terça-feira, 29 de janeiro de 2019

GIULIETTA DIONESI, A JOVEM VIOLINISTA (PARTE IV)

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" EM 29 DE JANEIRO DE 2019 (página 2) PELA PROFª KARLA ARMANI MEDEIROS


       
Primeira sede da Sociedade Italiana "Unione & Fraterlanza"
de Barretos, construído por volta de 1900.

(Fonte: Jornal "Barretos Memórias", julho de 1988, p. 2
- Acervo Museu "Ruy Menezes").
Depois de ter realizado seus quatro concertos em Barretos, a jovem violinista italiana adoecera na cidade. Sua estadia que duraria poucas semanas, acabou por se estender para dois meses e meio. Fato que, obviamente, gerou mais gastos do que o imaginado, e levou seu marido e empresário, Emílio Grossoni, a solicitar a participação do público barretense em mais dois concertos.
            A comoção pela enfermidade da violinista, e seu reconhecido talento, gerou uma acolhida muito maior. Tanto por parte da elite letrada da cidade, quanto pela Sociedade Italiana “Unione & Fraterllanza”. Esta, por sua vez, mostrando-se sensibilizada pela situação e esmero de sua compatriota, ajudou no que foi possível à estendida estadia da violinista. Fato que foi carinhosamente reconhecido por Giulietta em agradecimento publicado no jornal: “É mio acopo ostensibilizzare la mia riconoscenza a tutti i Signori Soci dela Unione e Fraterllanza” (O Sertanejo, 11/6/1905, p.4).
Anúncio dos concertos em homenagem a Giulietta Dionesi
na Câmara Municipal de Barretos, após período
de seu restabelecimento da cidade.

(Fonte: Jornal O Sertanejo, ed. 245, 1905, p. 3
- Arquivo do Museu "Ruy Menezes").
Além da sociedade italiana, uma comissão organizadora de líderes locais realizou mais dois concertos em homenagem a violinista no salão nobre da Câmara Municipal, com a participação de outros músicos, como o maestro Filippo Pace, residente em Bebedouro. Essa consideração e hospitalidade barretense mostram o quanto a cidade almejava desenvolvimento cultural. Uma sede de cultura! Afinal, em 1905 éramos uma comarca recente, que pretendia ser rota de artistas reconhecidos que desinquietassem a “tediosa” rotina de cidade sertaneja, promovendo o saber e o espírito da cultura.
Por outro lado, a história de Giulietta Dionesi se emaranha na árdua vida dos artistas estrangeiros que se aventuravam pelas cidades interioranas (muitas sem estrada de ferro). Além de descortinar temas importantes, como a participação da mulher na vida cultural brasileira, na economia da arte e no mercado de trabalho. Temos muito a aprender com histórias de vida e de carreiras como essa, de uma italianinha que aos 11 anos de idade já era um prodígio na música. [fim].

Fontes primárias:

O SERTANEJO, jornal hebdomadário de Barretos. Edições: 243, 244 e 245 - ano 1905. Arquivo do Museu "Ruy Menezes".
BARRETOS MEMÓRIAS, jornal mensal. Edição de julho de 1988. Arquivo do Museu "Ruy Menezes".


Link da publicação no site do jornal "O Diário": 
http://www.odiarioonline.com.br/noticia/81401/GIULIETTA-DIONESI-A-JOVEM-VIOLINISTA-PARTE-IV

terça-feira, 22 de janeiro de 2019

GIULIETTA DIONESI, A JOVEM VIOLINISTA (PARTE III)

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" EM 22 DE JANEIRO DE 2019 (página 2) PELA PROFª KARLA ARMANI MEDEIROS


         
Anúncio do concerto de Giulietta Dionesi
no jornal "O Sertanejo" de Barretos

(Fonte: O Sertanejo, 31/3/1905, p. 4,
Arquivo do Museu "Ruy Menezes").
Nos dias finais de março de 1905, chegou a Barretos Emílio Grossoni. Esposo, empresário e maestro dos concertos musicais da violinista Giulietta Dionesi, que a essa altura já fazia grande sucesso. Tinha, ela, por volta de 28 anos. A função do maestro Grossoni era apresentar os préstimos da esposa violinista que viria em seguida para realizar quatro concertos na cidade, junto ao barítono Luciano Vitorazzo. E assim foi, a partir de 16 de abril, Giulietta Dionesi se apresentou ao público barretense no salão nobre da Câmara Municipal.
            Seu reconhecimento foi visto em elogios tecidos nas linhas do único jornal da cidade, “O Sertanejo”. A edição do jornal, comandada por Francisco Pimenta, chegou a declarar o quanto a cidade se desenvolvia culturalmente a partir da vinda da violinista e outros artistas: “Embora ainda espíritos pouco educados, há entre nós uma pronunciada tendência para a fruição do bello, do sublime. E isto se exemplifica nesse acolhimento fidalgo que aqui [teve] Giulietta Dionesi [...]” (7/5/1905, p. 1).
            No entanto, nos primeiros dias de maio, Giulietta adoecera na cidade, onde permaneceu por quase três meses até seu restabelecimento. Recebeu cuidados médicos do dr. Carr Bustamente, um dos raros médicos de Barretos naquele momento. E sobre isso, cabe aqui um parêntese.
            A respeito de sua vida pessoal, alguns depoimentos orais de seus descendentes, levam-nos a entender que fora trágica; principalmente em relação ao marido e empresário. Consta-se que ambos tiveram cinco filhos e deixaram alguns para adoção em cidades que faziam os concertos, visto a vida difícil de artista (financeira, estrutural e emocional). Por conta disso, Giulietta vivera doente em várias fases de sua curta vida, com pressão psicológica por ter de abandonar os filhos, o que justificaria seu precoce falecimento em 1911, na cidade de Ouro Preto. Barretos, infelizmente, foi mais uma cidade em que ela teria sentido esses males do corpo (e da alma). [continua].

Fontes primárias:
O SERTANEJO, jornal hebdomadário de Barretos. Edições: 234, 235, 236, 237, 238 e 239 - ano 1905. Arquivo do Museu "Ruy Menezes".
O ESTADO DE S. PAULO, edição dos cem anos da República, 15/11/1989. Arquivo particular do jornal. 

Sites consultados:
Site da musicóloga e ativista artística italiana Barbara Lazotti (http://www.barbaralazotti.it).
Blog da especialista em cultura e língua italiana, Ana Grassi (https://italiana.blog.br).

Link da publicação no site do jornal "O Diário":
http://www.odiarioonline.com.br/noticia/81163/GIULIETTA-DIONESI-A-JOVEM-VIOLINISTA-PARTE-III

quinta-feira, 17 de janeiro de 2019

GIULIETTA DIONESI, A JOVEM VIOLINISTA (PARTE II)

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" EM 16 DE JANEIRO DE 2019 (página 2) PELA PROFª KARLA ARMANI MEDEIROS

A menina Giulietta Dionesi em foto pousada
no ano de 1888 em Milão, Itália.
(Fonte: site ebay)
Ah! Giulietta! Os sons do teu violino
Choram, suspiram, rugem como o leão
Lembram sonoro rio cristalino
E tem soluços como um coração.
(Cruz e Souza, em “O Livro Derradeiro”)
        
      Até o poeta Cruz e Souza não se calou diante o talento daquela jovem italianinha que se lançara no Brasil como uma brilhante violinista. A imprensa carioca, e depois a paulista e a mineira, acompanhava os sucessivos concertos de Giulietta Dionesi junto a seu irmão Romeo por diversas cidades.
Depois do concerto de julho de 1889 à família real brasileira, no qual Dom Pedro II sofreu atentado na saída, no próximo mês, Giulietta já seguia rumo a São Paulo e Minas Gerais, onde fez séries de concertos em São Paulo, Santos, Bagé, Pelotas, Juíz de Fora e Leopoldina. Os anúncios de jornal apresentavam uma garota, no início da adolescência, com um currículo de conservatórios, diplomas e títulos em instituições de Portugal, Espanha, Itália e, claro, “concertista do Palácio do ex-imperador do Brasil D. Pedro II”.
Anúncio de concerto de Giulietta em São Paulo.
(Fonte: "Correio Paulistano", 6/11/1890, p1,
ed. 10.251 - Arquivo Biblioteca Nacional)
            A partir de 1890, passa a ser empresariada e acompanhada pelo maestro e pianista Emílio Grossoni, com quem se casa em 1893 na cidade de Sorocaba, aos 15 anos. Em 1892, junta-se a ela o barítono Luciano Vitorazzo, que passa a acompanha-la nos concertos (inclusive em Barretos). O principal foi em 1897 na cidade de Belo Horizonte. Já na virada do século XX, Giulietta, seu marido e Vitorazzo fizeram tournet musical pelo interior de São Paulo, seguindo em 1902 para Franca e Uberaba (MG), em 1903 para Araras, Piracicaba, Bragança, Jundiaí e Amparo, em 1904 para Ribeirão Bonito, em 1905 para Jaboticabal, Matão, Monte Alto, Ribeirãozinho e Barretos. E é em nossa cidade que ela permanece mais tempo que o esperado, pois adoecera, vindo a falecer seis anos depois em MG. Muitas viagens, concertos, aplausos, porém, uma triste vida familiar. [continua].

Fontes do Arquivo da Biblioteca Nacional (RJ): 
- "Diário do Commercio" edições diversas do ano 1889, 1892 e 1897.
- "Minas Gerais: Orgam Official dos poderes do estado" edições de 1893 e 1897.
- "Correio Paulistano" edições diversas de 1890, 1902, 1903, 1904, 1905, 1906, 1909 e 1911.

Link da publicação no site do jornal "O Diário":
http://www.odiarioonline.com.br/noticia/80983/GIULIETTA-DIONESI-A-JOVEM-VIOLINISTA-PARTE-II

terça-feira, 8 de janeiro de 2019

GIULIETTA DIONESI, A JOVEM VIOLINISTA (PARTE I)

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" EM 8 DE JANEIRO DE 2019 (página 2) PELA PROFª KARLA ARMANI MEDEIROS

Giulietta Dioenesi em desenho na
Revista "Pantheon"  do Rio de Janeiro,
aos 11 anos de idade.
“Em todos os concertos foi a eximia violinista alvo de admiração e aplausos ruidosos pelo modo fidalgo com que, empanhando o arco, arrancava de seu magico violino, sons maviosos e dulcíssimos. E assim foi: - Guilietta Dionesi com seu adorável violino, ri, soluça, canta e chora...”. (O Sertanejo, 29 de abril de 1905, p. 4).

            Uma pequena nota no jornal mais antigo da cidade despertou-me a curiosidade em conhecer mais sobre essa violinista, Giulietta Dionesi. Tão logo veio a descoberta de uma carreira incrível, mas, uma vida nem sempre feliz. Uma jovem que viveu somente 33 anos, sendo 23 anos dedicados à música profissionalmente. Sua passagem por nossa cidade, Barretos, fez parte desta carreira tão fulgaz, porém vigorosa.
            Italiana, nascida em Livorno por volta de 1877, desde criança iniciou seus estudos na música, influenciada por seu irmão mais velho, o músico Romeo Dionesi. Desde os 10 anos de idade, se apresentava oficialmente em concertos musicais na Itália, Espanha, Portugal e Estados Unidos. (Sim, 10 anos). Era, pois, considerada uma “criança prodígio”, um fenômeno pela pouca idade e grandioso talento. Interpretava Paganini e arrancava aplausos de todo o público, como diz esta nota assinada por um expectador em Coimbra: “Julgamos quase impossível dar uma pequena ideia do gênio phenomenal de Giulieta. Desde que ella fazia vibrar a primeira nota no seu magnifico Stainer, o auditório ficava suspenso, como que arrebatado” (Jornal “Campeão das Províncias”, 30/3/1889, p.2).
            Recebeu calorosos aplausos, inclusive, do Imperador Dom Pedro II, quando se apresentou no Teatro Sant’Anna no Rio de Janeiro, em julho de 1889; pouco tempo depois de chegar ao Brasil junto com seu irmão (há indícios que vieram fugidos do pai). Ademais, foi nesta apresentação que Dom Pedro II sofreu atentado de um republicano radical ao sair do concerto de Giulietta – quatro meses antes da proclamação da República. Era uma menina de 11 anos tocando ao Imperador do Brasil. Uma italianinha, seu violino e o rei. [continua].

Bibliografia:
STARLING, Heloísa M.; SCHWARCZ, Lilia M. Brasil: uma biografia. Companhia das Letras: Rio de Janeiro, 2015.
PRIORE, Mary del. O príncipe maldito: traição e loucura na família imperial. Companhia das Letras: Rio de Janeiro, 2006.

Periódicos
Jornal "Campeão das Províncias", ed. de 30/3/1889. 
Jornal "Diario do Commercio", Rio de Janeiro, ed. de 14/7/1889 (Acervo da Biblioteca Nacional).
Jornal "O Sertanejo", Barretos, edições diversas de 1905 (Acervo do Museu "Ruy Menezes").

Link da publicação no site do jornal "O Diário":
http://www.odiarioonline.com.br/noticia/80715/GIULIETTA-DIONESI-A-JOVEM-VIOLINISTA-PARTE-I

terça-feira, 1 de janeiro de 2019

ABC, TUDO PARA BRILHAR EM 2019!


ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" EM 1º DE JANEIRO DE 2019 (página 2) PELA PROFª KARLA ARMANI

Confraternização da ABC em 28/12/2018
no Auditório "Acadêmica Conceição A. R. Borges"

                No antepenúltimo dia do ano que seu findou, a Academia Barretense de Cultura – ABC – reuniu seus membros para congratular seus projetos, integrá-los em boas prosas, deleitar-se ao som de músicas agradáveis e semear uma prazerosa troca de livros. Foi uma noite feliz, com direito a telefonemas em “viva-voz” de acadêmicos que moram distante. Foi um momento de homenagens e lágrimas. Foi uma oportunidade de abraços entre os imortais da cultura.
            O presidente, José Antônio Merenda, brindou-nos com um resumo de tudo que fora realizado em 2018 e anunciou os projetos para 2019 (que não são poucos!). Sua briosa mania de “arregaçar as mangas” e trabalhar duro pela ABC foi carinhosamente reconhecida pela vice, Adalgisa Borsato. Sem contar as congratulações de outros acadêmicos, sempre fiéis ao voluntariado da cultura e em manter a ABC viva. Ativa!
            Mas, também pudera... Como não ser radiante o sucesso de uma Academia que carrega o nome de quarenta patronos tão importantes à história e a identidade cultural da cidade? São quarenta nomes respeitáveis, que, se investigados, dão luz a importantes obras artísticas e científicas. São patronos que não nasceram na cidade, mas que fizeram dela o palco de suas produções. Muitos escreveram, pintaram, compuseram e criaram os mais diversos trabalhos literários, artísticos, históricos, musicais, teatrais e científicos neste “chão-preto”, honrando o nome da cidade. Barretos é sim terra de cultura. Da ABC!
            No passado, os patronos trouxeram e desenvolveram a cultura numa Barretos que ainda iniciava seus passos urbanos. No presente, os titulares das quarenta cadeiras mantêm esta cultura, mas em cliques de atualizações, com dinamismo, provando que as linguagens artísticas se flexibilizam e se reinventam. É maravilhoso esse diálogo de cadeiras; essa dialética do tempo; essa imortalidade de nomes e de obras.
            Que em 2019, a ABC cresça e floresça em projetos. Construa ideias e descontrua paradigmas. Costure sonhos e colecione realidades.

Link da reportagem no site do jornal "O Diário":
http://www.odiarioonline.com.br/noticia/80557/ABC-TUDO-PARA-BRILHAR-EM-2019