sábado, 14 de agosto de 2010

A GRAFIA DE NOSSAS VIDAS


            Já dizia Karl Marx que o homem é o motor da história, ou seja, os fatos históricos são resultados das ações humanas em determinadas épocas e sociedades. Por outro lado, podemos notar que os fatos históricos em si também influenciam a história da vida de cada um, como se algumas passagens de nossas vidas possuíssem algo em comum com a vida das outras pessoas. Então, talvez a melhor maneira de compararmos até que ponto os fatos históricos aproximam as histórias das nossas vidas seja a produção de nossas próprias biografias; um estudo que cresce em sobressalto na historiografia brasileira.
              Ora, quem nunca recorreu às biografias quando quis entender mais sobre as obras e pensamentos de escritores, músicos, poetas e pintores? Por exemplo, para ir além das entrelinhas da obra de um determinado escritor, costumamos estudar a biografia do mesmo afim de encontrarmos pontos mais claros que revelam as suas justificativas e suas reais intenções. São os fatos decorrentes na infância, os lugares em que crescemos ou ainda o próprio momento histórico que acabam por determinar as atitudes dos homens, que, quando somadas podem até mesmo transformar a realidade de uma época. Trocando em miúdos, são nas pequenas atitudes individuais que nascem as grandes transformações.
            É interessante analisar várias biografias de uma mesma época e perceber que, por mais diferentes que sejam os acontecimentos das vidas pessoais, os fatos históricos influenciam da mesma maneira. São exemplos disso, as biografias dos cantores da MPB na década de 60 exilados do país por conta da ditadura militar; as imigrações européias em razão das péssimas condições de países abarrotados em fins das guerras mundiais; e os textos exacerbados em patriotismo em virtude do nacionalismo exaltado nos anos 30. Enfim, são inúmeros os exemplos que poderiam ser dados sobre várias épocas históricas que influenciaram e recompuseram a vida das pessoas.
            Em Barretos, no início do século XX, foi muito comum as publicações em jornais de biografias de políticos, já que este era um bom jeito da população conhecê-los melhor. Á isso, podemos acrescentar que, as biografias, isto é, os modos de escrever e transparecer os fatos da vida de uma pessoa; são também envolvidas no “clima” da própria época e devem ser sempre analisadas com olhos críticos. De fato, a biografia, se não comprometida com a verdade histórica, pode ser um instrumento perigoso de manipulação e ilusão do senso comum.
            Atualmente, as biografias são escritas de modos diferentes, demonstrando a diversidade das fases da vida, bem como os erros e os acertos, da maneira mais natural possível; sempre relacionando a história pessoal (micro) com os fatos históricos da sociedade (macro). Por fim, as biografias, tão utilizadas nas aulas de histórias de hoje, além de permitir o conhecimento mais claro das vidas pessoais, também refletem o quão parecidos social e historicamente nós, homens e mulheres, podemos ser.

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO" (BARRETOS/SP) EM 13 DE AGOSTO DE 2010.

domingo, 8 de agosto de 2010

EM AGOSTO!


            Leitores, já tiveram aquela sensação de se lembrar de algo ao sentir um cheiro ou um gosto, ouvir uma música ou ver uma cena? Essas sensações são despertadas quando nossa memória afetiva entra em ação e nos recordamos de certos momentos parecendo que estamos os revivendo novamente. Por conta disso, as vezes um singelo verso de uma música leva os pensamentos às alturas e aguça os nossos sentidos fazendo com que entremos no “clima” de um dado momento. É assim que muitos barretenses sentem um clima especial neste mês de agosto, vejam só...
            “Vento gelado batendo em meu rosto me diz que é agosto...”, o que isso nos lembra? Porque os versos de Bezerrinha nos trazem recordações tão sutis? Seja por trazer lembranças dos tempos da escola quando aprendíamos a cantar estes versos ou seja pela própria intenção da música de nos colocarmos no clima da Festa do Peão, Bezerrinha nos transpõe a uma realidade agradável em que os barretenses compartilham de sensações em comum. Estas sensações são referentes às características que formam a identidade do barretense, isto é, tudo aquilo que possuímos em comum e construímos juntos: a nossa história.
            Ora, segundo os registros da história da cidade, foi em agosto de 1854 que tudo começou! Foi neste período que a Vila do Espírito Santo dos Barreto foi fundada e desde os anos 40 do século XX os barretenses relembram esta data como feriado municipal. Por isso, a comemoração da fundação da cidade aliada a famosa Festa do Peão que anima Barretos desde os anos 50, explicam o clima que se faz presente na cidade no mês de agosto, tão especial.  
            É em agosto que a história da cidade é comentada, analisada e revista entre os próprios barretenses como uma busca pela identidade dos povos sertanistas a fim de criar entre nós um saudável sentimento de bairrismo. É em agosto que as crianças aprendem quem foram Chico Barreto e Ana Rosa, onde é o marco zero da cidade, porque o Divino Espírito Santo é o nosso patrono. E, por fim, é também em agosto que aprendemos a cantar os versos escritos por Osório Rocha, tocados por Aymoré do Brasil e descritos como o Hino de Barretos, para depois ficarem guardados em nossa memória afetiva: “Por Barretos bandeirante, desbravador do Sertão! Pela Pátria, Avante! Avante! Levantando o coração”

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO" (BARRETOS/SP), EM 06 DE AGOSTO DE 2010.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

AS LUZES, DESDE MUITO TEMPO ATRÁS...



            Caros leitores, vocês conseguem imaginar como que os nossos antepassados conseguiam viver sem energia elétrica? Certamente, a nossa imaginação vai a mil só de imaginar o cotidiano sem ter sequer a iluminação de uma lâmpada. No entanto, a falta de uma lâmpada não era motivo de impedimento para diversão, pois toda sociedade cria suas tecnologias e as adapta a sua realidade, isto é, vivem normalmente dentro de suas condições e tentam melhorá-las sempre. É como nos mostra Osório Rocha nas linhas do “Barretos de Outrora”, onde diz que no salão central do Paço Municipal (atual Museu Ruy Menezes) e nas casas dos antigos coronéis eram realizados elegantes bailes às luzes dos candeeiros. Outra menção às condições de iluminação do início do século XX em Barretos é encontrada no jornal “O Sertanejo”, no qual exibia anúncios de teatros que destacavam a iluminação à “gás acetileno”. Ou seja, a cada tecnologia que surgia era vigente também o entusiasmo da população e a estratégia dos estabelecimentos culturais em destacar tal “novidade”. E a cada época da história da humanidade nascia uma diferente e avançada forma de iluminação, desde muito tempo atrás...
            Na Pré-História, os hominídeos tacavam fogo em um punhado de madeira e faziam fogueiras distribuídas nos espaços entre suas cabanas. Com o passar dos tempos e dos costumes, as fogueiras foram substituídas pelo archote (tocha de fogo feita de fibra, carvão e brasas grudadas em chifres), já que era necessário a mobilização da tocha para os homens adentrarem as florestas a noite.
            As velas foram aparecer somente na Idade Antiga, no Egito, e depois surgiram as lamparinas à base de óleo. No início, as velas eram produzidas com mistura de banhas de animal e fios vegetais, porém, o odor que exalavam não era nada agradável. Foi então que, os homens da Antigüidade descobriram maneiras de produzir velas com cera de abelha, um produto caro e de difícil produção, porém, exalava um cheiro bom ao queimar. Somente na Grécia Antiga que se passou a utilizar velas em festas comemorativas e homenagens à deusa Ártemis. Já a tradição de apagar a velhinha nos aniversários se iniciou na Alemanha, ainda na Idade Média. A partir do século XIX, com a extração do petróleo, as tecnologias voltadas para a eletricidade se tornaram mais avançadas e as velas, agora feitas de parafinas e com custos mais baratos, também passaram a ter diversos tipos de cores, duração e cheiro.    
            Logo, notamos que os processos utilizados para a iluminação dos ambientes em vários períodos históricos, caminharam junto com as necessidades de cada época e foram úteis o suficiente para criar outro e outro e outro... Agora, só nos resta a valorização de todos esses caminhos percorridos na história da humanidade a fim de nos conscientizarmos diante o desperdício de energia elétrica e o incentivo à criação de novas formas de reaproveitamento, afinal a nossa realidade precisa disso.


REFERÊNCIAS: Revista “Aventuras na História”, ago/2010, p. 24. 

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO" (BARRETOS/SP) EM 30 DE JULHO DE 2010.