”.
            De metro a metro, de azulejo em azulejo, de canto a canto, o trabalho de Magrini mostrou ser intimamente ligado à história da própria Santa Casa, pois ele conhece como ninguém cada parte do hospital e sua representação no passado. Quando indagado sobre o que é trabalhar no mesmo lugar há quase cinquenta anos ele carinhosamente diz: “Eu gosto porque tenho amor no que  faço, acho que a gente está aqui para fazer o possível e, de minha parte, o que eu puder fazer, eu faço”. Por fim, Magrini demonstrou que a palavra “construção” é de fato o seu melhor sinônimo, pois do mesmo modo que a sua força física foi hábil para a construção de muitos lugares no hospital sua memória é ainda mais essencial para a construção dos noventa anos da Santa Casa de Barretos. O nosso reconhecimento ao querido funcionário.

REFERÊNCIAS: Entrevista com Antônio Magrini no dia 14/1/2011

ALTHAYR PEREIRA: DE REPENTE PROVEDOR



ARTIGO PUBLICADO POR KARLA O. ARMANI NA REVISTA"AÇÃO E VIDA" EM 3 DE ABRIL DE 2011

Althayr Pereira, provedor da Santa Casa na década de 70, conta como curiosamente assumiu e administrou a provedoria em uma época conturbada pela política e pelas dificuldades de um hospital cheio de desafios. Eram outros tempos...

            Na década de 70, a Santa Casa de Misericórdia de Barretos encontrava-se num período de transição, que por um lado era representado pela comodidade de um novo pavilhão construído nos anos 60, mas por outro apresentava dificuldades na organização de atendimentos devido ao grande número de indigentes e ao falho auxílio governamental. Foi com este cenário que Althayr Pereira, um distinto comerciante na época, assumiu a Provedoria da Santa Casa e por lá ficou durante quatro anos.
            Althayr Pereira, filho de lavradores, nasceu em Olímpia no dia 11 de maio de 1931. Cresceu e estudou em Barretos, lugar onde se casou com a sra. Maraiza Campos Pereira, com quem tem cinco filhos e completa cinquenta e seis anos de casados. Em Barretos atuou em vários setores profissionais e ficou conhecido no ramo do comércio, pois foi proprietário de lojas de veículos e de distribuidora de bebidas. E então, como esse comerciante chegou a ser provedor da Santa Casa?
            “Minha história com a Santa Casa começou quando fui mesário nas administrações do Pedro Falco e do Lourival Ribeiro de Mendonça. Naquele tempo era diferente, o provedor formava uma comissão que era composta pelo prefeito, pela autoridade eclesiástica e mais uma pessoa que fazia parte da Mesa, e essas três pessoas eram encarregadas de indicar um nome para ser provedor. Mas, no meu caso foi diferente... eu estava trabalhando, tocando a minha vida, e houve um problema na Santa Casa, porque o Seu Lourival indicou o candidato dele para ser provedor, mas um outro grupo contestou e não aceitou a indicação feita por ele. Depois, outras pessoas foram indicadas, mas também houve contestação e isso virou uma questão muito séria. E eu estava quieto no meu canto, nem tomando conhecimento do que estava acontecendo, quando de repente o meu nome foi indicado e acabou sendo aceito por ambas as partes. Meu amigo Mélek Zaiden Geraige, prefeito na época, me ligou para conversamos e ele mesmo me deu a notícia, pedindo que eu aceitasse o cargo, mas eu lutei em não aceitar porque eu precisava cuidar da minha família e dos meus negócios. No entanto, ele insistiu tanto que eu acabei aceitando e assumi a Santa Casa”, explicou o ex-provedor.   
            Paralelo a isso, Althayr esclarece que a cidade vivia um período de turbulência na política, uma vez que era vigente o regime militar e dois partidos adversários dominavam as relações sociais da época. Não obstante, esse fervilhar político também se propagava na administração da Santa Casa e, como alternativa de pacificação entre as partes, Althayr, ao assumir a provedoria, resolveu convidar membros de outras facções políticas para fazer parte da Diretoria, pois o que estava em jogo era o futuro do hospital. Foi então que ao lado dos seus companheiros de Diretoria, Ruy Menezes, Kamel Lian, Clovis Junqueira Nogueira e o diretor-clínico José Faleiros de Almeida; Althayr estabeleceu uma administração que priorizou pelo trabalho conjunto entre funcionários, a classe médica e a mesa administrativa, caracterizando o que ele denominou de “três direções do hospital”.
            A provedoria de Althayr perdurou nos anos de 1977-1978 a 1979-1980, e neste período muitas dificuldades apareceram e conquistas foram realizadas. Segundo o próprio Althayr: “Naquele tempo tinha o INPS e a Santa Casa recebia por esse órgão, mas ele atrasava quatro ou cinco meses para pagar e isso dificultava muito as coisas. Nesse período, os médicos recebiam pela Santa Casa os seus honorários, mas não recebiam pelos 40% dos indigentes que atendiam. Naquela época o hospital era realmente de Misericórdia. Além disso, existiam as enfermarias coletivas... quando eu cheguei à Santa Casa e vi os doentes indigentes desfrutando indevidamente do mesmo espaço e, muitas vezes, sem assistência, eu logo pensei que essa situação tinha que acabar, então eu disse: -Vamos acabar com essa enfermaria e misturar os doentes que não pagam com os que pagam, porque assim eles também terão assistência. Hoje posso conscientemente dizer que, se eu não tivesse feito nada para a Santa Casa, só o fato de ter feito uma nova enfermaria já me realizava pelo tempo que fiquei por lá”.
Outro fator de suma importância na administração de Althayr Pereira e que ele recorda memoravelmente foi a inauguração do CTI (Centro de Terapia Intensiva), hoje conhecido como UTI. De acordo com o ex-provedor, existia um espaço no hospital que era para ser dedicado ao CTI, mas ele não funcionava por conta do alto custo de seus equipamentos. Althayr destaca que, apesar de ser algo quase inexistente no interior daquela época, a Santa Casa tinha necessidade de ter o CTI em funcionamento.  Mesmo com alguns contratempos, Althayr e seus companheiros de Mesa Administrativa e Diretoria Clínica conseguiram transformar aquele espaço no CTI e manter seus equipamentos e instalações. Logo, a solenidade de inauguração do CTI foi registrada em fotografias da época (que ilustram esta matéria) e com mensagens deixadas no “livro de visitantes” pelos diretores da Federação das Misericórdias, a qual Althayr também participava. A mensagem registrada no ano de 1977 e assinada pelo presidente e vice-presidente da Federação das Misericórdias assim dizia: “Nesta oportunidade de inauguração do CTI e o 4º Encontro Regional das Misericórdias temos a satisfação de verificar o alto grau de padrão desta instituição (...)”.
Ainda mais, na gestão de Althayr Pereira foi terminada a Capela de Santa Isabel, que hoje fica no primeiro andar do prédio velho. O ex-provedor, atualmente, ficou conhecido como um grande aglutinador de colaboradores da Santa Casa e sobre isso ele ressalta: “Como fazíamos um trabalho sério, nós conseguimos aderir muitos colaboradores, inclusive a própria comunidade que se tornou o principal deles. As pessoas ajudavam com coisas pequenas, mas eram colaborações importantes naquela época, porque só o fato delas procurarem a Santa Casa e oferecer o que podiam era muito gratificante”. 
As palavras finais de Althayr resumem como foi seu posicionamento como provedor e seu relacionamento com os funcionários e a comunidade, tudo diante às circunstâncias da época: “No momento em que fui provedor, a provedoria funcionava de portas abertas e eu sempre fazia reuniões com funcionários e médicos. Posso dizer abertamente que deixei a Santa Casa sem dívidas e nunca atrasei pagamento de funcionários. Fiz inúmeras viagens a Brasília e a São Paulo. Em Brasília, o ministro da Saúde, dr. Paulo de Almeida Machado, era meu amigo e também do Dom Mucciolo, mas infelizmente não conseguimos nenhuma ajuda financeira para o hospital. O Dom Mucciolo ajudou muito na minha administração. Falando então em ajudas e agradecimentos, não poderia me esquecer do nosso querido Padre Gabriel, que em todas as manhãs celebrava as missas às 6hs e também das abnegadas irmãs Angélica, Lucia, Laura, Brígida, Hermínia e outras que também eram verdadeiras missionárias. Tivemos algumas voluntárias como Edy Bonatelli Moni, que todos os dias colocava em cada quarto mensagens cristãs de otimismo e solidariedade. Tive muito apoio dos diretores clínicos dr. José Falleiros de Almeida e dr. Ruy Menezes Júnior, além do prefeito da época, Melek Zaiden Geraige. Enfim, meus agradecimentos a todos os funcionários da Santa Casa na pessoa do sr. Magrini e sua esposa, bom pedreiro e um grande homem. Não esquecendo também da minha esposa Maraiza, minha companheira em tudo que faço, sem ela não sou ninguém”, finaliza Althayr.
Muitas conquistas se estabeleceram nos quatro anos de provedoria do sr. Alhtayr Pereira, um comerciante que de início não queria aceitar o compromisso de ser provedor, mas, que, de repente, não só aceitou, como foi bem recebido pela comunidade e até hoje desfruta de prestígio e fama de honestidade entre os seus. Por fim, a sensação que ele diz ter e que resume em poucas palavras é: “dever cumprido”.

REFERÊNCIAS: Entrevista com Althayr Pereira no dia 18/1/2011. Pesquisas em atas e no livro de visitantes da Santa Casa de Barretos.   

      

DIA DA MENTIRA



ARTIGO PUBLICADO POR KARLA O. ARMANI NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" EM 1º DE ABRIL DE 2011.

            É no dia de hoje que as crianças, e até alguns adultos, contam alguma mentira, assusta a pessoa que ouve essa mentira e depois às gargalhadas sorri dizendo: “-primeiro de abril, dia da mentira!”. O dia da mentira é conhecido no mundo todo e possui um significado histórico que se adaptou à cultura de cada povo, já que naturalmente a mentira é algo que esteve presente em todas as sociedades humanas. Então, porque o primeiro dia do mês de abril ficou com essa fama de mentiroso?
              A maioria das páginas da internet conta o mesmo fato sobre tal questão, sendo a justificativa associada a costumes religiosos da Baixa Idade Média. Conta-se que o rei da França, Carlos IX, após a instituição do calendário gregoriano, passou a comemorar o dia de ano novo em 1º de janeiro – como hoje acontece de fato. Entretanto, antes do rei ordenar tal mudança, esta data era comemorada no dia 25 de março e terminava uma semana depois, ou seja, no dia 1º de abril. Acontece que, algumas pessoas não aceitaram essa mudança na data e passaram a ser satirizadas pelos outros, que lhes enviam convites e cartões falsos de felicitações no dia 1º de abril confundindo-os sobre a veracidade da data. Assim, o primeiro dia de abril passou a ser um dia da mentira, da enganação.
Além disso, diz-se que dois séculos mais tarde países europeus e suas colônias adotaram tais brincadeiras no dia da mentira. Segundo evidências, no ano de 1848 circulou em um Estado brasileiro, possivelmente Pernambuco, uma notícia no dia 1º de abril que Dom Pedro havia falecido, o que de fato estava bem longe de ser verdade. Estipula-se, pois, tal data para a entrada do dia da mentira no nosso país.
A filosofia mostra que o ato de mentir está presente em discussões desde a Grécia Antiga, que refletiam questões morais entre a verdade e a mentira. Sócrates, por exemplo, não aceitava pessoas que distorciam a realidade como os sofistas que proviam ficções em seus poemas. Já Platão, recomendava que os políticos de sua República propagassem a “nobre mentira”, destinada a manter as pessoas felizes com o que lhes coubera.
No mundo atual e na vida pública, verifica-se que a mentira é tida como um ato imoral e quando explícita é condenável, principalmente perante as esferas da política. Os políticos que fazem parte de redes de corrupção são tidos como verdadeiros mentirosos e combalidos por isso. Em outro âmbito, como o da medicina, existia uma tradição em mentir para o bem do paciente, fato que vem sendo considerado pela própria medicina uma violação da autonomia do paciente.
Enfim, seja como brincadeira, perniciosa, imoral, alternativa ou tradicional, o fato é que a mentira esteve presente em várias sociedades na história da humanidade oferecendo diversas experiências. Com a característica de causar imprecisão nos fatos e ter a intenção de enganar alguém, a mentira sempre foi contada pelo homem. E neste primeiro de abril, tão “oportuno”, não seria diferente. Cuidado com as mentiras!
REFERÊNCIA: Coleção da Publifolha – “Filosofia”, ano 2009. 

AGORA SIM, “HISTORIADOR”



ARTIGO PUBLICADO POR KARLA O. ARMANI NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" EM 25 DE MARÇO DE 2011.

Certamente, se cá ainda estivessem, pesquisadores da história do Brasil como Joaquim Nabuco, Capistrano de Abreu, Sérgio Buarque de Holanda, Darcy Ribeiro, Antonio Cândido e muitos outros estariam felizes com as últimas notícias que circularam no Senado da República Brasileira. Posto que, no dia 2 de março foi aprovada no Senado a proposta que regulamenta e, por sua vez, oficializa a profissão de “historiador”. O Brasil e suas ciências humanas têm muito a comemorar.
 Por muito tempo, profissionais como os já citados, formados em História, ou, ciências aliadas como sociologia e antropologia, mesmo com a bagagem cultural que ofereceram à sociedade, estiveram ocultos perante sua verdadeira ocupação: historiador. Isto porque, além de tal profissão não ser regulamentada, a formação em História não era o único critério que designava alguém a ser historiador. A denominação “historiador” era muito mais um rótulo àquele que se fazia certa pesquisa no campo histórico, do que uma profissão oficial. Trocando em miúdos, todos aqueles que se aventuravam a escrever sobre determinada “história”, mesmo sem passar pelo crivo científico de universidades, era caracterizado como historiador. É o caso de muitos memorialistas, jornalistas e até poetas.
Mas, esta situação tende a mudar. Se a “história” no Brasil, como uma disciplina específica e escolar, começou a se desenvolver a partir do século XIX, ter seu profissional regulamentado no século XXI já é sinal de grande avanço, mesmo com tamanha demora. Porquanto, pode-se imaginar que o século XXI inaugura uma nova tendência na historiografia brasileira, a começar pela oficialização de seu próprio profissional. Assim, quem move a história é o povo, mas quem a escreve é o historiador.
Segundo a proposta apresentada pelo senador petista Paulo Paim e aprovada pela Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ), a profissão de historiador poderá ser exercida pelos diplomados em curso de graduação, mestrado ou doutorado em História. Sendo suas atribuições simplificadas “a organização de informações para publicações, exposições e eventos sobre temas de História, e os locais de atuação: empresas, museus, editoras, produtoras de vídeo e CD-ROM ou emissoras de televisão”.
Desta maneira, um novo leque de oportunidades se abre àquele que decidi optar por “História” no vestibular. Além da atuação como professor de ensino básico e superior, pois todo professor de história é também um pesquisador, o historiador agora ocupa uma nova posição social no campo profissional. O historiador, isto é, aquele que se preocupa em investigar toda experiência humana ao longo do tempo tendo como base a ciência, não é meramente rotulado, ao contrário, é regulamentado, é profissional, tem voz, tem espaço, tem oportunidade e principalmente tem estímulo na luta pela valorização e preservação de seu objeto de estudo: a reconstrução de um passado que é mais presente do que se imagina.