segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

PRESENTE DE NATAL: ARTIGO Nº 100



Neste dia de Natal, tão esperado por muitos – principalmente pelas crianças, somos tomados por sentimentos bons que envolvem paz, harmonia, carinho, solidariedade e amor; sendo bem verdade que tais sentimentos deveriam perdurar pelo ano todo e não somente nesta época. Dentro dos padrões religiosos, culturais e tradicionais o Natal representa sobretudo o nascimento de Jesus Cristo, e entre suas festividades estão a realização da Ceia de Natal e a famosa troca de presentes.
Os presentes de Natal possuem vários significados que fazem jus aos tempos passados, como por exemplo a simbologia dos presentes levados pelos três Reis Magos Belchior, Baltazar e Gaspar para o menino Jesus. Ainda mais, existe a figura do Papai Noel que se tratava de um bispo romano do século V, “São Nicolau”, o qual oferecia presentes a crianças pobres pouco tempo antes da data natalina, no dia 06 de dezembro. Este dia então ficou conhecido como o dia de São Nicolau, o qual foi se fundindo com o período natalino, e a simbologia do Papai Noel ganhou espaço em todas as partes do planeta. Entretanto, sabemos que os presentes natalinos não precisam ser necessariamente materiais, boas energias e gratidão ao próximo também fazem partes do espírito de Natal.
Sinceramente, posso dizer que fui muito privilegiada com a oportunidade de escrever este especial artigo no dia exato do Natal.
Leitores, meu maior presente neste Natal é compartilhar com vocês meu centésimo artigo! Pensei muito em o que escrever em um dia tão especial e cheguei a conclusão de que expressar a minha gratidão às pessoas que se dispõem a ler poucas linhas semanais sobre História é sim a melhor maneira de presentear e ser presenteada no Natal. De um lugar muito distante, já dizia uma sábia mulher chamada Joanna: “A gratidão é o sentimento digno que deve viger no homem que recebe benefícios da vida”.
É por reconhecer a oportunidade de estudar História, em destaque à história da nossa cidade, criar laços com pessoas que nem sequer conheço através da escrita, poder passar aquilo que aprendo e também aprender com as mais simplórias experiências da vida, que hoje me sinto beneficiada e digo “muito obrigada” aos leitores e as pessoas que contribuem com críticas e comentários sobre aquilo que escrevo. Agradeço, em especial, ao amigo Luiz Antônio Monteiro de Barros, que diante de curiosas reflexões sobre a história da cidade me convidou em fevereiro de 2008 a escrever no jornal “O Diário”. Para mim, é uma honra saber que daqui muitos anos meus artigos estarão em páginas amareladas do acervo jornalístico do Museu e talvez contriburão às pesquisas históricas futuras. Muito OBRIGADA e um Natal repleto de harmonia, união e fraternidade a todos! Um forte abraço aos leitores.

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO" (BARRETOS/SP), EM 25 DE DEZEMBRO DE 2009.

A ARTE REGIONALISTA POR ALMEIDA JUNIOR

Desde o início do mês de setembro semanalmente coleciono as vinte obras da Coleção Folha “Grandes Museus do Mundo”, entre os quais estão retratadas as mais discutidas obras de artes mundiais, sejam elas pinturas, esculturas, desenhos, fotografias, gravuras, objetos e outras de tempos milenares a contemporâneos. O fato é que dentre todos os museus retratados, como o Museu do Louvre, Museu do Prado, National Gallery, Museu Hermitage e outros, me atrevo a dizer que dentre as obras que mais me chamaram à atenção foram as pinturas de José Ferraz de Almeida Junior contidas na Pinacoteca do Estado de São Paulo.
A Pinacoteca do Estado de S. Paulo completa no próximo dia 25 de dezembro seus 104 anos de inauguração, e seu acervo inicial eram de vinte de seis obras de artistas do século XIX da Missão Francesa até o início do século XX com o Modernismo. Atualmente, a Pinacoteca possui 7.732 obras de artistas brasileiros e estrangeiros que retrataram a temática brasileira, como as obras de Almeida Junior que fazem parte do acervo da Pinacoteca desde 1905.
O retratista Almeida Junior, nascido no berço republicano de Itu em 1850, estudou na Academia Imperial de Belas-Artes do Rio de Janeiro, tendo aulas de desenho e pintura com expoentes artísticos como Le Chevre e Victor Meirelles. Mas, sua grande oportunidade acadêmica surgiu com a bolsa de estudos concedida pelo próprio Imperador Pedro II a ingressar-se na Escola Superior de Belas-Artes de Paris, tendo contato com o famoso Gustave Coubert.
No entanto, a maturidade artística de Almeida Junior surgiu com a intensificação de seu estilo pessoal, o qual misturava sua formação acadêmica com a nova temática regionalista, até então lançada por ele. Por retratar o cotidiano caipira, as cenas mais humildes do interior paulista, os aspectos da vida tal como é e algumas pinturas do cotidiano burguês contrastante, Almeida Junior foi considerado como o precursor da pintura nacional, pois retratava os aspectos paulistas num momento de necessidade da legitimação do sentimento nacionalista. Além disso, retratava aspectos reais do universo feminino, como a belíssima e tocante obra Saudade, na qual demonstra a dor de uma viúva ao perder o marido – sendo também um quadro misterioso por ter retratado seu próprio chapéu ao lado da viúva e morrer assassinado no mesmo ano da obra, 1899.
As obras de Almeida Junior estão disponíveis na internet também pelo site www.pinacoteca.org.br, e os leitores destas poucas linhas que se dispuserem a observar as obras deste retratista reparem na luminosidade impressionista que as rodeiam, é de se emocionar com “a luz do meio-dia do interior paulista”. Nós, barretenses, com certeza nos identificaremos com as cenas de Almeida Junior, que há mais de um século impressiona-nos com a ousadia de destacar as cores do regionalismo brasileiro.
 
REFERÊNCIA: Coleção Folha Grandes Museus – vol. 11, autoria de Carolina Duprat.

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO" (BARRETOS/SP), EM 18 DE DEZEMBRO DE 2009.


CIA DE REIS: TRADIÇÃO EM BARRETOS

No último sábado, o Museu Histórico, Artístico e Folclórico “Ruy Menezes” inaugurou a Exposição sobre as Companhias de Reis de Barretos, em homenagem in memorian ao conhecido “Piquira”, José Carlos Borges – personagem pertencente à tradição da Cia de Reis por mais de quarenta anos, componente da Cia de Reis da Fazenda Armour “Irmãos Borges”.
Pode-se dizer que o principal momento da Exposição foi a leitura da “carta” de Piquira aos convidados, fato que emocionou a todos os presentes. A carta, datada de 28 de janeiro de 1979, anunciava a doação da farda e espada de Piquira ao Museu “Ruy Menezes” e também informava o fim de sua carreira como “Alferes da Bandeira” (palhaço), que se iniciou em 1965 através de uma promessa que perduraria sete anos, mas naquele ano já perfaziam doze anos. Pensamos, pois, que Piquira não imaginaria que a honra de se vestir como “palhaço” de Santos Reis duraria por toda sua vida, já que só deixou de ser folião há pouco tempo quando faleceu neste ano de 2009.
Trinta anos depois da carta, o Museu “Ruy Menezes” recebeu a doação, concedida pela família Borges, de outra farda, espada e máscara de Piquira utilizadas por ele até 2009 na Cia de Reis “Irmãos Borges”. Agora, permanecem como acervo histórico do Museu as duas fardas de Piquira, com a diferença de 30 anos entre ambas, e a memória do folclore barretense está resguardada e pronta para ser difundida à população.
A Exposição é também composta por fotografias das tradicionais Cias de Reis da cidade, entre elas a Cia de Reis da Fazenda Brejinho, Cia de Reis Estrela Sagrada, Cia de Reis do Ibitu e Cia de Reis dos Imãos Borges. Tais Companhias realizaram belíssimas apresentações musicais com versos rimados e enriqueceram ainda mais as homenagens a Piquira. Outra revelação do momento foi a exposição fotográfica de Luciano Junqueira, que captou as mais coloridas perspectivas das “chegadas” de Reis e ressaltou a beleza existente na fé e tradição dos fiéis. Além disso, o artista plástico pintou um quadro “ao vivo” enquanto aconteciam as apresentações das Companhias.
Enfim, entre fitas, flores, cantos, rimas, fé e muita alegria a Exposição sobre as Companhias de Reis em homenagem a inesquecível figura de Piquira certamente marcou a importância da preservação do patrimônio histórico imaterial da cultura barretense. Somente se dá o devido valor à cultura e à história local quando se abrem as oportunidades para elas mesmas se expressarem e, assim, ouvirem o caloroso aplauso do público!

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO" (BARRETOS/SP), EM 11 DE DEZEMBRO DE 2009.





terça-feira, 8 de dezembro de 2009

COROGRAFIAS E MONOGRAFIAS




Em ritmo de final de semestre, os estudantes universitários que cursam o último ano da faculdade, independente das áreas atuantes, passam pelo mesmo momento de final de curso: a entrega e a apresentação do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), conhecido também por “monografia”. A monografia trata-se de uma pesquisa científica que tem por base a investigação de um determinado assunto e seu desenvolvimento é compreendido pela explanação de especificidades, a comparação de teorias de outros autores e o resultado final que certamente contribuirá com o preenchimento de possíveis dúvidas ou vazios teóricos da área escolhida.
Em Ciências Humanas, os trabalhos de pesquisas publicados no Brasil surgiram a partir do século XIX, posterior a chegada de D. João VI, rei de Portugal e mecenas da cultura européia no Brasil. Tratam-se das chamadas “corografias” publicadas, mais tarde, pelos membros do Instituto Histórico e Geográfico do Brasil (IHGB), fundado pelo Imperador Dom Pedro II, neto de D. João VI.
As corografias eram estudos histórico-geográficos que relatavam sobre diversos aspectos físicos das Províncias do Brasil e tinham como referências históricas as citações sobre tradição e memória do recente país independente: Brasil. Inicialmente, as corografias abrangiam a geografia e a história das Províncias brasileiras num sentido geral, com o passar dos tempos, a tendência foi especificar cada vez mais o território estudado e analisar os espaços municipais e regionais. Sendo que, por muito tempo, as corografias foram utilizadas como materiais didáticos nas escolas e enalteciam o forte nacionalismo do Brasil, como a valorização de míticos heróis e o passado glorioso do solo brasileiro.
Esta situação só foi modificada a partir das décadas de 60 e 80 com o advento das inovadoras escolas francesas que traziam as novidades dos diálogos teóricos entre as Ciências Sociais, Ciências Políticas, Antropologia, Geografia Crítica, História, Literatura, Artes e muitas outras Ciências Humanas. Além disso, a micro-história passou a vigorar nas pesquisas monográficas da área de História trazendo como principal foco a História Regional.
É por conta disso que as monografias atuais persistem nos recortes temáticos regionais, aos quais abordam pequenos períodos históricos e os relacionam com a situação geral do país na época estudada. E, esta abordagem regional da História torna-se muito importante por oferecer cientificidade à história de diversas cidades brasileiras e permitir o contato com o autêntico “trabalho de campo”, onde as fontes originais são analisadas pelo historiador e finalmente socializadas com a população da cidade.
Sorte, a todos os estudantes que apresentarão suas monografias!


REFERÊNCIA: MARTINS, Marcos Lobato. História Regional. In PINSKY, Carla Bassanezi (org.) Novos temas nas aulas de História. São Paulo: Contexto, 2009.


ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO" (BARRETOS/SP), EM 04 DE DEZEMBRO DE 2009.

120 ANOS DA REPÚBLICA BRASILEIRA

Desde o início do mês, publiquei três artigos subseqüentes sobre a Proclamação da República de 1889 no Brasil em forma de homenagem aos seus 120 anos celebrados no dia 15 de novembro de 2009. Também neste mês, a Revista “História Viva” publicou uma série de artigos escritos por famosos historiadores brasileiros acerca da República no Brasil e seus principais significados. O mais interessante, no entanto, foi o Raio-X feito sobre os governos republicanos, as eleições e os Presidentes do Brasil.
Leitores, durante toda a trajetória histórica da Republica, foram nossos Presidentes: 21 advogados, 2 jornalistas, 1 médico, 1 engenheiro, 1 sociólogo, 1 metalúrgico, 6 marechais, 6 generais, 2 almirantes e 1 brigadeiro. Percebemos a grande maioria por parte dos profissionais “advogados” e “militares” na Presidência, fato que só foi modificado a partir de 1985, com a redemocratização do Brasil, onde obedeceu-se uma “diversificação de ofícios”. A somatória resulta em 42 Presidentes do Brasil, sendo que alguns não são citados nos livros-didáticos e, por isso, muitas pessoas desconhecem, são os casos dos Presidentes que ficaram pouco tempo no poder. Como exemplo, Carlos Luz que ficou três dias na Presidência no ano de 1955 entre os mandatos de Getúlio Vargas e JK e outros nomes presentes nos períodos ditatoriais. No site do Planalto Federal, www.planalto.gov.br, está exibida a Galeria Oficial dos Presidentes do Brasil e lá vocês encontrarão nomes poucos citados na História da República.
Outra curiosidade perceptível no Raio-X da República é o “incrível” embate de 71 anos de governos eleitos pelo voto popular versus 49 anos de governo com eleições indiretas! Se considerarmos os 49 anos de governos republicanos, de certa forma, “centralizados” – sem participação popular direta, poderemos compará-los com os 49 anos do governo imperial de Dom Pedro II, onde se predominava a Monarquia e os Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário concentrados na figura do Imperador. Ora, que artimanha do destino... a República brasileira que surgiu teoricamente para derrubar o poder centralizador do Imperador, sustentou durante o mesmo espaço tempo governos “parecidos” com a centralização do regime monárquico.
Por fim, são muitas as curiosidades sobre a República no Brasil e vale a pena se informar mais a respeito de sua trajetória histórica, para que nas eleições futuras saibamos ser conscientes politicamente e enriquecer o histórico da nossa República.


ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO" (BARRETOS/SP), EM 27 DE NOVEMBRO DE 2009.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

A JOVEM REPÚBLICA, LÁ E CÁ (III)




            Mais uma vez, leitores, prossigamos as notícias sobre a República no Brasil do século XIX, agora em Barretos, considerada na época “o baluarte do Partido Republicano histórico”. Sim, a nossa cidade foi um dos lugares de maiores exaltações republicanas, desde alguns anos anteriores à Proclamação da República até as primeiras décadas do século XX. Isto se justifica também por Barretos situar-se no Estado de São Paulo, que foi um dos únicos e verdadeiros propagadores do ideal republicano.
            O primeiro contato da então Vila do Espírito Santo de Barretos com tão “perfeita” República foi estabelecido a partir dos ideais de alguns homens republicanos advindos dos grandes centros urbanos paulistas e da capital federal, depois residentes em Barretos. Como exemplo citamos alguns destes homens vindos do Rio de Janeiro, Campinas, Itu, Limeira e outros, são eles: Silvestre de Lima, João Carlos de Almeida Pinto, Joaquim Fernando de Barros e João Machado de Barros. Alguns com os ideais de República bastante aflorados em seus gestos e palavras, outros nem tanto.
            Silvestre de Lima possuí um passado republicano muito interessante e vasto, pois, natural de Minas Gerais, estudou no Rio de Janeiro e por lá desenvolveu atividades jornalísticas em prol da propaganda republicana. Além do mais, há rumores que Silvestre de Lima “lutou” na campanha abolicionista ao lado de José do Patrocínio e consagrou a causa republicana ao lado do colega Julio de Mesquista – do jornal O Estado de S. Paulo. Almeida Pinto, por sua vez, era daqueles personagens que saíam pelas ruas exclamando ao alto “Viva a República!”; sendo também membro fundador do Partido Republicano Paulista em várias cidades do interior paulista.
            Bem, se pensarmos no símbolo de maior ostentação e expressão republicana, com um fundo de representação política no imaginário social de Barretos, claramente estaremos falando do jornal O Sertanejo. Este, tendo como fundador Silvestre de Lima e colaboradores Almeida Pinto e outros republicanos, estampava em seu cabeçalho: “Orgam do Partido Republicano”. Foi na imprensa barretense, portanto, que as impressões republicanas foram difundidas, através de anúncios e textos sobre as inovações do regime, tais como: o casamento civil, o patriotismo, a nova forma presidencialista de governo, a relação de Estado e município e demais formas constitucionais.
            Por fim, a República no Brasil, proclamada pela elite política e subjugada ao povo, foi conquistada aos poucos e ocasionou breves mudanças na forma política, porém, importantes modificações culturais, que, quando alcançou Barretos fez com que a cidade passasse por uma nova formação social.


REFERÊNCIA: Documentos do Museu “Ruy Menezes”.

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO" (BARRETOS/SP), EM 20 DE NOVEMBRO DE 2009.

domingo, 22 de novembro de 2009

Reflexão de Domingo

PROVAS DECISIVAS

Clamas contra o infortúnio que te visita e desesperta-te, sem reação construtiva, ante as horas de luta. Falaram-te do Senhor e dos aprendizes abnegados que o seguiram, nas horas primeiras, na senda marginada de prantos e sacrifícios... Queres, porém, comungar-lhe a paz e viver em menor esforço...
Todavia, quase todos os grandes vultos da Humanidade, em todas as épocas e em todos os povos, passaram pelo tempo das provas decisivas.
Senão observemos:
CERVANTES ficou paralítico da mão esquerda e esteve preso sob a acusação de insolvente, mas sobrepairou acima da injúria e legou um tesouro à literatura da Terra.
BERNARD PALISSY experimentou tamanha pobreza que chegou, em certo momento, a queimar a mobília da própria casa, afim de conseguir suficiente calor nos fornos em que fazia experiências; contudo, atingiu a perfeição que desejava em sua obra de ceramista.
SHAKESPEARE sentiu-se em tão grande penúria, que se achou, um dia, a incendiar um teatro, tomado de desespero; entretanto, superou a crise e deixou no mundo obras-primas inesquecíveis.
VICTOR HUGO esteve exilado durante dezoito anos; todavia, nunca abandonou o trabalho e depôs o corpo físico, no solo de sua pátria, sob a admiração do mundo inteiro.
FARADAY, na mocidade, foi compelido a servir na condição de ajudante de ferreiro, de modo a custear os próprios estudos; no entanto, converteu-se num dos físicos mais respeitados por todas as nações.
HERTZ enfrentou imensa falta de recursos e foi vendedor de revistas para sustentar-se; entretanto, venceu as dificuldades e tornou-se um dos maiores cientistas mundiais.
De igual modo, entre os espíritas as condições de existência terrestre não têm sido outras.
Na França, ALLAN KARDEC, sofreu, por mais de uma década, insultuoso sarcasmo da maioria dos contemporâneo; contudo, jamais desanimou, entregando à posteridade o luminoso patrimônio da Codificação.
Na Espanha, AMÁLIA DOMINGO SÓLER, ainda em plenitude das forças físicas, tolerou o súplicio da fome, na flagelação da cegueira; todavia, nunca duvidou da Providência Divina, consagrando ao pensamento espírita a riqueza de suas páginas imortais.
No Brasil, BEZERRA DE MENEZES, abdicando das fulgurações da política humana e, não obstantea posição de médico ilustre, partiu da Terra, em extrema necessidade material, o que não impediu a sua elevação ao título de Apóstolo.
Em razão disso, não te deixe vencer pelos obstáculos.
A resignação humilde, a misturar lágrimas é sorrisos, anseios e ideais, consolações e esperanças, constrói sobre a criatura invisível auréola de glória que se exterioriza em ondas de simpatia e felicidade.
Quando o carro de tuda vida estiver transitando pelo vale da aflição, recorda a paciência e continua trabalhando, confiando e servindo com Jesus.

LAMEIRA DE ANDRADE.


Texto reproduzido de: ANDRADE, Lameira. Provas Decisivas. In: VIEIRA, Waldo; XAVIER, Francisco Cândido. O Espírito da Verdade. 14ª ed. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 2003, p. 159-160.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA: 120 ANOS!

15 DE NOVEMBRO DE 2009:

120 ANOS DA PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA!

Momento propício para estudar suas origens, seu dinamismo e sua história.

Trechos do Manifesto Republicano: esta era a República que os republicanos históricos sonhavam para o Brasil, um grupo de 57 homens considerados na época por "baderneiros", a maioria profissionais liberais, baseados em correntes liberais de inspiração francesa e norte-americana, em plena "era monárquica" de Pedro II manifestaram seus ideais e fizeram nascer os moldes iniciais da República brasileira. Infelizmente, no decorrer dos primeiros anos dos governos civis, a República foi abalada por incessantes golpes inconstitucionais e por modelos governamentais, como a Política dos Governadores, totalmente avessos aos ideais do Manifesto Repulicano. 
Obstante de qualquer manifestação cívica, simplesmente recordemos o discurso que se referiam os republicanos históricos ao que deveria ser a nossa REPÚBLICA BRASILEIRA.



A JOVEM REPÚBLICA, LÁ E CÁ (II)



Leitores, continuemos a refletir um pouco mais sobre a Proclamação da República no Brasil, um momento interessantíssimo da nossa História. Depois de entender um pouco sobre a transição do Império para a República, percebemos que a movimentação política aconteceu somente com a classe dominante do país e que os políticos portadores do poder no Império continuaram a exercer seus cargos na era republicana. Oras, e o povo? Como assistiu esta passagem histórica?
Nas palavras de Aristides Lobo, político da época, o povo assistiu a Proclamação da República “bestializado”. Esta expressão, tão instigante, leva-nos a entender a legitimidade da República pela indiferença, ignorância, apatia das camadas populares, onde somente os “homens letrados” entenderam o que acontecia em 1889. Para o povo, que diferença fazia ser o Brasil um Império ou uma República? Os representantes políticos mudariam suas baixas condições de vida? (Permitam-me fazer um parentêse: esta situação assemelha-se também com os dias de hoje, onde muitas vezes entra um novo partido no governo e nada muda na política brasileira).
Pois bem, o “problema” do povo apareceu depois da Proclamação da República, onde era necessário conquistar o imaginário popular à adesão da jovem República. Isto posto, para compensar a falta do envolvimento popular na Proclamação, os políticos, principalmente os positivistas (idealizadores de uma sociedade linear e progressista na República), criaram uma simbologia republicana, que tinha nos “mitos” sua principal fonte para alcançar o imaginário social.
Os símbolos destacados neste período foram a alegoria feminina da República, o herói nacional vestido na figura de Tiradentes, a bandeira e o hino nacional. A República na figura de uma mulher, denominada Marianne (inspiração de um nome comum de mulher na França), representava a queda da imagem masculina do rei e a seqüente “era” de liberdade. O herói nacional Tiradentes, possuía de fato a “cara do povo”, um sofredor da história das lutas nacionalistas do Brasil e sua figura propositalmente passou a assemelhar-se com o rosto de Jesus Cristo. A bandeira e o hino nacional, por fim, exprimiam “bravamente” os ideais positivistas de ordem e progresso, de uma nação em “estágio superior”: a República.
O problema maior deste quadro cultural foi a falta de identidade autenticamente brasileira na instalação da República, devido a forte influência dos ideais franceses, mas isso já é outro assunto... Veremos na próxima semana, portanto, a República cá... em Barretos!

REFERÊNCIA: CARVALHO, J.M. A formação das almas: o imaginário da República no Brasil. 1990.

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO" (BARRETOS/SP), EM 13 DE NOVEMBRO DE 2009.

A JOVEM REPÚBLICA, LÁ E CÁ (I)




O feriado da Proclamação da República se aproxima e talvez seja interessante reunir alguns artigos sobre este momento tão denso e, simultaneamente, curioso da História do Brasil. A Proclamação da República brasileira pode ser considerada “tardia” em relação aos demais países latino-americanos, todavia, os movimentos republicanos no Brasil surgiram até mesmo antes da Independência, o “problema” maior para sua efetiva consolidação foi a habilidade política do Império de Dom Pedro II, o qual deixou sua coroa com 49 anos de governo ininterrupto.
Os ideais republicanos no Brasil criaram maiores forças e se expandiram depois da criação do Partido Republicano Paulista em 1870, a publicação do Manifesto Republicano contido no jornal A República assinado por 57 pessoas e a Convenção de Itu realizada em 1873. A postura do Imperador nesta situação era de certa estranheza, já que há rumores que em certa ocasião ele disse a Antonio Prado: “Eu sou republicano. Todos o sabem. Se fosse egoísta, proclamava a República para ter as glórias de Washington”. Pedro II era de fato um homem curioso e pervicaz.
O ano da Proclamação da República foi 1889 e se pensarmos nesta data sublimemente, perceberemos o quão fatídica foi a instalação da República brasileira. Em 1889 a França comemorava o centenário da Revolução Francesa (1789) e, nas comemorações em Paris, o Brasil era a única monarquia presente. Ora, certamente o centenário da Revolução que mais marcou a história da humanidade em derrubar uma monarquia absoluta animou os ânimos das camadas mais radicais até as classes conservadoras do Brasil, mais tarde, também republicanas.
Logo, a República brasileira foi comumente planejada em um conluio envolvendo os militares do Rio Grande do Sul, os cafeicultores paulistas e alguns outros políticos liberais. O golpe foi planejado para o dia 20 de novembro, mas pelo adiantamento dos boatos ocorridos na capital federal de que o Marechal Deodoro iria ser preso pela Guarda Nacional do Império, no dia 15 de novembro foi instaurada a República no Brasil. República, esta, “comandada” por um líder que nunca foi republicano e mal sabia dos boatos a respeito da sua suposta (e falsa) prisão, Marechal Deodoro da Fonseca, só aceitou o cargo de primeiro governante para não subjugar o exército, ao qual era importante membro, à Guarda Nacional. A família real partia ao exílio dois dias depois e, de fato, do dia 14 para 15 de novembro o Brasil dormia Império para acordar República. A missão da política brasileira era, agora, “acostumar” o povo com o novo regime. E falando nisso, e o povo? Onde ficou nesta história? É o que veremos na próxima semana...





REFERÊNCIA: CARVALHO, J.M. Dom Pedro II: ser ou não ser. 2007.

 



ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO" (BARRETOS/SP), EM 06 DE NOVEMBRO DE 2009.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

AO VÔO DE SANTOS DUMONT


A transição do século XIX para o século XX é mesmo muito fantástica, pelo menos no que diz respeito à questão da tecnologia e modernidade da época, que se iniciou com a influência européia advinda da Segunda Revolução Industrial Cientifíco-Tecnológica. Se pensarmos na literatura, na arte, na filosofia e nas invenções percebemos que existiram vários pensadores que muito contribuíram à produção da ciência contemporânea.
Fosse para promover discussões científicas ou por precavida representação política, a imprensa estava sempre presente nessas questões em nome de um patriotismo nascente. Desde o fim da década de 1890 até os anos 10, esteve presente em muitos jornais do Rio de Janeiro, São Paulo e outros jornais das pequenas cidades do interior, a evolução das invenções de Alberto Santos Dumont.
Sim, o nosso famoso Santos Dumont, entre suas aventuras com os projetos de balão, dirigível, monoplano, helicóptero, biplano e hidroplanador, sofreu mais um acidente em 1901 quando aceitou o desafio de partir de Saint Cloude (França), contornar a Torre Eiffel e regressar ao ponto de partida em 30 minutos no máximo. Em 1902, acidentou-se também em Mônaco e o príncipe Alberto I, percebendo a magnitude das invenções do brasileiro, o convidou para continuar suas experiências no Principado.
O interessante é que os franceses articularam uma campanha a fim de arrecadar fundos para a construção de uma nova aeronave de Santos Dumont, e a imprensa do Rio de Janeiro - com o Jornal do Brasil, São Paulo - com o jornal Estado de S. Paulo, e Buenos Aires – com o jornal A Prensa, aderiram à idéia. Com o poder de comunicação da imprensa, a notícia chegou a vários cantos do país e espalhou-se também pelo sertão barretense e... adivinhem? O nosso jornal O Sertanejo também aderiu à campanha e muitas pessoas, em 1902, doaram muitos contos de réis para a construção da nova invenção de Santos Dumont.
Foram aproximadamente quarenta pessoas em Barretos que doaram dinheiro, por intermédio do jornal Estado de S. Paulo, entre tais estão os nomes do ex-intendentes municipais Silvestre de Lima, Raphael Brandão, Pedro Paulo de Souza Nogueira, João Machado de Barros; personalidades como Cel. Almeida Pinto, Padre Francisco Valente, Sebastião Falcão e muitos outros.
Por fim, ainda não sabemos como terminou a arrecadação de dinheiro à campanha, mas, podemos dizer que, de certa forma, os barretenses contribuíram à evolução dos projetos do “inteligente e intrépido aeronauta brasileiro” – palavras de O Sertanejo. Ao vôo de Santos Dumont foram concedidos alguns vinténs e, por sua inigualável persistência, a humanidade desfruta hoje de grandes tecnologias.


REFERÊNCIAS: O Sertanejo – 02/03/1902
www.anac.gov.br


ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO" (BARRETOS/SP), EM 30 DE OUTUBRO DE 2009.

O NACIONALISMO DE OUTRORA... E AGORA?

No tempo presente, o Brasil tenta buscar o significado de sua identidade nacional ao indagar os elementos que caracterizam a origem cultural dos diversos povos que habitam sua tamanha extensão. Durante o final do século XIX e o decorrer do século XX vários intelectuais atentaram-se a questão da identidade cultural do Brasil, bem como elaboraram projetos de nação com a necessidade de aparentar “união” perante a República brasileira. Entretanto, percebe-se que o sentimento de nacionalismo, outrora praticamente “outorgado” nos indivíduos brasileiros através de manifestações cívicas, agora passa por uma carência incessante.
No início do século XX o sentimento patriótico tomou conta das discussões intelectuais através do estímulo imperialista europeu, e uma das formas de expressão de patriotismo foi à obrigatoriedade do alistamento militar apresentado por Olavo Bilac na década de 10. Na primeira fase da República entraram em cena algumas idéias separatistas entre os estados brasileiros, por isso, era necessário desenvolver o ideal de um Brasil como pátria de todos, isto é, um sentimento de nação. É claro que o meio mais hábil de transformação social é a “escola”, por isso, foram elaborados livros-didáticos que exaltavam um Brasil rodeado de grandes heróis nacionais, com um passado harmonioso e único, confiante em seus chefes políticos e recebedor de glórias militares. Este imaginário patriótico das escolas republicanas acabou por caracterizar o futuro “nacionalismo de direita” da Era Vargas e Ditadura Militar pós-1964, o que significa a criação de um nacionalismo exacerbado, coercivo e tão defensor da idéia de união, que, evitava a importância das diferenças regionais, sociais e culturais do país.
Todavia, a partir da segunda metade do século XX e início do século XXI, o nacionalismo acabou por se neutralizar com a vinda do mundo globalizado, onde a nacionalização de qualquer setor governamental, como a economia, foi, e ainda é, considerada uma espécie de “bloqueio” dos projetos capitalistas. Desta forma, os livros-didáticos de História dos anos 60 em diante passaram a justificar os problemas internos do Brasil sob a ótica das relações do país com o mundo. Essa situação ocasionou a deficiência do ensino de História do Brasil, já que não situou devidamente os problemas nacionais e impediu a construção da identidade nacional.
Diante dessas colocações percebe-se a extrema transformação da ideia de nacionalismo, outrora exacerbado e agora carente, deficiente, neutro. A carência de patriotismo no Brasil atual encontra-se, sobretudo, na diluição dos conteúdos do ensino de História do Brasil, pois é nesta ocasião que construímos, não a ideia de pátria única e perfeita, e sim a noção de identidade nacional voltada à caracterização de uma terra miscigenada por diferenças regionais e sócio-culturais. Por fim, a intenção dos historiadores e educadores humanísticos é desafiar a globalização “sem fronteiras” e refletir sobre as questões do próprio país com os próprios brasileiros.

REFERÊNCIA: BITTENCOURT, Circe. “Identidade nacional e Ensino de História do Brasil”.

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO" (BARRETOS/SP), EM 23 DE OUTUBRO DE 2008.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

ENTRE AS PEDRAS... EIS O EDUCADOR!

“No meio do caminho tinha uma pedra, tinha uma pedra no meio do caminho” já dizia a poesia do sábio Carlos Drummond de Andrade, que se adapta a realidade de muitos profissionais de diversos setores do Brasil. Entre estes estão a classe dos professores, ou melhor dizendo “educadores”, nos quais são os profissionais que contribuem com a transformação da realidade que nos cercam. Mas, para conseguir tal efeito é necessário ultrapassar as “pedras” que impedem o sucesso do processo de ensino-aprendizagem e driblar os obstáculos do cotidiano educacional.
As “pedras” que os educadores precisam enfrentar vão desde o sistema educacional brasileiro que aprova a “progressão continuada”, a infra-estrutura muitas vezes falha das escolas, a ausência de consciência de seus colegas enquanto “classe”, a triste falta de interesses de alguns alunos e a carência de tempo para progredir e atualizar seus estudos. Além disso, os profissionais da educação não possuem um específico Código de Ética de trabalho e ainda enfrentam as críticas originárias de pessoas que não vivenciam o cotidiano da sala de aula e não sabem de fato como é a “prática” docente.
A denominação do profissional da educação modificou-se com o passar dos tempos, quando na ditadura militar era conhecido como “mestre” e nos tempos atuais a tendência é o “educador”. Esta mudança de termos que parece tão simples, na verdade conota a verdadeira atividade do educador, onde este profissional age com a intenção de transformar a realidade dos alunos através de práticas pedagógicas previamente estudadas. Nesta nova abordagem, o educador é o mediador entre o conhecimento acadêmico e o saber escolar, fato que, diga-se de passagem, não é nada fácil de concretizar, pois exige uma habilidade extensa acerca da linguagem acadêmica e o vocabulário na sala de aula.
Por todos estes fatores, parabenizo a todos os educadores, àqueles que puderam comemorar ontem, seu dia 15 de outubro, refletindo ou mesmo trabalhando. Ao eterno “mestre” e educador de hoje, que mesmo entre as pedras no caminho da educação, conseguem exceder os problemas e atingir firmemente seus objetivos: EDUCAR – cultivar a sabedoria e sempre aprender com ela. Àqueles que hoje estão desanimados com a profissão, que voltem ao âmago do início da carreira, quando queriam revolucionar o mundo através de suas palavras; àqueles que reinventam maneiras de reeducar os alunos e finalmente àqueles que nos ensinam a ter consciência humana através da leitura, pois é graças a eles que conseguimos chegar até aqui e ler estas poucas linhas. O educador possui um poder inigualável e Carlos Drummond sabia disso... que continuem a caminhar entre as pedras, já que se não fossem elas talvez não sentiríamos o quão belo é educar!

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO" (BARRETOS/SP), EM 16 DE OUTUBRO DE 2009.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

BARRETOS NA HISTÓRIA DO BRASIL

O final do século XIX foi um dos principais momentos de transformação na História do Brasil, onde vários debates acerca do abolicionismo e republicanismo envolviam os intelectuais da época e atingiam também as classes sociais economicamente subalternas. Poucos anos antes da Proclamação da República, veio à tona uma série de discussões, veiculadas através da imprensa paulista, diante da questão do “separatismo paulista” e suas reivindicações políticas ao Imperador Pedro II.
O estudo da historiadora Cássia C. Aducci levanta os artigos publicados pelos separatistas nos jornais paulistas e os relacionam com o contexto político da época, tendo como resultado um importante estudo sobre a micro-história, tornando possível também chegarmos a história de Barretos. Primeiramente, a Província de São Paulo nos anos de 1880, era dona de grande parte do poderio econômico do país, em razão de suas atividades cafeeiras e agrário-exportadoras, porém, alegava que o governo imperial não lhe concedia espaço e autonomia no cenário da política nacional.
Em vista disso, surgiram em 1887 os “separatistas paulistas” justificando seus pensamentos por motivos como: corte de verba a São Paulo, nomeação de interventores não paulistas à Província, progresso espantoso da Província, exigüidade numérica de sua representação e grandeza de sua renda. Entre tais separatistas, Cássia Aducci destacou os nomes de Martim Francisco Ribeiro de Andrada Filho (neto de José Bonifácio, líder da Independência do Brasil) e Joaquim Fernando de Barros. E é através deste último nome que podemos chegar a história de Barretos.
Segundo a historiadora, Joaquim Fernando de Barros aderiu à luta separatista quando publicou no jornal A Província, em 11/02/1887, o artigo “Amigo Nemo” – Nemo era o pseudônimo de Martim Francisco. Porquanto, Joaquim Fernando de Barros também foi o ator da principal obra separatista deste período, A Pátria Paulista, onde foram organizados os artigos de tais separatistas publicados na imprensa. Todas estas informações também constam no jornal de Barretos da época, “O Sertanejo”, o qual no dia 07 de abril de 1901 publicava o falecimento do Juiz de Direito Joaquim F de Barros.
Sim, o mesmo Joaquim Fernando de Barros citado no artigo da historiadora Cássia é o mesmo Juiz de Direito nomeado em Barretos desde 1895, um dos fundadores da Maçonaria Fraternidade Paulista e que hoje jaz no Cemitério Municipal de Barretos. Foi empresário de serraria a vapor em São Paulo, morador de Itu, membro da Assembléia Provincial na época do Império e, depois, na República, membro do Partido Republicano Paulista. Esta personalidade, com certeza, é digna de maiores especulações de estudo, pois traz consigo um passado político curiosíssimo e pode-nos ajudar a contextualizar a história de Barretos com a História do Brasil, tornando possível o preenchimento de algumas lacunas da história do período republicano barretense.

REFERÊNCIA: www.scielo.org

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO" (BARRETOS/SP) EM 09 DE OUTUBRO DE 2009.

CRIME NAS LINHAS DE “O SERTANEJO”

Barretos já foi cenário de turbulentas agitações populares por conta de assustadores crimes que aconteciam no final do século XIX e início do século XX, em pleno início da população barretense, onde eram muito comuns as migrações de pessoas vindos dos lugares mais diversos do país. Para alguns estudiosos da história de Barretos de épocas passadas, este tipo de comportamento era considerado como “falta de civilidade”, mas hoje sabemos que estas atitudes eram efetivadas em razão de vários fatores que vão desde o sistema policial até a questão da mentalidade da época tão influenciada pelos antigos costumes violentos do Brasil Colonial.
Um destes crimes chamou deveras a atenção da população barretense no ano de 1900 e, foi tamanha a agitação popular, que tal crime mereceu uma edição especial do jornal “O Sertanejo” do dia 15 de outubro de 1900. Nessa edição, que neste mês comemora 109 anos de publicação, o boletim especial assustadoramente exaltava: “Crimes espantosos: bigamia ,desonra, infanticídio e parricídio”. Foram levantadas todas as dúvidas que rondavam o caso do desaparecimento e assassinato do lavrador José Roza do Nascimento, conhecido como Juca Branco, morto a tiro de espingarda pelo seu próprio filho Pedro Roza do Nascimento de 18 anos, menor na época.
Foram muitos os motivos do crime e giravam em torno dos abusos que o pai cometia sob suas filhas, enteadas e ex-esposas. De acordo com a perícia executada no local do crime pelo Cel. Almeida Pinto e outros, os jornalistas anunciaram o contexto que levou o filho a matar seu próprio pai, taxado pela população como “monstro”. Os peritos encontraram três esqueletos de crianças embaixo do solo da casa, alguns outros a seu redor, e então entenderam que o finado violentava seus filhos e enteados e depois os matavam. Pedro, então, assassinou seu pai em defesa de sua irmã, de 14 anos, que estava prestes a ser violentada em seu quarto. O mais interessante de toda esta história foi a imagem encontrada debaixo da caixa de arroz, tratava-se de uma figura de Santo Antônio sem a cabeça! Seria somente superstição?
O inquérito policial terminou com a agitação da população pela absolvição de Pedro, que foi julgado e absolvido com voto de Minerva e intervenção do juiz de Direito Joaquim Fernando de Barros, sendo o advogado de defesa o Cel. Almeida Pinto. Entretanto, passado algum tempo, Pedro voltou para casa e foi picado por uma cobra justamente no local onde havia enterrado seu pai. Coincidência? É o que os escritores de “O Sertanejo” indagaram e o que nós, 109 anos depois, ainda podemos pensar. Vale a pena ler mais sobre este caso, que envolve criminalidade, superstição, participação popular, polêmica e história!

REFERÊNCIA: ROCHA, Osório. Barretos de Outrora. 1954 – p. 89 e 90.
Jornal “O Sertanejo” de 1900 a 1902 (Acervo Museu “Ruy Menezes”).

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO" (BARRETOS/SP), EM 02 DE OUTUBRO DE 2009.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

A HISTÓRIA, O HOMEM E O COMPUTADOR

Em todas as sociedades históricas existiram tecnologias para o condicionamento da sobrevivência e o aprimoramento do trabalho humano. O homem necessitou de exercitar o cérebro construindo engenhocas a fim de desenvolver técnicas de melhoramento de suas atividades. Foi, desta maneira, que surgiram as primeiras máquinas de somar na China, as técnicas da medicina egípcia, os jogos da Grécia Antiga, os aparelhos mecânicos dos séculos XV e XVI da expansão ultramarina e até os aparelhos de tecelagem manual dos séculos XIX e XX. No nosso caso, o século XXI é praticamente dependente de suas tecnologias e a base de tudo isso, isto é, a “respiração” do mundo globalizado atual é o computador.
O contexto histórico do surgimento do computador não foi muito feliz, pois esta máquina, na tentativa de se aproximar das representações lógicas do cérebro humano, surgiu em meio a Segunda Guerra Mundial. Durante a guerra, era necessário criar máquinas que reproduzissem as tabelas e gráficos para o lançamento automático de projeteis.
Em 1946, foi criado o ENIAC (Eletronic Numerical Integrator and Calculator), aquele famoso computador de grande porte, projetado para desenvolver cálculos matemáticos mais complexos, nos quais as antigas máquinas de somar não resolviam. Foram elaboradas, porquanto, novas “lógicas matemáticas” que permitiam resoluções de problemáticas como, por exemplo, raiz quadrada e potenciação.
Em seguida, o mundo entrou no período da Guerra Fria e os EUA e a U.R.S.S disputavam a hegemonia ideológica do mundo e o poderio bélico de seus países através das produções científicas. Neste contexto, foi criada a bomba atômica e desenvolvidos armamentos altamente destrutíveis, de sorte que o mundo vivia amedrontado em meio a tantas ameaças capitalistas versus socialistas. Em 1951, o computador passou a ser distribuído em série e somente a partir dos anos 70 e 80 chegou em países como o Brasil. Sendo válido ressaltar que, o Museu “Ruy Menezes” possui em seu acervo expositivo um Computador Prológica de 1983.
A evolução do computador atravessou as expectativas da humanidade e cada vez mais nos surpreende, seja pelo tamanho cada vez menor ou pelas múltiplas funções encontradas em uma única máquina. Por fim, tudo seria perfeito se esta tecnologia fosse bem distribuída e toda população tivesse acesso e conhecimento sobre esta ferramenta, na qual passou por um processo histórico desde tempos antigos para, enfim, desembocar na era atual e auxiliar nossa própria “vivência”. Só é preciso que a humanidade saiba discernir as limitações entre “homem” e “máquina”, mas isso já é outro assunto...

REFERÊNCIA: Enciclopédia Prática de Informática. Editora Abril: 1984.

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO" (BARRETOS/SP), EM 25 DE SETEMBRO DE 2009.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

O SEGREDO DE CABO VERDE

A África é um continente, antes de qualquer coisa, persistente e resistente. Resistente no sentido de que mesmo com todo o contexto histórico da colonização horrenda que vivenciou, persiste hoje no desenvolvimento de muitos de seus países. A imagem da África lançada pela mídia como um continente subdesenvolvido e passível de violência é o que infelizmente fica na mente de muitas pessoas e as fazem ingerir um preconceito deslumbrado. É claro que violência, fome e miséria estão presentes neste continente, assim como em vários outros países, mas a África conta com a busca da união e da identidade de seu povo para ascender a chama do desenvolvimento.
Para desvendar tamanhos preconceitos quanto à imagem da África, muitos africanos estão presentes no mundo todo e através de conferências ou simples palavras demonstram a evolução de seu continente. Um destes célebres africanos é o Sr. Daniel António Pereira, Embaixador do Cabo Verde no Brasil, no qual proferiu uma palestra sobre seu país e argumentou sobre a história de Cabo Verde e sua situação atual.
Cabo Verde, como o Brasil, foi colônia de Portugal por muitos séculos e o motivo maior da colonização certamente foi sua posição geográfica, que na época eram dez ilhas isoladas no Atlântico. Assim sendo, tornava-se fácil o tráfico negreiro dos escravos ladinos e a rota marítima para a exploração dos demais territórios africanos. As ilhas de Cabo Verde somente se unificaram e conseguiram a Independência em 1975 e, a partir de então, os caboverdianos puderam lutar em prol da nação. Este momento pós-independência criou oportunidades para a população de Cabo-Verde, que, puderam construir o país a seu próprio modo. Foi então que o Sr. Daniel, jovem na década de 70, resolveu graduar-se em História e interessou-se em estudar a história de Cabo Verde, que outrora era somente contada pela História de Portugal. A história de Cabo Verde foi então construída através de pesquisas científicas feitas pelo próprio Sr. Daniel e outros.
Hoje, o país possuí 10% de analfabetos (rumo ao 0%), expectativa de vida de 69/72 anos, taxa de mortalidade baixa e estrutura tecnológica em ritmo de avanço com as fibras-ópticas submarinas. De acordo com o Embaixador, o segredo do ritmo do desenvolvimento de Cabo Verde está na aplicação total do investimento internacional no progresso próprio do país, isto é, sem desvios de verbas, sem corrupção! Cabo Verde, porquanto, é um dos exemplos dos países africanos que estão em via de desenvolvimento e, por maiores que foram as conseqüências do desastre colonial, conseguiram se unirem e superar os problemas iniciais. Que isto sirva de exemplo a nós, brasileiros, tão grandes em território, mas tão pequenos em identidade e união.

REFERÊNCIA: Palestra do Sr. Daniel António Pereira em Bebedouro em 11/09/2009.

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO" (BARRETOS/SP), EM 18 DE SETEMBRO DE 2009.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

IMPERADORES DE UM BRASIL (II)



Depois de relatar algumas linhas sobre o primeiro Imperador do Brasil, Pedro I, nesta semana de comemoração da Independência do Brasil, voltemos o olhar àquela que tanto surpreendeu os brasileiros do século XIX, mas que é pouco citada nos livros didáticos de História: a imperatriz Maria Leopoldina. Seu nome era Maria Leopoldina Josefa Carolina de Habsburgo-Lorena, arquiduquesa da família Habsburgo-Lorena, filha do Imperador da Áustria Francisco I e irmã de Maria Luísa, casada com Napoleão I. Era dona dos mais finos costumes, princípios religiosos e apreciadora das ciências e artes.
Agora, imaginemos esta nobre arquiduquesa chegando ao Rio de Janeiro em 1817, com 20 anos de idade, para casar-se com o príncipe português que ela não conhecia. Pois é, assim foi a chegada da futura imperatriz brasileira na capital do Império, contam os especialistas que ela se assustou inicialmente com os aspectos físicos dos brasileiros e depois com seus costumes muito distintos da cultura européia. Contudo, adotou o povo brasileiro como “seu” a partir do momento em que tomava as poucas e sábias decisões no governo do marido Dom Pedro I.
Todavia, o contraste de personalidades entre Maria Leopoldina e Pedro d’ Alcântara entrou logo em evidência e era notável a fina educação da imperatriz versus os maus modos do imperador. Tiveram sete filhos (mas, nove partos) ao longo de nove anos: Maria da Glória, Dom Miguel, Dom João (ambos falecidos quando bebês), Januária, Paula Mariana, Francisca e Pedro d’ Alcântara. Sua vida no Brasil durou muito pouco, apenas nove anos, e nas cartas que escrevia à irmã era perceptível a vida depressiva que vivia por conta das aventuras de Dom Pedro I com suas amantes, em destaque Domitila de Castro, com quem teve quatro filhos. Faleceu durante o último parto em 11 de dezembro de 1826, no Rio de Janeiro, mas seus restos mortais estão no Parque do Ipiranga em São Paulo ao lado dos do Imperador.
Em contrapartida, a nobre cultura e educação zelada por Maria Leopoldina deixaram-nos alguns objetos de História Natural e Zoologia guardados em seu gabinete, que, mais tarde seu filho, Dom Pedro II, doou ao Museu Nacional com o título de “Coleção Imperatriz Leopoldina”. Em relação a seu filho Pedro II, o historiador J. Murilo de Carvalho ressalta: “Embora D. Pedro II não tenha tido oportunidade de conviver com a mãe, os dois se assemelhavam em muitos pontos. Era-lhes comum o amor aos livros e à ciência, especialmente à astronomia. Tinham também em comum a obsessão pelo cumprimento do dever e buscavam refúgio no estudo quando atormentados pelo tumultuar dos sentimentos”.
Maria Leopoldina, Imperatriz do Brasil, Rainha Consorte de Portugal e Arquiduquesa da Áustria, além de todos seus títulos, foi a primeira “mãe” do povo brasileiro, uma européia culta, que fez das terras americanas a sua pátria.

REFERÊNCIAS:
Revista “Leituras da História”. 1º semestre de 2009.
CARVALHO, José Murilo de. Dom Pedro II: ser ou não ser? Cia. das Letras: 2007.


ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO" (BARRETOS/SP), EM 11 DE SETEMBRO DE 2009.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

IMPERADORES DE UM BRASIL (I)



O feriado próximo é referente à “Independência do Brasil” proclamada oficialmente em 07 de setembro de 1822; para recordarmos, quem nunca ouvir falar das famosas palavras de Pedro I às margens do rio Ipiranga: “Independência ou morte!”? Muitos comentários e recentes estudos rodeiam este fato relatando que este “grito do Ipiranga” foi puramente oficial, já que naquele dia chovia muito em razão do clima tropical paulista. O fato é que, com a Proclamação da Independência o Brasil deixou de ser colônia de Portugal e deu o primeiro passo em direção a sua liberdade, agora se isso se concretizou... já é outro assunto. A intenção deste artigo é relatar um pouco não sobre o fato histórico em si e sim sobre os personagens mais falados neste assunto: o imperador Dom Pedro I, a Imperatriz Maria Leopoldina e a família real.
É claro que estas poucas linhas não narrarão a vida de Pedro de Alcântara Francisco Antônio João Carlos Xavier de Paula Miguel Rafael Joaquim José Gonzaga Pascoal Cipriano Serafim de Bragança e Bourbon, mas pelo menos teremos a chance de recordar parte da extravagante biografia do primeiro Imperador do Brasil. Nasceu em 12/10/1798 e era filho de Dom João VI de Portugal e Carlota Joaquina da Espanha. Conquistou o título e foi aclamado Imperador do Brasil em virtude de ter sido o patriarca da Independência do país e seu defensor perpétuo.
Recentemente foi lançado o livro “Dom Pedro I: um herói sem nenhum caráter” pela escritora Isabel Lustosa e ela anuncia: “De personalidade turbulenta e mal-educado, Pedro de Bragança e Bourbon tinha tudo para ser um péssimo governante. Em certo sentido foi – dizendo-se liberal, exerceu o poder de maneira autocrática, dissolveu a Constituinte que ele mesmo convocou, humilhava os aliados e amigos, quando no Brasil se cercou de uma corja de dar medo (...)". Porém, por essas e outras, deixemos por conta da nossa interpretação individual os erros e acertos da política de Dom Pedro I.
Outra discussão sobre a personalidade do imperador é sua obsessão pelos encantos femininos, logo, quem se lembra da minissérie “O Quinto dos infernos”? Com autoria de Carlos Lombardi e exibida em 2002, a minissérie global retratava o cotidiano da família real brasileira e as peripécias do imperador. Naquelas imagens já notávamos a personalidade excêntrica de Pedro I, o aventureiro, mas, por vezes, sofredor da epilepsia.
Por fim, digamos que estas linhas foram realmente muito breves em tratar da nossa família real, por isso, continuaremos a escrever na semana que vem sobre as aventuras de Pedro I e a nobre Imperatriz Maria Leopoldina. Um casamento arranjado, sete filhos e um império recente, o nosso Brasil... esta era a vida na corte imperial.

REFERÊNCIAS:
LUSTOSA, Isabel. Dom Pedro I: um herói sem nenhum caráter. Cia. Das Letras: 2006.
CARVALHO, José Murilo de. Dom Pedro II: ser ou não ser? Cia. das Letras: 2007.


ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO" (BARRETOS/SP), EM 04 DE SETEMBRO DE 2009.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

O “SER” BARRETENSE



Nesta semana a cidade comemorou seus 155 anos de fundação e é nesta época do ano que nós, barretenses, nos sentimos envolvidos pelo sentimento de união. Este é o momento de refletirmos sobre o que é ser barretense? Qual foi nossa evolução? E onde queremos chegar?
É interessante lembrar que o dia 25 de agosto é simplesmente a “data oficial” da fundação da cidade, isto é, o pequeno arraial já possuía vida antes deste período e os nossos patriarcas Barreto e Marques eram os lavradores das respectivas fazendas Fortaleza e Monte Alegre. Datam de 1830 os indícios dos primeiros povoamentos da nossa região, que era conhecida como o “6º quarteirão de Jaboticabal”. Digamos, porquanto, que foram estas primeiras famílias que deram vida e “cor” a terra que hoje chamamos de Barretos e ao povo que hoje somos nós, barretenses.
O dia “25 de agosto de 1854” marcou a fundação de Barretos porque foi o dia em que as famílias Barreto e Marques se juntaram para assinar o documento de doação das terras para o Divino Espírito Santo. As fontes históricas relatam que esta era a vontade do patriarca Chico Barreto e que graças a este ato foram doadas pela família Barreto 62 alqueires de terra e pela família Marques 20 alqueires de terra em prol da construção da Capela do Divino Espírito Santo. Com a edificação da capela, a pequena população da vila foi morar ao redor do santuário e a cidade cresceu a sua volta, sendo este o motivo da Igreja Matriz do Divino Espírito Santo concentrar-se no centro da cidade de Barretos.
Os Barreto foram desaparecendo, alguns forasteiros aqui chegaram, fixaram residência e os costumes foram também modificados. Passamos a ser em 1885 a “Vila de Espírito Santo de Barretos” e em 1891 simplesmente Comarca de “Barretos”. Vivemos diferentes conjunturas da história do Brasil, desde a República Velha até a redemocratização com o fim da Ditadura Militar, e permanecemos sempre aqui com as nossas peculiaridades fazendo da nossa cultura o nosso cartão-postal. Alguns prédios antigos resistem em pé e demonstram a todos que a cidade passou por estes momentos e a “tradição” ainda é seu sobrenome.
Ao todo, até hoje, passamos por 35 prefeitos oficiais e pelas mais diversas tendências da sociedade, contudo é difícil dizer sobre uma “evolução”, pois cada época, desde a origem até os dias atuais, teve seu valor e suas limitadas condições de melhorar a cidade. Se existe uma linha do tempo da história de Barretos, extraordinariamente ela não é linear e crescente, ela é circular e merecedora dos mais altos “Parabéns”, porque em todas as épocas foram germinadas as sementes da boa fé, não por todos é verdade, mas pelos verdadeiros barretenses. Porque ser barretense, não é somente ser descendente direto ou indireto de Chico Barreto e Ana Rosa, é ser abençoado por estes dois e ser apreciador desta história tão grandiosa. E se ainda queremos chegar a algum lugar, é nos dias em que todos serão orgulhosos desta cidade caipira, envolvente e histórica!

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO" (BARRETOS/SP), EM 28 DE AGOSTO DE 2009.

AO CAMPEÃO OSMAR MARCHI



“Osmar Marchi de São Paulo, não teve animal para jogá-lo no chão”
(Música de “Os Jassanãs” – Primeiro Rodeio Furacão)


No clima do mês de agosto, o Museu Histórico, Artístico e Folclórico “Ruy Menezes” apresenta a Exposição “Paixão sem limites” em homenagem ao bicampeão de rodeio em Barretos, Osmar Marchi. A exposição foi aberta no último dia 15 e permanecerá no local até o dia 30 de agosto. Na abertura aconteceram muitos momentos emocionantes como o encantador toque do berrante, declamação de poesias, música caipira ao vivo e inúmeras homenagens sinceras a Seu Osmar. Seus olhos brilhavam...
Mas, se existiu algo que chamou muita atenção em todo momento foram as fotografias. Belas fotografias da vida de um dos maiores e autênticos peões paulistas, que, depois de identificadas por Seu Osmar pareciam falar por si só. É de se admirar a biografia deste barretense no alto de seus 70 anos, casado com a carinhosa Dona Fátima, pai de Rosemeire, Fabiana e Osmar Filho (também peão) e avô de cinco netas.
As primeiras imagens apresentam Osmar Marchi com 17 anos quando era jóquei e já demonstram a habilidade e a paixão do peão pelos animais. Só deixou de ser jóquei quando ganhou peso, mas continuou sua lida com os animais. Sua primeira participação no rodeio foi em 1964 e ficou em terceiro lugar. As fotografias da década de 60 apontam Osmar Marchi como um peão sereno, vencedor de dois rodeios em Barretos nos anos consecutivos de 1966 e 1967.
Contudo, são as fotografias da década de 70 que marcam Osmar como um peão maduro e valente. As figuras lembram aqueles filmes de “bang-bang” e “faroeste”, com a iluminação amarelada, os peões com suas típicas indumentárias, sem faltar o lenço no pescoço, chapéu, botas de couro e fivela, além da pose com as mãos no bolso da calça, a expressão séria do rosto e os bigodes muito bem definidos.
O famoso peão que foi campeão de rodeio em mais de vinte cidades, despediu-se da profissão em 1979, entretanto, nunca deixou de trabalhar neste ambiente de fazendas e animais. Atualmente, Osmar Marchi é um homem experiente, religioso, muito simpático e dono de histórias sensacionais. Parabéns ao grande campeão de ontem, hoje e sempre, Osmar Marchi, a lenda do rodeio barretense.
Leitores, visitem a Exposição, vale a pena!

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO" (BARRETOS/S), EM 21 DE AGOSTO DE 2009.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

FASES E FACES DO CIGARRO



Todos sabem que há uma semana atrás tornou-se válida no Estado de SP a Lei Antifumo, proibindo o fumo em ambientes fechados de uso coletivo. Os fumantes que nos desculpem em não parar de falar nisso, mas, depois de um século das mais diversas propagandas em favor do tabaco, o cigarro finalmente passa a ser visto como grande inimigo de nossa saúde e o respeito aos não-fumantes invade o cenário paulista.
Já dizia o ditado “A propaganda é a alma do negócio” e com este lema a indústria do tabaco atingiu seus tempos de êxtase durante a segunda metade do século XX. Nesta época, a mentalidade dominante era buscar o estilo de vida “luxuoso” para uns ou “libertário” para outros, então a publicidade aproveita desta vontade humana para vender, em primeiro lugar, a ideia do estilo de vida que procuravam e, depois, o produto.
O público fumante se expandia, ainda mais na época da Ditadura Militar, onde os jovens expressavam seus atos de liberdade e fumar livremente era um deles. Mas, o maior público-alvo da publicidade do cigarro foram as mulheres! Era necessário conquistar o imaginário feminino e as marcas dos “cigarrettes” lançavam em seus cartazes imagens de bebês robustos e sadios! Além disso, eram sempre destacados os slogans de que fumar emagrecia, com isso, as mulheres sentiam-se mais próximas e seduzidas pelo produto. Fumar era o seu charme.
Nas décadas de 70 e 80, as imagens de modelos famosas, artistas do cinema antigo como John Wayne, personagens como “Papai-Noel” e profissionais como médicos e dentistas também eram fortes atrativos e referenciais nas propagandas. A partir dos anos 90, a preocupação com a saúde pública foi maior e as propagandas tabagistas perderam seus dias de glória. De anúncios coloridos e alegres, os maços de cigarro passaram a exibir imagens de pessoas gravemente doentes e debilitadas por conta do fumo.
Nos dias de hoje um novo passo foi alcançado, a Lei Antifumo, agora não só a preocupação com o fumante foi pensada, como também o respeito com o não-fumante foi garantido. Para alguns esta lei parece um fracasso, mas se não acreditarmos no apreço dos paulistas, que tipo de cidadãos somos nós? Do mesmo modo como nos acostumamos a usar cinto de segurança, cumpriremos também esta lei. Assim como a mentalidade a propaganda mudou, fumar não é mais bonito, é nocivo e desagradável. A verdadeira face do cigarro veio à tona e a nova propaganda é “Fumar agora, só lá fora”.

REFERÊNCIA: Revista “História Viva” de jul/2009, reportagem de Maria Berenice C. Machado.

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO" (BARRETOS/SP), EM 14 DE AGOSTO DE 2009.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

LUZ, PROJETOR, AÇÃO!




Se existe algo que quase todas as pessoas da geração atual apreciam e algumas têm até como hobby é assistir um bom filme. O cinema reúne tecnologias que incessantemente crescem e surpreendem cada vez mais os limites das artes visuais. Através dele podemos observar lugares e situações que não nos é possível conhecer, além de estimular sempre a nossa imaginação com acontecimentos passados ou futuristas. Ele também brinca com o tempo. Mas, como toda essa tecnologia começou?
A arte da imagem em movimento por muito tempo foi discutida, desde as invenções e experimentos com a câmara escura e a lanterna mágica. Em breve resumo, dizemos que foi no final do século XIX que a ciência óptica alcançou seu maior êxito, pois a Europa fervilhava novas idéias, criações e descobertas. Entre outras coisas, os cientistas desenvolviam máquinas que tiravam fotos em seqüência, que quando expostas rapidamente, davam impressão que as imagens se movimentavam. Contudo, foi com o aumento do tempo das gravações e da capacidade de projetar luz que nasceu a máquina progenitora do cinema: o cinematógrafo.
Criado pelos irmãos franceses e herdeiros de uma indústria fotográfica Auguste e Louis Lumière, o cinematógrafo possibilitou a projeção de filmes para o público, substituindo a ação de várias máquinas fotográficas para registrar um movimento. Em 1895, no Grand Café em Paris, aconteceu a primeira exposição pública de cinema mudo com os filmes de poucos minutos: “A saída dos operários das usinas Lumière”, “O almoço do bebê”, “O mar” e “A chegada do trem na Estação”.
Há quem diga que este último filme causou demasiado espanto nas pessoas, já que elas nunca tinham visto uma projeção de imagem tão grande e tão real, pensaram que o trem fosse de verdade e que iria ultrapassar a projeção e atropelá-las. Este tipo de espanto foi muito comum nesta época, afinal algo “novo” causa espanto em qualquer pessoa e assim é demonstrado nas palavras de Jorge Americano, sobre o cinematógrafo:
“Tinham inventado um retrato que se mexia. Era como se o retrato da gente, balançando na rede, ficasse balançando sempre. Não era como a lanterna mágica, que só mexia quando a gente empurrava um cabinho ao lado. Comprava-se o quadro, pendurava-se na parede e as figurinhas ficavam mexendo sempre, como na hora em que se tirou o retrato”.
O cinematógrafo, por fim, foi uma máquina valiosíssima na evolução das artes visuais e que, literalmente, “iluminou” o cinema mundial. O nosso Museu “Ruy Menezes” possui em seu acervo um belíssimo cinematógrafo da década de 50, que outrora pertenceu a E.E. Cel Almeida Pinto, vale a pena conferir e apreciar!

REFERÊNCIA: www.webcine.com.br
Revista “Nosso Século” de 1981.


ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO" (BARRETOS/SP), EM 07 DE AGOSTO DE 2009.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

DIÁLOGO DOS TEMPOS



Leitores, o que vocês pensam sobre aquela famosa linha do tempo que divide a História somente em marcos importantes? Os acontecimentos políticos de certa forma definiram os períodos da Pré-História, Idade Antiga, Idade Média, Idade Moderna e Idade Contemporânea. O período anterior ao surgimento da escrita humana ficou conhecido como “Pré-História”, como se nesta ocasião o homem não fizesse parte da história, descartando o significado de História como o estudo do homem e sua relação com as transformações do tempo.
Posteriormente, os marcos políticos e digam-se de passagem, europeus, tornaram-se os fatores desencadeadores de um tempo passado para o futuro. É como se o fim do Império Romano do Ocidente, a queda de Constantinopla e a Revolução Francesa ditassem o fim de uma era e de repente regessem as regras da nova geração. É claro que estes fatos foram importantes e até desenvolveram novos hábitos à humanidade, a própria Revolução Francesa irradiou seus ideais em várias partes do mundo. Mas, o que de fato move o tempo da História e faz com que surja uma nova era?
Esta questão é discutida há muito tempo e gera inúmeras reflexões, entretanto, vamos nos ater à “mentalidade” do homem, aquilo que muda mais lentamente, a resistência muda das coisas, as idéias, a cultura, a tradição. Este é o ponto que explica alguns hábitos que possuímos hoje e que surgiram num passado muito distante, porque independente do tempo histórico que vivemos somos parte da mesma espécie e compartilhamos dos mesmos costumes. Por exemplo, em vários momentos da história existiram homens e mulheres que desafiaram a mentalidade de uma época e inovaram seu próprio meio. Entre muitos estão, Jesus Cristo, Alexandre O Grande, Galileu Galilei, Joana D´Arc, Marie Curie, Santos Dumont, Einsten, Gandhi, Che Guevara e outros revolucionários.
Estes exemplos mostram que nenhuma era é mais ou menos atrasada ou adiantada que outra, o tempo não é linear e continuo, pelo contrário, é circular e complexo. Hoje, e quiçá no futuro, temos e teremos hábitos que foram originados na Idade Média ou até antes, como o casamento, a música, a desigualdade social e a tradição da religiosidade humana. Estas práticas são baseadas em fatores ligados desde a divisão social do trabalho até uma desenfreada tendência de moda.
Porquanto, a História, através do estudo das mentalidades, permite um diálogo entre os tempos passado, presente e futuro a fim de que possamos conhecer deveras os pontos em comum dos homens. O que marca a história não é o “fato em si” e sim a junção deste com o próprio homem que transforma a mentalidade da sua era, atualiza o seu meio e expande seus horizontes.

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO" (BARRETOS/SP), EM 31 DE JULHO DE 2009.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

O INESQUECÍVEL JOÃO FALCÃO



De um lado a poesia, o verbo, a saudade.
Do outro a luta, a força e a coragem pra chegar no fim.
E o fim é belo incerto, depende de como você vê. (O Teatro Mágico).


Os amigos e familiares do saudoso João Falcão sabem que no próximo dia 27 de julho ele comemoraria seus 102 anos. Estas linhas, pois, fazem jus à singela homenagem póstuma sobre uma pequena parte de sua biografia, mais voltada para o teatro, para que as pessoas que não o conheceram também possam contemplar sua história de vida. Eis a biografia de João Falcão, uma trajetória que atravessou a linha do tempo em oitenta e quatro longos anos que honradamente marcou a história de Barretos. João Falcão nasceu em Bebedouro, no dia 27 de julho de 1907 e com dois meses de idade veio para Barretos com seu pai Sebastião Falcão e sua mãe Bertolina Amélia Falcão. No dia 30 de junho de 1930 se casou com Ana Marques Falcão e desta união nasceram seis filhos: Albíria Tereza, Wladimir, Caiuby, Carlos Marx, Rosa de Luxemburgo e Claudinéia.
O jovem estreou no teatro amador no ano de 1928, com a peça “Falsos Amigos”, encenada na União dos Empregados do Comércio de Barretos, pelo “Grupo Dramático Amor à Arte” de Hildebrando de Araujo. Posteriormente, participou do Corpo Cênico da U.E.C, trabalhando ao lado de Romeu Sessa, Humberto e Carminha Belivacqua e Alonso de Souza. Em seguida, atuou no “Teatro Experimental de Barretos”, no “Teatro do Estudante de Barretos” e no “Teatro Universitário de Barretos”.
Já homem feito, com suas ideologias de esquerda, João Falcão sofreu alguns pesares na década de 60, uma vez que o Brasil passava pelo contexto da sofrível ditadura militar. Desta época, o que pode ser retomado é a criatividade de João quanto aos nomes de seus filhos, nomes de ilustres pensadores e escritores esquerdistas.
Depois de encenar várias peças teatrais ao lado de grandes ícones do teatro barretense como Luiz Carlos Arutim, Dermeval de Almeida, os irmãos Pio e Hugo Toneli, Fioravante Toneli, João Rosa, Eunice Espíndola; em 1976, ao lado de José Antonio Merenda, fundou o “Grupo Teatral Amor à Arte em Barretos”, G.T.A.A.B.
Faleceu em 19 de março de 1991 aos incompletos e raros 84 anos, hoje é patrono do Instituto Cultural “João Falcão” e quase todos os anos sua família recebe homenagens em seu nome.
O jovem, o adulto e o velho João Falcão atravessou o longo tempo do século XX cintilando os palcos teatrais e marcando o coração das pessoas com a arte de seu sempre presente sorriso. Hoje, em 2009, posso dizer que “teatro” era sua vida e “inesquecível” é o seu maior adjetivo. Saudações.

REFERÊNCIA: Documentos e foto do Museu “Ruy Menezes”.

Foto: João Falcão em 1928

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO" (BARRETOS/SP), EM 24 DE JULHO DE 2009.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

O REVOLUCIONÁRIO JOÃO ROCHA (II)

Depois de “cutucar a onça com a vara curta”, isto é, tentar persuadir as tropas mineiras com sua astúcia durante a luta de 1932 no Porto do Taboado, João Rocha fez da sua história um exemplo de perseverança. Por isso mesmo, continuo aqui a história da trajetória final de João Rocha na Revolução de 1932 iniciada na semana passada.
Para tentar salvar João Rocha e Pombo, seis outros combatentes também atravessaram o Rio Grande, mas todos foram capturados. Depois de apreendidos, foram amarrados em uma árvore até o momento em que chegaria uma condução que os levasse para Frutal.
Com ameaças de fuzilamento e torturas, os combatentes foram levados respectivamente para Uberaba, Belo Horizonte e para a famosa Ilha das Flores, na capital federal Rio de Janeiro, bem às vistas do presidente Vargas. Neste local, juntaram-se a três mil prisioneiros e “enquanto durou a revolução, os soldados paulistas viveram nessa ilha, cercados por arame eletrificado, dormindo mal e comendo pessimamente, mal vestidos, em geral descalços, mas alegres, bem humorados e maltratando quanto podiam, através de discursos, de músicas e canções que inventavam à Ditadura de Getúlio Vargas” (Jerônimo Barcellos – 1968).
Com o fim da Revolução, a Ilha das Flores foi liberada e o primeiro grupo de prisioneiros, onde estava João Rocha, foi libertado. Separou-se, porém, de seu amigo Pombo. Estava liberto, mas como voltaria para Barretos? Sua aparência não era nada boa, sua roupa estava suja e rasgada, além da fome que sentia. Foi então que, depois de vagar três dias pelas ruas da capital federal, João Rocha colocou sua famosa coragem em prática e escondeu-se debaixo de uma lona de um vagão da Estação Ferroviária Central e com destino a São Paulo viajou clandestinamente. Todavia, a fome falou mais alto nos três dias de viagem e João Batista mostrou-se ao guarda do vagão quando viu o lanche que o mesmo saboreava. Assim, contou tudo ao guarda do trem e teve seu apoio durante a viagem, contou também com a ajuda de muitas pessoas. Até que em 16 de outubro teimosamente alcançou seu objetivo final, chegar a Barretos e ficar entre sua família.
Esta foi a trajetória histórica de João Batista da Rocha, um jovem destemido e ousado que mais tarde se tornou prefeito de Barretos. Seu capacete hoje faz parte do acervo do Museu “Ruy Menezes” e permite uma sensação de “viagem no tempo” quando o vemos, pois está com a marca do tiro que acertou de raspão João Rocha. A revolução de 1932 teve muitos outros combatentes e histórias, que, assim como a de João Rocha causam entusiasmo e expectativa para nós que não vivemos este momento.

REFERÊNCIAS: Documentos do Museu “Ruy Menezes”.

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO" (BARRETOS/SP), EM 17 DE JULHO DE 2009.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

O REVOLUCIONÁRIO JOÃO ROCHA (I)



“O povo paulista, nos grandes tormentos,
nos duros momentos, não chora, não geme,
nem sabe ter medo, é como rochedo de puro granito,
que aos ventos não treme”.
(Adão de Carvalho, 1932).


O feriado de nove de julho abre o leque de recordações referentes às causas constitucionalistas da Revolução de 1932 e nos instiga a conhecer mais sobre o assunto. Os motivos pela luta revolucionária foram muito bem definidos pelo Sr. Bezerra Filho, em Barretos, durante a saudação feita em frente ao Paço Municipal durante a revolução: “Hoje, a bandeira de São Paulo entra pelo Brasil a fazer sua reconstitucionalização. São Paulo não se sujeita à ditadura. São Paulo luta para ser o escravo da lei, o servidor do direito, para obedecer à Justiça, para amar-se paladino da Liberdade”.
Ao todo foram 25.000 revolucionários divididos em 12 frentes de batalhas, em Barretos foram inscritos 200 nomes de voluntários, divididos em batalhões diferentes para defender as fronteiras dos portos margeados dos rios do estado de São Paulo. A primeira frente se chamou “grupo dos 52” e trabalhou em Olímpia por 8 dias combatendo as tropas federais. É perceptível o sentimento fervoroso dos paulistas em defender seu território, mas, conforme as fotografias dos revolucionários onde estão cantando, jogando e até se divertindo, eles se alistavam não somente por este sentimento, queriam novos desafios. Muitos eram jovens, demasiadamente jovens, como o nosso querido João Batista da Rocha de apenas18 anos na época.
As mentes privilegiadas dos senhores Adolpho Fernandes e Luiz Brandão confirmam a história contada por Jerônimo S. Barcellos nas páginas amareladas do jornal “O Correio de Barretos” de agosto de 1968. João Rocha fez parte do Batalhão defensor do Porto do Taboado e depois do Porto da Maricota, junto a Ruy Menezes. Coragem e ousadia foram virtudes que não faltaram a João Rocha, pois ele atravessou de canoa o Rio Grande duas vezes para tentar convencer as tropas federais. Na primeira o sucesso foi garantido, uma vez que levou cigarros, remédios, fósforos e objetos úteis aos rivais, contudo, a segunda vez foi traiçoeira e João e seu companheiro Pombo foram capturados pelos mineiros, mesmo ele atirando contra o comandante da tropa federal.
Pois bem, o que será que aconteceu com João Rocha depois da reação mineira? Teria reagido? Teria sido preso? Ferido? Esta história é digna de maiores linhas e merece ser continuada no artigo da semana que vem, assim como se fosse o último capítulo de uma novela. Leitores, aguardem curiosos...

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO" (BARRETOS/SP), EM 10 DE JULHO DE 2009.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

O FILHO DE ANTÔNIO: DA TRAMELA, UM PRESENTE



Depois de ter vivido uma candente história de amor com sua esposa Joanita, linda goiana, as emoções na vida de Antônio continuaram a cintilar seus sentimentos. O moço de 24 anos trabalhava na Fazenda Cachoeirinha e sua esposa cuidava da casa que moravam na fazenda, por enquanto, o casal tinha três filhinhas: Norma, Ivone e Maria. Antônio mal sabia que estava prestes a viver uma das maiores emoções de sua vida, se não a maior. O melhor presente que poderia receber no exato dia de seu aniversário, seu filho.
Era início da madrugada do dia 04 de julho de 1964, Joanita estava grávida do quarto filho, prestes a dar a luz. As meninas dormiam no quarto, pareciam porcelanas. Em contraste deste calmo cenário, ventava muito e a tempestade era tão forte que mal ficavam acesas as lamparinas da casa de grandes cômodos. A casa parecia ser grande porque a família ainda não estava completa, tinham quartos ainda não ocupados e justamente em um destes quartos a janela estava mal fechada e o vento forte adentrou o ambiente e estatelou um barulho que fez o casal, já inquieto, acordar. “É a tramela da janela que esta mal fechada” pensou Antônio. Levantou-se para fechar a “teimosa” tramela e assim fez. Joanita, porém, com o susto do forte vento, assuntou e já gritava as dores do parto. Antônio correu junto a sua esposa e não pensou duas vezes: “eu mesmo farei o parto”.
O tempo foi suficiente para pegar a lenha, acender o fogão, esquentar à brasa uma colher de metal, pegar panos limpos e fervilhar a água. Em poucos minutos, às luzes de lamparinas, Antônio viu seu primeiro filho homem nascer. Fortes emoções pairavam no ar e expressavam o rosto aliviado do mais recente papai. Ele mesmo cortou e cuidou do cordão umbilical. O menino chamou-se Marco Antônio, um bebê que não chorava muito, mas que teve a hora certa para nascer.
Hoje, à véspera de 4 de julho, quarenta e cinco anos depois do raro acontecimento, Antônio, meu maravilho vovô, completará sessenta e nove anos de vida. O que posso dizer, vovô, é que são raras as pessoas que são capazes de transformar singelas emoções do passado em grandes histórias no futuro. Você é meu exemplo, um homem excepcional, de poucas palavras e sobretudo leal. Eu te amo! Ao meu tio Marco, querido, você também é imensamente especial, quanto o momento em que nasceu. O susto causado pela tramela mal fechada se transformou em um presente para a nossa família. Parabéns ao pai e ao filho! Sinceras felicidades.

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO" (BARRETOS/SP), EM 03 DE JULHO DE 2009.