terça-feira, 5 de janeiro de 2021

CARTA A 2021

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" EM 5 DE JANEIRO DE 2021 (página 2) PELA PROFª KARLA ARMANI MEDEIROS    


Querido, 2021.

Aliás, estimado, 2021.

Você foi muito esperado, e você sabe disso. A virada do ano foi um grande alívio aos corações apertados pelos sufocos de 2020. À meia-noite, entre dedos entrelaçados, olhos fechados, respiração profunda e queixo para o alto, o sentimento foi “ufa”. É bom que você saiba que todos os filhos desta pandemia esperam de você melhores notícias e oportunidades, mas, sobretudo: saúde. A palavra para você é: saúde. E vacina.

2020 nos pegou de surpresa. Já a você esperamos certeza. Apostamos em você toda a esperança que o ser humano pode acumular. Diante de você lançamos estudos, dados, estatísticas e cronogramas; precisamos que você nos dê resultados, mesmo que seja fase a fase. Sim, nós sabemos, é uma grande responsabilidade sobre seus ombros, mas a verdade é que você é o nosso púlpito de fé. Até mesmo àqueles que não tem.

Não se desespere, você vai conseguir. Nós sabemos que você não trará a cura do vírus que ora nos assola, nem tampouco levará vacina a todos os braços e menos ainda recuperará a economia de forma integral. Enxergamos você como uma transição, como uma ponte a um futuro em que poderemos nos despir das máscaras. Falando nelas, sabemos que teremos de ampliar nossa coleção, mesmo que a vacina tenha chegado em parte. Não temos problema quanto a isso, as máscaras nos serão companheiras, assim como o álcool e às demais medidas. Quanto aos que não respeitarem, sabemos que você tornará claras as consequências do descaso.

Falando com você desta forma, te pedindo ações e prevendo suas reações, parece que estamos te “humanizando”. E talvez seja isso mesmo, porque esperamos tanto pela sua vinda, que parece que você se tornou uma entidade. Não nos surpreenda, apenas permita-se ser a ponte da nossa esperança, de um futuro com respiração livre e de abraços. Nós precisamos de abraços. Assinado: o presente.

E SE? (Parte 5)

 ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" EM 30 DE DEZEMBRO DE 2020 (página 2) PELA PROFª KARLA ARMANI MEDEIROS  

Se eu pudesse voltar no tempo, provocativa como sou, chamaria o Conselheiro Antônio Prado para uma conversa séria e dele tentaria arrancar suas reais impressões sobre Barretos, o motivo de tanto investimento na boca do sertão. E, aproveitando que a praça da estação possui o nome dele, eu prestaria bastante atenção na posição exata da primeira estação de 1909, pequena, só para confirmar a minha ideia de que ela ficava exatamente onde se encontra a atual.

Eu voltaria ao final do século XIX, quando a praça ainda não era ajardinada e se chamava “Nossa Senhora da Conceição”, só para visualizar as casas de estilo colonial ao seu entorno, e como era enxergar na colina do outro lado da cidade, a primeira capelinha do Rosário. Ah, como eu tenho curiosidade para saber como era essa capelinha... Aproveitando o centro da cidade, eu correria para ver a fachada do “Colégio São João”, do Cel. Almeida Pinto, só para ver o icônico letreiro “Ave Lux”.

Pulando o tempo, eu observaria atenta a ida e o retorno, na estação, dos jovens pracinhas que de Barretos saíram para lutar nas cidades italianas durante a 2ª Guerra Mundial. Queria muito ver o Bezerrinha fardado junto ao seu violão, e o sr. Luiz Brandão tão jovem. Em falar em confronto, eu assistiria – escondida, é claro – aos tiroteios épicos que a cidade viveu, especialmente aquele no teatro em 1919, em véspera de eleição, outros tantos na “casa branca” do dr. Antônio Olympio e o lendário tiroteiro na Estação em 1932. Assistiria boquiaberta o revolucionário Filogônio prendendo o delegado na cadeia e iniciando sua revolta em 1925, esperando a Coluna Prestes passar.

Mas, se de verdade eu pudesse voltar no tempo, 1918 seria meu destino só para ver como os barretenses realmente lidaram com a pandemia da Gripe Espanhola, num momento em que nem vacina era cogitada para tal. Só para ter o gosto de sentir como no presente somos “privilegiados”, sabendo da pandemia futura de 2020. [fim] [na verdade sem fim, porque as lacunas na história da cidade só se multiplicam].

E SE? (Parte 4)

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" EM 25 DE DEZEMBRO DE 2020 (página 2) PELA PROFª KARLA ARMANI MEDEIROS            

Se eu pudesse voltar no tempo, curiosa como sou, ficaria admirando a arquitetura da segunda igreja matriz, aquela que foi demolida para se construir a atual. As fotos que existem dela mostram-na somente em sua lateral e traseira, eu queria tanto poder vê-la defronte, admirando sua arquitetura do século XIX. Assim como eu ficaria contemplando a arquibancada “lindíssima” do primeiro hipódromo de Barretos, de 1919, construído no território atual do Unifeb; onde os barretenses se entretinham.

Eu presenciaria o nascimento da Loja Maçônica Fraternidade Paulista, em 1897, só para ter a oportunidade de conversar com seu fundador Joaquim Fernando de Barros e pedir para ele me contar sobre as ideias do separatismo paulista que ele defendia décadas antes. Adoraria saber das ideias do Padre José Ceccere, fundador do Grêmio, que havia escrito, no começo do século XX, o livro “Questões Vitais” (eu imploraria para ele me dar um exemplar, já que hoje não encontro nenhum). Na mesma época, eu indagaria o juiz Dr. João Baptista Martins de Menezes sobre como era a vida de estudante de Direito no Largo São Francisco anos antes da Abolição. Perguntaria também sobre como de fato se deu a ajuda dele na comunidade da Igreja do Rosário. Em falar nisso, eu faria de tudo para conhecer a Sra. Victorina Osória Silvares, aquela que doou as terras para além da estação à comunidade do Rosário. Vi que ela se divorciou de Francisco Silvares, em 1915, e queria conversar com ela sobre isso. 

Gostaria de saber como, de verdade, foi a notícia do suicídio do presidente Vargas, um dia antes das comemorações do Centenário da cidade, e saber como foi a alteração dessa programação. Queria saber de Zé de Ávila se para ser um bom trovador era necessário ser tão alto como ele ou se só bastaria um coração sensível. Ouviria atentamente o Profº Aymoré do Brasil executar o Hino Barretense pela primeira vez, em 1950. Fausto Lex eu não deixaria em paz, queria saber tudo sobre as suas descobertas científicas na bacia do Rio Grande e sobre seu conhecimento indígena. [continua...].