ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" EM 12 DE MAIO DE 2020
(página 2) PELA PROFª KARLA ARMANI MEDEIROS
Revista "A Careta", Rio de Janeiro/RJ, ed. 537, 05/10/1918, p. 13 - Arquivo da Biblioteca Nacional. |
Quando comparadas as realidades da
Gripe Espanhola de 1918 e a pandemia do coronavírus de 2020, notam-se
características similares envolvendo o comportamento da saúde pública, dos
governos e da população. Diga-se de passagem, as pandemias são ricos objetos de
estudo à História, pois além de evidenciar questões sanitárias, revelam as
maneiras pelas quais a humanidade se comporta nestas ocasiões. Assim, estudar
pandemias é conhecer a sociedade em sua natureza essencial; em tempos de crise.
Em 1918, quando a “hespanhola”
aportou no Brasil, pelo navio Demerara, ela dizimou cerca de 35 mil brasileiros.
Contam os estudos que, no início, um sentimento de imunidade pairava na
população, subestimando a real gravidade. Um fator que contribuía para isso era
a divulgação de teorias conspiratórias. Revistas famosas na época, como “A
Careta”, publicavam reportagens e charges direcionando aos “alemães” a culpa da
chegada da doença no país, divulgando teorias de que eles colocavam os vírus em
garrafas e as espalhavam pelo litoral brasileiro através de seus submarinos.
Lembrando que o contexto era da 1ª Guerra Mundial, em que o Brasil havia
declarado guerra à Alemanha justamente por ataques de submarianos contra navios
brasileiros.
Quanto à medicina, por mais que os
médicos reconhecessem que o distanciamento social era adequado e recomendado,
pelo menos em boa parte do país, parece não ter havido quarentena – visto que a
consideravam ineficaz frente ao rápido contágio da gripe. Isso acontecia porque
os médicos não conheciam a estrutura genética do vírus, e nem sua real forma de
transmissão. A suposta salvação vista no “sal de quinino” também fez as
prateleiras das farmácias esvaziarem-se deste medicamento – então usado para o
tratamento da malária; porém, sem resultados eficazes contra a gripe.
Teorias de conspiração, bodes
expiatórios, xenofobia, sentimento de imunidade, excepcionalidade sanitária, negação
da realidade, crenças de salvação, hospitais provisórios, mortes e mais mortes.
Tudo isso em 1918. E agora, lhes parece familiar?
Fonte:
GOULART, Adriana da Costa. Revisitando a espanhola: a gripe pandêmica de 1918 no Rio de Janeiro. Hist. cienc. saude-Manguinhos, Rio de Janeiro , v. 12, n. 1, p. 101-142, Apr. 2005 . Available from . access on 17 May 2020. https://doi.org/10.1590/S0104-59702005000100006.
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