quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

POR TRÊS SÉCULOS: OS DOTES NO BRASIL



Há algo muito interessante na História do Brasil, muitas vezes visto nas novelas e filmes de época, e pouco estudado entre os brasileiros: o dote. Sim, aquela parcela monetária que antigamente os pais pagavam aos noivos de suas filhas, quando estas uniam-se em matrimônio com homens que muitas vezes sequer conheciam! A história do casamento no Brasil Colônia e Império pode ser bastante curiosa quando se trata da questão do dote, pois revela detalhes jamais imaginados por nós, hoje, por conta da diferença de mentalidade entre um tempo e outro.
De acordo com a fantástica historiadora Mariana Muaze, em sua obra As memórias da Viscondessa, o dote foi uma instituição européia trazida pelos portugueses ao Brasil Colônia no século XVI. Sua principal função era expandir as famílias brancas e européias a fim de promover a “paz social” e o funcionamento do sistema colonial. As leis antigas de Portugal eram baseadas na idéia de que o pai tinha o dever de alimentar, cuidar e dotar sua filha, para que ocorresse a transmissão de riquezas da família às mulheres, sua independência com gastos pessoais e a proteção de uma possível falência do marido; por isso, muitas filhas preferiam receber o dote à herança.
Durante o século XVII, os dotes eram considerados a garantia da vida inicial dos recém casados e seus valores eram concedidos em forma de bens de produção como terras, animais, escravos e ferramentas. Tais bens demonstram que para a família da noiva, conforme a mentalidade da época, o importante era a capacidade de trabalho do futuro marido, o “branqueamento” e o enobrecimento da família.
A partir do século XVIII, no entanto, o valor do dote foi decaindo até que no século XIX a transformação nesta questão matrimonial foi mais acentuada, onde o enxoval deixou de ser parte do dote e este era concedido por “bens de representação” como jóias, cavalos, escravos e dinheiro. O resultado principal desta mudança foi que o marido passou a fornecer quase todo o sustento da nova família e também poucas famílias aderiam à concessão do dote e, quando faziam, os valores eram bem menores que outrora. Segundo as evidências, o maior dote do século XIX foi dado pelo Barão de Limeira no valor de 40 contos de réis (menos de 20% da herança de sua filha).
Posterior a tantos debates na imprensa e críticas literárias rotuladas pelo ideal romântico, o dote foi desaparecendo aos poucos e a tendência era a união de noivos da mesma faixa etária e noivados longos para ambos terem tempo de realmente se conhecerem. Hoje, sabemos que esta prática não mais existe por conta de vários fatores culturais modificados pelo tempo, mas... é divertidíssimo adentrar os valores do passado e conhecer as partes mais íntimas da história deste país.
E você conhece alguma história sobre dotes? Divulgue!

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO" (BARRETOS/SP), EM 15 DE JANEIRO DE 2010.

BARRETOS NA ARTE E NA GUERRA

 
O recente filme em lançamento “Tempos de Paz”, encenado pelos brilhantes artistas Tony Ramos e Dan Stulbach, fascina os olhos e as emoções diante a história de um imigrante polonês deslocado para o Brasil no ano de 1945, em pleno fim da Segunda Grande Guerra Mundial. O polonês, vivido por Stulbach, vem para o Brasil com a justificativa de trabalhar na lavoura, entretanto, é surpreendido pelo destino quando suas próprias lembranças da guerra o fazem reviver sua antiga profissão: o teatro! É através da mágica do teatro que o imigrante consegue ficar no Brasil e emocionar até mesmo um rígido funcionário do Estado getulista, Tony Ramos.
O fato é que, durante a trajetória do filme, o polonês indaga o tempo todo sobre a importância do teatro naquele período tão devastador culturalmente: “para que serve o teatro em meio à guerra?”. Bem, isso nos faz lembrar de Barretos na década de 40... quais manifestações artísticas aconteciam neste momento tão desgastante na Europa? Enquanto Bezerrinha e mais outros 16 combatentes barretenses da Guerra lutavam junto ao Exército brasileiro na Itália facista e alguns imigrantes chegavam ao Brasil, Barretos era referência de belos teatros e exibições de clássicos do cinema norte-americano.
Desde o início da década de 30, o Theatro Santo Antônio, antigo Theatro e Cine Éden, localizado na esquina da rua 20 com a avenida 17, ilustrava os mais atrativos panfletos que hoje são acervo documental do Museu “Ruy Menezes”. Em 1935 era anunciado o clássico “O Vingador” com o famoso e admirado cow-boy “Buch Jones”.
Já na década de 40, devidamente equipados com ar-condicionado, o Cine Santo Antônio e o Cine-Barretos traziam à população os filmes mais requisitados da época. Em 1944, ano em que os barretenses estavam na guerra, o Cine Santo Antonio exibia, entre muitos outros, clássicos como: “Vendaval de Paixões” com o inesquecível John Wayne; “Minha namorada favorita” com Rita Haywort e “Minha secretaria brasileira” com a fantástica Carmem Miranda, Betty Grable, John Payne e Cezar Romero. O Cine-Barretos apresentava como primeira atração em dezembro de 1946 o romance “Amar foi minha ruína” e, tempos depois, o temível “Os Inocentes” com a linda Deborah Kerr junto a Peter Wyngarde e Megs Jenkings. Sendo que, alguns destes clássicos estão disponíveis, em versões americanas, na internet (www.youtube.com).
Entre estas poucas demonstrações já percebemos o quão o teatro e o cinema foram fatores motivadores de “cultura” em muitos cantos do mundo, a ressaltar nossa cidade. E quando o polonês caracterizado pelo filme indaga o futuro do teatro em meio a guerra, só podemos voltar nossos pensamentos a essência de toda a arte emanada pelos artistas da época, que mesmo em Barretos, até hoje causa nostalgia e saudades. Reminiscências.

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO" (BARRETOS/SP), EM 08 DE JANEIRO DE 2010.


segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

2010

É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.
(Carlos Drummond de Andrade)

Adeus ano velho, feliz ano novo! É assim que muitas pessoas estão vivendo o dia de hoje, o primeiro do ano. A palavra da vez é “expectativa”, pois temos a mania de acreditar que somente agora é a hora de pagar as promessas, o momento de refletir sobre as perdas e ganhos do ano velho, planejar as atividades para o ano que se inicia rascunhando novas agendas e preparar-se para mais um ano de muito trabalho, esforço e dedicação. Assim acontecem com as crianças, os adultos e os idosos, todos nós esperamos por um ano melhor, com maiores oportunidades e realizações.
Se pensarmos no ano velho, 2009, pela ótica da História, veremos que foi um ano de datas comemorativas marcantes, como exemplo: os 400 anos da Astronomia, os 120 anos da República brasileira, os 40 anos que o homem pisou na lua, os 80 anos da Crise de 1929, os 70 anos do início da Segunda Guerra Mundial, os 20 anos da queda do Muro de Berlim, os 220 anos da Revolução Francesa e por assim outras datas que não recordaremos no instante. Mundialmente, 2009 foi um ano relevante às nações e provável será a sua estréia nos anais futuros da História global.
Já o ano novo, 2010, é esperado por muitos por sua tendência a progressões tecnológicas, em virtude de pesquisas científicas inovadoras das áreas da saúde e bem-estar social, e também pelos acordos em relação aos cuidados necessários ao meio-ambiente, afinal o Planeta grita por socorros.
Em nossa cidade, o ano de 2010 também é “histórico”, posto que, entre muitas datas dos tempos passados do auge da República, comemoramos o centenário da fundação do Grêmio Literário e Recreativo de Barretos. O clube foi criado num contexto interessantíssimo da história da cidade e expressou muitos valores de seu tempo, além de anunciar outras inovações da década de 1910. Entre tais estão a construção do Primeiro Grupo Escolar de Barretos e de famosas instituições culturais e intelectuais como luxuosos teatros, e inovações como a chegada da energia elétrica.
Por fim, as expectativas para 2010 são as melhores possíveis e entendemos que antes de todas elas estão as evoluções dentro de nós mesmos, porque a História pode até resultar em datas marcantes, entretanto, tais datas só são assim consideradas por conta dos feitos de cada um de nós, onde mudamos nossa comunidade de acordo com pequenas atitudes que, mais tarde, se transformarão em realizações e marcos históricos. Lembremos: “uma andorinha só não faz verão”.
Feliz Ano Novo e que em 2010 nossas atitudes sejam recíprocas às expectativas positivas e merecedoras de aplausos futuros.



ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO" (BARRETOS/SP), EM 01º DE JANEIRO DE 2010.