sexta-feira, 29 de agosto de 2008

AMOR: Presente para Joanita!

Pelo alto sertão goiano, em fins da década de 50, acontecia uma bela e aventureira história de amor. A protagonista é Joanita Ramos de Oliveira, filha do escrivão Jacinto Ramos e da dona de casa Adélia Amélia Ramos, era a sétima filha dos dez filhos do casal. Nasceu em 31 de agosto de 1940, na cidade de Nerópolis, estado de Goiás. A destemida moça cresceu em meio aos tradicionais costumes da época, e sua vida era restrita “aos olhares de seu pai e de seus irmãos”. Nos seus nobres dezenoves anos, sonhava em encontrar um rapaz diferente de sua realidade e sempre aproveitava ocasiões como as quermesses ou bailes para colocar o melhor vestido e dançar a noite toda.
Foi então que no final do ano de 1959, o barretense Antônio Ribeiro de Oliveira chegara na pacata cidadezinha goiana, afim de trabalhar por algum tempo com sua tia. Certa vez, o forasteiro montado num burro, avistou a linda mocinha “de cintura fina e lindos cabelos castanhos”, caminhando no sentido contrário ao seu, em uma estrada de terra. Apaixonaram-se! E mesmo com o passar dos dias, Antônio não mediu esforços em descobrir sequer o seu nome, para lhe fazer uma serenata.
Em uma dessas tentativas, Antônio percebeu o acaso: Joanita era irmã de um de seus melhores amigos, Benedito, vulgo “Véi”. Quando o mesmo descobriu a paixão entre os jovens, contou a seu pai Jacinto. Este, não aceitou de modo algum o namoro entre o casal, já que Antônio era pobre. A paixão, entretanto, falou mais alto e, em apenas alguns dias, os dois amantes fugiram! Depois de uma viagem arriscada, vieram para Barretos, e no dia 30 de janeiro de 1960 casaram-se, tendo, em seguida, os filhos: Norma Francisca, Ivone, Maria Perpétua, Marco Antônio, Elizabeth e Marcelo, todos apaixonados pela história dos pais.
Escrevi aqui alguns traços da vida de uma das pessoas mais importantes para mim, alguém que certamente me ensinou a respirar, sentir e viver, minha querida avó. Domingo próximo, ela completa 68 anos, vividos com muitas batalhas e amor! Hoje, além de mãe, é avó de 15 netos e futura bisavó de 2 bisnetos. Com sua beleza elementar foi “Miss 3ª Idade”, em 2003, e encanta a todos com seu ''jeitinho goiano'' de falar e sua comida apimentada. Minha avó: EU TE AMO! Agradeço por existir e por ter acreditado no singelo amor do vovô, no que resultou na nossa família. Nesta data única, te desejo essencialmente: VIDA! Pois, sua história, “Vó Joana”, continua...!
Um beijo no seu coração. Da sua neta escritora, como você tanto gosta de dizer.
ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL ''O DIÁRIO'' (BARRETOS / SP), EM 28 DE AGOSTO DE 2008.

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Saudações e Vivas


O Museu “Ruy Menezes” apresenta a Exposição: “Reminiscências... Teatro Barretense”, até o dia 16 de setembro. O tema é bastante interessante, na medida em que podemos observar toda a trajetória histórica do teatro, junto ao cinema. Além disso, são destacados alguns artistas e teatrólogos barretenses, que brilharam nos nossos palcos e complementam nossa história.
Segundo os registros do jornal “O Sertanejo”, a primeira peça teatral realizada na cidade aconteceu em de 14 de abril de 1900 e a primeira sessão de cinema foi em 04 de outubro de 1901. Logo, o Cine-Barretos foi inaugurado em 17 de dezembro de 1946, com o filme “Amar foi minha ruína”. Por conseguinte, tivemos também as atividades do Cine-Centenário e Cine-Tetéia. O primeiro Teatro de Barretos fora o “Teatro Aurora” (1913), depois, o “Cine-Teatro Éden” (1915/16), incendiado em 1923, sendo as causas ainda não descobertas. Em seguida, a Empresa Teatral Paulista, trocou a denominação “Teatro Aurora” por “Teatro Santo Antônio”, em conta do hábito de colocar nomes de santos nas instituições.
Em 1917, foi fundado o “Grupo Dramático Amor à Arte”, com destaque para o nobre artista Hildebrando de Araujo. Na década de 20, Humberto Bevilacqua, Dermeval de Almeida e João Falcão foram salientados na arte do teatro amador, contracenando-se em várias peças. Tempos mais tarde, artistas como Eunice Espíndola e Luiz Carlos Arutim foram muito bem reconhecidos, em razão da participação em rede de televisão e cinema nacional. A cidade alcançou grande êxito também pelo trabalho do admirável dramaturgo barretense Jorge Andrade.
No âmbito de direção, interpretação e cenografia, tivemos a sólida contribuição do professor José Expedito Marques. No qual, fundou o “Teatro Experimental de Barretos”, o “Grupo Teatral Negro de Barretos” e o “Teatro Universitário de Barretos”. E, em 1976, João Falcão ao lado de José Antonio Merenda, fundaram o “Grupo Teatral Amor à Arte de Barretos”, (G.T.A.A.B).
Contudo, a história do teatro barretense continua e cabe a nós, cidadãos, estimular cada vez mais a arte teatral. Arte esta, originada, até “precocemente” em Barretos, no início do século XX, e construída por grandes personalidades, colaboradores do nosso aprimoramento cultural. Portanto, “Saudações” aos nossos vultos do teatro amador e “Vivas” aos nossos novos artistas do século XXI.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
ROCHA, Osório. Barretos de Outrora, 1954.
MENEZES, Ruy. Espiral –
História do Desenvolvimento de Barretos, 1985.
Jornal “Barretos Memórias” – fevereiro de 1988.

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL ''O DIÁRIO'' (BARRETOS / SP), EM 22 DE AGOSTO DE 2008.

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

SER E ESCREVER

É muito bom poder imaginar como os primeiros humanos registraram suas necessidades através da escrita. Melhor ainda é poder utilizar estas escritas como fontes históricas para o entendimento das antigas civilizações, bem como o modo de vida de nossos ancestrais. A partir disso, nota-se a pintura rupestre como forma de manifestação do homem, a fim de conotar seus desejos, suas necessidades, passar suas idéias, ou trocar mensagens com outros.
Historicamente, não é certa a data da primeira escrita existente, porém, sabe-se que entre o primeiro e o sexto milênio a.C., na Mesopotâmia, os povos sumérios elaboraram e desenvolveram a “escrita cuneiforme”. Feita em tábuas de argila, com auxílio de instrumentos em forma de cunha, a escrita suméria adaptou-se também a outras línguas, como a acadia, hitita e persa.
Em seqüência, muitas civilizações desenvolveram também suas respectivas escritas, muitas vezes, sob a autoridade de um soberano e ante a necessidade de controle administrativo. A civilização egípcia, por exemplo, deu origem à escrita demótica (popular, simples) e à hieroglífica (complexa, formada por desenhos e símbolos). Entre muitas funções, cabia somente ao escriba realizar, através da escrita, os registros contábeis e organizar a vida política e econômica da sociedade. Os instrumentos utilizados para escrever eram basicamente “objetos de metal, osso e marfim, largos e pontiagudos, plano, em forma de paleta”. E, depois, as tábuas de argila também passaram a registrar “inscrições votivas, comemorativas, narrações históricas, relatos épicos”.
Com o passar dos tempos, a escrita foi modificada e aprimorada de acordo com as precisões das épocas de determinados povos, de variados espaços geográficos. O fato é que, entre muitas contribuições, a escrita proporcionou a compreensão do nosso ser, a reflexão das nossas inquietações e permitiu que o pensamento do homem ultrapassasse as barreiras do tempo. Assim, faz-se com que o homem do futuro possa conhecer parcialmente a realidade de nosso presente. Pois, como disse a fabulosa e excêntrica escritora Clarice Lispector: “Eu não escrevo o que quero, escrevo o que sou.”

REFERÊNCIAS:
www.suapesquisa.com
www.forum.ufrj.br
ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL ''O DIÁRIO'' (BARRETOS / SP), EM 15 DE AGOSTO DE 2008.

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Do Berrante ao Celular


“Nossa viagem não é ligeira, ninguém tem pressa de chegar.
A nossa estrada é boiadeira, não interessa onde vai dar.”
(Comitiva Esperança – Almir Sater)


Quando indagamos sobre nossa própria cultura, percebemos que somos norteados também por um conjunto de tradições enraizadas no cotidiano. Pode-se dizer que, estas tradições estão presentes na arte, nas crenças, nas lendas, nas festas e, de certa forma, nas idéias. Forma-se, portanto, o que chamamos de folclore (folk = povo, lore = sabedoria), transferido de geração em geração. Entretanto, algumas manifestações desta “sabedoria popular” articulam-se ao ambiente tecnológico atual e, muitas vezes, podem perder sua originalidade.
Em nossa região sertaneja, existem alguns hábitos e objetos interessantes a serem estudados, para o entendimento de nossa cultura. Por exemplo: o berrante. É um instrumento de sopro, de difícil execução, tocado pelos peões nas antigas comitivas, transportadoras de boiadas. Segundo relatos, o berrante surgiu há três séculos atrás, época do início do tropeirismo, e era feito do chifre do boi “pedreiro”, cujos chifres podiam chegar a um metro e meio de comprimento. Posteriormente, os berrantes eram constituídos com anéis de prata e suas bocas mediam até quarenta centímetros.
Entre as funções do berrante, cada toque emitido pelo peão é entendido como uma senha, onde é avisada a hora do almoço, o toque de recolher, o toque de perigo e até mesmo é usado como orientação para o “sinueiro” (boi que comanda a boiada). São cinco os principais toques, “saída ou solta”: para despertar a boiada de manhã – toque sereno; “ estradão”: reanimar a boiada na estrada – toque repicado; “rebatedouro”: aviso de perigo – semelhante ao toque de clarim; “queima-do-alho”: hora do almoço; “floreia”: toque livre, poder ser uma música para diversão.
Portanto, verifica-se que o berrante é um meio de comunicação entre os peões, utilizado há muito tempo e compositor dos costumes sertanejos. Pode-se, então, associar o berrante ao aparelho celular, trazido pela atual tecnologia, e considerado um útil veículo de comunicação. Contudo, a nossa expectativa é que se preserve o berrante como o integrante primordial entre as atividades dos peões, a fim de não se perder as manifestações da tão complexa cultura caipira.


REFERÊNCIAS:
www.solbrilhando.com.br
www.osindependentes.com.br
AGRADEÇO AO "MAESTRO FRANCO PIERRE", UM APAIXONADO PELA CULTURA CAIPIRA, PELAS CONVERSAS TROCADAS E INFORMAÇÕES DADAS SOBRE O TEMA DO ARTIGO: BERRANTE.
ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL ''O DIÁRIO'' (BARRETOS/SP), EM 08 DE AGOSTO DE 2008.

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Ressonância

É bem verdade que a convivência entre os diversos povos do planeta produz o contato casual ou intencional entre eles. Foi desta forma que os portugueses encontraram os nativos da América e o choque entre as respectivas culturas sintetizou, de início, um notável estranhamento. Em seguida, os costumes de um povo e de outro se tornaram próximos e a pluralidade cultural assentou-se na formação da sociedade.
Não diferente, este quadro pode ser visto na nossa realidade, em nossa cidade, posto que, parte-se da premissa que a sociedade barretense também foi concretizada por uma fusão de culturas. Por isso, o conjunto dos padrões de comportamento, das crenças, das instituições e de outros valores morais e materiais foram articulados de acordo com tal associação. Nesse sentido, as imigrações italiana, alemã, austríaca, africana, árabe e japonesa podem ser relacionadas com a população sertaneja barretense, devido à união das culturas.
Neste contexto, Ruy Menezes descreveu a “paisagem humana de Barretos”, do início do século XX, como uma caboclada dominante, “de cor morena, pálida, olhos oblíquos, lembrando suas origens indígenas, miúda, de barbinha rala e nem sempre bem vestida”. Com efeito, o indivíduo sertanejo mantinha esta aparência e, além disso, costumava trabalhar de forma fundamentada na experiência vivida, ou seja, sem técnicas especializadas.
Em meio disto, a imigração italiana colaborou, entre muitos feitos, com o aprimoramento de certas técnicas profissionais. A partir de então, desenvolveram-se os ofícios de sapateiro, alfaiate, pedreiro, artesão e outros. Nota-se, também, a forte influência imigratória na arquitetura, desde os grandes palacetes e igrejas até as pequenas casas. No setor comerciário, os árabes tiveram seu destaque, já que acabaram por reformular estruturalmente o comércio da cidade.
Portanto, é válido salientar todas estas influências culturais recebidas pelas imigrações, pois, elas se tornaram novos costumes e hábitos para a formação da sociedade. Do mesmo modo, percebe-se a resistência da cultura sertaneja, caipira, que também influenciou as demais. Caso contrário, nós não manteríamos a língua e nem certas canções que demonstram a nossa realidade. Por assim dizer, a relação social mútua dos povos é semelhante a um sistema de ressonância, pois a cultura de um povo vibra como resposta aos impulsos recebidos da cultura de outro povo.


REFERÊNCIA:
MENEZES, Ruy. Espiral – História e desenvolvimento cultural de Barretos. 1985.