sábado, 23 de julho de 2011

A GRÉCIA ANTIGA NO PRESENTE




ARTIGO PUBLICADO POR KARLA O. ARMANI NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" EM 15 DE JULHO DE 2011



Leitores amigos, quando vocês se lembram dos tempos das aulas de história na escola, qual é o principal assunto que lhe vem à mente? Certamente, muitos de vocês responderiam a Grécia Antiga, e por que? Estudar sobre os tempos dos gregos é muito mais do que entender a vida de uma das civilizações mais desenvolvidas da Idade Antiga, é, sobretudo, dialogar com o nosso presente que ainda persevera em absorver elementos da tradição grega. Ainda mais, são esses aspectos, intercâmbios entre passado e o presente, que fazem os alunos encontrar um fim útil em estudar história e a valorizarem como ciência.
Se dermos asas à imaginação e mentalizarmos quais são os aspectos gregos ainda presentes em nossa cultura, logo apareceriam o teatro, as olimpíadas, a filosofia, a matemática, a história, algumas expressões do cotidiano e o sistema político atual: a democracia. Além disso, o nosso alfabeto originário do latim possui sua gênese no grego antigo, visto que grande parte das palavras que utilizamos no dia-a-dia possui radicais gregos. Por tal permanência nas sociedades ocidentais ao longo dos dois últimos milênios, os elementos culturais gregos são conhecidos por nós como “clássicos”, ou seja, aquilo que nos é habitual, tradicional e permanente.
A mitologia grega, um assunto benquisto pela maioria dos alunos, ainda é de certa forma presente por conta de algumas expressões que adotamos em nosso cotidiano. Como exemplo, quando se fala sobre o ponto fraco de alguém ou de uma situação específica logo aparece o dito “calcanhar-de-Aquiles”; se o trabalho de um dia foi muito cansativo e árduo ele passa a ser chamado de “trabalho de Hércules”; ou se durante o dia aparece uma surpresa que pode ser desagradável ela é conhecida como um “presente de grego”.
Na Antiguidade, a Grécia se destacou como uma civilização que produziu muito conhecimento em várias áreas do saber, a começar pela filosofia. Esta, por sua vez, nasceu do questionamento da realidade explicada até então pela mitologia, onde as razões para os fenômenos climáticos, por exemplo, estavam na fúria ou na alegria dos deuses. Assim, os primeiros filósofos questionavam a natureza, o ser humano e até mesmo a política como assuntos rotineiros praticados ao ar livre. As principais atividades gregas praticadas Antiguidade e que são conhecidas por nós, do presente, nasceram em Atenas, a cidade-Estado grega que mais valorizou o ato de pensar,  filosofar e discutir política. Em Atenas, entre os séculos VII a.C e VI a.C, nasceu o teatro dividido em dois gêneros: a tragédia e a comédia, e a democracia como uma nova prática política eternizada pelos gregos que almejavam uma sociedade mais igualitária entre aqueles que eram considerados cidadãos.
            Enfim, quantos aspectos da cultura e da vida grega de milênios atrás ainda perpetuam em nosso modo de pensar, falar e viver? Tudo isso só nos faz pensar em uma coisa: estudar o passado é imaginá-lo, senti-lo e enxergá-lo da maneira mais clara possível daqui, do nosso presente.

COMMEMORARE



ARTIGO PUBLICADO POR KARLA O. ARMANI NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" EM 15 DE JULHO DE 2011

            Leitor amigo, já reparou que em praticamente todos os meses do ano existe uma data comemorativa a ser recordada? Por que, mesmo hoje, num mundo tão pragmático, o ato de comemorar datas passadas ainda nos é cogitado? Ao que tudo indica, esta atitude em nossa cultura é fruto de uma valorização ao passado como um ponto de reflexão, exemplo ou crítica.  A própria palavra comemorar nos remete à memória, visto que seu significado é atribuído ao latim commemorare, que significa trazer a memória, fazer recordar. É neste intento que a ANPUH (hoje, Associação Nacional de História) traz como tema em seu XXVI Simpósio os “eventos comemorativos”, em razão de neste ano de 2011 a associação comemorar seus 50 anos de fundação.
            As comemorações possuem a característica de recordar os momentos pretéritos que, geralmente, aconteceram em datas específicas, afim de torná-los ícones de prestígio e/ou reflexão. É nesse sentido que os feriados datados como históricos se repetem todos os anos e, muitas vezes, são temas de aulas de história nas escolas. Assim, as comemorações do 22 de abril, 9 de julho, 7 de setembro, 15 de novembro e outros, não querem somente ressaltar o fenômeno em si do descobrimento do Brasil, da Revolução de 1932, da independência do Brasil e da Proclamação da República, o objetivo principal hoje é traçar uma linha imaginária do tempo perante tais acontecimentos a fim de serem passiveis de análises e críticas, para que o diálogo com o presente seja constante. Comemorar uma data histórica é descongelá-la do passado para que sua essência torne-se alvo de interpretação e sentido para o presente.
            Outros tipos de comemorações são as fundações das instituições, como o caso da ANPUH. Em Barretos, por exemplo, nesta década de 10 dos anos 2000 tivemos o centenário do Grêmio Literário e Recreativo (1910-2010), temos os 90 anos da Santa Casa de Misericórdia (1921-2011) e os 80 anos do Sindicato Rural Vale do Rio Grande (1931-2011) e teremos o centenário da União dos Empregados do Comércio (1914-2014). São instituições que foram criadas num contexto político, social, econômico e cultural muito parecido e que até os dias atuais continuam a representar de certa forma o imaginário da comunidade barretense.
Por conta disso, trazer de volta a memória destas instituições, orientando-as quanto as suas transformações e permanências ao longo do tempo é um comprometimento que a comunidade tem com a sua própria história. Que nesta década que agora adentramos saibamos utilizar das comemorações como momentos de reflexão e não mera ostentação, pois a história nos é revelada como uma ponte que liga o passado e o presente não como espelhos e sim como um diálogo.

A PERPÉTUA MEMÓRIA DE 1932



ARTIGO PUBLICADO POR KARLA O. ARMANI NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" EM 8 DE JULHO DE 2011



“Viveram pouco para morrer bem
Morreram jovens para viver sempre”
(Guilherme de Almeida)
            As palavras acima ilustram a base do grandioso Obelisco do Parque do Ibirapuera, símbolo máximo da Revolução Constitucionalista de 1932. O verso do inesquecível poeta Guilherme de Almeida faz menção aos soldados mortos em batalhas entre as guarnições federais do presidente Getúlio Vargas e as tropas paulistas, que buscavam a volta da Constituição e da autonomia política que lhe comprazia na 1ª República. Desta feita, percebe-se que os soldados constitucionalistas, sobreviventes ou não, se perpetuaram na memória paulista por meio dos discursos cívicos na imprensa e nos monumentos erigidos em sua homenagem em todas as cidades.
            Assim se encaixa o Obelisco do Ibirapuera, um monumento funerário construído a partir de 1947 e concluído nos anos 70 que nasceu com a intenção de simbolizar a Revolução de 1932. Embora o monumento fosse concluído anos após o início de sua construção, sua inauguração aconteceu no dia 9/7/1955 e conta-se que em seu interior estão enterrados os corpos dos estudantes Martins, Miragaia, Drausio e Camargo (MMDC) e de outros 713 combatentes. Trata-se de um monumento de 72 metros de altura, produzido pelo escultor Galileo Emendabili e que é carregado de inscrições narrativas sobre a história paulista e simbologias referentes ao episódio de 1932.
Mas, nos atentemos a relação do macro com o micro na história. A imprensa barretense, sempre envolvida nas comemorações cívicas da data magna de 9 de julho, também se manifestava na época da construção do Obelisco do Ibirapuera. O jornal Correio de Barretos do dia 13 julho de 1958 noticiava na primeira página que o governador do Estado de São Paulo, Jânio Quadros, iria apresentar a Assembléia Legislativa um projeto que complementasse as homenagens póstumas do Obelisco do Ibirapuera viabilizando verbas para pesquisas nos cemitérios das cidades interioranas afim de resgatar os restos mortais de todos os combatentes mortos durante da revolução de 1932 para serem transferidos ao obelisco.
A imprensa barretense dos anos dourados, instintiva por si só, passou a defender tal projeto e a chamar a atenção do poder público quanto o túmulo do único combatente barretense morto na causa revolucionária de 1932, Sizenando Moreira, também conhecido por Umburana. Um ano antes desta publicação, isto é, em 1957, já era visível a consagração dos barretenses com este ex-combatente, visto que o mesmo jornal tinha publicado uma reportagem declarando as homenagens feitas pelos grupos escolares de Barretos em frente ao túmulo de Sizenando, que na verdade não era considerado um mausoléu digno a um efetivo membro da causa paulista.
É incrível o fato dos barretenses, de outrora, despenderem tantos esforços nas comemorações do 9 de julho. Verdadeiramente, uma data pode marcar de vez uma história e dizer muito sobre a memória de um povo.

AS PESQUISAS NA ERA GOOGLE



ARTIGO PUBLICADO POR KARLA O. ARMANI NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" EM 1º DE JULHO DE 2011

            É bem verdade que a internet e toda sua tecnologia revolucionaram a existência humana nos últimos tempos. Ligados e interligados por esta tecnologia revolucionária, os indivíduos da contemporaneidade necessitam cada vez mais deste recurso em seu cotidiano, seja para assuntos de trabalho ou de lazer. Em exibição na última terça-feira pela Rede Bandeirantes, o Programa A Liga demonstrou que o povo brasileiro, entre as nações de todo o planeta, é o que passa mais tempo conectado na internet diariamente. Destarte, as redes sociais e os sites de busca tornaram-se o instrumento ou o entretenimento mais conhecido no cotidiano brasileiro, mesmo o país ainda possuindo índices de analfabetismo e baixo número de acessibilidade à internet por habitante/km².
            Diante a tela do computador e a conexão à internet, as pessoas são capazes de, em míseros segundos, romper as barreiras físicas do espaço interligando-se a culturas de outros países. Em outras palavras, a internet possibilita que conheçamos novos lugares, pessoas e textos sem nos movermos de onde estamos. A facilidade em fazer uma pesquisa na rede virtual favoreceu o trabalho de pesquisadores de todos os tipos, desde profissionais a até alunos que utilizam dos sites de busca para compor um trabalho escolar.
            Num passado não tão longínquo, quando os professores solicitavam aos alunos que fizessem um trabalho, o local mais cogitado a se pesquisar era a biblioteca da cidade. E lá se passavam horas perante as extensas enciclopédias. Nos tempos atuais, são raros os alunos que procuram a biblioteca para fazer os trabalhos escolares, já que existe uma ferramenta fácil, rápida e ágil para se pesquisar: o Google. Para fazer um trabalho de história, por exemplo, é só digitar o tema que o Google quase que em passes de mágica fornece uma gama de opções de sites a serem pesquisados. Em conferência no Brasil no final de 2010, o historiador italiano Carlo Ginzburg explicou que a fecundidade de opções do Google parte do mesmo princípio que o “índice” dos livros, pois, do mesmo modo que o Google oferta a seus leitores a localização exata dos temas a serem pesquisados, o “índex” da Bíblia no século XII, por exemplo, orientava os padres professores universitários a encontrar mais facilmente os temas que queriam ler dentro dos complexos sermonários.
No entanto, um problema muito sério envolve a pesquisa em sites de buscas: a fragmentação de textos e a leitura distraída que muitos alunos praticam nas pesquisas. Geralmente os textos para pesquisas encontrados nos sites de busca revelam-se fragmentados, com frases soltas e até incoerentes, o que dificulta a apreensão por parte do aluno daquilo que se pretende ler. A pesquisa na internet deve ser minuciosa e sempre aliada à leitura de um livro, para que as informações sobre o objeto desejado sejam cruzadas com a pesquisa virtual.
Em um viés social, a internet facilitou as relações humanas e o olhar diante do desconhecido e o distante. Porém, como uma ferramenta de pesquisa, principalmente dentro das escolas em que os alunos estão em fase de aprendizagem, a internet deve ser “manuseada” com cuidado e sempre complementada por outras informações, pois a intelectualidade requer raciocínio, concentração, leitura, esforço e não admite espaço para os famosos “ctrl c” e “ctrl v”. Na era Google, a pesquisa deve ser facilitada e não meramente copiada.