domingo, 13 de setembro de 2020

HISTÓRIA LOCAL NÃO É SAUDOSISMO

 ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" EM 11 DE AGOSTO DE 2020 (página 2) PELA PROFª KARLA ARMANI MEDEIROS 

            Escrever e falar sobre o passado da cidade pode sim mexer com sentimentos, principalmente quando o leitor possui memórias sobre paisagens, pessoas ou acontecimentos. Mas, é necessário deixar claro que quando um historiador estuda a “história da cidade”, a intenção não é diretamente despertar emoções, menos ainda tornar aquele passado algo glorificado. Romantizar o passado não é o caminho.

            Ao estudar os tempos idos de uma cidade, o historiador evidencia temas, personagens e grupos sociais que promovam alguma crítica e reflexão. O resultado alcançado pode ser um diálogo com a história do Brasil ou mundial, a propaganda de um patrimônio material ou imaterial, o despertar para a cidadania, a descoberta da origem de um problema ainda existente, as particularidades culturais, as influências externas que trouxeram novos ares, os fatos inusitados e as mudanças das épocas.

            A questão é que muitas pessoas ainda se apegam à história da cidade contada pelo memorialismo – por memórias narradas sem o rigor científico. Isso acaba por apresentar, na maioria das vezes, uma história adjetivada, com personagens heroicos e um passado reconfortante. O resultado disso? Saudosismo. Como se à história fosse dada a missão de reviver o passado, e não o questionar. Como se tudo do passado (o civismo, as ruas, os uniformes, os comícios, o bucolismo, o trem) fosse melhor.

            Se a história da cidade fosse produzida para despertar esse “saudosismo”, ela estaria a serviço somente dos mais idosos – personagens que já viveram épocas passadas. Então, jovens não poderiam conhecê-la já que não viveram tais épocas? Não é assim, a História não pode ser apropriada pelo passado. A história da cidade deve ser uma ponte que nos leva ao passado, mas que é edificada pelas indagações do presente. Quem constrói o que é histórico são os agentes do presente. O passado não é para ser revivido, não é necessariamente mais leve e nem mais instruído; na História ele é objeto de estudo. O flerte ao passado é literário. O estudo do passado é História.

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