sábado, 27 de dezembro de 2008

A NATUREZA DA PAZ



Há muito tempo, dizem que esta época de transição entre um ano e outro é tempo de reflexões. Algumas pessoas se unem para festejar os ritos da tão esperada festa cristã, outras, porém, preferem dedicar-se ao isolamento para refletirem sozinhas sobre a passagem do ano e outras, ainda, sequer ligam para tais acontecimentos. Mesmo assim, é perceptível que algo diferente acontece conosco, desde súbitas vontades a mudar o corte de cabelo até prometer aos santos que o futuro ano será diferente.
Bem, mesmo sendo um ser humano, isto é, passível de qualidades e defeitos, penso que seja importante refletir sobre duas virtudes, que, historicamente estiveram presentes (ou tentaram estar) na vida humana. Falo sobre o “respeito” e a “paciência”.
De acordo com a mentalidade de cada época, os significados das palavras são estudados e revistos para se adequarem às culturas. Logo, em um dicionário de latim, do ano de 1913, o significado da palavra “respeito” era vinculado moralmente ao “resguardar do homem para com o homem”. É claro que isso é muito importante, contudo, acredito que uma das virtudes que nos faltam é o respeito do homem à natureza, onde se inclui o próprio homem, o meio ambiente, os animais e a flora. Penso, ainda mais, que o maior ato de respeitar que se pode haver na humanidade é aceitar as “diferenças”; sejam físicas, psicológicas e culturais, entre nós mesmos ou entre a natureza. Ora, não é porque somos racionais que somos melhores ou piores que os outros seres vivos.
Sobre a outra virtude, certa vez li que dividindo a palavra “paciência” tem-se como resultado: “ciência da paz”. Por “ciência”, nota-se o sentido de “sabedoria” em tal expressão, posto que, para se alcançar a paz é preciso saber pensar, esperar, agir. Na história, tivemos grandes exemplos em que o homem falhou com ele mesmo e com a natureza por falta de sabedoria em esperar o momento certo e agir precipitadamente.
Neste ano de 2009, o meu maior desejo a todos é que consigamos aceitar as nossas diferenças, com respeito e sabedoria. Afinal, para alcançarmos a tão desejada “paz” talvez devêssemos valorizar as nossas diferenças, pois elas que nos mantêm vivos e nos completam dentro da nossa única natureza: Deus.

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL ''O DIÁRIO'' (BARRETOS/SP), EM 27 DE DEZEMBRO DE 2008.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

AS HISTÓRIAS DOS VELHOS


Por muito tempo as três fases da vida humana, infância, vida adulta e velhice, foram vistas com base somente no homem adulto. Ou seja, a criança era enxergada como um “mini-adulto” e a velhice era meramente a fase final da vida adulta. Não eram consideradas como fases distintas e muito menos tinham suas peculiaridades reconhecidas. Com o passar dos tempos, este quadro se modificou e as diferenças foram aceitas, entretanto, algumas vezes a mentalidade do passado nos impede de realizar muitas coisas.
Tratando-se da velhice, percebe-se que o Brasil está se tornando um país “maduro”. Posto que, com a diminuição da quantidade de filho por casal e o aumento da expectativa de vida, o número de idosos cresce constantemente. Tanto que, estima-se para o ano de 2.025 que 15,4% da população brasileira terá 60 anos ou mais de idade.
Em outra perspectiva, o mais curioso nos idosos é a questão da memória. Qual família não tem sempre um vovô para relembrar os velhos tempos? Isso é muito importante no sentido de aproximar a família às histórias das diferentes épocas. Por exemplo, um vovô que participou da 2ª Guerra Mundial ou aquele que se lembra dos passeios dos trens da Cia. Paulista de Estrada de Ferro.
Segundo os dados do IBGE, a parcela da população barretense maior de 60 anos é do total de 7.988 mil habitantes. Estes idosos são como a história, isto é, eles auxiliam-nos a entender o presente através dos recursos do passado. Pois, o que seria da memória de Barretos se não fosse os escritos de José Vicente Dias Leme? Os primórdios do futebol barretense com os irmãos Antônio e Alberto de Barros? A amizade do Prof. Nazim Chubaci? O jornalismo de Monteiro Filho? As histórias contadas por Luiz Brandão sobre seu pai (o primeiro prefeito da cidade)? A infância mineira da Aidê que trabalha no Museu? As lembranças da escravidão dos avós da Dona Lourdes? As recordações teatrais do pai da Dona Albília Thereza e do irmão da Dona Therezinha Marques? E ainda os contos que meu avô Antônio adora falar sobre os prefeitos?
Entre muitos outros que aqui não cabem nestas linhas, estas pessoas fazem parte de uma população viva, demasiadamente sábia e que jamais deverão ser consideradas como obsoletas. Portanto, devemos nos espelhar no pensamento da fabulosa escritora Ecléa Bosi: “O velho não tem armas. Nós é que devemos lutar por ele”.

REFERÊNCIA:
BOSI, Ecléa. Memória e Sociedade: Lembranças de Velhos. São Paulo: Companhia das Letras, 1994.
Revista “A Terceira Idade: Estudos sobre Envelhecimento”. Publicação do SESC-SP, Volume 19 – nº 43 – outubro de 2008.


ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL ''O DIÁRIO'' (BARRETOS / SP), EM 19 E DEZEMBRO DE 2008.

A ARTE DAS CARTAS


Historicamente, os homens mantiveram relações de comunicação social por diferentes métodos e épocas. Deste muito tempo até dez anos atrás, o método mais utilizado para a comunicação escrita eram as cartas, por maiores que fossem as distâncias permitiam os contatos familiares, profissionais, amorosos, acordos políticos e podiam até servir como documentos oficiais. Além disso, o ato de escrever possibilitou a aproximação do homem com sua própria língua, desenvolvendo e aprimorando as técnicas da escrita.
Pode-se ainda traçar um paralelo entre as cartas e a arte, resultando no que se denominou de “arte postal”. No auge dos anos 60 e 70, os “artepostalistas” ao utilizar da ousadia e abstração das cartas produziam uma técnica de arte diferente da convencional. Através dos correios, a arte postal era produzida com as trocas das cartas entre os artistas, onde tanto o conteúdo da carta quanto o envelope apresentavam fotografias, pinturas, gravuras, poemas, colagens, dentre outros. A intenção era provocar a espontaneidade da fusão da arte com a comunicação, algo que fugisse do padrão das cartas comerciais e despertasse uma nova forma de arte.
Nos tempos atuais, as cartas manuais entre as pessoas estão deixando de existir por conta da “revolução tecnológica” trazida pela internet. As mensagens on-line são transmitidas instantaneamente por emails, onde são arquivados ou apagados da caixa de entrada. A maior vantagem dos emails é o curto prazo de tempo em que são enviados e respondidos, entretanto, se acontecer algum problema com os computadores que armazenam estas informações, estas podem ser extintas.
É claro que a tecnologia da internet é muito bem-vinda em nossa sociedade, já que facilitou a vida de muitas pessoas, nas quais o pouco tempo do cotidiano pode ser um grande inimigo. Mas, isso não quer dizer que as cartas manuscritas devem ser descartadas. Se assim for, o que acontecerá com a grafologia? Este estudo analisa o comportamento psicológico dos indivíduos através de suas próprias escritas e é muito recomendado em pesquisas históricas e de outros teores.
Aproveitando, pois, do espírito natalino, que tal retomarmos a arte postal dos anos 60 e enviar cartas artísticas uns aos outros? Afinal receber cartas somente de cobranças comerciais e bancárias não é nada agradável. O que vale neste momento é a expressão dos sentimentos humanos inscritos em sábias palavras neste natal. Abusem da criatividade!


REFERÊNCIA: SESC SP, Revista E: Dezembro de 2008, nº 6, ano 15.


ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL ''O DIÁRIO'' (BARRETOS / SP), EM 12 DE DEZEMBRO DE 2008.

ALÉM DO ENTRELAÇAR


Saberes que se entrelaçam,
Mãos e pés num vai-e-vem,
Vidas que escondem muitos segredos...
(Maria Stela da Costa Gondim)

O homem em toda sua existência possuiu e ainda possui diversos saberes ligados a própria vida social e ao trabalho. Por isso, ainda temos a chance de buscar no passado a origem destes saberes para desta forma associá-los ao presente e valorizarmos a cultura de nossa própria família. Em tempos atrás, o trabalho era substancialmente dividido entre os vários membros de uma mesma família, sendo o trabalho doméstico das mulheres de suma importância para o desenvolvimento da própria comunidade.
É neste contexto que podemos inserir o trabalho de tecelagem manual, praticado por muitas mulheres da região, transmitido de mãe para filha e possuidor de curiosos saberes. Trata-se de um processo milenar de origem no Oriente Médio, no qual utilizavam-se as fibras e corantes naturais para a produção e tingimento dos tecidos. Com a tradição portuguesa de tecelagem manual, tal atividade difundiu-se no Brasil nas regiões de Minas Gerais (sul e Triângulo Mineiro), Goiás e norte de São Paulo.
As produções têxteis eram utilizadas para a fabricação de artefatos de cama, mesa, banho e vestimentas, com a finalidade do uso da própria família, da vizinhança ou a comercialização. O processo de tecelagem é iniciado com o corte da lã do carneiro (tosquia) ou a partir da colheita e limpeza manual do algodão. Em seguida, é necessário retirar a semente do algodão utilizando o “descaroçador de algodão”. Como o algodão vem sujo da colheita, para limpá-lo usa-se o “batedor de algodão” e o “par de cardas”, assim as fibras ficam paralelas e forma-se uma fita ou pasta homogênea de lã que logo é depositada no balaio. Com a “roca de fiar” a pasta é alongada, retorcida e sua espessura é moldada para aumentar seu tamanho, e o fio é feito conforme a força no pedal da fiandeira. Por último, é iniciado o processo de tingimento e depois o entrelaçamento cruzado dos fios até se formar o tecido.
De fato, o trabalho manual de tecelagem das mulheres foi substituído pelo avanço tecnológico e científico da industrialização rápida. Por este motivo, não é mais comum encontrar aquelas senhoras que se juntavam com suas “rocas de fiar” na comunidade para tecer e cantar o dia todo. O que restou foram as lembranças resgatadas pelas peças dos museus, o próprio Museu Histórico, Artístico e Folclórico “Ruy Menezes” expõe deste conjunto de tecelagem manual em seu acervo, dentre eles uma colcha confeccionada neste processo por uma ex-escravizada. A todas as artesãs dos teares fica o pedido de resgatarem e transmitirem seus ofícios, assim como lhe foram feitos. E àqueles que não conhecem tais ofícios: Visitem o Museu!

REFERÊNCIA:

Projeto “Tecendo Saberes” de Maria Stela da Costa Gondim e Gerson de Souza Mól.


ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL ''O DIÁRIO'' (BARRETOS / SP), EM 05 DE DEZEMBRO DE 2008.

UM ROMANCE DOLOROSO


Por muito tempo, a história foi escrita exaltando somente os heróis das grandes guerras, políticos importantes e os fatos marcantes, por isso a história era construída com base no machismo. Entretanto, a tendência historiográfica contemporânea é realizar pesquisas estruturadas nos mais diversos elementos de toda a sociedade, tais como as mulheres, as crianças, os operários, os índios e a família. Destaquemos então a presença das mulheres do século XX que muito lutaram em meio aos preconceitos que sofriam.
Pois bem, entre alguns documentos, o acervo do Museu “Ruy Menezes” ostenta uma curiosa carta datada de 15 de maio de 1922. Escrita por Olyvia, em Goyaninha, distrito a seis léguas da cidade de Missão Velha, a carta apresenta pela própria autora a seguinte definição: “Tenha paciência, descanse para então terminar a leitura. Desculpe-me. É um romance doloroso!”. Olyvia era mãe de quatro filhos: César, Irineu, Maria Stella e Maria Julieta e ficou viúva em 1915.
Com esta situação, a forte mulher escrevia a seu irmão para buscar soluções aos problemas que enfrentava em sua viuvez. Olyvia trabalhava na Agência do Correio e para conseguir este emprego teve até mesmo que vender o gabinete dentário de seu marido como fiança. Além do mais, sofria grandes dificuldades, violência e amargos preconceitos das outras mulheres da cidade e dos familiares. Com a consistente fé religiosa, a viúva indagava ao irmão: “Qual pharol luminoso poderá guiar-me na senda escabrosa da viuvez?”.
Ainda não sabemos o final desta história, contudo, é notável nesta sofrível vida a religiosidade presente, a saudade do amado marido, a luta em vencer os preconceitos e cuidar dos filhos. As pesquisas atuais da internet apontam que a cidade de “Goyaninha” era pertencente ao Estado do Ceará, hoje denominada “Jamacaru” (CE) distante 21,1 km de Missão Velha.
A carta de Olyvia, carregada de emoções e dissabores, informa como as mulheres da época passavam pelas dificuldades da vida e ainda conseguiam manter-se na fé e ser mães, esposas e trabalhadoras. Com a postura patriarcal, o trabalho doméstico das mulheres foi inferiorizado conforme o tempo e a sociedade. Logo, não sejamos preconceituosos e anacrônicos em pensar que Olyvia foi uma mulher que levava tal vida por vontade própria, ela foi uma das muitas viúvas que enfrentaram e revolucionaram seus tempos, pois, como consta em suas próprias palavras: “...reconhecendo na humanidade que minha capacidade não merece tais infâmias.”


REFERÊNCIAS:
Documentos do Museu “Ruy Menezes”.
www.citybrazil.com.br


ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL ''O DIÁRIO'' (BARRETOS / SP), EM 28 DE NOVEMBRO DE 2008.

AVANTE COM INDIANA JONES!


Ao assistir o filme “Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal” percebi o quanto se produz conhecimento com a união das teorias aprendidas nos livros e a prática de visitar os locais históricos, muitas vezes vistos somente em simples ilustrações de livros didáticos. A área de conhecimento se expande conforme maiores informações podem ser absorvidas e produtivas dúvidas podem ser semeadas e sanadas.
De acordo com os PCNs (Parâmetros Curriculares Nacionais), produzidos pela Secretária de Educação do governo federal, os professores devem praticar estudos do meio com seus alunos a partir de visitas a museus, exposições e sítios arqueológicos. Tais atividades são oportunidades especiais altamente instrutivas, na medida em que possibilitam momentos lúdicos aos jovens, causando dinamismo às teorias que antes eram taxadas como “complexas e cansativas”.
Essa dinâmica é também considerada um recurso didático favorável ao envolvimento do aluno em situações de estudo, pois, incentiva-o a construir suas próprias especulações. Além do mais, em uma visita a localidades culturais os alunos em conjunto criam interação entre suas idéias e dúvidas, permitindo o surgimento de férteis debates e diálogos entre as épocas passadas e a época presente.
Quando se faz a visita é necessário destacar aos alunos a importância das peças, textos, documentos, obras de artes e fotografias guardadas nos museus, em exposições ou objetos antigos encontrados em sítios arqueológicos. Posto que, se as lembranças do passado não estivessem ameaçadas, não existiria a necessidade de criar tais espaços, com a finalidade de deslocar de situações isoladas todos os objetos dignos de recordações, para devolvê-los à sociedade com novas significações.
Inspiremo-nos então na célebre frase de Indiana Jones: “Se você quer ser um bom arqueólogo, tem que sair da biblioteca!”. Em outras palavras, se existe a real intenção em “aprender”, é necessário fundir as idéias teóricas com as experiências vividas para demonstrar o sentido crítico, vivo e dinâmico do processo de aprendizagem, porque somente observando o ambiente estudado que se conhece verdadeiramente sua história.

REFERÊNCIA:
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: História. Ensino de 5ª a 8ª série. Brasília: 1998.


ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL ''O DIÁRIO'' (BARRETOS / SP), EM 21 DE NOVEMBRO DE 2008.

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

A História Continua!



Sábado, será comemorado mais um feriado nacional, a “Proclamação da República” em 15 de novembro de 1889. De fato, tal solenidade marcou muito o cenário político do país, tanto nacionalmente, quanto nas cidadezinhas recém-formadas do interior daquela época. Sim, o ideal republicano chegou à cidade de Barretos e atingiu-nos em aspectos sociais, econômicos, culturais e ainda mais afetou a mentalidade da população.
No mesmo dia 15 de novembro, no entanto em 1907, era inaugurado um dos mais belos prédios de nossa cidade, o “Paço Municipal”, atual “Museu Ruy Menezes”. A administração municipal era do então intendente Dr. Antônio Olympio Rodrigues Vieira e o edital de licitação da obra foi publicado no Jornal O Sertanejo em 29/04/1906. O projeto foi executado na Praça da República (hoje Praça Francisco Barreto), sob a responsabilidade de César Torcelli, sendo a pedra fundamental lançada no dia 02/09/1906.
Contudo, neste ano de 2008, algo inédito aconteceu: a descoberta de tal data de inauguração do prédio do Museu. No minucioso trabalho de análises de documentos, estávamos eu (estagiária) e Sueli Fernandes (Diretora do Museu) arquivando e descrevendo os documentos do acervo que já estavam no Museu. Foi então que verificamos o convite da inauguração do Paço Municipal endereçado à Profª Maria da Glória. Eis a transcrição do convite, in verbis:
“Em 09 de novembro de 1907, Illmª Exmª Imª D. Maria da Gloria Carvalho. M. D. Professora nesta cidade. Devendo realisar-se às 6 horas da tarde de 15 de corrente mez, a inauguração do Paço Municipal desta cidade, tendo a honra de convidar V. Excia. a comparecer a esse acto, contribuindo com a vossa presença para maior brilhantismo da solenidade que se projecta. Saude e fraternidade. O prefeito do municipio.”
Portanto, o “Palácio das Águias”, como também é conhecido, comemora 101 anos de sua majestosa edificação. O Museu Histórico, Artístico e Folclórico “Ruy Menezes” permanece VIVO e se renova a cada instante em busca da preservação e do resgate das lacunas de nossa memória. Ainda mais, suas portas continuam abertas para as novas descobertas que virão, afinal o tempo não para!

REFERÊNCIA:
Documentos do Museu “Ruy Menezes”.
ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL ''O DIÁRIO'' (BARRETOS/SP), EM 14 DE NOVEMBRO DE 2008.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Lembranças de ex-aluno

“O passado não é o antecedente do presente, é sua fonte.”
(Ecléa Bosi)

Em uma agradável conversa com meu avô, Antônio Ribeiro de Oliveira, descobri que ele foi aluno do “3º Grupo Escolar” nos anos de 1949, 1950 e 1951, hoje E. E. “Cel. Almeida Pinto”. Através disto, foram observados alguns casos interessantes que, se contextualizados com a história do país e da cidade, poderão render bons frutos à memória escolar. Além do mais, tais casos refletem a situação educacional da época e possibilitam pesquisas acadêmicas neste âmbito.
Considerando que o prédio da escola foi inaugurado em 1951, conta o ex-aluno que a comunidade do local não estava de acordo com sua construção. Isso aconteceu em razão da própria localidade do prédio, no “Largo São Sebastião”, pois, segundo a comunidade, o lugar era de posse do Santo e, por isso, deveria ser construída uma Igreja e não uma escola. Com a doação do terreno pela Prefeitura Municipal, na administração do Prefeito João Ferreira Lopes, o prédio foi construído com as verbas do governo estadual. Entretanto, “o prédio começou a rachar, rachaduras leves, e o povo começou a falar que foi por causa do Santo”, relatou Antônio, que muito atentamente observava os acontecimentos e não acreditava que as rachaduras eram castigos do Santo.
Lembra Antônio, com alegria, dos Desfiles Cívicos, onde os alunos apresentavam-se todos os anos com a Fanfarra da Escola. Todos os dias dentro da sala, antes do início da aula, os alunos cantavam o Hino Nacional e era certo o respeito ao Diretor, talvez por temer sua atitude. As matérias eram divididas em quatro, valendo cem pontos cada uma: Linguagem Escrita, Leitura e Linguagem Oral, Aritmética e Conhecimentos Gerais.
A memória do ex-aluno desencadeou, entre muitos sorrisos, todo o cenário escolar da década de 50. Durante a conversa, percebem-se características como o misticismo e a religiosidade da comunidade, o patriotismo escolar e a ativa participação dos alunos nos eventos sociais da cidade, não meramente por comemorar datas cívicas, mas, pela simples felicidade em apresentar-se ao público com as músicas ensaiadas e representar gloriosamente sua escola. Por fim, lembrar o passado é ajudar buscar referenciais ao presente, ainda mais pelas lembranças de uma figura por vezes esquecida na história: o aluno.

Observações: Olhando as fichas de exame do vovô, reparei que foi um bom aluno, entre elas, foi “promovido” em 1951 pela Profª Nelsy Bernardi: Parabéns!
Agradecimentos à Direção da E.E. “Cel. Almeida Pinto” pela disponibilidade dos arquivos.

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL ''O DIÁRIO'', EM 07 DE NOVEMBRO DE 2008.

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Patrimônio Escolar


“Sejamos bons brasileiros, forçando no ensinar,
Sejamos pois escudeiros, na defesa do escolar”
(Aluna: Salomé V. Maittan – Hino da E.E “Cel. Almeida Pinto – 1953)

Através do estágio realizado na E.E. “Cel. Almeida Pinto”, percebi o quão importante é a preservação da memória escolar e quanto significativa é a reflexão sobre a história para os alunos das mais diversas escolas. Neste estabelecimento observei, entre muitas coisas, algumas atitudes que acarretam na rica defesa do próprio patrimônio escolar. Obstante de tentar traçar um tradicionalismo, o interessante de tal escola é a articulação de alguns artefatos do passado com atividades do presente.
A começar pelo próprio prédio escolar, construído em 1944, quando ainda era denominado “3º Grupo Escolar”, sendo o mesmo inaugurado somente em 15 de setembro de 1951. Característico da arquitetura da década de 50, é uma obra de engenharia edificada em dois pavimentos, localizada na Praça São Sebastião, construído mesmo para ser uma instituição de ensino. É muito belo ver que por maiores adaptações que foram feitas na parte exterior, o prédio continua o mesmo, preservado!
A sala da entrada principal já demonstra certa sensibilidade quanto à história da escola. Na parede do lado direito está exposto um quadro com a fotografia do patrono, o famoso Cel. Almeida Pinto, que, segundo depoimentos, prestou em sua época “eciclopédicos serviços à população sertaneja, como curandeiro, advogado, escrivão, jornalista, professor”.
Em outra parede esta anexado um interessante painel em azulejo pintado, onde está desenhado a figura do Padre Anchieta escrevendo um poema. É curioso notar que tal quadro foi doado pela ex-diretora, Prof. Idalina Silva, em razão da comemoração de seu cinqüentenário de magistério. Além do mais, são guardados também os acervos documentais da origem da escola, como livros de ponto, atas e fichas de matrículas.
A atitude de preservar não somente o prédio, como também alguns artefatos da história da própria instituição, deve ser valorizada como uma ação de sensibilização à sociedade. Fica, portanto, o apelo aos alunos que continuem conservando o rico patrimônio escolar que lhes são próprios, a disseminação do conhecimento patrimonial pelos professores e os PARABÉNS ao Diretor Gerson Rodrigues, a Vice-Diretora Vera Gori, a coordenadora Magda Zimaro, ao corpo administrativo e docente por estimular o zelo pelo Patrimônio, pela História!

REFERÊNCIAS:
ROCHA, Osório. Barretos de Outrora. (página 238)1954.
Documentos da E.E. “Cel Almeida Pinto”.

A Esposa e o Coronel

A vizinha cidade de Bebedouro foi fundada em 1884 e também vivenciou o atuante sistema político da época: o Coronelismo. Em poucas palavras, o Coronelismo foi um fenômeno histórico visto em várias cidades do Brasil, a partir do século XIX, onde muitas pessoas eram, por vezes, manipuladas politicamente por uma determinada elite agrária conforme as peculiaridades de cada local.
O caso de Bebedouro é um tanto quanto interessante, na medida em que apresenta uma particularidade curiosa. Segundo os estudos da licenciada em História, Marilena Correia, o mais famoso Coronel da cidade era o Cel. João Manoel, uma personalidade que na época exerceu grande influência e realizou importantes projetos para Bebedouro, como a instituição da Estação Ferroviária da Cia. Paulista em 1902.
Pois bem, todo este cenário demonstra um constante desenvolvimento do município. Contudo, a estudiosa do caso indagou: Quem assegurava o poder do Coronel? Foi então, que percebeu a participação ativa das mulheres como sustentação do poder coronelístico. Aprofundando o tema, notou-se a instituição “Senhoras da Caridade” como um agente de informações para o Coronel. Tal instituição era constituída por sua esposa, Maria Novaes Manoel, e algumas outras mulheres. Deste modo, elas organizavam festividades e passeios afins de sempre estarem atentas à vida social da cidade e, depois, instruir o Coronel, informando-lhe dos mais diversos casos.
Ainda mais interessante é um artigo publicado no primeiro jornal de Barretos, “O Sertanejo”, em fevereiro de 1902, onde o autor escreve sobre as comemorações da inauguração da Cia. Paulista de Bebedouro. Ao descrever os brindes levantados na festa, ele ressalta, in verbis: “Por ultimo fallou ainda a intelligente menina Geny Manoel, filha do Cor. João Manoel, saudando tambem a Companhia. Todos em geral, mas especialmente a ultima, foram, ao terminar, calorosamente, applaudidos.” Esta citação pode ilustrar também os estudos sobre as mulheres, de fato a filha do Coronel fora muito aplaudida, talvez porque tinha forte atividade na vida comum dos bebedourenses, sustentando também o poder de seu próprio pai.
Por fim, um tanto esquecidas pela história tradicional, as mulheres dos tempos passados estão sendo valorizadas pela historiografia das mentalidades. Parafraseando o final do artigo do jornal “O Sertanejo”: “um HURRAH enthusiastico” às mulheres que lutaram, de algum modo, pela política de cada época!

REFERÊNCIA: Apresentação da tese de Marilena de Almeida Correia, na “Semana de História” da FAFIBE – em setembro de 2008 e
Documentos do Museu “Ruy Menezes”.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

O Trabalho do Historiador

Atualmente, a profissão de historiador, seja em licenciatura ou bacharelado, parece não estar sendo muito procurada, isso talvez aconteça por causa da falta de informações sobre o mercado de trabalho para os jovens vestibulandos. Nessa era de ascensão do capitalismo, as profissões são frias e previamente escolhidas pela juventude, com a visão de ver o retorno do lucro investido nos suados anos de uma faculdade. De fato, quando se escolhe a opção “história” em um vestibular, com certeza não foi pensando no lucro, e mais tarde descobrem-se as várias áreas que o mercado de trabalho do historiador pode apresentar.
Gradativamente, em cerca de dez anos para cá, o profissional de história conquistou um lugar na mídia. Com o acontecimento do dia 11 de setembro em 2001, destruição das Torres Gêmeas em Nova York (EUA), o historiador passou a ser mais requisitado em vista de sua capacidade de explicar e analisar os fatos. Por este motivo, muitas vezes o graduado em história é convocado para entrevistas e/ou palestras em escolas, universidades, redes de televisão ou emissoras de rádios.
No âmbito de licenciatura, para ministrar aulas em redes municipais ou estaduais, o historiador precisa prestar concursos e depois se efetivar. Já no ensino superior as aulas são ministradas de acordo com a sua especialização, isto é, os docentes de universidades são pesquisadores de teses acadêmicas e suas aulas são focadas a partir dos assuntos dessas teses.
Outra abordagem do mercado de trabalho do historiador é a preocupação social com a memória e, com isso, a atuação do mesmo em museus com o cargo de curador. Nesse sentido, cabe ao profissional preservar os documentos, participar das pesquisas, organizar os acervos, conscientizar as pessoas sobre a importância do patrimônio histórico e atualizar a instituição com as novas tecnologias. Além disso, o historiador também pode trabalhar em “Casas de Cultura”; promoção de livros junto às editoras; auxiliar em pesquisas iconográficas; na política - como assessor de planejamento, projetos e pesquisa; como memorialista empresarial; como analista de pesquisa para órgãos de imprensa e intérprete de documentos originais.
Com efeito, aquele que optar pela profissão de “historiador” terá um vasto campo de trabalho, além da importante bagagem cultural que se absorve com as leituras e análises. Sim, o historiador é um leitor compulsivo. É alguém é apaixonado por conhecimento, e principalmente por disseminar entre as diferentes pessoas o que há de comum entre elas, a cultura, a arte, a história!

REFERÊNCIA:
Palestra com os docentes do curso de História da FAFIBE – na “Semana de História”.
ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL ''O DIÁRIO'' (BARRETOS / SP), EM 10 DE OUTUBRO DE 2008.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

A Poesia do Museu

São várias as intenções das pessoas quando visitam o nosso Museu “Ruy Menezes”, desde uma visita cultural escolar, uma pesquisa acadêmica ou até mesmo em busca de agradáveis recordações. Costumo dizer a estas pessoas, principalmente as crianças, que olhem para as peças não como uma “coisa velha” e sim como um objeto único, que caracterizou uma época e que foi importante para o homem. Ou seja, é necessário manter um olhar “histórico”, crítico, e ao mesmo tempo “sentimental” quando se entra no Museu. Ainda mais, é preciso também despir-se da mentalidade capitalista que temos para verdadeiramente sentir e entender a nossa história, nossa arte, nossa cultura!
Para demonstrar com propriedade os sentimentos e as informações que o Museu pode despertar nas pessoas, cito dois fatos ocorridos no mês de setembro que apesar das peculiaridades, transitaram por este “olhar histórico e sentimental”:
No dia 19 de setembro, a Deputada Estadual Luciana Costa visitou o Museu e neste dia ainda permanecia a Exposição “Reminiscências... Teatro Barretense”. Desta forma, quando a Deputada deparou-se com o cartaz em homenagem a saudosa atriz barretense Eunice Espíndola, seus olhos encheram de lágrimas e os sentimentos de emoção e felicidade vieram à tona. Luciana Costa relatou suas recordações sobre Eunice, pois a atriz foi sua professora no primário. E, além de ter proporcionado cultura a Luciana, Eunice também a alimentava com sua merenda, “pão com manteiga”. Sendo assim, o Museu possibilitou à Deputada meigas lembranças de um passado feliz.
Já no dia 21 de setembro, recebemos como visitante a advogada Thaíz Martinez, da capital paulista. Thaíz é deficiente visual, mas, isso não foi motivo para que ela não se encantasse pelo Museu, tanto pelo ambiente, quanto pelas peças. Acompanhada por sua amiga e diretora do Museu “Ruy Menezes”, Sueli Fernandes, a advogada sentiu cuidadosamente com suas mãos os mais variados objetos. Fascinou-se, pois, com a máquina de escrever de uma tecla só (Gundka), o Gramofone, o órgão a fole e a sela feminina. Percebemos então que o Museu despertou em Thaíz um sentimento do “novo” e que será guardado sempre em sua memória.
Nestes dois exemplos distintos, um de “recordação” e outro de “novidade”, encontramos evidências suficientemente capazes de confirmar o quão bom, fascinante e importante é uma visita ao Museu. Afinal, a palavra Museu vem do grego mouseion e significa um local inspirado por musas. Por isso, entendam como “musas” a poesia sentida em um lugar que inspira e respira por história e arte!
Visite-nos!
ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL ''O DIÁRIO'', EM 03 DE OUTUBRO DE 2008.

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Sensibilidade!

No último domingo, dia 21 de setembro, foi comemorado o “Dia do Gaúcho” em virtude das celebrações do Movimento Farroupilha (1835 – 1845). Nesta ocasião, os gaúchos não comemoram esta data em vão, mas sim em “grande estilo”. Posto que, eles organizam todo ano algumas atividades culturais realizadas na Semana Farroupilha, sendo esta nas palavras deles: “um momento especial de culto às tradições gaúchas, [...] [que] envolve praticamente toda a população do Estado”.
Neste ano, a Semana Farroupilha teve como tema “Nossos Símbolos: Nosso Orgulho!”. Em vista disso, a idéia dos organizadores foi a de valorizar e divulgar os símbolos oficiais e não-oficiais da Farroupilha, trazendo reconhecimento também para os aspectos históricos das pequenas cidades. Além disso, para demonstrar o autêntico orgulho que os gaúchos têm de sua história, a iniciativa estimula os estudos destes símbolos em todas as ocasiões possíveis, como por exemplo: nas escolas.
Pois bem, a partir deste belo exemplo que os gaúchos nos deram, como indivíduos práticos preocupados com a preservação da memória de sua região, podemos perceber como é importante o reconhecimento de um Patrimônio Cultural, seja ele através de símbolos, documentos, objetos ou até arquitetura. Tudo aquilo que caracterizou culturalmente uma época, seja de qualquer classe social, é considerado como herança histórica e deve ser estudado e conservado por nós, ditos cidadãos!
Na perspectiva econômica, uma cidade que preserva seu Patrimônio, mostra-se atraente para o setor turístico. E, com o aumento do turismo, a economia da cidade cresce com certa intensidade. Ainda mais, cria-se uma identidade cultural para o local, fazendo com que a população reconheça seu próprio espaço, se identifique e o preserve.
Por fim, há de se ressaltar que a história de uma cidade se constrói em capítulos, e que estes capítulos são feitos através das leituras que temos da mesma cidade. Por exemplo, nós “lemos” a urbanização histórica através de seus prédios arquitetônicos, e por isso eles devem ser preservados e não demolidos! Mas, isso só acontece se houver sensibilidade da população. Portanto, fica o apelo para os educadores, que trabalhem estas questões de “Memória” e “Preservação” com os jovens, para que possamos depois contar nossa própria história independentes de vitórias ou derrotas, assim como os gaúchos.

REFERÊNCIAS:
www.semanafarroupilha.com.br
Palestra do Mestrando Antônio Netto Júnior, na “Semana de História” da Fafibe.

OBS: Grande abraço para meu amigo “Gaúcho” Rodrigo de Moura.
ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL ''O DIÁRIO'' (BARRETOS / SP), EM 26 DE SETEMBRO DE 2008.

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

A Bela Época

“O povo foge da ignorância,
apesar de viver tão perto dela”
(Vida de Gado – Zé Ramalho)
No último dia 11, fui com a turma do curso de História das Faculdades Integradas de Bebedouro (Fafibe) assistir algumas palestras realizadas pela ANPUH, na USP de São Paulo. Neste dia, assisti o interessante Seminário Temático designado: “Poder, exclusão e violência na ‘Belle Époque Caipira’: as experiências de Modernidade e Urbanização nas terras do interior paulista (1852-1930)”. Logo, percebi que este tema é também ligado aos acontecimentos de nossa cidade, uma vez que Barretos presenciou esta época de tamanha influência francesa.
Nesse sentido, se faz necessária uma análise da conjuntura nacional deste período, a fim de entendermos melhor estes aspectos em nossa cidade. Pois bem, levemos em consideração que a Urbanização traz elementos novos para a organização da sociedade. Por exemplo, ela congrega pessoas, atividades econômicas de mercado e até universidades. Deste modo, no século XIX, havia uma preocupação em urbanizar o Brasil, porque o país era substancialmente agrário, ou seja, “exportador de mercadorias” e era necessário um processo de Modernização conforme o modelo da Europa.
Em meio disto, surgiram mudanças e este processo tomou conta das preocupações da elite brasileira. É neste contexto que se caracteriza a “Belle Époque”, que, a grosso modo, foi uma imitação da França, uma cópia incisiva. Nesta época, surgiram as cidades burguesas e isso condicionou o desenvolvimento do Capitalismo no país. De início, os grandes objetivos das elites urbanas brasileiras eram em relação ao serviço público e, por isso, foram instalados os bondes nas grandes capitais e também a eletricidade. Outro fator de modernização foi a construção de grandes prédios e palacetes aos moldes franceses, e este quadro pode ser observado também em Barretos, onde até hoje o centro da cidade é muito favorecido com estes prédios históricos.
A partir desta síntese, pode-se chegar a várias conclusões. Contudo, voltemos à atenção para o raciocínio do estudioso economista Celso Furtado, onde é demonstrado que em todo este processo de modernização das cidades do interior do país, foram incorporadas as tecnologias e o padrão de consumo europeu, mas, isto foi restrito somente à classe social dominante e, acabou por gerar a concentração de renda e a desigualdade. E as conseqüências desta “bela época” são sentidas por nós até hoje, pois o povo ainda clama por acesso a tecnologia, lazer e cultura!


REFERÊNCIA:
Seminário Temático realizado nos estudos do Doutorando Alexandre (FEI).
OBSERVAÇÃO: ANPUH - Associação Nacional dos Professores Universitários de História.
ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL ''O DIÁRIO'' (BARRETOS / SP), EM 19 DE SETEMBRO DE 2008.

sábado, 13 de setembro de 2008

O Bem Comum Brasileiro




Ideologia! Eu quero uma pra viver!”
(Cazuza)


Iniciamos a semana com a comemoração da Independência do Brasil, 07 de setembro de 1822, mas, todos sabem que a independência política e econômica não aconteceu de fato, em síntese, por causa da continuidade do governo português (com o Império de Dom Pedro I e a Constituição de 1824), e da relação de dependência econômica com a Inglaterra. A partir desta época, surgem agrupamentos políticos vinculados ao governo central, com leves diferenças de pensamentos e historicamente dominantes.
O período seguinte ao Primeiro Império, denominado Período Regencial (1831-1840), é o momento considerado como a primeira experiência verdadeira de governo brasileiro. Posto que, os regentes brasileiros administravam o país conforme as políticas praticadas pelos “partidos” Moderados e Exaltados. Estes, por representarem a mesma classe social, tinham, portanto, os mesmos interesses.
Em seguida, com a ascensão do Segundo Reinado do astuto Dom Pedro II (1840-1889), os agrupamentos políticos se desenvolveram para Liberais e Conservadores. Segundo o escritor Raymundo Faoro, os liberais eram mais “democráticos”, no sentido de defender a emancipação dos municípios e das províncias, já os conservadores eram adeptos de um certo “concurdismo”, pois eram obedientes ao trono por respeito e tradição. O fato é que, os “partidos” na teoria eram representantes da opinião pública, contudo, na prática isso não acontecia. Uma vez que, os mesmos “partidos” quase não apresentavam diferenças de pensamentos, e ainda não possuíam ideologias próprias e muito menos identidade. Nesta ocasião, lembra-se a famosa frase do escritor Oliveira Viana: “Nada mais conservador do que um liberal no poder. Nada mais liberal que um conservador na oposição”.
Quase dois séculos se passaram, e estamos na quinta Constituição (1988), entretanto, ainda persistem alguns quadros políticos, por vezes, parecidos com os do Brasil Império. Afinal, os partidos políticos atuais, se seguem alguma ideologia, ainda ignoram o sentido original da política, que é o bem comum, para dedicarem-se a outros fins. Logo, obstante de estabelecer um “bem x mal” entre os partidos, fica a crítica sobre a ausência de ideologia partidária do século XIX e a esperança de inovação do “bem comum” brasileiro presente, através de sólidas políticas públicas educacionais. Porque é com a educação que se constroem indivíduos autenticamente políticos!


REFERÊNCIA:
FAORO, Raymundo. Os donos do poder: Formação do patronato polítco brasileiro. 5ª ed., Editora Globo: Porto Alegre, 1979.

OBS: Imagem do retrato da "Independência no Brasil", dita no dia 07 de setembro de 1822.
ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL ''O DIÁRIO'' (BARRETOS / SP), EM 12 DE SETEMBRO DE 2008.

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Consciência!

“Seja de forma coletiva ou individual, as vozes do passado
soam nos ouvidos, por vezes surdos, de cada cidadão.”
(André Raboni)


Muitas são as perguntas relativas à preservação da história, da memória, da cultura de uma nação, como por exemplo: O que é preservar? O que preservar? Como preservar? Pois bem, segundo o dicionário Aurélio, “preservar” significa: livrar de algum mal, manter livre de corrupção, perigo ou dano, conservar, livrar, defender e resguardar. É neste sentido que devemos preservar o nosso Patrimônio Cultural, utilizando a “conscientização” como forma de salientar a história de um povo.
Por “Patrimônio Cultural” entende-se todo o elenco de bens denominados “culturais”. Desta forma, o professor Hugues de Varine-Boham, através de estudos, dividiu o “Patrimônio” em três categorias de elementos. A primeira é referente à natureza, ao meio ambiente, ou seja, aos recursos naturais, como os rios, as águas desses rios, os peixes, as cachoeiras e toda a produção. Além disso, também é notável o “clima” e a “paisagem”, como fontes de reprodução dos comportamentos das pessoas. No nosso caso, o “clima tropical” e a “vegetação cerrado” possibilitaram a cultura sertaneja.
O segundo grupo é ligado ao conhecimento, às técnicas, ao “saber fazer”. Por isso, tudo aquilo que o homem produziu com utilização para a sobrevivência, deve ser considerado Patrimônio e, assim, respeitado. Por exemplo, saber polir uma pedra para cortar uma grande árvore, saber construir uma casa, saber tecer uma roupa, saber rezar para Santo Antônio para casar-se. Tudo isso é vindo do homem e para o homem.
O terceiro e último grupo é resultante dos dois primeiros, isto é, todos os bens culturais que englobam objetos, artefatos e construções obtidas a partir do meio ambiente e do saber fazer. Por exemplo, o próprio prédio do Museu “Ruy Menezes” (1907) é tombado como Patrimônio Histórico, pelo município, pois, é considerado uma construção integrada ao contexto histórico da época e, mais ainda, um local onde aconteceram curiosos e importantes fatos.
Infelizmente, o avanço do capitalismo, e não só isso, dificulta muito a manutenção dos artefatos integrantes do Patrimônio Cultural. Pois, destroem-se, cada vez mais, os antigos prédios em decorrência da construção de edifícios modernos voltados, principalmente, ao comércio. Resta-nos, porém, “a consciência” de lutar contra essas dificuldades, superar a ignorância e manter viva a nossa identidade cultural!

REFERÊNCIA:
LEMOS, Carlos A. C., O que é Patrimônio Histórico. São Paulo: Brasiliense, 2006.
ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL ''O DIÁRIO'' (BARRETOS / SP), EM 05 DE SETEMBRO DE 2008.

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

AMOR: Presente para Joanita!

Pelo alto sertão goiano, em fins da década de 50, acontecia uma bela e aventureira história de amor. A protagonista é Joanita Ramos de Oliveira, filha do escrivão Jacinto Ramos e da dona de casa Adélia Amélia Ramos, era a sétima filha dos dez filhos do casal. Nasceu em 31 de agosto de 1940, na cidade de Nerópolis, estado de Goiás. A destemida moça cresceu em meio aos tradicionais costumes da época, e sua vida era restrita “aos olhares de seu pai e de seus irmãos”. Nos seus nobres dezenoves anos, sonhava em encontrar um rapaz diferente de sua realidade e sempre aproveitava ocasiões como as quermesses ou bailes para colocar o melhor vestido e dançar a noite toda.
Foi então que no final do ano de 1959, o barretense Antônio Ribeiro de Oliveira chegara na pacata cidadezinha goiana, afim de trabalhar por algum tempo com sua tia. Certa vez, o forasteiro montado num burro, avistou a linda mocinha “de cintura fina e lindos cabelos castanhos”, caminhando no sentido contrário ao seu, em uma estrada de terra. Apaixonaram-se! E mesmo com o passar dos dias, Antônio não mediu esforços em descobrir sequer o seu nome, para lhe fazer uma serenata.
Em uma dessas tentativas, Antônio percebeu o acaso: Joanita era irmã de um de seus melhores amigos, Benedito, vulgo “Véi”. Quando o mesmo descobriu a paixão entre os jovens, contou a seu pai Jacinto. Este, não aceitou de modo algum o namoro entre o casal, já que Antônio era pobre. A paixão, entretanto, falou mais alto e, em apenas alguns dias, os dois amantes fugiram! Depois de uma viagem arriscada, vieram para Barretos, e no dia 30 de janeiro de 1960 casaram-se, tendo, em seguida, os filhos: Norma Francisca, Ivone, Maria Perpétua, Marco Antônio, Elizabeth e Marcelo, todos apaixonados pela história dos pais.
Escrevi aqui alguns traços da vida de uma das pessoas mais importantes para mim, alguém que certamente me ensinou a respirar, sentir e viver, minha querida avó. Domingo próximo, ela completa 68 anos, vividos com muitas batalhas e amor! Hoje, além de mãe, é avó de 15 netos e futura bisavó de 2 bisnetos. Com sua beleza elementar foi “Miss 3ª Idade”, em 2003, e encanta a todos com seu ''jeitinho goiano'' de falar e sua comida apimentada. Minha avó: EU TE AMO! Agradeço por existir e por ter acreditado no singelo amor do vovô, no que resultou na nossa família. Nesta data única, te desejo essencialmente: VIDA! Pois, sua história, “Vó Joana”, continua...!
Um beijo no seu coração. Da sua neta escritora, como você tanto gosta de dizer.
ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL ''O DIÁRIO'' (BARRETOS / SP), EM 28 DE AGOSTO DE 2008.

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Saudações e Vivas


O Museu “Ruy Menezes” apresenta a Exposição: “Reminiscências... Teatro Barretense”, até o dia 16 de setembro. O tema é bastante interessante, na medida em que podemos observar toda a trajetória histórica do teatro, junto ao cinema. Além disso, são destacados alguns artistas e teatrólogos barretenses, que brilharam nos nossos palcos e complementam nossa história.
Segundo os registros do jornal “O Sertanejo”, a primeira peça teatral realizada na cidade aconteceu em de 14 de abril de 1900 e a primeira sessão de cinema foi em 04 de outubro de 1901. Logo, o Cine-Barretos foi inaugurado em 17 de dezembro de 1946, com o filme “Amar foi minha ruína”. Por conseguinte, tivemos também as atividades do Cine-Centenário e Cine-Tetéia. O primeiro Teatro de Barretos fora o “Teatro Aurora” (1913), depois, o “Cine-Teatro Éden” (1915/16), incendiado em 1923, sendo as causas ainda não descobertas. Em seguida, a Empresa Teatral Paulista, trocou a denominação “Teatro Aurora” por “Teatro Santo Antônio”, em conta do hábito de colocar nomes de santos nas instituições.
Em 1917, foi fundado o “Grupo Dramático Amor à Arte”, com destaque para o nobre artista Hildebrando de Araujo. Na década de 20, Humberto Bevilacqua, Dermeval de Almeida e João Falcão foram salientados na arte do teatro amador, contracenando-se em várias peças. Tempos mais tarde, artistas como Eunice Espíndola e Luiz Carlos Arutim foram muito bem reconhecidos, em razão da participação em rede de televisão e cinema nacional. A cidade alcançou grande êxito também pelo trabalho do admirável dramaturgo barretense Jorge Andrade.
No âmbito de direção, interpretação e cenografia, tivemos a sólida contribuição do professor José Expedito Marques. No qual, fundou o “Teatro Experimental de Barretos”, o “Grupo Teatral Negro de Barretos” e o “Teatro Universitário de Barretos”. E, em 1976, João Falcão ao lado de José Antonio Merenda, fundaram o “Grupo Teatral Amor à Arte de Barretos”, (G.T.A.A.B).
Contudo, a história do teatro barretense continua e cabe a nós, cidadãos, estimular cada vez mais a arte teatral. Arte esta, originada, até “precocemente” em Barretos, no início do século XX, e construída por grandes personalidades, colaboradores do nosso aprimoramento cultural. Portanto, “Saudações” aos nossos vultos do teatro amador e “Vivas” aos nossos novos artistas do século XXI.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
ROCHA, Osório. Barretos de Outrora, 1954.
MENEZES, Ruy. Espiral –
História do Desenvolvimento de Barretos, 1985.
Jornal “Barretos Memórias” – fevereiro de 1988.

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL ''O DIÁRIO'' (BARRETOS / SP), EM 22 DE AGOSTO DE 2008.

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

SER E ESCREVER

É muito bom poder imaginar como os primeiros humanos registraram suas necessidades através da escrita. Melhor ainda é poder utilizar estas escritas como fontes históricas para o entendimento das antigas civilizações, bem como o modo de vida de nossos ancestrais. A partir disso, nota-se a pintura rupestre como forma de manifestação do homem, a fim de conotar seus desejos, suas necessidades, passar suas idéias, ou trocar mensagens com outros.
Historicamente, não é certa a data da primeira escrita existente, porém, sabe-se que entre o primeiro e o sexto milênio a.C., na Mesopotâmia, os povos sumérios elaboraram e desenvolveram a “escrita cuneiforme”. Feita em tábuas de argila, com auxílio de instrumentos em forma de cunha, a escrita suméria adaptou-se também a outras línguas, como a acadia, hitita e persa.
Em seqüência, muitas civilizações desenvolveram também suas respectivas escritas, muitas vezes, sob a autoridade de um soberano e ante a necessidade de controle administrativo. A civilização egípcia, por exemplo, deu origem à escrita demótica (popular, simples) e à hieroglífica (complexa, formada por desenhos e símbolos). Entre muitas funções, cabia somente ao escriba realizar, através da escrita, os registros contábeis e organizar a vida política e econômica da sociedade. Os instrumentos utilizados para escrever eram basicamente “objetos de metal, osso e marfim, largos e pontiagudos, plano, em forma de paleta”. E, depois, as tábuas de argila também passaram a registrar “inscrições votivas, comemorativas, narrações históricas, relatos épicos”.
Com o passar dos tempos, a escrita foi modificada e aprimorada de acordo com as precisões das épocas de determinados povos, de variados espaços geográficos. O fato é que, entre muitas contribuições, a escrita proporcionou a compreensão do nosso ser, a reflexão das nossas inquietações e permitiu que o pensamento do homem ultrapassasse as barreiras do tempo. Assim, faz-se com que o homem do futuro possa conhecer parcialmente a realidade de nosso presente. Pois, como disse a fabulosa e excêntrica escritora Clarice Lispector: “Eu não escrevo o que quero, escrevo o que sou.”

REFERÊNCIAS:
www.suapesquisa.com
www.forum.ufrj.br
ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL ''O DIÁRIO'' (BARRETOS / SP), EM 15 DE AGOSTO DE 2008.

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Do Berrante ao Celular


“Nossa viagem não é ligeira, ninguém tem pressa de chegar.
A nossa estrada é boiadeira, não interessa onde vai dar.”
(Comitiva Esperança – Almir Sater)


Quando indagamos sobre nossa própria cultura, percebemos que somos norteados também por um conjunto de tradições enraizadas no cotidiano. Pode-se dizer que, estas tradições estão presentes na arte, nas crenças, nas lendas, nas festas e, de certa forma, nas idéias. Forma-se, portanto, o que chamamos de folclore (folk = povo, lore = sabedoria), transferido de geração em geração. Entretanto, algumas manifestações desta “sabedoria popular” articulam-se ao ambiente tecnológico atual e, muitas vezes, podem perder sua originalidade.
Em nossa região sertaneja, existem alguns hábitos e objetos interessantes a serem estudados, para o entendimento de nossa cultura. Por exemplo: o berrante. É um instrumento de sopro, de difícil execução, tocado pelos peões nas antigas comitivas, transportadoras de boiadas. Segundo relatos, o berrante surgiu há três séculos atrás, época do início do tropeirismo, e era feito do chifre do boi “pedreiro”, cujos chifres podiam chegar a um metro e meio de comprimento. Posteriormente, os berrantes eram constituídos com anéis de prata e suas bocas mediam até quarenta centímetros.
Entre as funções do berrante, cada toque emitido pelo peão é entendido como uma senha, onde é avisada a hora do almoço, o toque de recolher, o toque de perigo e até mesmo é usado como orientação para o “sinueiro” (boi que comanda a boiada). São cinco os principais toques, “saída ou solta”: para despertar a boiada de manhã – toque sereno; “ estradão”: reanimar a boiada na estrada – toque repicado; “rebatedouro”: aviso de perigo – semelhante ao toque de clarim; “queima-do-alho”: hora do almoço; “floreia”: toque livre, poder ser uma música para diversão.
Portanto, verifica-se que o berrante é um meio de comunicação entre os peões, utilizado há muito tempo e compositor dos costumes sertanejos. Pode-se, então, associar o berrante ao aparelho celular, trazido pela atual tecnologia, e considerado um útil veículo de comunicação. Contudo, a nossa expectativa é que se preserve o berrante como o integrante primordial entre as atividades dos peões, a fim de não se perder as manifestações da tão complexa cultura caipira.


REFERÊNCIAS:
www.solbrilhando.com.br
www.osindependentes.com.br
AGRADEÇO AO "MAESTRO FRANCO PIERRE", UM APAIXONADO PELA CULTURA CAIPIRA, PELAS CONVERSAS TROCADAS E INFORMAÇÕES DADAS SOBRE O TEMA DO ARTIGO: BERRANTE.
ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL ''O DIÁRIO'' (BARRETOS/SP), EM 08 DE AGOSTO DE 2008.

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Ressonância

É bem verdade que a convivência entre os diversos povos do planeta produz o contato casual ou intencional entre eles. Foi desta forma que os portugueses encontraram os nativos da América e o choque entre as respectivas culturas sintetizou, de início, um notável estranhamento. Em seguida, os costumes de um povo e de outro se tornaram próximos e a pluralidade cultural assentou-se na formação da sociedade.
Não diferente, este quadro pode ser visto na nossa realidade, em nossa cidade, posto que, parte-se da premissa que a sociedade barretense também foi concretizada por uma fusão de culturas. Por isso, o conjunto dos padrões de comportamento, das crenças, das instituições e de outros valores morais e materiais foram articulados de acordo com tal associação. Nesse sentido, as imigrações italiana, alemã, austríaca, africana, árabe e japonesa podem ser relacionadas com a população sertaneja barretense, devido à união das culturas.
Neste contexto, Ruy Menezes descreveu a “paisagem humana de Barretos”, do início do século XX, como uma caboclada dominante, “de cor morena, pálida, olhos oblíquos, lembrando suas origens indígenas, miúda, de barbinha rala e nem sempre bem vestida”. Com efeito, o indivíduo sertanejo mantinha esta aparência e, além disso, costumava trabalhar de forma fundamentada na experiência vivida, ou seja, sem técnicas especializadas.
Em meio disto, a imigração italiana colaborou, entre muitos feitos, com o aprimoramento de certas técnicas profissionais. A partir de então, desenvolveram-se os ofícios de sapateiro, alfaiate, pedreiro, artesão e outros. Nota-se, também, a forte influência imigratória na arquitetura, desde os grandes palacetes e igrejas até as pequenas casas. No setor comerciário, os árabes tiveram seu destaque, já que acabaram por reformular estruturalmente o comércio da cidade.
Portanto, é válido salientar todas estas influências culturais recebidas pelas imigrações, pois, elas se tornaram novos costumes e hábitos para a formação da sociedade. Do mesmo modo, percebe-se a resistência da cultura sertaneja, caipira, que também influenciou as demais. Caso contrário, nós não manteríamos a língua e nem certas canções que demonstram a nossa realidade. Por assim dizer, a relação social mútua dos povos é semelhante a um sistema de ressonância, pois a cultura de um povo vibra como resposta aos impulsos recebidos da cultura de outro povo.


REFERÊNCIA:
MENEZES, Ruy. Espiral – História e desenvolvimento cultural de Barretos. 1985.

sexta-feira, 25 de julho de 2008

O Tempo da História

Historiografia é um termo utilizado para designar a “escrita da história” nos mais variados trabalhos, bem como um “meio de comunicação” entre os estudos dos historiadores para com a sociedade e seus campos econômicos, políticos e culturais. Eis a relação de estudante e estudado. Nesse contexto, a historiografia passa por algumas modificações, a fim de se adaptar com mais afinco aos estudiosos de cada “escola histórica” de determinada época.
Na Grécia Antiga, o historiador Políbio já rejeitava a retórica, ou seja, aqueles discursos brilhantes na oratória, porém, obstante de qualquer praticidade. E, o fato dele denunciar os seus companheiros como “meros retóricos” já foi um salto para o início da modificação da historiografia. A partir de então, tivemos no século XVIII os historiadores do Iluminismo, que lutaram por uma história não mais restrita aos fatos políticos e militares, e sim por uma história voltada à organização e aos hábitos da sociedade.
No século XIX, a escrita da história sofreu forte influência da sociologia, com Emile Durkheim e August Comte. Com estes, aprimoraram-se as teorias do positivismo, onde, entre muitas outras, a visão “linear e progressista” ajustou-se na história. No entanto, foi no século XX que aconteceu uma brilhante reação contra este “paradigma tradicional” da historiografia, com o surgimento da Escola dos Annales.
Fundada por Lucien Febvre e Marc Bloch, em 1929, os “Annales” basicamente reformularam a história para as análises do “longo tempo”, isto é, sem considerar somente os fatos marcantes. Por exemplo, revalidou-se os grandes ciclos econômicos e as expressivas mudanças culturais como forma de examinar as estabilidades e os problemas do homem social. E, além disso, houve uma fragmentação do estudo histórico, pois, de acordo com as especificidades, surgiram a história econômica, história das mentalidades, história do pensamento político, história regional e outras.
Enfim, com todas estas transformações, a historiografia deve sempre retratar detalhadamente os procedimentos reais da sociedade e reproduzir toda a atividade humana. E, cabe ao historiador a função de criticar os acontecimentos e organizar e explicar o mundo do passado.


REFERÊNCIA:
BURKE, Peter. A escrita da história: novas perspectivas.
Tradução de Magda Lopes – SP: Editora Unesp. 1992.
ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL ''O DIÁRIO'' (BARRETOS/SP), EM 25 DE JULHO DE 2008.

sexta-feira, 18 de julho de 2008

O Violinista

Para alguns, Ernesto Che Guevara foi um grande exemplo de vida; para outros, Plínio Salgado enalteceu-se como um líder eloqüente. No entanto, não obstante de nossa realidade, em Barretos, ainda no século XX, destacou-se o professor, bacharel em Direito e músico, Adão de Carvalho. Em um mundo onde a analfabetização e o conformismo eram tidos, por uns, como únicos caminhos da vida, alguns homens e mulheres se sobressaíram a partir da simples atitude de lutar em busca de conhecimento.
Adão de Carvalho era negro. Mas, não é de se espantar que, como muitos outros negros, ele conseguiu superar as dificuldades e acreditar na sua própria razão de ser humano. Nascido no estado da Bahia, Adão veio para Barretos em busca de melhores condições de vida. E, no início, vivia um tanto isolado do centro da cidade, com o nobre ofício de barbeiro e a conseqüente situação precária.
Contudo, a perspicácia de admitir que necessitava de cultuar a sabedoria, fez com que o distinto homem entrasse para o mundo da educação, da solidariedade e da música. Assim, ele se matriculou no Ginásio Municipal, tendo aula em meio às crianças. Posteriormente, formou-se em Direito, em Bauru, chegando a passar fome, para economizar dinheiro e comprar livros. Entre muitos de seus feitos, foi pastor de igrejas protestantes e fundou uma escola particular, denominada “Instituição Amor às Letras”.
Pois bem, cheguemos à célebre e grandiosa atuação musical de Adão em nossa cidade, era um brilhante violinista. Há muitos relatos orais sobre sua arte no violino, onde as pessoas admiravam-se com o soar das suaves notas musicais. Hoje, seu violino é uma das peças do acervo do Museu “Ruy Menezes”, no qual demonstra a emoção das pessoas que o conheciam, e desperta a curiosidade dos jovens que desde já o apreciam.
De fato, somente descrever a biografia de Adão de Carvalho não é suficientemente original. Por isso, concordo, por um lado, com Ruy Menezes: “Deveria isso ser meditado pelos moços que têm plenas felicidades em seus estudos, feitos sem esforços e nem sacrifício”. Por outro lado, Adão não era um negro de alma branca, era um negro de alma própria, corajoso e exemplar. Por fim, Adão de Carvalho marcou a vida de muita gente e, sem qualquer tipo de influência ideológica, sua vida deveria ser um espelho para muitos jovens de hoje!


REFERÊNCIA:
MENEZES, Ruy. Espiral – História do desenvolvimento cultural de Barretos. 1985.

- FOTO PERTENCENTE AO ACERVO DO MUSEU, TIRADA POR *SUELI FERNANDES.
- ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO" (BARRETOS/SP), EM 18 DE JULHO DE 2008.

sexta-feira, 11 de julho de 2008

Grandezas: o Homem e a Imprensa

Aprendi que grandes manchetes fazem grandes artigos, grandes artigos fazem grandes homens e grandes homens fazem grandes jornais.
Nesse sentido, jornalistas, políticos, literatos, historiadores e outros escritores se correspondem de acordo com as expectativas de seu público, com a finalidade de engrandecer os fatos e aprimorar seus próprios pensamentos. Além disso, as questões dos "pontos de vista" e dos "valores ideológicos" são sempre presentes em quaisquer notícias ou crônicas.
Destarte, o primeiro jornal de nossa cidade, "O Sertanejo" (1900 - 1915), preocupou-se com os valores tradicionais de Barretos, visando a transmissão e a conservação da história. A começar pelo seu próprio nome, no qual designava, de forma sútil, a povoação do interior, distante dos grandes centros urbanos. Em declaração da época, disse Emílio José Pinto sobre a denominação "O Sertanejo": "título sugestivo pela atração da simplicidade como pela beleza do próprio vocábulo...".
"Crimes espantosos, bigamia, desonra, infanticídio e parricídio!", era o que dizia a manchete do primeiro suplemento da imprensa barretense, publicado pelo mesmo jornal, em outubro de 1900. Nessa edição, por exemplo, contou-se o caso do assassinato do lavrador "Juca Branco", acusado de cometer diversos crimes, assassinado pelo seu próprio filho. Percebe-se, pois, que este jornal, paralelo a artigos culturais, publicava também os fatos do cotidiano, como a "abolição da escravatura" e temas sobre "trabalho".
O primeiro redator-chefe do jornal foi o ex-intendente municipal, Cel. Silvestre de Lima, que, era muito reconhecido por seus artigos e poesias. Tanto reconhecimento valeu-se por transcrever estes artigos, publicados em "O Sertanejo", em jornais do Rio de Janeiro, de São Paulo e Minas Gerais. Por esse e outros motivos, Osório da Rocha afirma que "foi O Sertanejo que contou ao Brasil a existência de Barretos".
Portanto, o início da imprensa em Barretos foi marcado por uma designação realmente válida, pelos habitantes sertanejos que aqui tinham seus peculiares modos de vida. Infelizmente, o acesso ao jornal em ler e escrever era muito restrito, por conta do pavoroso analfabetismo que assombrava a maioria da população. No entanto, ainda hoje podemos interpretar seus artigos em trabalhos acadêmicos, bem como associar a mentalidade cultural da época à civilização continuamente sertaneja atual.


REFERÊNCIAS:
ROCHA, Osório. Barretos de Outrora. 1954.
Documentos do Museu "Ruy Menezes".
Filme: "Chegadas e Partidas", diretor: Lasse Hallström
ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL ''O DIÁRIO'' (BARRETOS/SP), EM 11 DE JULHO DE 2008.

terça-feira, 8 de julho de 2008

Personagens de 1932

“Onde estão com vossos ponchos ó jovens de 32!” (Paulo Bonfim). É o que está escrito no primeiro verso da poesia “Jovens de 32”, do saudoso poeta Nidoval Reis. Pois bem, no próximo dia 09 comemoramos o dia da Revolução Constitucionalista de 1932. Na qual, basicamente as juntas revolucionárias reivindicavam o fim de Governo Provisório de Getúlio Vargas, a nomeação de um novo Presidente da República, a autonomia estadual e uma reconstitucionalização do país.
Destaquemos, pois, o período ocorrido na cidade de Barretos, onde aconteceram muitas participações populares de digna significância. A começar com o caso de Dona Fiúca (Sebastiana Cunha da Silva), funcionária do Café Central da época (representante da Gasolina Atlantic). Neste contexto, encontrava-se em Barretos o Batalhão de Ribeirão Preto “Comandante Julio Marcondes Salgado”, com mais de mil voluntários. Como os demais funcionários do Café se alistaram para lutar na Revolução, Dona Fiúca ficou com a responsabilidade de tomar conta do abastecimento dos carros oficiais. Sendo assim, controlava pessoalmente as bombas manuais de gasolina e todos os sábados entregava relatórios completos na sede do Batalhão.
Além do depoimento de Dona Fiúca, outra evidência que temos do fato ocorrido é um documento expedido pelo representante do Batalhão, em Laranjeiras - 13 de agosto de 1932 – Ofício 231, agradecendo sinceramente os inestimáveis serviços prestados pela funcionária.
Outro acontecimento em 1932, teve como palco a Estação Ferroviária e foi registrado em um artigo de Osório da Rocha. Segundo o autor, em 26 de setembro as tropas revolucionárias estavam prontas para embarcar a Campinas. No entanto, “um soldado embriagado, ou mesmo anormal”, saltava diversas vezes da janelinha do trem, com um sabre, e começava a “gingar como capoeira, soltando exclamações e vivas, com jeito de quem queria brigar, guerrear”. Logo, o motorista já muito irritado acabou disparando vários tiros contra o soldado à queima roupa. Consequentemente, os demais voluntários ficaram em confusão e, por isso, iniciou-se um tiroteio de poucos minutos, não só contra o homem, mas para todas as direções, contra a Estação.
Casos como este e de Dona Fiúca retratam o povo também como “heróis”, já que participaram das causas revolucionárias de 1932. Ficam registradas, portanto, as nossas saudações a todos os personagens que movem a história, o povo!


REFERÊNCIAS:
Jornal ABC, julho de 1994.
www.brasilescola.com
Documentos do Museu “Ruy Menezes”
ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL ''O DIÁRIO'' (BARRETOS/SP) , EM 04 DE JULHO DE 2008.

segunda-feira, 30 de junho de 2008

Imaginação e Inovação

O estudo da história amplia cada vez mais suas fontes, a metodologia e a própria maneira de escreve-lá. Desta forma, nota-se, entre muitas outras, uma nova abordagem ou um novo tipo de história denominada de “história vista de baixo”, na qual se aplica um corretivo a “história da elite” e permiti uma mescla entre as experiências do cotidiano das pessoas com as temáticas tradicionais analisadas pela história até então. Por exemplo, tratando-se de uma guerra, a história não será analisada somente pelo ponto de vista do general, e sim pela relação da perspectiva do soldado com o general.
Percebe-se, nesta abordagem, que os historiadores utilizam de fontes documentais oficiais ou não, e conseguem adaptar informações precisas sobre as experiências, costumes e modos de vida dos indivíduos passados, em ligação ao contexto político e econômico de determinada época. Além disso, verifica-se uma forte análise sobre as influências que a classe dominante e a classe subalterna incorrem-se entre si, demonstrando, assim, o caráter cíclico das classes sociais.
Por isso mesmo, observa-se o auxílio da sociologia e da antropologia em alguns estudos da história vista de baixo. Uma vez que, a história social admite constatar os problemas e a formação de uma sociedade, bem como a atuação dos dominados nos grandes movimentos. E, a antropologia aborda os aspectos culturais das comunidades de certos povos e etnias, a serem relacionados com os tópicos exteriores a elas.
No entanto, a tentativa de estudar história deste modo envolve algumas dificuldades, relativas as evidências, aos conceitos e as ideologias. Pois, é lógico que quanto mais antiga a época a ser estudada, mais restritas serão as fontes evidenciais das classes inferiores. E, há obstáculo, muitas vezes, em conceituar “o que é baixo?”, por exemplo: o próprio povo, em algumas épocas, pertencia a variados grupos, estratificados econômica, cultura e sexualmente. Paralelo a isso, ainda existe a questão de desenvolver um trabalho de acordo com uma única visão tradicional, não abrindo espaço para diferentes interpretações.
Mesmo assim, a história vista de baixo constitui um ramo de inovação e imaginação aos historiadores, permitindo uma abrangência das temáticas estudadas. Proporciona, principalmente, um meio para reintegrar a história daqueles grupos sociais que podem ter pensando tê-la perdido, ou que nem tinham conhecimento da existência de sua história. Afinal, o que seria do futuro da humanidade se não fossem os relatos passados de nossos mais diversos ancestrais?

REFERÊNCIA:
BURKE, Peter. A escrita da história: novas perspectivas.
Tradução de Magda Lopes – SP: Editora Unesp. 1992.


ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL ''O DIÁRIO'' (BARRETOS/SP), EM 27 DE JUNHO DE 2008

quarta-feira, 25 de junho de 2008

Noites de Festanças

Em virtude das comemorações, festividades, homenagens, simpatias e tradições do mês de junho, analisemos a história e as curiosidades da festa junina. Percebe-se que, nesta época, todo o Brasil, mesmo tendo diferentes regiões, festeja em ritmos e danças semelhantes à cultura caipira. Isso demonstra as fortes ligações de um povo e outro, interagindo mutuamente na construção cultural do país.
A festa junina originou-se de algumas celebrações de rituais de fertilidades de povos bárbaros da Europa, norte da África (egípcios) e Oriente Médio (sumérios e sírios), no período de solstício de verão. Posteriormente, a Igreja Católica adaptou estas celebrações para as comemorações do dia de São João (24 de junho). Por isso, no princípio era chamada de “Festa Joanina” e por ser no mês de junho, logo, passou a denominar-se: “Festa Junina”; homenageando Santo Antônio, São Pedro e o próprio São João.
Nota-se, desta forma, diversos elementos culturais vindos de países distintos e adaptados às regiões correspondentes. Por exemplo, a quadrilha é uma dança nobre francesa, mas, originada de contra-danças inglesas do século XVIII (contry dance = dança rural); a tradição de soltar fogos veio da China, que é o país fabricador da pólvora e a dança de fitas é proveniente dos países ibéricos. Além disso, verificam-se doces, salgados e bolos derivados do milho, em vista de o mês de junho ser a época de sua colheita.
No Brasil, alguns historiadores afirmam que a festa junina foi trazida pelos portugueses no período colonial. Atualmente, no nordeste as festas ganham mais expressão, pois, por ser uma região de muita seca e o mês de junho apresentar chuvas, os habitantes comemoram a melhora na agricultura e também na economia, já que o consistente turismo gera ainda o aumento de empregos. Na região sudeste é comum a realização de festas populares como as quermesses nas Igrejas, empresas e até mesmo nos sindicatos.
Em essência, o mais relevante significado que as festividades juninas podem oferecer é a interação dos povos. Posto que, desde sua origem até os dias atuais sempre foram influenciadas por diversas composições culturais e formadas com as peculiaridades dos lugares. Portanto, divirtam-se “nesta noite de festança, todos caem na dança, alegrando o coração, foguetes, cantos e troca na cidade e na roça, em louvor a São João”.


REFERÊNCIAS:
www.suapesquisa.com
www.brasilescola.com
Música de João B. Filho “Pula a fogueira”.
ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO" (BARRETOS/SP), EM 20 DE JUNHO DE 2008.

sexta-feira, 13 de junho de 2008

O Caipira e a Civilização

Partindo da premissa de que a identidade cultural brasileira foi formada através da miscigenação de brancos, negros e índios, analisemos as especificidades de um elemento parcial resultante dessa mistura: o caipira. Para a sociedade capitalista, este indivíduo, nada mais é do que alguém de origem simples e atrasada, que se veste mal e fala errado. No entanto, definições, como esta, nada mais são que reducionismos ignorantes, vinculados com a não compreensão da sociedade regional. Reflete-se, então, quem é o caipira?
A palavra caipira deriva-se do tupi caapora, sendo caá = mato e porá = habitante, ou seja, “habitante do mato”. De acordo com Antônio Candido, em seu livro “Parceiros do Rio Bonito” (1975), o caipira é proveniente do cruzamento do índio nativo com o português colonizador. Este processo acelerava-se na medida em que esses indivíduos se fixavam no interior paulista, entre os séculos XVI ao XVIII (período do bandeirantismo).
Por um lado, o caipira herdou do índio a familiaridade com a natureza, o faro na caça, a crença nas ervas, o encantamento pelas lendas, as festividades, alguns ritmos e danças (como o cateretê e a catira). Por outro lado, a língua, alguns costumes e crenças religiosas, a música e a viola são fontes recebidas dos portugueses.
No mundo de hoje, globalizado e avançado em tecnologia, alguns destes costumes estão sendo perdidos. Além disso, o caipira é estereotipado pela sociedade contemporânea com preconceito (por exemplo em piadas), e, isto acontece justamente por ele negar a urbanização. Em outras palavras, é um sujeito marcado pela economia de subsistência e rural, sem necessidade de acumular capital e vender seu excedente de produção. Entretanto, a tendência atual é que o caipira também se torne um trabalhador assalariado e participe da economia de mercado.
Resgatemos, portanto, a cultura caipira! Este indivíduo ligado à natureza, a musicalidade, a religião, as festas folclóricas e ao coletivismo, não pode se perder! Talvez o que há de mais belo no caipira seja a resistência de brasilidade, no momento em que ele utiliza da viola para declamar seus sentimentos de alegria, tristeza ou esperança em relação a sua vida e ao país. Em síntese, é como disse Almir Sater, na música “Peão”: “... pelo alto sertão, que agora se chama não mais sertão, mas de terra vendida... civilização”.


REFERÊNCIAS:
CANDIDO, Antônio. Parceiros do Rio Bonito – estudo sobre o caipira
paulista e a transformação dos seus meios de vida. 1975.
www.unimep.br
www.ub.es/geocrit/sn-69-22.htm
ARTIGO PUBLICADO EM 13 DE JUNHO DE 2008, NO JORNAL "O DIÁRIO" (BARRETOS/SP)

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Conhece-te a ti mesmo!

Responda rápido: Qual o local em que qualquer pessoa absorve conhecimento teórico-prático e aprende a valorizar seu patrimônio histórico-cultural? Ora, o Museu! Em locais, como este, o acesso ao público em geral, promove, entre muitas outras coisas, a inclusão social dos indivíduos com a construção da história de seu espaço e permite a conservação da memória como fonte para pesquisas cientificas.
A origem da palavra “museu” é do grego mouseion e significa “templo das musas”. Por isso, percebe-se que, na mitologia, era um local de inspiração divina, de onde provinham as musas que estimulavam a criatividade dos artistas e intelectuais das ciências. Historicamente, os primeiros museus foram criados no século XVII, em países como a Itália e Inglaterra, através de doações particulares. Em 1793, no governo da Revolução Francesa, foi instaurado o primeiro museu popular, o Museu do Louvre. E, no Brasil, tivemos o Museu do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico de Pernambuco, em 1862.
Nos dias atuais, segundo o site do Ministério da Cultura, são contados sessenta mil museus em todo o mundo; sendo três mil deles no Brasil, encontrados somente em 20% dos municípios brasileiros. No ano de 2003, foi instituída a “Política Nacional dos Museus – Memória e Cidadania”, com a finalidade de promover a valorização, a preservação e a fruição destes patrimônios. A partir de então, muitos resultados foram alcançados, como os aumentos de visitação, dos investimentos em capacitação dos profissionais, da oferta dos cursos de graduação em museologia e dos movimentos de incentivo a encontros culturais.
Em Barretos, a Prefeitura Municipal administra o Museu Histórico, Artístico e Folclórico “Ruy Menezes”. Este, por sua vez, além do próprio contexto histórico de seu prédio (inaugurado como Paço Municipal em 1907), possuí também acervos como peças em exposição, jornais, fotografias, pinturas e documentos, a fim de estimular e auxiliar os cidadãos nos mais diversificados trabalhos.
Por conseguinte, de acordo com o art. 2º do Projeto de Lei nº 7568/2006, que, institui o Estatuto dos Museus; os princípios fundamentais dos mesmos estão relacionados com a valorização da dignidade humana. Nesse sentido, os museus, por manter uma relação entre o presente, passado e futuro, se instituem como orientação para o desenvolvimento da pessoa humana, para que tal pessoa se esclareça como cidadão e reconheça a importância da memória. Em suma, conhecer museus é conhecer a ti mesmo!

REFERÊNCIAS:
www.cultura.gov.br
www.museus.gov.br
www.museus.art.br
www.geocites.com

ARTIGO PUBLICADO EM 06 DE MAIO DE 2008, NO JORNAL "O DIÁRIO" (BARRETOS/SP)

sexta-feira, 30 de maio de 2008

Da Cultura ao Capital

No decorrer da Idade Contemporânea, é vista uma clássica questão filosófica, a respeito da crise da individualidade humana, bem como sua origem e seus motivos. Partindo da premissa de que o mais perceptível, neste período, é uma incessante busca pelo prazer individual, pode-se afirmar que os homens dos séculos XX e XXI tornaram-se cada vez mais egoístas, na medida em que os próprios sistemas sócio-econômicos vigentes os distanciaram da coletividade.
Sendo assim, alguns intelectuais, como o educador Paulo Giraldelli, defendem a origem da individualidade do homem, no momento em que as suas características particulares passaram da consciência para o corpo físico. Isto é, deixamos de sermos rotulados como católicos, comunistas ou facistas, para sermos gordos, belos ou jovens. A maneira como somos julgados ou vistos, na sociedade hoje, é de acordo com o nosso físico e não mais com os nossos ideais e opiniões. E, isso, acarretou no homem como um ser puramente individual e estereotipado por suas condições sociais.
Estas circunstâncias do individualismo humano são confirmadas pelo crescente e compulsivo consumismo que praticamos a cada dia. Quanto maior o nosso poder aquisitivo, maior quantidade de bens materiais consumimos e, assim, maior status e qualificação temos aos olhos da sociedade. Por isso mesmo, verifica-se que somos, historicamente, ativos escravos do capital e, se nada mudar, continuaremos a ser.
No entanto, também somos submetidos à tradição cultural de nossa história. Por exemplo, no filme nacional “Quanto vale ou é por quilo?”, demonstra-se, entre inúmeros aspectos, o paralelo entre a escravidão brasileira no século XVIII e a situação de miséria, maneiras e necessidades de sobrevivência e resistências, as quais a massa é sujeita até hoje. Posto que, mesmo passados duzentos anos, a luta para sobreviver, entre as exigências da sociedade, é vigorada quase que da mesma maneira dos tempos passados.
Portanto, entre todas as abordagens sobre a crise da individualidade humana, percebe-se que o homem se tornou individual, quando o sistema econômico passou a valorizar mais a sua beleza física e particular. A partir de então, o consumismo aumentou, intensificou-se a necessidade por dinheiro e toda essa crise foi ratificada e fixada por nossa cultura capitalista.
REFERÊNCIAS:
Filme: Quanto vale ou é por quilo?
GIRALDELLI, Paulo Jr. Didática e teorias educacionais, 2002.
ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO", EM 30 DE MAIO DE 2008.

quarta-feira, 28 de maio de 2008

Reflexão das Mentalidades

A vida social barretense, em meados do século XX, é notadamente relevante, também para o contexto atual, posto que, o seu estudo aprimora o entendimento das origens de nossos costumes. Na medida em que se problematizam os fatos passados e se condicionam os raciocínios, logo, elaboram-se teorias, a fim de justificar os acontecimentos.
Neste âmbito, os principais personagens do desenvolvimento de nossa história são aqueles que garantiam e participavam das produções da sociedade. Em outras palavras, e, tomando-as emprestadas de Osório da Rocha, “os homens menos importantes iam dando impulso à roda do progresso”. Concretiza-se, dessa forma, o papel essencial do trabalhador, das mulheres, dos imigrantes e até das crianças.
Em meio disto, há uma divertida passagem no livro “Barretos de Outrora”, contando o momento da chegada de um circo montado na rua 14 com a avenida 15. Nesta ocasião, reuniram-se os barretenses, e o palhaço iniciou o espetáculo com seus versinhos. Em seguida, um sanfoneiro começou a tocar, mas, o público se irritou, pois, havia na cidade uma excelente banda de música, a qual, eles queriam que fosse a atração principal. No entanto, o diretor italiano do circo explicou: “Rispetabile publico! Barêto num precisa di banda di musica, perchê ê ancora um picolo arraiale. Uma sanfona vecchia é quanto basta”. Com efeito, o público revoltou-se com ele e desesperadamente acabou-se de vez o espetáculo.
Considerando que, neste ambiente, haviam diferentes pessoas, nota-se, entre eles, a característica de necessidade do “melhor”, do novo e o mais bonito (no caso, a banda de música). Este quadro perdura-se até hoje, no sentido de que nós, na condição de seres humanos, precisamos, a qualquer tempo, de alcançar aquilo de maior “status”, para podermos ser considerados inclusos em uma sociedade.
Portanto, o mais particular caso, como o circo que fora montado em Barretos, auxilia como fonte para a compreensão da mentalidade cultural do homem daquela época e, assim, age na reflexão da origem da mentalidade do homem atual.


ARTIGO PUBLICADO EM 23/05/2008, NO JORNAL "O DIÁRIO" (BARRETOS / SP)

As faces da Sociedade


A cidade de Barretos, nos seus altos 153 anos, possui curiosos e peculiares casos, que, se analisados, podem auxiliar no entendimento da cultura e da sociedade dos tempos passados. Sendo assim, voltemos o olhar para o livro de Osório da Rocha, “Barretos de Outrora”, editado em 1954, remontando a história regional com depoimentos orais e documentos oficiais, resgatando-a em sua origem e refletindo seu desenvolvimento.
A partir disso, no capítulo “Barretos – Aspecto físico”, o autor salienta uma passagem, escrita pelo Cel. Silvestre de Lima (intendente municipal de 1894 a 1896 e 1909 a 1914), que, descreve fisicamente a cidade no início do século XX. Segundo o Coronel, Barretos era formada por três colinas, reunidas em planos opostos, banhadas por dois córregos, aos quais convergiam no centro da cidade.
Em continuidade, destaca-se a distribuição e a distinção entre os bairros da cidade. Estes, eram divididos em três e classificados conforme a classe social, a edificação e a topografia. Deste modo, o centro era o bairro principal e, assim, era também o local do comércio e dos grandes casarões construídos aos moldes franceses. Tendo-o como referência, os dois outros bairros ficavam a sua direita e esquerda. Este último, em particular, levava a interessante designação “Outro Mundo”, uma vez que, sua edificação era irregular e seus habitantes pertencentes à classe economicamente pobre.
Além dessas caracterizações, Silvestre de Lima nota outras curiosidades relativas aos primeiros passos de desenvolvimento da cidade. Curiosamente, ele evidencia que a viagem de trole ou a cavalo para Bebedouro, pela estrada comercial da época, tinha a duração de 7 horas.
Por conseguinte, é essencial ressaltar que ao iniciar suas inscrições sobre a cidade de Barretos, Silvestre a chama de “pitoresca e florescente”. Portanto, fica nítido o seu contentamento pela cidade e a sua presunção do crescimento, no sentido de prosperar e melhorar a Barretos de outrora.
ARTIGO PUBLICADO EM 16/05/2008, NO JORNAL "O DIÁRIO" (BARRETOS / SP)

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Ritmos e Poesias

Uma das formas utilizadas pelo povo para manifestar as expressões de lutas e protestos sócio-culturais é a música. Com base nisso, os diversos estilos musicais relevam os pensamentos de determinada cultura, a fim de propagar soluções práticas aos problemas encontrados na sociedade. Dessa maneira, o hip hop brasileiro apresenta a questão histórica da exclusão do negro, assim como a construção de sua identidade.
Pois bem, esse estilo musical explodiu na segunda metade da década de 70, nos bairros periféricos, denominados de guetos, de países como os Estados Unidos da América. Nesse sentido, o hip hop é uma cultura urbana, vinculada a tornar público a poesia, a dança e a arte como movimentos de lutas sociais e expressão das dificuldades e necessidades das classes excluídas.
Ele se baseia em quatro elementos principais: o DJ (músico sem instrumentos), o RAP (ritmo e poesia), o break (representação da dança) e o grafite (a arte plástica pelos desenhos espalhados nas ruas das cidades). A origem epistemológica da expressão vem do inglês hip: “quadril” e hop: “saltar”, ou seja, saltar balançando o quadril. Em razão disso, os participantes e militantes dos grupos de hip hop possuem estilos próprios de se vestir e de falar.
No Brasil, o hip hop emergiu em meados da década de 80, mas, foi influenciado pela cultura local e pela musicalidade do samba e, assim, adquiriu novos traços e novas formas de manifestação. Portanto, percebe-se que só o hip hop brasileiro apresenta o rap com um pouco de samba, o break parecido com a capoeira e grafites de cores mais vivas. Além disso, os próprios militantes brasileiros o consideram como um movimento muito mais crítico e politizado que o norte-americano.
É como disse o ex-líder da banda Nação Zumbi, Chico Science (também influenciado pelo hip hop): “Eu me organizando posso desorganizar”. Isto é, toda a trajetória do movimento hip hop é aliada à organização das idéias entre seus membros, com a finalidade de conseguir devolver o negro a sua própria identidade cultural e remontar a sociedade de uma maneira possivelmente igualitária.

ARTIGO A SER PUBLICADO EM 09 DE MAIO DE 2008, NO JORNAL "O DIÁRIO" (BARRETOS/SP)

A união faz a força!

O dia 1º de maio, foi comemorado o Dia do Trabalho, ou seja, o dia que marca todos os fatos conquistados pelos trabalhadores ao longo da história. Essa data ficou marcada devido o episódio ocorrido em 1º de maio de 1886, que operários de uma fábrica, na cidade de Chicago (EUA), protestaram a favor de melhores condições. A data passou a ser registrada como feriado em 1919 na França, com a diminuição da jornada de trabalho para 8 horas diárias. Já no Brasil, a data é comemorada desde 1895 e como feriado nacional desde 1925.
Historicamente, o trabalhador se desenvolveu nas grandes fábricas implantadas pela Revolução Industrial na Inglaterra, ainda no século XVIII. Nestas fábricas trabalhavam não só os homens, mas também mulheres e até mesmo crianças. Além disso, as condições de trabalho eram precárias, como a jornada de trabalho de 16 horas, sem dias de descanso e sem uma legislação específica voltada para os direitos dos proletários.
Neste contexto, com o tempo, surgia a necessidade de organizar centros que fossem responsáveis pelos assalariados e resistentes à exploração que os rodeavam. Foi assim, que começaram a aparecer os sindicatos, originados também na Inglaterra. A origem da palavra sindicato é do francês syndic e significa “representante de uma determinada comunidade”, portanto, essa instituição nasceu para representar e defender a grande massa de trabalhadores, que sempre foram maioria nas sociedades.
A partir de então, muitos críticos da época passaram a perceber e questionar todo o ambiente social envolvendo o trabalhador e o patrão. Um desses críticos foi o cientista social Karl Marx, que, com uma profunda análise sobre o assunto, publicou artigos, manifestou-se a favor dos operários e além de ter encarado os problemas, ele propunha soluções práticas a eles. Sendo assim, através de muitas lutas os trabalhadores conseguiram ampliar seus direitos e organizar seus ideais.
Afinal, são as forças populares que movem todas as produções que obtemos nas sociedades. Por isso, o dia 1º de maio precisa ser lembrado e reconhecido como uma homenagem à força de união que os trabalhadores tiveram em alcançar seus méritos, ao longo dos tempos. Sem dúvidas: A união faz a força!
ARTIGO PUBLICADO EM 02 DE MAIO DE 2008, NO JORNAL "O DIÁRIO" (BARRETOS/SP)