segunda-feira, 27 de julho de 2009

O INESQUECÍVEL JOÃO FALCÃO



De um lado a poesia, o verbo, a saudade.
Do outro a luta, a força e a coragem pra chegar no fim.
E o fim é belo incerto, depende de como você vê. (O Teatro Mágico).


Os amigos e familiares do saudoso João Falcão sabem que no próximo dia 27 de julho ele comemoraria seus 102 anos. Estas linhas, pois, fazem jus à singela homenagem póstuma sobre uma pequena parte de sua biografia, mais voltada para o teatro, para que as pessoas que não o conheceram também possam contemplar sua história de vida. Eis a biografia de João Falcão, uma trajetória que atravessou a linha do tempo em oitenta e quatro longos anos que honradamente marcou a história de Barretos. João Falcão nasceu em Bebedouro, no dia 27 de julho de 1907 e com dois meses de idade veio para Barretos com seu pai Sebastião Falcão e sua mãe Bertolina Amélia Falcão. No dia 30 de junho de 1930 se casou com Ana Marques Falcão e desta união nasceram seis filhos: Albíria Tereza, Wladimir, Caiuby, Carlos Marx, Rosa de Luxemburgo e Claudinéia.
O jovem estreou no teatro amador no ano de 1928, com a peça “Falsos Amigos”, encenada na União dos Empregados do Comércio de Barretos, pelo “Grupo Dramático Amor à Arte” de Hildebrando de Araujo. Posteriormente, participou do Corpo Cênico da U.E.C, trabalhando ao lado de Romeu Sessa, Humberto e Carminha Belivacqua e Alonso de Souza. Em seguida, atuou no “Teatro Experimental de Barretos”, no “Teatro do Estudante de Barretos” e no “Teatro Universitário de Barretos”.
Já homem feito, com suas ideologias de esquerda, João Falcão sofreu alguns pesares na década de 60, uma vez que o Brasil passava pelo contexto da sofrível ditadura militar. Desta época, o que pode ser retomado é a criatividade de João quanto aos nomes de seus filhos, nomes de ilustres pensadores e escritores esquerdistas.
Depois de encenar várias peças teatrais ao lado de grandes ícones do teatro barretense como Luiz Carlos Arutim, Dermeval de Almeida, os irmãos Pio e Hugo Toneli, Fioravante Toneli, João Rosa, Eunice Espíndola; em 1976, ao lado de José Antonio Merenda, fundou o “Grupo Teatral Amor à Arte em Barretos”, G.T.A.A.B.
Faleceu em 19 de março de 1991 aos incompletos e raros 84 anos, hoje é patrono do Instituto Cultural “João Falcão” e quase todos os anos sua família recebe homenagens em seu nome.
O jovem, o adulto e o velho João Falcão atravessou o longo tempo do século XX cintilando os palcos teatrais e marcando o coração das pessoas com a arte de seu sempre presente sorriso. Hoje, em 2009, posso dizer que “teatro” era sua vida e “inesquecível” é o seu maior adjetivo. Saudações.

REFERÊNCIA: Documentos e foto do Museu “Ruy Menezes”.

Foto: João Falcão em 1928

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO" (BARRETOS/SP), EM 24 DE JULHO DE 2009.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

O REVOLUCIONÁRIO JOÃO ROCHA (II)

Depois de “cutucar a onça com a vara curta”, isto é, tentar persuadir as tropas mineiras com sua astúcia durante a luta de 1932 no Porto do Taboado, João Rocha fez da sua história um exemplo de perseverança. Por isso mesmo, continuo aqui a história da trajetória final de João Rocha na Revolução de 1932 iniciada na semana passada.
Para tentar salvar João Rocha e Pombo, seis outros combatentes também atravessaram o Rio Grande, mas todos foram capturados. Depois de apreendidos, foram amarrados em uma árvore até o momento em que chegaria uma condução que os levasse para Frutal.
Com ameaças de fuzilamento e torturas, os combatentes foram levados respectivamente para Uberaba, Belo Horizonte e para a famosa Ilha das Flores, na capital federal Rio de Janeiro, bem às vistas do presidente Vargas. Neste local, juntaram-se a três mil prisioneiros e “enquanto durou a revolução, os soldados paulistas viveram nessa ilha, cercados por arame eletrificado, dormindo mal e comendo pessimamente, mal vestidos, em geral descalços, mas alegres, bem humorados e maltratando quanto podiam, através de discursos, de músicas e canções que inventavam à Ditadura de Getúlio Vargas” (Jerônimo Barcellos – 1968).
Com o fim da Revolução, a Ilha das Flores foi liberada e o primeiro grupo de prisioneiros, onde estava João Rocha, foi libertado. Separou-se, porém, de seu amigo Pombo. Estava liberto, mas como voltaria para Barretos? Sua aparência não era nada boa, sua roupa estava suja e rasgada, além da fome que sentia. Foi então que, depois de vagar três dias pelas ruas da capital federal, João Rocha colocou sua famosa coragem em prática e escondeu-se debaixo de uma lona de um vagão da Estação Ferroviária Central e com destino a São Paulo viajou clandestinamente. Todavia, a fome falou mais alto nos três dias de viagem e João Batista mostrou-se ao guarda do vagão quando viu o lanche que o mesmo saboreava. Assim, contou tudo ao guarda do trem e teve seu apoio durante a viagem, contou também com a ajuda de muitas pessoas. Até que em 16 de outubro teimosamente alcançou seu objetivo final, chegar a Barretos e ficar entre sua família.
Esta foi a trajetória histórica de João Batista da Rocha, um jovem destemido e ousado que mais tarde se tornou prefeito de Barretos. Seu capacete hoje faz parte do acervo do Museu “Ruy Menezes” e permite uma sensação de “viagem no tempo” quando o vemos, pois está com a marca do tiro que acertou de raspão João Rocha. A revolução de 1932 teve muitos outros combatentes e histórias, que, assim como a de João Rocha causam entusiasmo e expectativa para nós que não vivemos este momento.

REFERÊNCIAS: Documentos do Museu “Ruy Menezes”.

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO" (BARRETOS/SP), EM 17 DE JULHO DE 2009.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

O REVOLUCIONÁRIO JOÃO ROCHA (I)



“O povo paulista, nos grandes tormentos,
nos duros momentos, não chora, não geme,
nem sabe ter medo, é como rochedo de puro granito,
que aos ventos não treme”.
(Adão de Carvalho, 1932).


O feriado de nove de julho abre o leque de recordações referentes às causas constitucionalistas da Revolução de 1932 e nos instiga a conhecer mais sobre o assunto. Os motivos pela luta revolucionária foram muito bem definidos pelo Sr. Bezerra Filho, em Barretos, durante a saudação feita em frente ao Paço Municipal durante a revolução: “Hoje, a bandeira de São Paulo entra pelo Brasil a fazer sua reconstitucionalização. São Paulo não se sujeita à ditadura. São Paulo luta para ser o escravo da lei, o servidor do direito, para obedecer à Justiça, para amar-se paladino da Liberdade”.
Ao todo foram 25.000 revolucionários divididos em 12 frentes de batalhas, em Barretos foram inscritos 200 nomes de voluntários, divididos em batalhões diferentes para defender as fronteiras dos portos margeados dos rios do estado de São Paulo. A primeira frente se chamou “grupo dos 52” e trabalhou em Olímpia por 8 dias combatendo as tropas federais. É perceptível o sentimento fervoroso dos paulistas em defender seu território, mas, conforme as fotografias dos revolucionários onde estão cantando, jogando e até se divertindo, eles se alistavam não somente por este sentimento, queriam novos desafios. Muitos eram jovens, demasiadamente jovens, como o nosso querido João Batista da Rocha de apenas18 anos na época.
As mentes privilegiadas dos senhores Adolpho Fernandes e Luiz Brandão confirmam a história contada por Jerônimo S. Barcellos nas páginas amareladas do jornal “O Correio de Barretos” de agosto de 1968. João Rocha fez parte do Batalhão defensor do Porto do Taboado e depois do Porto da Maricota, junto a Ruy Menezes. Coragem e ousadia foram virtudes que não faltaram a João Rocha, pois ele atravessou de canoa o Rio Grande duas vezes para tentar convencer as tropas federais. Na primeira o sucesso foi garantido, uma vez que levou cigarros, remédios, fósforos e objetos úteis aos rivais, contudo, a segunda vez foi traiçoeira e João e seu companheiro Pombo foram capturados pelos mineiros, mesmo ele atirando contra o comandante da tropa federal.
Pois bem, o que será que aconteceu com João Rocha depois da reação mineira? Teria reagido? Teria sido preso? Ferido? Esta história é digna de maiores linhas e merece ser continuada no artigo da semana que vem, assim como se fosse o último capítulo de uma novela. Leitores, aguardem curiosos...

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO" (BARRETOS/SP), EM 10 DE JULHO DE 2009.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

O FILHO DE ANTÔNIO: DA TRAMELA, UM PRESENTE



Depois de ter vivido uma candente história de amor com sua esposa Joanita, linda goiana, as emoções na vida de Antônio continuaram a cintilar seus sentimentos. O moço de 24 anos trabalhava na Fazenda Cachoeirinha e sua esposa cuidava da casa que moravam na fazenda, por enquanto, o casal tinha três filhinhas: Norma, Ivone e Maria. Antônio mal sabia que estava prestes a viver uma das maiores emoções de sua vida, se não a maior. O melhor presente que poderia receber no exato dia de seu aniversário, seu filho.
Era início da madrugada do dia 04 de julho de 1964, Joanita estava grávida do quarto filho, prestes a dar a luz. As meninas dormiam no quarto, pareciam porcelanas. Em contraste deste calmo cenário, ventava muito e a tempestade era tão forte que mal ficavam acesas as lamparinas da casa de grandes cômodos. A casa parecia ser grande porque a família ainda não estava completa, tinham quartos ainda não ocupados e justamente em um destes quartos a janela estava mal fechada e o vento forte adentrou o ambiente e estatelou um barulho que fez o casal, já inquieto, acordar. “É a tramela da janela que esta mal fechada” pensou Antônio. Levantou-se para fechar a “teimosa” tramela e assim fez. Joanita, porém, com o susto do forte vento, assuntou e já gritava as dores do parto. Antônio correu junto a sua esposa e não pensou duas vezes: “eu mesmo farei o parto”.
O tempo foi suficiente para pegar a lenha, acender o fogão, esquentar à brasa uma colher de metal, pegar panos limpos e fervilhar a água. Em poucos minutos, às luzes de lamparinas, Antônio viu seu primeiro filho homem nascer. Fortes emoções pairavam no ar e expressavam o rosto aliviado do mais recente papai. Ele mesmo cortou e cuidou do cordão umbilical. O menino chamou-se Marco Antônio, um bebê que não chorava muito, mas que teve a hora certa para nascer.
Hoje, à véspera de 4 de julho, quarenta e cinco anos depois do raro acontecimento, Antônio, meu maravilho vovô, completará sessenta e nove anos de vida. O que posso dizer, vovô, é que são raras as pessoas que são capazes de transformar singelas emoções do passado em grandes histórias no futuro. Você é meu exemplo, um homem excepcional, de poucas palavras e sobretudo leal. Eu te amo! Ao meu tio Marco, querido, você também é imensamente especial, quanto o momento em que nasceu. O susto causado pela tramela mal fechada se transformou em um presente para a nossa família. Parabéns ao pai e ao filho! Sinceras felicidades.

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO" (BARRETOS/SP), EM 03 DE JULHO DE 2009.