domingo, 17 de maio de 2020

SIMILARIDADES ENTRE 1918 E 2020

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" EM 12 DE MAIO DE 2020 
(página 2) PELA PROFª KARLA ARMANI MEDEIROS 

Revista "A Careta", Rio de Janeiro/RJ, ed. 537,
05/10/1918, p. 13 - Arquivo da Biblioteca Nacional.

            Quando comparadas as realidades da Gripe Espanhola de 1918 e a pandemia do coronavírus de 2020, notam-se características similares envolvendo o comportamento da saúde pública, dos governos e da população. Diga-se de passagem, as pandemias são ricos objetos de estudo à História, pois além de evidenciar questões sanitárias, revelam as maneiras pelas quais a humanidade se comporta nestas ocasiões. Assim, estudar pandemias é conhecer a sociedade em sua natureza essencial; em tempos de crise.
            Em 1918, quando a “hespanhola” aportou no Brasil, pelo navio Demerara, ela dizimou cerca de 35 mil brasileiros. Contam os estudos que, no início, um sentimento de imunidade pairava na população, subestimando a real gravidade. Um fator que contribuía para isso era a divulgação de teorias conspiratórias. Revistas famosas na época, como “A Careta”, publicavam reportagens e charges direcionando aos “alemães” a culpa da chegada da doença no país, divulgando teorias de que eles colocavam os vírus em garrafas e as espalhavam pelo litoral brasileiro através de seus submarinos. Lembrando que o contexto era da 1ª Guerra Mundial, em que o Brasil havia declarado guerra à Alemanha justamente por ataques de submarianos contra navios brasileiros.
            Quanto à medicina, por mais que os médicos reconhecessem que o distanciamento social era adequado e recomendado, pelo menos em boa parte do país, parece não ter havido quarentena – visto que a consideravam ineficaz frente ao rápido contágio da gripe. Isso acontecia porque os médicos não conheciam a estrutura genética do vírus, e nem sua real forma de transmissão. A suposta salvação vista no “sal de quinino” também fez as prateleiras das farmácias esvaziarem-se deste medicamento – então usado para o tratamento da malária; porém, sem resultados eficazes contra a gripe.
            Teorias de conspiração, bodes expiatórios, xenofobia, sentimento de imunidade, excepcionalidade sanitária, negação da realidade, crenças de salvação, hospitais provisórios, mortes e mais mortes. Tudo isso em 1918. E agora, lhes parece familiar?

Fonte:
GOULART, Adriana da Costa. Revisitando a espanhola: a gripe pandêmica de 1918 no Rio de Janeiro. Hist. cienc. saude-Manguinhos,  Rio de Janeiro ,  v. 12, n. 1, p. 101-142,  Apr.  2005 .   Available from . access on  17  May  2020.  https://doi.org/10.1590/S0104-59702005000100006.

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