domingo, 21 de março de 2010

O ABANDONO DE CÃES: UMA FALTA DE GRATIDÃO HISTÓRICA




O cão é o melhor amigo do homem”, é o que muito se vem repetindo ao longo do tempo da história da humanidade e que na história do tempo presente pouco se tem visto. Se assim o dizem, o cão como o melhor amigo do homem, porque então as ruas de Barretos exibem tantos cães abandonados que perambulam sem direção e muitas vezes machucados? Seria tanto desleixo um problema cultural ou pura ignorância individual? O fato é que parte dos barretenses, o que pode vir a se tornar uma maioria se não se criar consciência sobre o assunto, não estão retribuindo a amizade de seus animais e perdem a chance de ter sempre por perto a companhia de um amigo.
            Em muitas imagens históricas, cães, gatos e outros animais aparecem ao lado do homem, sejam em situações cotidianas ou em datas consideradas marcantes. No Brasil, temos quadros pintados por famosos artistas que retratam a presença de animais ao lado de líderes políticos, como exemplo, o quadro da Independência do Brasil onde aparece Dom Pedro I e seu cavalo branco, na esperança de mostrar ao futuro a cumplicidade entre o homem e o animal num gesto de bravura. Os cães também aparecem em imagens históricas, principalmente entre famílias brasileiras do início do século XX. Um exemplo típico da própria história de Barretos é a fotografia da filha do ex-prefeito da cidade Antonio Olympio, Maria Olympia quando menina, segurando seu cãozinho no colo.
            A representatividade dos animais, na Idade Contemporânea, é tipicamente relativa ao que se pensa certa região ou cidade sobre o tratamento dos mesmos. Em certos locais, existem políticas públicas que conscientizam a população sobre o abandono de animais e exercem leis sobre tal ato, já que isto deve partir do poder público. Na nossa cidade de Barretos, é incontestavelmente visível o abandono de animais em vários bairros, seja por falta de informação dos donos ou ausência de condições para se criar os animais. Isto acontece principalmente com os cães, que ficam desorientados nas ruas e sujeitos a doenças e atropelamentos.
            Ao olhar para esta situação, pensamos: e então como podemos ajudar? Algumas atitudes já foram tomadas por parte da própria população, como a criação da ABA (Associação Barretense de Animais) e a manifestação de pessoas que acolhem cães abandonados em suas próprias casas e depois os oferecem à adoção. A ABA mantém em seu espaço mais de cem animais sob cuidados especiais e aceitam todos os tipos de doações que as pessoas oferecem. Vale a pena conferir a seriedade do trabalho de pessoas sensíveis que se preocupam com os animais e ajudam a construir uma cidade mais consciente. Enfim, se o cão é o melhor amigo do homem, então porque não retribuirmos tamanha amizade que vem ao longo da História? Sejamos gratos e leais.


ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO" (BARRETOS/SP), EM 19 DE MARÇO DE 2010.

À OUSADIA DE ANÁLIA FRANCO


            Esta semana se iniciou com belas homenagens ao Dia Internacional da Mulher, 8 de março, e tais homenagens não chegaram ao fim, pois, como dizem por aí “todos os dias deveriam ser dia das mulheres”. Dizemos isto, por conta dos diversos exemplos de mulheres que a história da humanidade demonstra ao mundo, mulheres que fizeram parte de simples histórias de vida que emocionaram pessoas, as quais, mesmo não vivendo histórias tão intensas passaram a valorizar mais suas vidas e enxergar melhor suas próprias histórias.
            Esta, pois, é a principal intenção deste artigo, provocar as mulheres de hoje com exemplos de mulheres do passado, que ousaram em desafiar as rígidas mentalidades de suas épocas e encaminharam as mudanças vistas na sociedade presente. Então, porque não continuarmos em ousar e desafiar a sociedade e também preparar mudanças para o futuro?            
            Citamos como exemplo a intensa vida da dedicada professora e escritora Anália Franco, a qual viveu e floresceu no Brasil dos séculos XIX e XX. Sua biografia é contada por muitos sites da internet e algumas informações são citadas em textos que não aparecem em outros. Mas, se analisarmos o contexto da época e recortarmos breves passagens de sua vida, perceberemos que Anália Franco foi um exemplo de mulher em todos os sentidos.
            Leitores (as), imaginem o Brasil numa época em que poucas mulheres eram alfabetizadas e que as ruas das principais cidades brasileiras exibiam crianças abandonadas por conta da Lei do Ventre Livre, pois, como as crianças não mais escravizadas poderiam trabalhar, os “donos” de seus pais escravizados as expulsavam das fazendas. Pois bem, Anália Franco viveu nesta época e, assim que se formou “Normalista” (professora), recolhia estas crianças e as abrigavam para lhes oferecer educação, carinho e suas necessidades básicas. Foi assim que, ao longo de sua vida, a doce Anália Franco e seus seguidores fundaram “71 escolas, 2 albergues, 1 colônia regeneradora para mulheres, Liceus femininos, 23 asilos para crianças órfãs, 1 Banda Musical Feminina, 1 orquestra, 1 Grupo Dramático, além de oficinas para manufatura de chapéus e flores artificiais em 24 cidades do Interior e da Capital”. Além disso, em 1898, Anália Franco fundou sua própria revista “Álbum de Meninas”, onde passou a ser referência como escritora no mundo da educação e deixou muitos livros escritos aos quais são fontes de estudo na história da educação brasileira.
            Enfim, Anália Franco foi protagonista de uma linda e intensa história de vida que estas poucas linhas jamais conseguiriam definir. Por isso, vale a pena conferir mais sobre sua trajetória no Brasil e refletir sobre como isso repercutiu na vida das mulheres de hoje. Portanto, mulheres, que o exemplo de Anália Franco nos sirva como estímulo para transformar nossa realidade e ser referência para mudanças futuras.

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO" (BARRETOS/SP), EM 12 DE MARÇO DE 2010.

segunda-feira, 8 de março de 2010

TROTES: UMA PRÁTICA MEDIEVAL NO SÉCULO XXI


            Em tempos de volta às aulas, o que deveria ser motivo de muita alegria e conquista, pode se transformar em momentos de tristes lembranças e traumas psicológicos. Sim, estamos falando dos tradicionais trotes universitários, que tanto foram temas nesta semana em redes televisivas e jornalísticas nacionais, inclusive em nossa cidade. Como em um “ritual de passagem”, os momentos que deveriam fazer parte da integração entre calouros e veteranos muitas vezes são exemplos de humilhações e violência. Este realmente é um problema sério na sociedade atual, que surgiu há muito tempo, e pelo peso de sua tradição é justificado por uma continuidade histórica.
            O estudioso filósofo do assunto, Paulo Fraga, em entrevista para a Revista Época, relatou que a origem e o ápice dos trotes universitários datam do período medieval europeu, aproximadamente a partir de 1200d.C. Naquela época, quando grande parte da população vivia em feudos, os calouros que vinham do meio rural eram batizados pelos veteranos da área urbana. Já no Brasil, com a intensificação da construção de universidades, o primeiro calouro a pagar com sua própria vida em um trote foi um estudante de Direito chamado Francisco Cunha e Menezes, que em 1831 morreu a facadas na Universidade do Recife.
            Com muitos exemplos na História, porque ainda continuar com a prática violenta dos trotes? E porque, por parte dos alunos veteranos, não adotar o trote solidário ou o trote com palestras pedagógicas aos calouros? Sabemos que isso ainda acontece por conta do sentimento de vingança, como se os novos alunos da faculdade tivessem culpa da humilhação que os veteranos sofreram quando eram calouros. O trote é justificável pelo momento de interação entre os novos e antigos alunos que conviverão no mesmo espaço educacional e futuramente profissional, então porque a primeira impressão deve ser tão negativa?
            Portanto, os trotes universitários ao longo da História se adaptaram à realidade de cada época, tanto que nos anos 60 os calouros eram convidados a participar de manifestações sociais contra a ditadura do país. Depois disto, o trote novamente tornou-se degenerativo à violência, mas sabemos que a prática violenta dos trotes não faz parte da realidade do século XXI. Sabendo que isso existe há mais de três séculos no Brasil, será que esta mentalidade já não está na hora de mudar? Um processo histórico de violência não pode demorar tanto tempo assim para se adaptar a novas realidades. Aos veteranos fica a dica de que a vingança não leva ninguém a lugar algum, e aos calouros esperamos que cessem de vez com esta prática que nada combina com a nossa história.

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO" (BARRETOS/SP), EM 05 DE MARÇO DE 2010. 

terça-feira, 2 de março de 2010

SAUDADES...


            Pesquisar é um verbo muito constante em nossas vidas, pois estamos prontos o tempo todo para vasculhar os inúmeros meios de comunicação do presente a fim de encontrar as peças do quebra-cabeça que nos propomos a montar. Quando o objeto de pesquisa se torna cada vez mais interessante e passa até a brilhar em nossos olhos curiosos, a pesquisa se transforma em prazer e incita-nos a procurar mais e mais respostas para as perguntas que surgem em nossas mentes. Assim podemos descrever como é a situação em pesquisar a história da nossa cidade. Sejamos nós crianças, adultos profissionais de diversos setores, idosos com fartas memórias, todos nos sentimos emocionados em investigar, descobrir e dividir acontecimentos da cidade que brotam dos jornais, das fotografias, de documentos e das brilhantes memórias dos mais velhos.
             Isto posto, os jovens de hoje ficam surpreendidos quando ouvem seus avós e bisavós descreverem o cenário passado da Praça Francisco Barreto, principalmente porque percebem que a praça passou por mudanças bruscas tanto em seus aspectos físicos quanto “culturais”.  Não há quem não se refira ao passado da Praça sem logo dizer sobre a “fonte luminosa”, construída nos anos dourados, que tanto alimentava o prazer de passear na praça. Conhecida por vários nomes, como “fonte dos apaixonados”, a fonte da Praça central era o principal local de se praticar o “foot”, onde as moças passavam na frente dos rapazes e por ali se começava a tímida paquera dos anos 50 e 60. (Àqueles que viveram isso, perdoe-me se algo não estiver de acordo com o que de fato acontecia na praça, este artigo é baseado em entrevistas escolares e nelas as pessoas contam de diferentes formas a mesma realidade). As fotografias da fonte luminosa, pertencentes ao Museu Ruy Menezes, demonstram por si só a beleza da fonte e tal beleza também é confirmada quando os olhos de quem se lembra da fonte brilham ao recordar.
            Também na Praça central encontrava-se o coreto e a maioria das pessoas que recordam deste coreto já o associam às apresentações de bandas musicais. Em um passado não muito distante na cidade, era muito comum e apaixonante ver as apresentações das bandas musicais, sendo que a música era tocada ao vivo e a orquestra tocava ao som temático da comemoração em questão. Há quem se lembre também das entradas japonesas doadas pela colônia japonesa da cidade, eram grandes entradas que ostentavam os quatro cantos da praça e a enfeitava demonstrando a identidade do povo, um povo miscigenado.
            Por fim, muitas são as recordações da Praça Francisco Barreto, que no começo do século XX era denominada de “Largo da República”. Afinal, podemos dizer que a Praça central é um local histórico na cidade, pois, conforme a mentalidade da época, foi ao redor da Igreja e da Praça que a cidade cresceu. Às vezes a saudade da aparência antiga da praça bate forte na lembrança de quem viveu naquele tempo, e também de que não viveu, mas pesquisou e conseguiu enxergar a realidade de um tempo já vivido.

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO" (BARRETOS/SP) EM 26 DE FEVEREIRO DE 2010.

FACULDADE DE HISTÓRIA EM BARRETOS!


             Estudar o passado, valorizar a memória de um povo e reconhecer a importância da história como caminho para entender o presente e criar bases para a construção do futuro são fatores que aparentam serem um tanto contraditórios ao mundo de hoje, não é? Na atual era da globalização, baseada em um mundo sem fronteiras, onde cada vez mais se misturam as diferentes culturas entre os países, as tendências demonstram que a identidade e as peculiares características dos diversos povos do planeta estão se perdendo... É por isso que muitas pessoas revelam o sentimento de trazerem de volta a identidade coletiva de seus países, das regiões e cidades em que vivem, e esta busca é manifestada através da construção da História. Ou seja, são pelos ditames do passado que se anuncia a identidade de um povo e se descobre o que possuem em comum. Um povo que não conhece sua história, simplesmente não caminha junto.
            Desde muito cedo, na escola, temos contato com os estudos históricos, de uma maneira mais branda e moldada, estudamos o passado com a missão de nos tornarmos cidadãos críticos que saibam conviver e “sobreviver” em sociedade. Estudamos desde a Pré-História a até a era atual, e então aprendemos que existe o total sentido de estudar o passado para entendermos que as nossas vidas particulares são, em partes sim, condicionadas pelos processos históricos. Por isso, não foi “a toa” que Moisés libertou os hebreus no Egito, Gutenberg inventou a prensa de livros, Kardec decifrou o Espiritismo e Raphael Brandão tornou-se o primeiro prefeito de Barretos. Cada época representou um povo e um processo longo de mentalidade.
             Com tamanha importância em estudar o passado, Barretos neste ano de 2010 foi presenteada com o novo curso de História, promovido pela Faculdade de Barretos. Finalmente, a centenária cidade formará historiadores que podem muito bem ajudá-la a decifrar alguns contrapontos de sua história e difundir nas escolas a essência da “memória” barretense. O curso de História em Bebedouro chegou ao fim depois de 19 anos, e a nossa região talvez ficasse em desvantagem sem a formação de historiadores e professores de História. 
            Portanto, agora possuímos um curso de História na cidade e que certamente será a base para a formação de profissionais que, além de qualificar a educação, também poderão engajar projetos na criação de novas instituições culturais, passeios turísticos e históricos, produções artísticas e áudio-visuais. A todos os organizadores, professores e alunos da nova faculdade, em especial à Coordenadora Alethéia Andrade, sucesso! Estamos aqui torcendo para que Barretos construa sua história e faça dela sua principal atração!

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO" (BARRETOS/SP), EM 19 DE FEVEREIRO DE 2010.