quarta-feira, 16 de setembro de 2020

A NEVE NEGRA

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" EM 16 DE SETEMBRO DE 2020 (página 2) PELA PROFª KARLA ARMANI MEDEIROS              

Foto ilustrativa do site da Prefeitura de Barretos (s/id).

É fim de inverno, os ipês floridos no último dia de agosto prenunciaram a entrada da primavera, tornando as ruas da cidade verdadeiros tapetes coloridos. Paisagem inversa ao que nesta semana se propaga, uma vez que não há verde pelas árvores, nem umidade e nem clima ameno. O que nossos olhos veem é um céu cinzento, os galhos secos e um ar que cheira à fuligem. A neve de inverno, que nunca existiu no Brasil, é metaforicamente associada ao elemento mais presente nas casas brasileiras: as queimadas – a neve negra. Fuligens devolvidas pela natureza em ventos quentes.

            Parece roteiro de filme de terror, mas Barretos atingiu o maior índice de falta de umidade da região, associado a clima desértico, somando-se ao racionamento de água (devido ao baixo nível dos reservatórios e à falta de chuva) e às intempestivas nuvens de queimadas que assolam diariamente as áreas urbanas e rurais. E o pior: esse cenário não é só local e sim do estado inteiro, assim como outras regiões do país.

            Nesta semana, este assunto veio à tona porque o grave problema da “neve negra” repercutiu diretamente na vida, no trabalho e na saúde das pessoas. Refletimos sobre: a culpa do homem nos incêndios, o desbravamento das áreas florestais e ciliares, a matança de animais silvestres, o perigo das rodovias com as nuvens de fumaça, a falta de fiscalização e penalizações, a insegurança quanto à presença do governo do estado com medidas eficazes, além do típico negacionismo da esfera federal.

            Impressionante como a “neve negra” incomodou este ano. Nós que parecíamos tão acostumados com ela, precisamos agora enfrentá-la em meio a uma pandemia! Diziam os memorialistas que, em 1870, o “fogo bravo” devastou a paisagem florestal da região, e que disso resultaram as pastagens e o posterior desenvolvimento da cidade. Um nítido mito de origem, pois é impossível qualquer lugar, independente da época, conseguir desenvolver-se às custas da morte da natureza, dos rios e dos animais. Nós, do presente, somos a prova viva que o “fogo bravo” é um regresso ao futuro.                                                                      

Nenhum comentário: