quarta-feira, 31 de outubro de 2018

BARRETOS E ANÁLIA FRANCO (PARTE I)

PELA PROFª ESP. KARLA ARMANI MEDEIROS, EM 31 DE OUTUBRO DE 2018, NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS", PÁGINA 2
 
Anália Emília Franco Bastos (1853-1919)
Foto da capa do livro "Anália Franco: a grande dama da
educação brasileira" de Eduardo Carvalho Monteiro (2004).
“É para admirar o altruísmo de D. Anália Franco!... Não desanima! Superando barreiras, calcando obstáculos, caminha sempre firme, modesta, serena, espalhando benefícios [...]. Deus que a proteja... (Angélica Sophocle, O Sertanejo, 10/5/1903, p1).

            É de se admirar as palavras estimadas a uma das maiores educadoras do país, sra. Anália Emília Franco Bastos, no primeiro jornal de nossa cidade. Exemplo que demonstra a ligação desta professora e pedagoga com a história de nossa cidade, a qual se inicia nas páginas de O Sertanejo, se estende pela década de 1910 e a faz tornar-se patronesse de uma de nossas escolas municipais. Vamos conhecer essa relação numa série de artigos?!
            Anália Franco (*Rezende-RJ, 1/2/1853 / +São Paulo-SP, 20/1/1919) é considerada por estudiosos como pioneira na instrução pública feminina, partindo não só para a educação de meninas e órfãs, mas para o acolhimento de mulheres desvalidas e viúvas. Desde o final do século XIX, praticou no estado de SP um trabalho envolvendo Educação, Assistência Social e Cultura voltada às mulheres na capital e interior.
            Filha de mãe professora, formada Normalista em 1875 na capital, Anália Franco tão logo tornou-se professora pública e fundadora da Revista “Álbum das Meninas” (1898). Neste periódico, dedicou-se a escrever sobre a necessidade da educação voltada às mulheres, como meio de erradicar o analfabetismo e promover oportunidades de trabalho contra a pobreza e a favor da emancipação para aquelas que assim optassem. Um trabalho feminista, de cunho caritativo e religioso (espírita), em pleno século XIX e XX.
            Em 1901, junto a senhoras em São Paulo, Anália funda a “Associação Feminina Beneficente e Instrutiva de São Paulo”. Instituição pela qual são criadas 110 unidades de ensino, entre escolas maternais, liceus, escola primária, escola profissionalizante, asilos-creches, colônias educadoras, etc. Sendo os Liceus, responsáveis pela formação das professoras dentro dos métodos pedagógicos da Associação Feminina para numa rede educativa atuarem em todo estado – incluindo a nossa Barretos. [continua].

Bibliografia básica: 
MONTEIRO, Eduardo Carvalho. Anália Franco: a grande dama da educação brasileira. São Paulo: Madras, 2004.
ROCHA, Osório. Barretos de Outrora. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1954.
O SERTANEJO, periódico hebdomadário de Barretos, 1903. Acervo do Museu "Ruy Menezes".


quinta-feira, 25 de outubro de 2018

PELA EDUCAÇÃO (PARTE II)

PELA PROFª ESP. KARLA ARMANI MEDEIROS, EM 24 DE OUTUBRO DE 2018, NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS", PÁGINA 2


Capa do Álbum "Centuria de Honra" de 1930 -
Acervo do Museu "Ruy Menezes"

     Nos arquivos do Museu “Ruy Menezes” moram diversas relíquias que compõem a história da cidade. Isoladas, elas não fazem sentido, mas quando estudadas e contextualizadas, são capazes de eternizar importantes momentos do passado da cidade. Dentre tais relíquias, um álbum pequeno, de folhas já bem amareladas, intitulado “Álbum da Centúria de Honra da Sociedade Escolas de Barretos: traços rápidos de algumas senhorinhas barretenses” - sob o pseudônimo de Cáa-Ubi” - nota-se como um ícone sobre o assunto que abordamos na semana passada: a fundação do “Ginásio Municipal de Barretos”, o primeiro curso secundário gratuito da cidade. Uma revolução aos jovens que, aqui, só podiam concluir seus estudos gratuitamente no primário (pelo menos até 1931).
     Esse pequeno álbum foi um exemplo das várias atitudes tomadas pelo dr. Osório Rocha e seus parceiros da “Sociedade Escolas de Barretos” afim de conseguirem meios para seus objetivos. Ele reunia cem perfis em versos de moças da cidade, individualmente compostos por este advogado e jornalista, que tinha também como paixão o ensino. Foi por esses e outros esforços de seus aliados, que a “S.E.B”, em 1931, conseguiu lutar contra certas convenções e comodismos e instalar o “Ginásio Municipal de Barretos”.

     Por intermédio do Prof Augusto Reis Neves, Osório e seus aliados conseguiram abrir o “Ginásio Municipal de Barretos”. Com a primeira turma formada em 1933, o ginásio funcionava nas dependências do Hotel Fellini. Em 1947, o Ginásio Municipal foi encampado pelo governo do estado e passou a ter como sede o prédio na esquina da rua 20 com a avenida 27. No ano seguinte, integrou-se a ele a Escola Normal. Em 1952, foi autorizado o curso científico, tornando-se colégio, com o nome “Colégio Estadual e Escola Normal Mário Vieira Marcondes”. Anos mais tarde passa a ser “Instituto de Educação” e hoje “Escola Estadual Mário Vieira Marcondes”.


(Fontes: “Reminiscências” – volume 2 de Osório Rocha e “Álbum Comemorativo do 1º Centenário da Fundação de Barretos” de 1954).

quinta-feira, 18 de outubro de 2018

PELA EDUCAÇÃO (PARTE I)

PELA PROFª ESP. KARLA ARMANI MEDEIROS, EM 17 DE OUTUBRO DE 2018, NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS", PÁGINA 2


Ginásio Municipal de Barretos na década de 40
(Fonte: "Correio de Barretos" 4-11-1943, p.2 -
acervo Museu "Ruy Menezes")

Dr. Osório F. Rocha
(Fonte: "Correio de Barretos, 5/1/1947, p. 1)
Acervo Museu "Ruy Menezes")
     Mais um “15 de outubro” se passou e diversas homenagens foram rendidas a professores de todo país. Profissionais que têm na Educação a bandeira do conhecimento, da cidadania e da transformação social. Talvez o que há de mais belo em ser professor, seja a capacidade de atingir transformações individuais em cada aluno, e, ao mesmo tempo, processos interessantes que podem mudar a sociedade para melhor. Professores são agentes orgânicos de renovações sociais e de cultura. Semeiam e revelam cultura.
Vamos, então, conhecer um exemplo disso voltando os olhos para a história da cidade? Trata-se de um projeto inovador nos anos 1930, encabeçado por um advogado e jornalista, mas que antes de tudo fora professor; dr. Osório F. da Rocha (1885-1976).
Na década de 30, Barretos era dotada de um Grupo Escolar (estadual) para ensino primário e instituições particulares de ensino, mas não possuía “ensino secundário” gratuito (similar ao Ensino Fundamental II) para crianças maiores de 10 anos. Para barretenses continuarem seus estudos após o “primário”, era necessário procurar instituições de outras cidades. Foi o dr. Osório Rocha, João Baroni, Jerônimo Barcellos e outros aliados, os responsáveis em criar a “Sociedade Escolas de Barretos” (SEB) em 1930 e através dela fundar o primeiro ginásio municipal em 1931.
A palavra mais cabível àquele momento é “luta”, visto que Osório deixou registrado em suas “Reminiscências” os tortuosos caminhos que percorreu para conseguir fundar a SEB e viabilizar o ginásio para Barretos. Autoridades municipais não prestavam auxílio, alguns diziam que não era necessário pelo fato da vizinha Bebedouro já possuir o tal “ensino secundário”. Assim ele contava: “Escrevi artigos, fiz discursos, versos, procurei um e outro, [...]. Nada disso impressionava, nada abalava o cimento armado da indiferença, do egoísmo, da apatia barretense (Reminiscências, Vol 2, p. 120).
Quais outros mecanismos Osório Rocha e os aliados da SEB tiveram que articular para conseguir a instalação do curso ginasial na cidade? Veremos na próxima semana.

quarta-feira, 10 de outubro de 2018

30 ANOS DA CONSTITUIÇÃO CIDADÃ

PELA PROFª ESP. KARLA ARMANI MEDEIROS, EM 10 DE OUTUBRO DE 2018, NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS", PÁGINA 2

Ulisses Guimarães com a Constituição de 1988 - foto da Revista Época
    
            No dia 5 de outubro, a Constituição Cidadã completou 30 anos de promulgação. Três décadas concluídas justamente na semana de uma conturbada eleição presidencial no Brasil. Na qual, mais uma vez, a “polarização” foi vista não só no resultado do pleito presidencial, mas também no discurso das propostas dos presidenciáveis e no resultado eleitoral por região. Uma conturbação que também sacudiu o Congresso Nacional com a ascensão de partidos menores, tanto da área conservadora quanto da progressista.
            Diante tal cenário, a comemoração dos 30 anos da nossa constituição democrática não poderia vir em melhor momento. Isso porque, mais do que seus importantes conceitos do Direito, é cabível agora um retorno ao contexto histórico da elaboração de nossa “lei suprema” de 1988. Por um único motivo: relembrar os brasileiros que aqueles direitos individuais propostos, analisados e aprovados pelos 559 congressistas foram conquistados mediante algo que naquela época era novo no Brasil: a democracia.
            No ano de 1988, a política brasileira ainda se expurgava dos 21 anos do regime ditatorial finalizado com o último presidente militar em 1985. Era necessário criar uma Constituição que redemocratizasse a política e garantisse os direitos individuais dos cidadãos. Presidida pelo deputado paulista Ulysses Guimarães, a Assembleia Constituinte promulgou a carta constitucional com nove títulos, cujo teor abrangia não só a democracia, bem como atingia setores sociais antes marginalizados, como as mulheres, analfabetos, índios e quilombolas. Democracia e integração, pareciam ser a sua bandeira.
            O que nós precisamos reconhecer é que a Constituição de 1988 é a sexta de regime republicano. Em outras palavras, na história da República no Brasil outras cinco cartas constitucionais foram “facilmente” derrubadas. Então, quem garante que nossos direitos ali prescritos estão protegidos de forma permanente? Somente a continuação do exercício da democracia nos permite essa garantia. Que saibamos valorizá-la, pois essa democracia hoje é rotineira, mas há 30 anos era uma bandeira de luta. E que luta!

quarta-feira, 3 de outubro de 2018

DESDE SEMPRE, CATIRA!


PELA PROFª ESP. KARLA ARMANI MEDEIROS, EM 3 DE OUTUBRO DE 2018, NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS", PÁGINA 2


Grupo "Espora de Prata"- fotografia no site de O Diário

             Qualquer barretense que se depara com uma apresentação de catira, de imediato identifica aquela dança e ritmo popular como pertencente à cultura da cidade. Isso porque, até hoje vemos e ouvimos a catira em rodas de música, eventos públicos ou qualquer acontecimento que envolve cultura popular, comunidade e tradição.
            A origem da catira, também conhecida como “cateretê”, remonta à influência indígena, africana e europeia – devido à miscigenação dos povos no Brasil colonial. É uma dança tradicional de várias regiões interioranas do centro-oeste e sudeste, mas em São Paulo é mais conhecida devido a história dos boiadeiros, lavradores e bandeirantes.      E, claro, que Barretos - conhecida zona da pecuária nacional desde os séculos XIX e XX – abrigou a catira como identidade cultural. Algumas fontes históricas comprovam essa antiga relação, como por exemplo a citação de Osório Rocha em seu “Barretos de Outrora” (p. 136) sobre a prática da catira no arraial desde o século XIX. Assim como uma nota social do jornal “O Sertanejo”, que, ao anunciar um casamento, elencava a catira e sua viola como aparatos de alegria na festa: “à noite, finalmente, organizaram-se alegres e variadas diversões, que constaram de jogos e danças, inclusive o retumbante CATIRA ao som da viola popular, e as quais se prolongaram na melhor ordem e geral contentamento até à manhã do dia seguinte” (30/11/1902, p. 3). Até em casamento!
            Extremamente ligada à realidade sertanista de Barretos, desde quando os moradores viviam naqueles distantes anos “1800 e tantos”, a catira tornou-se parte da cultura local. Não só pelos animados passos de dança pareada, mas por envolver a música da viola popular, a vestimenta dos lavradores e boiadeiros e todos os comportamentos de uma comunidade que expressa na dança e nos dedilhados da viola sua própria estirpe.
            Hoje em dia, Barretos ainda conta com apresentações de catira em eventos culturais, como é o caso do grupo “Espora de Prata”. Grupo este, que em toda apresentação, nos faz lembrar de como a catira está em nós desde sempre. E, para sempre.