terça-feira, 28 de agosto de 2018

VELHAS FONTES, NOVAS HISTÓRIAS


ARTIGO PUBLICADO 
PELA PROFª ESP. KARLA ARMANI MEDEIROS, EM 28 DE AGOSTO DE 2018, NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS", PÁGINA 2

            Nas últimas semanas discutimos sobre o quanto a chamada “história de Barretos” pode ser plural a partir de releituras sobre suas principais fontes históricas. Sabemos que obras como “Barretos de Outrora”, “Espiral”, “Álbum Centenário” e outras tantas, são as fontes históricas de maior consulta aos historiadores e pesquisadores desde o século XX. Mas, elas podem ser melhor aproveitadas, se, analisadas de maneira mais ampla, questionando o contexto as quais foram escritas, as prioridades de assuntos e tateando novos personagens e grupos sociais tão importantes à formação da identidade barretense.
            Tais livros memorialistas, junto aos jornais antigos, fotografias e documentos públicos e privados (como atas da Câmara Municipal, de instituições, escolas, igrejas e cartórios) são ricas fontes que podem ser analisadas de forma crítica. Dentro dos 164 anos de fundação da cidade, existem inúmeros assuntos que podem ser tratados de forma específica. Sendo assim, a cidade torna-se foco de trabalhos sobre dados estatísticos e populacionais (em série), estudos de arte e iconografia, monumentos, patrimônios culturais, biografias, testemunhos orais, símbolos de protestos e resistência, acontecimentos civis e militares, movimentos sociais, dentre outras coisas.
            Estudos baseados em tais tipos de problematizações são aqueles condicionados por pesquisadores em universidades ou historiadores formados. São teses de doutorado e mestrado, artigos acadêmicos, livros ou trabalhos de conclusão de curso de graduação e pós-graduação. Esses tipos de publicações já existem sobre a nossa cidade, mas precisam ser melhor consultadas e divulgadas. Afinal, a “história de Barretos”, tão vislumbrada neste mês de agosto, nada mais é do que uma série de recortes sobre as mais de 16 décadas de fundação e dos milhares de habitantes circulantes por esse chão.
            Fica, portanto, o desejo de que os trabalhos científicos sobre a história da cidade continuem a ser produzidos, mais procurados pela imprensa, melhor propagados aos cidadãos e traduzidos de maneira adequada às crianças. Todos tendem a ganhar com isso.

quinta-feira, 23 de agosto de 2018

MESMAS FONTES, NOVOS OLHARES

Jesuíno da Silva Mello (Fonte: Álbum Com. do 1º Centenário de Barretos, p. 209)
Osório Rocha (Fonte: Jornal O Diário, 17/5/1992 p. 7)
ARTIGO PUBLICADO 
PELA PROFª ESP. KARLA ARMANI MEDEIROS, EM 22 DE AGOSTO DE 2018, NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS", PÁGINA 2

            O artigo da semana passada expôs a necessidade da “história da cidade” tornar-se plural a partir de novas temas, problemáticas e olhares (métodos).
            Mas, como é sempre dito por essa historiadora que humildemente escreve, o passado só é “historiografado” a partir das fontes. Sem fontes, não há onde buscar dados, criar hipóteses, percorrer objetivos e muito menos alcançar a história. E sobre Barretos, as fontes são diversas. Ricas! Encontramos vestígios em jornais, fotografias, documentos, objetos no Museu “Ruy Menezes” e até em plataformas online de arquivos públicos. Embora, seja notório que o mais preciso sobre nosso passado ainda esteja nas páginas amareladas de nossos jornais e nas linhas e mais linhas de livros memorialistas, como os eternos “Barretos de Outrora” (1954) e “Espiral” (1985).
            Desde 1900, o passado de Barretos é escrito em forma de “tradição” numa coluna do intelectual Jesuíno de Mello no Jornal “O Sertanejo”. Ali, uma primária (e bem feita!) história de Barretos foi construída com informações colhidas por documentos e entrevistas a moradores antigos. Já em 1954, Osório Rocha publica seu “Barretos de Outrora” com dados, datas, nomes e informações significativas sobre os primeiros moradores do antigo arraial e sua vida social, política e cultural. A obra de Osório Rocha possui depoimentos colhidos de populares que viveram nos anos 1900, permitindo traçar não só acontecimentos importantes, mas também locais de convivência e sociabilidade. É um livro denso, usado desde sempre por qualquer pesquisador que se aventure sobre o início de Barretos, com citações sobre posseiros, moradores, (i)migrantes, ex-escravos, professores, políticos, trabalhadores, visitantes, artistas, comerciantes, fazendeiros, etc.           Tais obras (e outras tantas) sobre Barretos não precisam ser consultadas somente a nível informativo. Elas podem ser analisadas por seu próprio discurso, pela biografia do autor e pelo contexto. É visível a diferença de texto, assuntos e prioridades entre as obras de Jesuíno, Osório e Ruy Menezes, por exemplo.
De que maneira, então, podemos olhar para estas “velhas fontes” e produzir “nova história”? Falaremos disso na semana próxima. Os 164 anos merecem essa discussão.

domingo, 19 de agosto de 2018

A “HISTÓRIA DA CIDADE” E SUAS RELEITURAS

ARTIGO PUBLICADO PELA PROFª ESP. KARLA ARMANI MEDEIROS, EM 15 DE AGOSTO DE 2018, NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS", PÁGINA 2

             Agosto é mês simbólico em Barretos. E os motivos são vários: comemoração do aniversário de fundação do antigo arraial, a festa do peão, o desfile do “dia da cidade” e as homenagens aos fundadores veiculadas pela imprensa, instituições e escolas. Por essas e outras, é visível que neste mês a “história da cidade” venha à tona, com destaque a seus principais personagens, fotografias antigas, entrevistas a historiadores, recortes de jornais antigos, dentre outras coisas.
            É em agosto que jornais, revistas e programas televisivos publicam reportagens especiais a respeito das famílias Barreto e Marques, da doação das terras à Igreja, da construção do arraial e suas primeiras atividades enquanto cidade. A história é revisitada todo ano. Uma visita anual aos mesmos personagens, locais e monumentos. O Museu torna-se abrigo por salvaguardar as fontes de informação. Os historiadores e pesquisadores são convidados a compartilhar este passado centenário.
            Mas, depois de 164 anos de fundação, será que realmente podemos singularizar tanto o passado da cidade a ponto de nomina-lo por apenas “história de Barretos”? Não teríamos mais temas, teorias e personalidades para conhecer e divulgar?
            Assim como a historiografia (a escrita da história) se transforma, a história da cidade pode ser escrita e contada de maneiras diferentes. Não significa que o dito e pesquisado até aqui está errado. Pelo contrário, é tudo muito válido e importante. Porém, é necessário reconstruirmos a história local com novos olhares, pautados em problemáticas, discussões e cruzamentos de fontes, análises de discurso, dados em séries e estatísticas, confrontos de teorias, observações iconográficas, etc. Releitura!
            Em 164 anos existem muitos temas, grupos sociais, locais, acontecimentos, movimentos, manifestos e personagens a serem conhecidos, estudados e compartilhados. Mas, para tal, é preciso que as fontes históricas (documentos, fotos, jornais, etc) passem a ser analisadas em novas perspectivas. As fontes são as mesmas, mas o tratamento delas e a escrita da história podem ser diferentes. Não existe uma “história de Barretos”, mas sim uma pluralidade dela. Vamos falar mais sobre isso este mês?     

sexta-feira, 10 de agosto de 2018

SOBRE LEITE MATERNO, SOBRE AMOR


ARTIGO PUBLICADO PELA PROFª ESP. KARLA ARMANI MEDEIROS, EM 09 DE AGOSTO DE 2018, NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS", PÁGINA 2

            Amor. Carinho. Acalento. Apego. Presença. Colo. Aconchego. Afeto. Abraço. Disponibilidade. Educação. Saúde. Família. Tempo. Consciência. Paciência. Perseverança. Dedicação. Informação. Intuição. Vínculo. Vida. Leite materno.
            Todas estas palavras não são simples substantivos, estão finalizadas por “ponto final” por representarem por si só uma frase inteira, declarativa. Porém, contextualmente unidas num parágrafo, simbolizam uma mesma ideia: a relação estrita entre o “aleitamento materno” e os sentimentos afetivos entre mãe e filho (e toda família).
            Foi com tais expressões que o Dr. José Martins Filho, pediatra e catedrático da Unicamp, palestrou no dia 2 de agosto sobre a importância do aleitamento materno para o bom desenvolvimento físico e emocional das crianças, além de seus resultados positivos à vida adulta.  Tal palestra foi parte da “Semana Municipal de Aleitamento Materno”, instituída inicialmente pela Lei n. 3.461 de 2001, mais tarde alterada pela Lei n. 5.432 de 2017 da Câmara Municipal. O evento contou ainda com a participação de mães do “Projeto Gerar”, que realiza diversos atos por toda cidade neste mês.
            Com 11 livros publicados, o Dr. Martins falou com propriedade sobre um assunto que é tão natural, mas ainda visto com complexidade, polêmica e desinformações. Em palavras simples, ele demonstrou que amamentar os bebês é um gesto paralelo à informação, resistência e coragem por parte das mães e necessita de incentivo da família; sendo seu resultado muito além do visível alimento transmitido pelo leite. A amamentação inicia um vínculo de afeto que deve ser estendido por toda a infância, para que as crianças se tornem adolescentes e adultos emocionalmente equilibrados e felizes, contribuindo para menores índices de depressão e violência na sociedade. O pediatra ainda tocou em assuntos importantes como o “olhar para mãe” neste período, devido a exterogestação, a licença maternidade e a terceirização da educação das crianças.
            Que este assunto volte às páginas do jornal, às redes sociais e aos lares familiares todas as semanas do ano, pois amamentar é natural, mas seu envolvimento social exige muito mais discussão. Afinal, um gesto de amor, como esse, merece valor. E clamor.         

quarta-feira, 1 de agosto de 2018

NOVELA É NOVELA!


ARTIGO PUBLICADO PELA PROFª ESP. KARLA ARMANI MEDEIROS, EM 01 DE AGOSTO DE 2018, NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS", PÁGINA 2  

            Nesta semana se findou a novela “Deus Salve o Rei”, transmitida pela Rede Globo na faixa de horário das 7h da noite. Inspirada em temas históricos da época medieval, a novela contou com cenários e figurinos correspondentes à proposta de “novela de época”. Como tal, a comparação da novela com a realidade histórica passa a ser inevitável, na mesma medida em que as críticas e elogios. Podemos então, falar um pouco sobre isso.
            É fato que a trama, roteiro, falas, personagens, figurinos e cenários nem sempre andam com a realidade histórica. Na verdade, quase não andam. Principalmente, quando se fala em tempo medieval, tão distante de nós e fortemente fantasiado por contos infantis. A época medieval, praticamente restrita à Europa, é estudada como um período de ruralização econômica, domínio religioso, relações sociais imóveis, descentralização política, guerras, saques e invasões. Mas, por outro lado, é famosa pelos castelos e suas muralhas, costumes, rituais e roupagens dos nobres, músicas, lendas e outras fantasias. E são tais elementos, atraentes ao público na literatura, que são sobressaltados em séries, filmes e telenovelas. Alguns mais fidedignos à época, como algumas séries estrangeiras.             Assim foi com a novela “Deus Salve o Rei”, a qual usou da História tão somente como inspiração à caracterização de cenas, paisagens e personagens. É equívoco querer criticar a novela comparando-a à realidade histórica, da mesma maneira que seus criadores e diretores não podem dizer o mesmo. Ali a História foi somente retrato e fotografia, não plataforma de exibição. Mesmo porque, o horário de apresentação e a faixa etária permitem uma trama com cenas romanceadas, toques de humor e alguns conflitos. O que não obscureceu a proposta de trabalhar temas atemporais: a vida predestinada por tradições, o livre-arbítrio e a vida do povo sentenciada pelas decisões de seus governantes.
            Sobretudo, à História cabe analisar as novelas pelo olhar da teledramaturgia (como um todo), discutindo sobre seus temas, autoria, direção, elenco, duração, cenário, público-alvo, proposta de obra (ficção, realidade ou inspiração literária), contexto de criação e época de transmissão. Afinal, novela é novela. Que a tratemos como tal.