sábado, 27 de novembro de 2010

LIVROS DE HISTÓRIA: UMA NOVA TENDÊNCIA


            A História, como uma disciplina científica que estuda o passado e sua relação com os homens, ao longo do tempo foi tema de muitos livros publicados desde a Idade Antiga até os dias de hoje. Naturalmente, estas publicações foram reflexos de suas respectivas épocas e as tendências que se encontram em uma, vêem-se pouco em outra. Assim, conforme as necessidades de cada período a escrita da história se baseia em um tipo de linguagem    que pode atrair ou não o público alvo.
            Leitor amigo, você tem lido livros de História nos últimos tempos? Reparou que ultimamente muito se tem falado de personagens históricos, identidades coletivas e culturas regionais? Porque este tema tem despertado tanto interesse? A resposta esta na fácil linguagem e na identificação entre o que está escrito e a identidade da pessoa que esta lendo.
            Até pouco tempo atrás, os livros de História publicados por editoras populares eram em demasia comprometidos com as teses de doutoramento e, por isso, sua linguagem científica era carregada de termos específicos e de difícil compreensão. Este tipo de publicação é ainda muito bem aceito pelas academias de História, pois respeitam os desígnios científicos da disciplina e passam pelo crivo de profissionais especializados em determinadas temáticas. As publicações científicas são significativamente importantes para a formação de historiadores e a atualização permanente da historiografia.
            No entanto, cresce no Brasil uma nova tendência de livros de História, que, paralelo às publicações de mestrado e doutorado, também é caracterizada pela cientificidade. Historiadores têm se comprometido em publicar edições sobre assuntos específicos e novos, jamais estudados em livros didáticos. Estes assuntos, porém, são verbalizados em linguagens de fácil acesso, carregados de ilustrações e nem tanto interligados com teorias da história. Essa falta de comprometimento com os conceitos e teorias é que, vez ou outra, delibera críticas das academias de História. Acontece que, os historiadores desta nova tendência publicam livros deste tipo na intenção de descongelar o passado e trazê-lo às pessoas, mostrando a elas as histórias mais interessantes do país, de algumas famílias, de regiões e da origem da nossa identidade coletiva.
            Neste ramo, destacam-se as historiadoras brasileiras Lilia M. Schwarcz e Mary Del Priore, sendo a última autora de livros que destacam a cultura das mulheres na história do Brasil, a trajetória do suposto Dom Pedro III, a vida amorosa de Euclides da Cunha, entre outros. São temáticas que revelam detalhes interessantes aos olhos de qualquer leitor, o transporta ao passado numa saborosa viagem no tempo fazendo com que ele passe a gostar de História. Enfim, os livros de História atuais, campeões de vendas nas editoras brasileiras, são aqueles que, escrito por historiadores e entrelaçados pelos ditames da literatura, atraem o leitor e faz com que ele se identifique com a comunidade em que vive, contribuindo assim com a reflexão à cidadania – uma vida coletiva construída pela mesma história.   

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO", EM BARRETOS/SP, EM 26 DE NOVEMBRO DE 2010. 

OS JORNAIS NO SERTÃO


            O que as páginas amareladas de um jornal podem dizer sobre a história dos nossos antepassados? Com certeza, têm muito a dizer. Os jornais de Barretos surgiram desde muito cedo, isto é, com menos de cinqüenta anos da fundação da cidade, e cada um deles representa a respectiva mentalidade da época em que fora escrito. Ao lado dos marcos históricos de cada período, os jornais retratavam os acontecimentos diários da cidade, as tendências políticas e expunha em colunas sociais a vida das famílias tradicionais. É assim que se encaixam as peças do complexo quebra-cabeça que compõem a história que temos em comum: a nossa cidade.
            No início do século XX, os jornais eram, sobretudo, veículos de propagação de ideais políticos. Dominada pelas elites coronelísticas, a imprensa barretense refletia o cenário político de ideais e partidos oposicionistas e, muitas vezes, um jornal nascia da intenção de atacar um líder político. O próprio jornal O Sertanejo, o primeiro a ser publicado em Barretos, em sua natureza era republicano, nos seus três primeiros anos foi dirigido pelo Cel. Silvestre de Lima. Este coronel, por sua vez, escrevia artigos criticando certas políticas dos primeiros anos da República, como exemplo a “política dos governadores” do governo de Campos Sales, e, por isso mesmo, acabou perdendo a direção de O Sertanejo para o líder político oposicionista de Barretos, o Dr. Antonio Olympio. E essa “oposição” perdurou por anos...
            Na década de 20, nascia o jornal O Popular dirigido pelo Sr. Riolando de Almeida Prado, prefeito de Barretos de 1926 a 1930. Este jornal, regido pelos ditames do Partido Popular, em sua primeira edição já tecia críticas à oposição, isto é, ao mesmo Dr. Antonio Olympio. Este, no entanto, possuía como meio de comunicação e disseminação de suas idéias políticas o jornal A Tribuna. E, assim, os líderes políticos usufruíam da imprensa como uma ferramenta de críticas aos adversários e estandarte de suas próprias realizações. Fato que em todas as épocas se repetiu, cada qual a sua maneira, de acordo com as inflexões de seus tempos.
            Com o passar das décadas, a imprensa barretense aos poucos crescia e se diversificava. Segundo os estudos do pesquisador Osório Rocha, até 1950 foram publicados e lançados oitenta e um jornais ou folhas em Barretos. Dentre estes, muitos tinham o compromisso político, outros, porém, serviam como boletins de associações ou anúncios de colunas sociais. Os nomes destas folhas, certamente, ainda são lembrados pelos barretenses de memórias mais vastas e vividas, e as denominações mais curiosas são: A Lágrima (1917), O Ferrão (1922), A Metralha (1927), O Espantalho (1928), O Xilique (1932), Zabumba (1932), O Olho (1933), O Alfinete (1935) e Pepineira (1935).  
            Quantos jornais! Quanta memória! Quantas histórias! Quantos foram perdidos... O que eles têm a nos dizer? Que a imprensa barretense é parte de um contexto político e historicamente denso e que, por isso, merece ser estudada e preservada.

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO", BARRETOS/SP, EM 19 DE NOVEMBRO DE 2010.

NOSSA REPÚBLICA, NOSSA PÁTRIA


            Na próxima segunda-feira o Brasil comemorará os cento e vinte e um anos da Proclamação da República como um feriado nacional. Em 15 de novembro de 1889, através de um golpe ou uma “conspiração”, os militares e seus importantes aliados tomaram o poder do Imperador Pedro de Alcântara e proclamaram a República do Brasil formando o governo provisório republicano. E o que aconteceu depois disso? Democracia? Eleições? Constituintes? Ditadura? Digamos que foi um pouco de tudo...
            Muitos aplicam na República a ideia do início da democracia brasileira, e a autenticidade desta afirmação pode ser interpretada de várias maneiras. Com a Proclamação da República, o governo do país deixou de ser centralizado na figura de um rei e passou a ser regido pelo Senado, pelas magistraturas e demais instituições políticas que teoricamente deveriam ser eleitas pelo povo. Porém, isso demorou para de fato acontecer, pois, destes 121 anos de República, 49 foram de eleições indiretas.
            Outra conseqüência da República foi o despertar de um patriotismo que atingia a vida dos cidadãos brasileiros. Este patriotismo logo surgiu no início do regime republicano, pois, era vigente na época as influências da corrente social “positivista”, onde a ideia de nação era colocada em primeiro plano. O patriotismo crescia no Brasil com o passar das décadas do século XX, na literatura foi exaltado pelas penas de poetas como Bilac e também satirizado por outros poetas. Nas escolas a noção do Brasil como uma pátria perfeita criada por heróis era colocada desde os livros-didáticos até no discurso dos professores.
            Em períodos ditatoriais, o patriotismo poderia ser usado como forma de manipulação da massa através de discursos de líderes autoritários que criaram a ideia de “nação” como uma união de pessoas que obedecia um mesmo ideal, sendo este ideal o estratagema política da vez. Até pouco tempo atrás, todas as manhãs os alunos, organizados em filas, cantavam o hino nacional e faziam a oração da manhã antes de entrar para a sala de aula. Isto era um sinal de respeito à pátria, reflexo de um passado extremamente patriota. Acontece que, o significado de patriotismo no Brasil mudou conforme cada época, cada estilo de vida, inclusive, há tempos atrás, o patriotismo foi muito criticado por descartar os regionalismos, as diversidades do país.
            Então, o que é ser patriota nos dias de hoje? Digamos que, para ser patriota é necessário conhecer a sua pátria, ou seja, a sua história. É conhecer, por exemplo, o que foi a Proclamação da República e porque este dia é feriado até hoje. Ser patriota nos dias de hoje, não é ser nacionalista ao extremo, é exigir seus direitos, como o de ter sua representatividade na democracia da nossa República e ir às urnas escolher os dirigentes políticos da pátria. Dentre tantas práticas patriotas, ser patriota não é só ter orgulho de ser brasileiro, é ter consciência dos problemas do país e lutar pela sua superação a fim de garantir a melhoria da vida da nossa República Federativa do Brasil, que tanto lutou para nascer.

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO", BARRETOS/SP, EM 12 DE NOVEMBRO DE 2010.

PALAVRAS NA HISTÓRIA


            As palavras tentam nos dizer muito sobre tudo aquilo que intentamos saber, no entanto, nem sempre estamos preparados e dispostos a entender os significados que elas nos trazem. No mundo atual, as informações correm soltas e as palavras são lidas dia-a-dia na tentativa de traduzir aquilo que vivemos, uma linguagem composta por significados que transcendem a própria realidade. Ou seja, as palavras que compõem belas mensagens, grandes reflexões e frases exclamativas são a tradução da nossa história do tempo presente.
            Ao longo da história da humanidade aconteceram algumas transformações sociais, políticas, econômicas e culturais que caracterizaram as grandes revoluções. Podemos avaliar algumas delas e verificar as palavras que tentavam exprimir a situação presente e o futuro almejado. Pois bem, peguemos o exemplo mais comum ao se estudar História, a Revolução Francesa. Neste momento histórico, a burguesia e as camadas populares exclamavam nas ruas parisienses: Liberdade, Igualdade e Fraternidade, isto é, o desejo do povo de se libertar de um governo corrupto e ocioso. Já a monarquia francesa, vivente de outra mentalidade, respondia a este momento de outra forma, por exemplo, quando indagada sobre o que se deveria fazer com os franceses que nem pão tinham para comer, a Rainha Maria Antonieta respondeu: “Oras, se não tem pão, dê bolos a eles!”. Certamente, estas palavras da Rainha francesa ficariam para a história, já que influenciou ainda mais a vontade do povo para um novo regime: a República! É claro que as palavras Liberdade, Igualdade e Fraternidade, na época em que foram exclamadas, não pareciam alcançar o êxito que alcançaram mais tarde, afinal, caros leitores, já imaginaram como poderiam estar o mundo hoje se não fossem elas?
            Em outra abordagem, as palavras que traduziam certas vontades da elite ditatorial brasileira eram: “Brasil, ame-o ou deixe-o!”, o que será que essas palavras queriam dizer? É de se imaginar, não é? Além disso, também tivemos no Brasil certas linguagens que demonstravam o estilo de vida da época, por exemplo, no século XIX as pessoas usavam muito as expressões “maldito”, “bendito” e os nomes das mulheres quase sempre terminavam em “de Jesus”. Isto parece demonstrar a grande influência religiosa que as pessoas da época possuíam em suas mentalidades.
            Enfim, quais serão as palavras que utilizamos hoje e que traduzem a nossa história? Talvez até possamos identificá-las, mas como será a interpretação dos historiadores do futuro sobre as nossas realizações, conflitos e desejos? Como diziam os bacharéis no fim do século XIX: “Alea jacta est”, a sorte está lançada!

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO", BARRETOS/SP, EM 5 DE NOVEMBRO DE 2010.

APERTOS E DESAPERTOS


            Mulheres, vocês conseguiriam imaginar como seria o nosso dia-a-dia se tivéssemos que usar espartilhos? Em muitas telas de pintores famosos dos séculos XV em diante aparecem mulheres fidalgas dotadas de belos vestidos com uma fina silhueta e um belo colo.  Como outra referência, a literatura brasileira do século XIX também enaltece a mulher sedutora como aquela que era portadora de uma delicada cintura. As novelas de época são outras fontes históricas que ilustram esta condição feminina no universo patriarcal. Junto a tamanha sedução também existe a mentalidade religiosa de outras épocas, então o que pensar a respeito dos símbolos do universo feminino ao longo dos tempos?
            Sabe-se que os espartilhos foram usados por mais de quinhentos anos pelas mulheres e que, em algumas épocas, eles eram peças que as acompanhavam desde a primeira menstruação até a morte. Tanto a composição do espartilho tanto o que ele significava são ícones que mudavam conforme as mentalidades das épocas. Por exemplo, no início, isto é, ainda na Idade Média, a mentalidade religiosa predominava em todos os hábitos dos europeus, inclusive nas roupas. Então, as mulheres usavam por baixo do vestido uma espécie de envelope de couro e panos duros para não moldar suas formas e preservar seus pudores.
            Com o passar do tempo, túnicas com cordões e corpetes amarrados tornaram-se parte do vestuário feminino e aos poucos obrigatórios no guarda-roupa das mulheres abastadas. Estes vestuários eram feitos por alfaiates da época, porém, a história diz que eles não eram nada sensíveis, fato que fez surgir as “corsetières”, mulheres que costuravam os espartilhos e inventavam opções mais leves e novos apetrechos. No Brasil, as mulheres passaram a usar espartilhos a partir de 1808, com a vida da família real, pois, foi neste momento que chegaram as revistas de moda européia. Junto aos espartilhos vieram os chapéus de pluma, as luvas e os sapatos de salto alto, estes artefatos notoriamente remetiam a significados da improdutividade e sedentarismo.
            A moda do espartilho afrouxou-se somente a partir do século XX, quando as mulheres assumiram suas condições de trabalhadoras, muitas vezes porque os homens estavam em guerras. Como trabalhadoras, elas necessitavam de roupas mais frouxas e confortáveis e mesmo aquelas mulheres mais ricas abandonaram o apertado vestuário, já que não tinham mais as criadas para ajudá-las no ritual diário de colocar o espartilho. E assim crescia o movimento em libertação da cintura...
Hoje a condição da mulher esta intimamente ligada com o trabalho externo e com a necessidade de roupas cada vez mais confortáveis e elegantes. Afinal, o que deveria predominar no mundo atual da moda é: ser elegante é estar confortável.

REFERÊNCIA: Revista Aventuras na História, reportagem de Érica Georgino. Nov. 2010.

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO" (BARRETOS/SP), EM 29 DE OUTUBRO DE 2010. 

MODERNIDADE?


            Caro leitor, você acha que vivemos numa sociedade altamente moderna? Sem se comprometer com grandes teorias de especialistas, poderíamos imaginar que modernidade é quando uma dada sociedade passa a vivenciar um novo momento por conta de evoluções tecnológicas, as quais, além de transformar a vida de um povo, também quebram parte das tradições e costumes antigos. Como a tecnologia esta sempre evoluindo, poderíamos pensar que a nossa sociedade é a mais moderna, certo? Errado! Na realidade, ao longo da história da humanidade, todas as sociedades passaram por transformações e todas elas viveram com o melhor que podiam de acordo com as condições das tecnologias de suas épocas. Por isso, todas as épocas tiveram aquilo que consideravam como “atrasado” e como “moderno”. Este cenário é visível até mesmo em Barretos, uma vez que passamos por épocas diferentes no que diz respeito à tecnologia, aos modos de vida, a habitação, aos serviços públicos, dentre outros.
            Em certo artigo, ainda com seu pseudônimo de Caa-Ubi, Osório Rocha narrou sua chegada a Barretos e, no início, não gostou tanto do pequeno arraial, pois, como ele mesmo narrou: “Não sei como é que você agüenta isso! Que atraso! Ruas esbura]cadas e poeirentas, ceras de tabuas, escuridão, falta de banda de música, de banheiro e de engraxate! Eu não quero ficar aqui!”. Mas, ficou, e para sempre. Ele mesmo disse que “com o tempo a gente vai se acostumando, e depois não quer mais ir-se embora”. Além disso, tempos depois, ele foi o maior defensor do patrimônio histórico da cidade, criticando as construções modernas “no coração da cidade”.
            O fato é que tudo o que Osório disse que não tinha na época em que ele chegou aos poucos foi tomando cores, pois, Barretos se adaptava às condições de cada contexto histórico e todas as novidades que surgiam era motivo de glória. Por exemplo, a iluminação só chegou em 1911, mas as propagandas de jornais exaltavam a iluminação dos teatros à gás acetileno, que, na época, era o que mais tinha de moderno. Já na década de 40, o Cine-Barretos valorizava em sua propaganda o ar-condicionado do cinema, tão exuberante para a época. E assim fomos caminhando, até que na década de 60, a palavra da vez era “progresso” e as propagandas das máquinas agrícolas, redes de combustíveis, veículos automotores foram tomando conta do cenário “moderno”.
            Como disse Urbano F. Canôas, em outro artigo, “a pavimentação e o asfalto alijaram a poeira e a lama, dando à cidade o seu aspecto de limpeza e civilização”. O interessante de tudo isso, é que já no começo do século XX, quando a cidade ainda vivia sob poeira e lama, a mais notória mudança já era tida como um “aspecto de civilização”. Em outras palavras, todas as épocas consideravam suas mudanças, e conseqüentemente o rompimento com o passado “atrasado”, como algo “moderno” e honroso.
            Por fim, percebemos que pensar em modernidade é algo relativo, já que cada “evolução” aconteceu com as condições devidamente apropriadas a cada época. Logo, cada mudança foi suficientemente importante para promover outras, outras e outras...

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO", BARRETOS/SP, EM 22 DE OUTUBRO DE 2010.