segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

UM ROMANCE DOLOROSO


Por muito tempo, a história foi escrita exaltando somente os heróis das grandes guerras, políticos importantes e os fatos marcantes, por isso a história era construída com base no machismo. Entretanto, a tendência historiográfica contemporânea é realizar pesquisas estruturadas nos mais diversos elementos de toda a sociedade, tais como as mulheres, as crianças, os operários, os índios e a família. Destaquemos então a presença das mulheres do século XX que muito lutaram em meio aos preconceitos que sofriam.
Pois bem, entre alguns documentos, o acervo do Museu “Ruy Menezes” ostenta uma curiosa carta datada de 15 de maio de 1922. Escrita por Olyvia, em Goyaninha, distrito a seis léguas da cidade de Missão Velha, a carta apresenta pela própria autora a seguinte definição: “Tenha paciência, descanse para então terminar a leitura. Desculpe-me. É um romance doloroso!”. Olyvia era mãe de quatro filhos: César, Irineu, Maria Stella e Maria Julieta e ficou viúva em 1915.
Com esta situação, a forte mulher escrevia a seu irmão para buscar soluções aos problemas que enfrentava em sua viuvez. Olyvia trabalhava na Agência do Correio e para conseguir este emprego teve até mesmo que vender o gabinete dentário de seu marido como fiança. Além do mais, sofria grandes dificuldades, violência e amargos preconceitos das outras mulheres da cidade e dos familiares. Com a consistente fé religiosa, a viúva indagava ao irmão: “Qual pharol luminoso poderá guiar-me na senda escabrosa da viuvez?”.
Ainda não sabemos o final desta história, contudo, é notável nesta sofrível vida a religiosidade presente, a saudade do amado marido, a luta em vencer os preconceitos e cuidar dos filhos. As pesquisas atuais da internet apontam que a cidade de “Goyaninha” era pertencente ao Estado do Ceará, hoje denominada “Jamacaru” (CE) distante 21,1 km de Missão Velha.
A carta de Olyvia, carregada de emoções e dissabores, informa como as mulheres da época passavam pelas dificuldades da vida e ainda conseguiam manter-se na fé e ser mães, esposas e trabalhadoras. Com a postura patriarcal, o trabalho doméstico das mulheres foi inferiorizado conforme o tempo e a sociedade. Logo, não sejamos preconceituosos e anacrônicos em pensar que Olyvia foi uma mulher que levava tal vida por vontade própria, ela foi uma das muitas viúvas que enfrentaram e revolucionaram seus tempos, pois, como consta em suas próprias palavras: “...reconhecendo na humanidade que minha capacidade não merece tais infâmias.”


REFERÊNCIAS:
Documentos do Museu “Ruy Menezes”.
www.citybrazil.com.br


ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL ''O DIÁRIO'' (BARRETOS / SP), EM 28 DE NOVEMBRO DE 2008.

Um comentário:

Priscila Trucullo disse...

Lindoooo!! Você já tinha me falado dessa carta.. adorei o trecho final.. ela já era feminista e não sabia, a origem da construção da luta das mulheres! ginecocracia neles!! hauhau