segunda-feira, 3 de agosto de 2009

DIÁLOGO DOS TEMPOS



Leitores, o que vocês pensam sobre aquela famosa linha do tempo que divide a História somente em marcos importantes? Os acontecimentos políticos de certa forma definiram os períodos da Pré-História, Idade Antiga, Idade Média, Idade Moderna e Idade Contemporânea. O período anterior ao surgimento da escrita humana ficou conhecido como “Pré-História”, como se nesta ocasião o homem não fizesse parte da história, descartando o significado de História como o estudo do homem e sua relação com as transformações do tempo.
Posteriormente, os marcos políticos e digam-se de passagem, europeus, tornaram-se os fatores desencadeadores de um tempo passado para o futuro. É como se o fim do Império Romano do Ocidente, a queda de Constantinopla e a Revolução Francesa ditassem o fim de uma era e de repente regessem as regras da nova geração. É claro que estes fatos foram importantes e até desenvolveram novos hábitos à humanidade, a própria Revolução Francesa irradiou seus ideais em várias partes do mundo. Mas, o que de fato move o tempo da História e faz com que surja uma nova era?
Esta questão é discutida há muito tempo e gera inúmeras reflexões, entretanto, vamos nos ater à “mentalidade” do homem, aquilo que muda mais lentamente, a resistência muda das coisas, as idéias, a cultura, a tradição. Este é o ponto que explica alguns hábitos que possuímos hoje e que surgiram num passado muito distante, porque independente do tempo histórico que vivemos somos parte da mesma espécie e compartilhamos dos mesmos costumes. Por exemplo, em vários momentos da história existiram homens e mulheres que desafiaram a mentalidade de uma época e inovaram seu próprio meio. Entre muitos estão, Jesus Cristo, Alexandre O Grande, Galileu Galilei, Joana D´Arc, Marie Curie, Santos Dumont, Einsten, Gandhi, Che Guevara e outros revolucionários.
Estes exemplos mostram que nenhuma era é mais ou menos atrasada ou adiantada que outra, o tempo não é linear e continuo, pelo contrário, é circular e complexo. Hoje, e quiçá no futuro, temos e teremos hábitos que foram originados na Idade Média ou até antes, como o casamento, a música, a desigualdade social e a tradição da religiosidade humana. Estas práticas são baseadas em fatores ligados desde a divisão social do trabalho até uma desenfreada tendência de moda.
Porquanto, a História, através do estudo das mentalidades, permite um diálogo entre os tempos passado, presente e futuro a fim de que possamos conhecer deveras os pontos em comum dos homens. O que marca a história não é o “fato em si” e sim a junção deste com o próprio homem que transforma a mentalidade da sua era, atualiza o seu meio e expande seus horizontes.

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO" (BARRETOS/SP), EM 31 DE JULHO DE 2009.

2 comentários:

Unknown disse...

Bem, acredito que essa ditática de estudo da história, está ligado a falta de visão das pessoas e a precarização do ensino.
Devemos reconhecer que com este método e um pouco de percepção, é possível criar uma noção de mundo, porém é um modo resumido, e incompleto de estudar história.
Outro ponto levantado, é que são os acontecimentos da Europa que determinam a linha do tempo. Acredito que isso é reflexo da natureza humana, de sempre ver as coisas do seu ponto de vista, querendo ou não, foi onde a história de nossa civiliação começou, e toda vez que se faz menção a outros povos, é da relação deles, com a cultura ocidental.
Admiro sua crítica, e tenho a mesma visão, e graças a evolução, temos todas as "armas" para nos libertar desse "mal", globalização, técnologia em telecomunicação e transporte podem nos propiciar informações da maioria das culturas, para que possamos estudá-las e analizá-las com todo critério que o noss conhecimento nos permite.
Bom, acho que chegar por hoje, Beijo Karla, gosto muito dos seus textos!

Traple

Profª Karla disse...

Muito obrigada Traple! Você como sempre arrasa em seus comentários.

Realmente, a história tradicional é sim um método até "eficaz" de se criar percepção da noção de tempo e espaço geográfico, principalmente sob crianças e adolescentes que estudam História. Se fosse o contrário, como nós teríamos aprendido alguma coisa não é mesmo?
Contudo, felizmente a metodologia de ensino das ciências humanas em geral está sendo modificada com o tempo e a tendência é sempre aproximar nós mesmos da nossa própria realidade.
É claro que a História da Europa será a referência-mor, não devemos negar que por conta da expansão ultramarina, de um modo nada benéfico, ela acabou por pelo menos nos colocar "no mapa".
Mas, o que devemos sempre salientar é a história do nosso próprio país e principalmente a nossa cultura. Pesquisar, comparar, analisar, criticar e argumentar, este é o novo lema de estudo da História.

Abração pra você e muito obrigada pelo sua participação.
KARLA ARMANI.