Livro "Por trás da estante: Histórias da Meia-Noite de Machado de Assis", de Vizette Priscila Seidel. (Autor da capa e imagem: Guilherme Silveira). |
Escrever sobre a história da própria cidade não é somente (re)construir o seu passado, mas também promover reflexão, cultura e identidade; é tornar a profissão do historiador um nobre ato de cidadania. Aqui, Barretos é fonte e caminho para a construção da História.
terça-feira, 27 de outubro de 2020
“POR TRÁS DA ESTANTE”
terça-feira, 20 de outubro de 2020
DR. PAMPLONA
ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" EM 20 DE OUTUBRO DE 2020 (página 2) PELA PROFª KARLA ARMANI MEDEIROS
Dia 18 de outubro foi comemorado o
“dia do médico”. Uma categoria profissional que, em Barretos, sempre se
destacou pela participação no desenvolvimento da cidade e na vida política e
social. E assim foi desde o início.
Barretos
no início do século XX, apesar de isolada e pequena, era uma localidade atraente
a novos moradores, essencialmente a profissionais liberais que enxergavam na
economia pecuária e seu comércio uma oportunidade de viabilizar carreira. Deste
modo, desde 1900, médicos recém formados se estabeleceram na cidade; nem sempre
atendendo em clínica, e sim em domicílio, hotel ou pensão. Isso porque foi
somente em 1912 que a cidade ganhou seu primeiro hospital, a Casa de Caridade,
através da Sociedade Espírita “25 de dezembro”. Esse primitivo hospital,
comandado pelo dr. Raymundo Mariano Dias, contava com 7 médicos e funcionou até
pouco tempo antes da inauguração da Santa Casa de Misericórdia, em 1921. Um dos
médicos da Casa de Caridade tornou-se o primeiro diretor clínico da Santa Casa,
e por lá atuou durante toda a década de 1920. Chamava-se Henrique Pamplona de
Menezes.
Conhecido
como “dr. Pamplona”, era formado pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, em
1884, e quando veio a Barretos, nos anos 1910, já era um médico experiente.
Ainda na faculdade, defendeu a tese intitulada “Operação Cesariana” – um
assunto novo à época - assim como os trabalhos: “Opio”, “Da febre” e “Parallelo
entre a talha e a lithotricia”. Pelas pesquisas, vê-se que, na Santa Casa, ele
atuou de forma enérgica na transformação do espaço, que tinha um forte cunho
religioso, em um ambiente médico, regido pelos padrões da ciência, higienismo e
asseio. Sua atuação foi de fato pela saúde pública. Recebia agentes da saúde
pública e privada brasileira na Santa Casa, assim como os diversos visitantes
ilustres, e preocupou-se em viabilizar à cidade o hospital que daqui há alguns
meses comemorará 100 anos.
Ao
dr. Pamplona, uma homenagem pelo Dia do Médico.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:
ARMANI, Karla O. Caridade e Ciência: sociabilidade e poder na Santa Casa de Misericórdia de Barretos. Trabalho de Conclusão de Curso de Pós Graduação em História, Cultura e Sociedade. Ribeirão Preto: Centro Universitário Barão de Mauá, 2012.
quarta-feira, 14 de outubro de 2020
A PERSISTÊNCIA DOS PROFESSORES
ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" EM 14 DE OUTUBRO DE 2020 (página 2) PELA PROFª KARLA ARMANI MEDEIROS
Escola Municipal em Barretos no ano de 1909, antes de existir o ensino primário obrigatório e gratuito. Fonte: Arquivo do Grêmio Literário e Recreativo de Barretos. |
Quando um historiador entrevista
pessoas mais velhas, geralmente, encontra-se um ponto em comum entre as falas
(independente do gênero e da localidade): o estudo restrito à alfabetização
inicial e ao ensino primário. São poucas as pessoas que até os anos 1940 e 1950
conseguiam avançar para o ginasial e concluir as etapas da escola.
No
entanto, imaginem como era o trabalho dos professores quando nem ensino
primário existia? No caso de Barretos, o ensino primário obrigatório e gratuito
ocorreu a partir de 1912 com a inauguração do 1º Grupo Escolar. Antes disso,
existiam as “escolas isoladas”, que, além de não atenderem a todas as crianças,
enfrentavam uma série de dificuldades estruturais e a falta de apoio dos pais e
de autoridades locais. Um exemplo disso é a carta da Profª Laurinda Escobar de
1890, em Barretos, analisada na tese de doutorado do Profº Humberto Perinelli
Neto, que assim exclamava: “Esta escola até ao presente nenhum auxilio
mereceu, não obstante o vivo interesse que por ella tenho tomado; [...]. Lutando
com a falta de cômodos e condições pedagógicas apropriados ao emprego dos
mettodos modernos, [...] , lamento que ate o presente não tenha baixado um
luminoso decreto, tornando o ensino primário obrigatório. Este palpitante
melhoramento ansiosamente almejado pelo Professorado todo, ávido por ver
coroado seus árduos esforços do mais feliz êxito, alem de arrancar a nossa
sociedade deste estado enervado em que se acha, vem rodear de prestigio aquella
infeliz classe, que actualmente só tem deveres a cumprir sem o mínimo direito a
alegar”.
Interessante como no distante século XIX, a figura do professor já era presente e persistente nos desígnios da Educação. Viva essa persistência!
Fonte:
PERINELLI NETO, Humberto. Nos quintais do Brasil: homens, pecuária, complexo cafeeiro e modernidade - Barretos (1854-1931). -Franca: UNESP, 2009 (tese de Doutoramento em História).
terça-feira, 6 de outubro de 2020
CONCURSOS DE ROBUSTEZ INFANTIL
ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" EM 6 DE OUTUBRO DE 2020 (página 2) PELA PROFª KARLA ARMANI MEDEIROS
Crianças se apresentando em concurso de robustez infantil em Barretos - ano de 1937. Fonte: Arquivo iconográfico do Museu "Ruy Menezes". |
Era 1902, quando surgiu o primeiro
concurso de “robustez infantil” no Brasil, organizado pelo médico Arthur
Moncorvo Filho, com o objetivo de incentivar o aleitamento materno. De lá até
metade do século XX, os concursos foram realizados por instituições de diversas
naturezas, considerando a saúde e o vigor das crianças. Para tal, eram
avaliados a idade, peso, altura, dentição, higiene e desenvolvimento, a fim de
se estimular os cuidados e asseios com os pequenos e a relação com os pais.
Inclusive, os concursos eram patrocinados por empresas das cidades e ofertavam
prêmios às mães das crianças vencedoras. Embora fosse este o discurso
principal, principalmente nas instituições médicas e de puericultura, é claro
que tais concursos eram alinhados às políticas de governo em certas épocas, uma
vez que a criação de indivíduos saudáveis repercutia num excelente cenário
nacional.
Em Barretos, especialmente durante o
período do “Estado-Novo” do presidente Vargas, no início dos anos 1940, foram
organizados anuais concursos de robustez infantil em datas como o “dia da
criança” e “Natal”. As instituições que mais aparecem na imprensa da época
organizando tais concursos foram o “Rotary Clube de Barretos”, a “Legião
Brasileira de Assistência” e a “Associação de Assistência à Maternidade e à
Infância”. Esta, criada em 1942, promovia concursos de robustez infantil
voltados às crianças matriculadas em seu lactário; um público carente, cujas
mães também recebiam orientações no Posto de Puericultura da mesma instituição.
Os concursos tanto do Rotary quanto da AAMI dividiam-se entre categorias de
idades e tinham a participação de médicos da cidade como selecionadores. A
premiação acontecia nos salões do Grêmio Literário com entrega de brinquedos a
todas as crianças.
O olhar sobre as crianças é também objeto de estudo da História.
Fontes:
FREIRE, Maria Martha de Luna; LEONY, Vinícius da Silva. A caridade científica: Moncorvo Filho e o Instituto de Proteção e Assistência à Infância do Rio de Janeiro (1899-1930). Hist. cienc. saude-Manguinhos, Rio de Janeiro , v. 18, supl. 1, p. 199-225, Dec. 2011 . Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-59702011000500011&lng=en&nrm=iso>. access on 05 Oct. 2020. http://dx.doi.org/10.1590/S0104-59702011000500011.
- Texto do Arquivo Nacional (2019).
- Jornal "Correio de Barretos", edições de 31/12/1942, 25/12/1943 e 17/9/1944. Acervo: hemeroteca do Museu Histórico, Artístico e Folclórico "Ruy Menezes".