segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

ALÉM DO ENTRELAÇAR


Saberes que se entrelaçam,
Mãos e pés num vai-e-vem,
Vidas que escondem muitos segredos...
(Maria Stela da Costa Gondim)

O homem em toda sua existência possuiu e ainda possui diversos saberes ligados a própria vida social e ao trabalho. Por isso, ainda temos a chance de buscar no passado a origem destes saberes para desta forma associá-los ao presente e valorizarmos a cultura de nossa própria família. Em tempos atrás, o trabalho era substancialmente dividido entre os vários membros de uma mesma família, sendo o trabalho doméstico das mulheres de suma importância para o desenvolvimento da própria comunidade.
É neste contexto que podemos inserir o trabalho de tecelagem manual, praticado por muitas mulheres da região, transmitido de mãe para filha e possuidor de curiosos saberes. Trata-se de um processo milenar de origem no Oriente Médio, no qual utilizavam-se as fibras e corantes naturais para a produção e tingimento dos tecidos. Com a tradição portuguesa de tecelagem manual, tal atividade difundiu-se no Brasil nas regiões de Minas Gerais (sul e Triângulo Mineiro), Goiás e norte de São Paulo.
As produções têxteis eram utilizadas para a fabricação de artefatos de cama, mesa, banho e vestimentas, com a finalidade do uso da própria família, da vizinhança ou a comercialização. O processo de tecelagem é iniciado com o corte da lã do carneiro (tosquia) ou a partir da colheita e limpeza manual do algodão. Em seguida, é necessário retirar a semente do algodão utilizando o “descaroçador de algodão”. Como o algodão vem sujo da colheita, para limpá-lo usa-se o “batedor de algodão” e o “par de cardas”, assim as fibras ficam paralelas e forma-se uma fita ou pasta homogênea de lã que logo é depositada no balaio. Com a “roca de fiar” a pasta é alongada, retorcida e sua espessura é moldada para aumentar seu tamanho, e o fio é feito conforme a força no pedal da fiandeira. Por último, é iniciado o processo de tingimento e depois o entrelaçamento cruzado dos fios até se formar o tecido.
De fato, o trabalho manual de tecelagem das mulheres foi substituído pelo avanço tecnológico e científico da industrialização rápida. Por este motivo, não é mais comum encontrar aquelas senhoras que se juntavam com suas “rocas de fiar” na comunidade para tecer e cantar o dia todo. O que restou foram as lembranças resgatadas pelas peças dos museus, o próprio Museu Histórico, Artístico e Folclórico “Ruy Menezes” expõe deste conjunto de tecelagem manual em seu acervo, dentre eles uma colcha confeccionada neste processo por uma ex-escravizada. A todas as artesãs dos teares fica o pedido de resgatarem e transmitirem seus ofícios, assim como lhe foram feitos. E àqueles que não conhecem tais ofícios: Visitem o Museu!

REFERÊNCIA:

Projeto “Tecendo Saberes” de Maria Stela da Costa Gondim e Gerson de Souza Mól.


ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL ''O DIÁRIO'' (BARRETOS / SP), EM 05 DE DEZEMBRO DE 2008.

2 comentários:

Adriane Campello disse...

Adorei o conteudo do seu blog...

Profª Karla disse...

Muito obrigada... e volte sempre! ;)