sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

O VELHO MOÇO LUIZ BRANDÃO

Com um humor contagiante, Luiz Agostinho da Silva Brandão vive, no mais belo sentido da palavra, seus 91 anos de idade rodeado das lembranças e saudades dos tempos passados. Nascido em Barretos, no dia 28 de agosto de 1917, como ele disse: “eu sou essa batata da terra mesmo”, Luiz Agostinho é filho do casal Raphael da Silva Brandão e Veridiana Gomide Brandão e é também o caçula das irmãs Filomena, Lucília, Maria Olina (Cotinha), Angelina e Olga.
Entrevistei-o no início desta semana e é impossível não notar as atuações políticas de seu pai, Cel. Raphael da Silva Brandão (1864-1935), o primeiro intendente municipal de Barretos em 1891. Além disso, o curioso da vida de Luiz Brandão foi a sua infância, pois quando nasceu seu pai tinha 54 anos, sua mãe 44 anos e a diferença de idade entre ele e a irmã mais nova era de 21 anos, então lembrou: “... eu fui criado com a mentalidade de menino com um pouco de coisa de adulto [...] Eu não sei se me ajudou ou me atrapalhou sabe... eu tinha medo de me tornar um jovem envelhecido”.
Pois bem, a vida escolar de Luiz Brandão começou no “Externato São José” e lá encenava algumas peças teatrais, depois estudou no 1º Grupo Escolar e conheceu os amigos Alberto Fernandes, João Rocha, os irmãos Onório da Silva, Valter Colombini e outros; logo foi estudar no internato de Bebedouro. Em 1935, partiu para a Universidade Paulista de Medicina, mas depois de um semestre regressou a Barretos em ocasião da morte de seu pai. No entanto, em 1936 voltou a estudar na capital, “eu tive um sonho e a pessoa falou: 'você vai estudar odontologia', com a voz do meu pai”; e assim o fez. Em 1942, Luiz retorna a Barretos com a profissão de dentista e com a patente de 2º Reservista, já que foi sorteado a fazer os serviços militares.
Em Barretos, trabalhou como dentista no Sindicato dos Bancários (até montar seu consultório) e simultaneamente era o examinador do TG-512. Na década de 40, entrou para a vida política por influência do político Ademar de Barros (paraninfo de sua formatura); por isso, Luiz Brandão foi um dos membros fundadores e militantes do PSP em Barretos e vereador nos períodos: 1948-1952 e 1952-1956. A década de 50 foi marcante em sua vida, pois, Luiz e outros rapazes fundaram o Clube “Os Independentes” e também foi nesta época que ele conheceu a “morena bonita” Jerônima Alves da Silva, com quem se casou em 1960 e tiveram duas filhas, Maria Aparecida e Rita de Cássia.
Por fim, depois de tamanhas atividades em Barretos e tantas lembranças em sua mente, Luiz Brandão que tanto teve medo de se tornar um “jovem envelhecido”, possui em sua gloriosa velhice o maior espírito juvenil, vivo, que já se ouviu falar na história. Se considerarmos a juventude como “fonte de vida” e a velhice como “atividade”, pode-se afirmar que em seu corpo de 91 anos habita um jovem presente, que viveu o passado e que faz deste o seu (e o nosso) melhor amigo.

OBSERVAÇÕES: Obrigada Sr. Luiz Brandão por tamanha disposição e ao amigo Luiz Antônio da Rocha pelo apoio e incentivo às entrevistas.

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO" (BARRETOS/SP), EM 30 DE JANEIRO DE 2009.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

NOS TEMPOS DO SEU ADOLPHO...



O início da história centenária de Barretos já foi contado por Osório da Rocha (1954) através de alguns depoimentos orais de pessoas mais velhas daquele período. Independente das classes sociais, o escritor colhia os depoimentos, transcrevia-os e depois montava o cenário da época. Se assim não fosse, nada teríamos como evidências para discutirmos sobre a origem de nossa cidade. Por conta disso, penso que seja de suma importância o valor que damos aos idosos de nosso tempo, pois são as vivências deles que possibilitam a contagem de nossa história, a nossa identidade.
Na manhã de segunda-feira, entrevistei o Sr. Adolpho de Almeida Fernandes e na presença do amigo Luiz Antônio Batista da Rocha, Seu Adolpho relembrou a juventude, a amizade com João Rocha e alguns momentos valiosos da história do país. Hoje com 94 anos de idade, Seu Adolpho apresenta uma boa memória e leves sorrisos quando se lembra de certos episódios. Nasceu na Fazenda da Onça, no dia 07 de janeiro de 1915, seu pai era Miguel Fernandes e sua mãe Emília de Almeida Fernandes; eram seus irmãos: Alberto, Mário e Maria de Lourdes (Nenzinha). Mais tarde, casou-se com a Sra. Ercília e tiveram dois filhos, Olímpia Maria e Eduardo.
“Aqui de Barretos eu lembro de muita coisa antiga, da política daquele tempo [...]. Eu no início, quando vim pra Barretos... vim pra estuda né, entrei no Grupo Escolar...”, disse Seu Adolpho. Ele já havia estudado alguns anos no colégio de Laranjeiras, mas quando veio para Barretos estudou no Primeiro Grupo Escolar, atual E.E. “Antônio Olympio”, e lembra-se muito bem do prédio escolar antigo de linda arquitetura. Recorda também do próprio Dr. Antônio Olympio: “um nortista que foi deputado, foi prefeito de Barretos...”. Foi na escola que Seu Adolpho conheceu o amigo João Rocha e outros como Hely Pimenta, Milton Baroni e Ruy Menezes; era a época em que eles faziam parte do grupo de escoteiros e segundo ele: “Aquilo pra nós era um luxo”.
Outra passagem que Seu Adolpho contou foi sobre a Revolução de 1932, “o entusiasmo dos paulistas foi fora de sério viu... eu não fui porque eu não tinha idade”. Adolpho relembrou as passagens em que João Rocha foi capturado no Porto Antônio Prado e levado para Ilha das Flores (RJ), e a luta de seu irmão Alberto no pelotão de São João da Boa Vista, por ordem do prefeito Jerônimo S. Barcelos. Além disso, ele salientou a participação das mulheres: “as mulheres daqui... tudo se alistando pra ser enfermeira outras pra ser costureira pra fazer o uniforme.. para os rapazes ir pra Revolução, aquela coisa toda”.
Entre outros, Seu Adolpho fez parte de vários setores sociais e políticos da cidade, como na luta pela Fundação Educacional de Barretos e na Maçonaria Fraternidade Paulista. Foi bibliotecário da E.E. “Mário Vieira Marcondes” por 35 anos e sempre trabalhou para o bem da cidade, já que sorrindo ele disse: “Barretos pra mim... é a coisa mais importante que existe.”

Observação: Muito obrigada Seu Adolpho por tamanha contribuição!

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO" (BARRETOS/SP), EM 23 DE JANEIRO DE 2009.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

A MISTURA DAS POESIAS



“...porque arte que se preza
se mescla, se aglutina.”
(José Honório, 2006)

É bem verdade que a imaginação é algo que melhor caracteriza o ser humano como um ser pensante e artístico. Por isso, desde crianças praticamos atividades, como leituras e brincadeiras, que acabam por estimular a nossa criatividade. A escola é a instituição apropriada para incentivar a prática de leitura nos jovens, bem como demonstrar as diversas realidades culturais que temos dentro do Brasil. Nesse sentido, pode-se destacar como prática pedagógica, as atividades dinâmicas sobre “Literatura de Cordel”, a qual é uma literatura em versos característica da região do nordeste brasileiro, componente da cultura popular.
Segundo o site da “Academia Brasileira de Literatura de Cordel”, estes escritos poéticos em folhetos existem há muito tempo, mas chegaram à Península Ibérica no século XVI e por lá receberam o nome de “pliegos sueltos” ou “folhas soltas”. A partir de então, como Salvador era a capital brasileira da época, até o ano de 1763 quando foi transferida para o Rio de Janeiro, a Literatura de Cordel foi irradiada para os demais estados da região e ali permaneceu, tornando-se peculiar ao Nordeste. A denominação “cordel” é por conta dos folhetos que são pendurados em cordões (barbantes) nas feiras ou mesmo são espalhados no chão para despertar a atenção das pessoas.
O cordel verdadeiro é acompanhado em seus folhetos pelas “xilogravuras”, que são ilustrações feitas por gravuras entalhadas em madeira, como se fosse um carimbo. Estas ilustrações, com riscos populares, são desenhadas conforme os temas contados na poesia. De acordo com o famoso escritor Ariano Suassuna, os ciclos temáticos dos cordéis são: “o heróico, o maravilhoso, o religioso ou moral, o satírico e o histórico”. Percebe-se, então, que muitos cordéis contam algumas passagens sobre a história do Brasil, tal como a época de Tiradentes e de Lampião.
Ainda nos tempos atuais, a literatura de cordel é vista por algumas pessoas como “literatura de baixa qualidade”, entretanto, se analisarmos mesmo toda a métrica e o conteúdo poético desses escritos, verificaremos o alto grau de entendimento popular sobre a história e cultura regional. Até mesmo o nosso querido poeta barretense, Nidoval Reis, possuía carteirinha como trovador de literatura de cordel na década de 70. Isso demonstra que entender e respeitar a arte poética de outras culturas e somá-la a sua arte é engrandecer-se como poeta.

REFERÊNCIAS:
www.ablc.com.br
www.trovauneversos.com

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL ''O DIÁRIO'' (BARRETOS/SP), EM 16 DE JANEIRO DE 2009.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

SANTOS REIS: PASSADO E PRESENTE



“O Reisado representa, um passado milenar.
Trata-se do nascimento, de Jesus para nos salvar.
Numa visita imponente, dos três reis do Oriente:
Belchior, Gaspar e Baltazar.”


As manifestações populares regionais caracterizam em particular os aspectos culturais das cidades do interior do Brasil. Como alguns preferem dizer, o “folclore” local adiciona aos seus elementos algumas características memoráveis de outros povos ou países. Foi o que aconteceu com a “Festa de Reis” comemorada nesta semana, no dia 06 de janeiro.
Através da tradição ibérica que colonizou nosso país, foram organizados os “Reisados” a partir dos quais desde o Natal até o início de janeiro, as “Companhias” vão de casa em casa sempre acompanhadas com a bandeira de fitas coloridas significando o nascimento de Cristo. A trajetória encena o que é interpretado pelos católicos na Bíblia, ou seja, a viagem que os três Reis Magos, Baltazar, Belchior e Gaspar, sábios astrólogos da época, foram destinados a fazer quando surgiu uma brilhante estrela no céu, até chegar a Belém onde se encontrava o menino Jesus, lá eles o presentearam com ouro, incenso e mirra.
Esta festa é carregada de símbolos, traduções e crenças. Os católicos atribuem a cada símbolo um significado histórico, por exemplo, os palhaços vestidos por indumentárias muito coloridas e máscaras, representam os soldados do Rei Heródes em Jerusalém. Trata-se, portanto, de uma maneira religiosa e mítica de apresentar a história do nascimento de Jesus Cristo aos fiéis. Além disso, desde as fortes cores até os versos em rimas tocados por diversos instrumentos como a viola, violão, pandeiro, triângulo, sanfona e outros, existem influências da música e costumes caipiras.
Ainda mais interessante é que, de fato, este costume é peculiar da nossa região sudeste. Posto que, o Museu Histórico, Artístico e Folclórico “Ruy Menezes” possui em exposição de seu acervo público as indumentárias e máscaras de dois palhaços, além da bandeira representativa da Companhia de Reis de 1961. Com efeito, certa vez uma turista do Mato Grosso do Sul me perguntou do que se tratava aquelas peças do Museu, pois ela nunca as tinham visto antes. Depois que lhe expliquei, ela se demonstrou curiosa em assistir as apresentações das atuais Companhias, como a famosa festa da Fazenda Armour, e tirou muitas fotos ao lado dos palhaços.
As Festas de Reis também caracterizam nossa cidade e, independente de crenças, precisam ser respeitadas e compreendidas. Muitas são as histórias de promessas feitas e milagres concedidos, demonstrando a relação de proximidade que os próprios fiéis se encaixam perante os Santos Reis. Afinal, tais manifestações traduzem a nossa história, resistiram e ainda resistem à modernidade forçada presente.

REFERÊNCIA: www.independenciaoumorte.com.br

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO" (BARRETOS/SP), EM 09 DE JANEIRO DE 2009.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

ANTROPOLOGIA


As ciências humanas reúnem várias disciplinas, entre elas a curiosa “Antropologia”, na qual algumas vezes se ouve falar, entretanto, pouco se conhece a respeito dela. Seria muita pretensão tentar estabelecer uma definição de Antropologia, mas, pode-se dizer que ela lida com estudos sobre o homem, bem como seus costumes, tradições e conhecimentos dos mais diversos teores. O que previamente pensamos é que, no Brasil, esta ciência é muito relacionada à pesquisa de campo em aldeias e estudos sobre diversas etnias indígenas, quilombolas e até mesmo povos tradicionais.
Para melhor entender esta ciência, podem-se citar os “processos de alteridade”. Ou seja, como a antropologia estuda as diversas culturas humanas, ela necessita que o antropólogo passe um tempo assimilando a cultura em questão, para que ele permita questionar-se a si mesmo e a sua própria cultura. Feito isto, a pesquisa de campo não somente possibilita o entendimento do homem em relação ao índio, como também oportuna a compreensão da alteridade que o indígena exerce em relação a nós.
Após este contato, a cultura do índio, que antes era observada como “diferente” (exótica), passa a ser familiar ao pesquisador; assim como a sua cultura anterior, pode lhe tornar um pouco estranha. Nessa esfera, um importante resultado com a volta do antropólogo é o auxílio que pode ser oferecido ao governo para formulação de políticas públicas, que tanto podem atender aos ensejos governamentais, quanto às demandas de proteção ao patrimônio dos povos tradicionais.
Organizando todas estas informações em um exemplo, posso citar a aventura que espera meu grande amigo Guilherme Moura Fagundes; barretense, 21 anos e estudante de Antropologia pela UnB. Em uma conversa descontraída, Guilherme contou-me que a partir do dia 08 deste mês, passará um mês na região do Alto Juruá (Acre), lugar de maior biodiversidade mundial, estudando os costumes da etnia “Ashaninka”. A pesquisa será pautada na preocupação com a biopirataria, isto é, na apropriação indevida de conhecimentos associados à biodiversidade (fórmulas farmacológicas, saberes da floresta).
Ao Guilherme desejamos uma boa viagem, que a pesquisa seja profundamente rica em termos de conhecimentos mútuos e que sua bagagem de volta seja repleta de novidades para nos ajudar a preservar o patrimônio dos povos tradicionais brasileiros. Afinal, se não fossem o esforços dos corajosos antropólogos, o que seriam destes povos? Saudações à alteridade da Antropologia!

REFERÊNCIA: www.isa.org.br

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL ''O DIÁRIO'' (BARRETOS / SP), EM 02 DE JANEIRO DE 2009.

Pintura facial em mulher ashaninka no rio Amônea. Foto: Mauro Almeida, 1983.