terça-feira, 26 de março de 2019

1909-2019: CORA CORALINA EM JORNAL E SARAU


ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" EM 26 DE MARÇO DE 2019 (página 2) PELA PROFª KARLA ARMANI MEDEIROS
  
Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas,
a escritora Cora Coralina.

Fonte: Imagem do Google
Era o ano de 1909 quando o jornal barretense “O Sertanejo” anunciava Cora Coralina como uma de suas colaboradoras. O jornal dirigido pelo dr. Antônio Olympio, não só publicava notas políticas e sociais, bem como a edição de artigos de literatos. Porém, certamente, não tinham a noção de que aquela moça goiana, com 20 anos de idade, seria uma das escritoras brasileiras mais importantes do século que ainda se anunciava.
Já fazia dois anos que Ana Lins dos Guimarães Peixoto, sob o pseudônimo Cora Coralina, tinha iniciado sua produção intelectual na imprensa. Afinal em 1907, em Goiás, junto a outras escritoras, fundou o jornal “A Rosa”. Em 1911, junto a Cantídio Bretas, seu marido, partiu a São Paulo, onde nasceram seus seis filhos, iniciando por Jaboticabal. Sua biografia se estende a uma vida difícil, chegou a plantar rosas e vender livros e doces. Todavia, sempre escrevendo suas poesias e prosas, fosse em cadernos, papel de pão e vez ou outra em jornais e anuários. Retornou à Cidade de Goiás em 1956, e, ali, alcançando longeva idade, lançou seus livros e seu nome à literatura nacional, falecendo em 1985.
Cabeçalho de "O Sertanejo", de Barretos," de 1909 anunciando
 Cora Coralina como uma de suas colaboradoras.

Fonte: Arquivo do Museu "Ruy Menezes".
É certo que uma vida de 95 anos, cuja produção intelectual mais reconhecida fora na velhice, não se resume a tão poucas linhas. Nem se limita a biografias estendidas. A produção de Cora Coralina não se restringia às fronteiras de Goiás, ultrapassou-as na medida em que Cora viveu em São Paulo e reviveu em seus livros por todo o país. Homenageá-la, portanto, não é algo digno somente das cidades em que ela viveu, e sim de qualquer instituição que preze a boa literatura nacional e a intelectualidade feminina.
Portanto, a Academia Barretense de Cultura, por meio do projeto apresentado pela ac. Conceição R. Borges, dignificou a obra de Cora ao apresentar à comunidade quatro saraus que emaranharam todas as áreas culturais, tendo como fonte a fecunda literatura de Aninha. A mesma Aninha que há exatos 110 anos colaborava na imprensa desta cidade. Uma Barretos ainda sertaneja, mas que de forma literária fora morada de Cora.

4º Sarau "Vivendo Cora Coralina" promovido pela
 Academia Barretense de Cultura - ABC - na noite de 21/3/2019.

Fonte: facebook oficial da ABC.
Fontes:
O SERTANEJO, jornal hebdomadário de Barretos. Edições de 1909. Arquivo do Museu "Ruy Menezes".
Site oficial do Museu "Casa de Cora Coralina": ww.museucoracoralina.com.br

Link da publicação no site do jornal "O Diário de Barretos": http://www.odiarioonline.com.br/noticia/83174/1909-2019-CORA-CORALINA-EM-JORNAL-E-SARAU

terça-feira, 19 de março de 2019

HAYDÉE MENEZES E A “IAB”

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" EM 19 DE MARÇO DE 2019 (página 2) PELA PROFª KARLA ARMANI MEDEIROS


Haydée sendo anunciada no "Correio Paulistano"
como integrante da Instrução Artística do Brasil (IAB).

Fonte: Jornal Correio Paulistano, 29/9/1938, p. 11.
Arquivo da Biblioteca Nacional.
      Reportagens, notas e fotografias de jornais dos anos 1930 e 1940 destacavam o talento de uma pianista barretense que fizera sucesso pelos diversos cantos do país: Haydée de Oliveira Menezes. Filha de Amélia Júlia Oliveira Menezes e de Elyseu Ferreira de Menezes, Haydée pertencia a uma família de sete irmãos. Viveram naquele casarão histórico de 1912 que ainda enfeita a esquina da rua 18 com a avenida 23.
Haydée desde jovem mostrou-se talentosa à música, diplomando-se no renomado Conservatório Dramático e Musical de São Paulo no curso normal de piano, especializando-se como concertista. Em 1933, o jornal “O Estado de S. Paulo” já anunciava seu nome como uma das concertistas do Conservatório Dramático. No mesmo ano, o jornal “A Semana” de Barretos noticiava que, apesar de residir na capital, Haydée iria apresentar-se em concerto no Grêmio junto ao consagrado violinista Zacarias Autori.
Aliás, estar ao lado de célebres artistas parecia ser costume, pois em 1938, o jornal “Correio Paulistano” exibia fotografia e reportagem de Haydée, que visitava a redação junto ao maestro Marcello Tupynambá (pseudônimo de Fernando Lobo, que também viveu em Barretos). No mesmo ano, Haydée percorreu o país em concertos, tendo inclusive se apresentado no Teatro Amazonas em Manaus. Retornou consagrada!
Haydée Menezes no início da década de 1940,
no Grêmio Literário e Recreativo de Barretos.

Fonte: Jornal Correio de Barretos, Museu Ruy Menezes.
Isso foi possível por Haydée ser uma das artistas que integravam a “Instrução Artística do Brasil (IAB). Esta era uma associação artística fundada em 1931, em São Paulo, em cuja diretoria atuavam mulheres importantes; como a cantora Helena de Magalhães Castro (a qual já tinha visitado Barretos em 1928 e 1931). A IAB funcionava também através de redes no interior paulista, onde representantes fundavam a instituição nos munícipios incentivando o ensino artístico, concertos, conservatórios e a relação popular e folclórica da música. Haydée era a representante da entidade em Barretos e na região, tanto que fundou a IAB em cidades do Triângulo Mineiro, Goiás e em Barretos. Sua ação pela música não se limitava às teclas do piano, irradiava formação e instrução!


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
BISPO, A.A.(Ed.).“Ensino musical e difusão cultural em processos sociais de entre-guerras. A Instrucção Artistica do Brasil e o papel da mulher no centenário de Carlos Gomes em 1936: Helena de Magalhães Castro (1902-1995).Revista Brasil-Europa: Correspondência Euro-Brasileira 162/15 (2016:04). http://revista.brasil-europa.eu/162/Instrucao_Artistica_do_Brasil.html

ROCHA, Osório (in memorian)Reminiscências, volume II. Ribeirão Preto: Cori Editora, 199(?).

FONTES:
A SEMANA, jornal de Barretos. Edições de 1933 e 1938. Arquivo do Museu "Ruy Menezes" (Barretos-SP).
O CORREIO DE BARRETOS, jornal de Barretos. Edições de 1940 e 1941. Arquivo do Museu "Ruy Menezes" (Barretos-SP).
O ESTADO DE S. PAULO, jornal de São Paulo. Edições de 1933, 1936 e 1938. Arquivo do Estadão.
CORREIO PAULISTANO, jornal de São Paulo. Edição de 1938. Arquivo da Biblioteca Nacional.

Link da publicação no site do jornal "O Diário":
http://www.odiarioonline.com.br/noticia/82946/HAYDEE-MENEZES-E-A-IAB

terça-feira, 12 de março de 2019

AS PATRONESSES DA ABC

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" EM 12 DE MARÇO DE 2019 (página 2) PELA PROFª KARLA ARMANI MEDEIROS
           
         Das 40 cadeiras de patronos da Academia Barretense de Cultura, somente duas são direcionadas a mulheres. Grandes mulheres. A cadeira 34 destina-se a perpetuar o nome da conhecida Profª Paulina Nunes de Moraes. Não diferente à importância, a cadeira 35 imortaliza Maria Luiza de Queiróz Barcellos, a autora do brasão de Barretos. Ambas normalistas formadas, professoras, cujas habilidades emaranhavam Educação e Cultura.
            Paulina Nunes de Moraes, nascida em 1878, iniciou sua carreira de professora fundando em São Pedro a “Escola Mista de Infância”. Mudou-se para Barretos em 1915 com seu marido, o espanhol Manoel dos Santos Leandro, com quem teve 9 filhos. Aqui, foi reconhecida pela dedicação a alunos em situações de exclusão por problemas socioeconômicos ou doenças mentais. Foi importante para a comunidade da Igreja Nossa Senhora do Rosário, onde foi catequista e benfeitora desde à época em que a igreja ainda era uma capelinha. Atuava, sobretudo, diante à população mais pobre que vivia no Bairro “Outro Mundo”, (depois Fortaleza), inclusive sendo reconhecida pela igreja como a “Matriarca do Fortaleza”. Exerceu a docência por mais de 50 anos!
            Maria Luiza de Queiróz Barcellos era filha do químico e servidor público Nicácio Serafim Barcellos e Maria da Conceição Queiróz. Foi casada com Aécio do Amaral. Também se formou como normalista, porém na capital paulista, na conceituada Escola Normal “Caetano de Campos”. Fez cursos na área de desenho e propaganda em instituições como o Museu de Arte de SP e o Colégio Santa Marcelina. No ano do centenário de Barretos, 1954, sob o pseudônimo Lusíada, venceu o concurso de escolha do Brasão da cidade; o qual até hoje nos figura como símbolo municipal.
            Vê-se que, mesmo em tempos e situações diferentes, as professoras Paulina e Maria Luíza produziram conhecimento e cultura em vida, além de benefícios à cidade. O que nos mantém na certeza de que as cadeiras 34 e 35 imortalizam mulheres não só de vultuosas biografias, mas de grandes obras. Que seja só o começo! (Bibliografia no blog).


Referências e fontes:
MENEZES, Ruy. Espiral: história do desenvolvimento cultural de Barretos. INTEC, Barretos: 1985, p. 186, 203, 336.
LUCIO, Henrique Nunes. A Matriarca da Fortaleza: A Paulina Nunes de Moraes e seus métodos educacionais na cidade de Barretos no início do século XX. (Trabalho de Conclusão de Curso, Licenciatura em História). Faculdade Barretos, 2015.

Link da publicação no site do jornal "O Diário":
http://www.odiarioonline.com.br/noticia/82764/AS-PATRONESSES-DA-ABC

sexta-feira, 8 de março de 2019

DIREITO FEMININO


ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" EM 8 DE MARÇO DE 2019 (página 2) PELA PROFª KARLA ARMANI MEDEIROS     
Charge publicada no jornal Folha de S. Paulo em 8/3/2019

“Vossas qualidades favoritas no homem?
- Talento. Estudo. Método no trabalho. Abolição de credores.
Vossas qualidades favoritas na mulher?
- Beleza. Asseio. Honestidade. Não dançar depois de trinta anos”
(“O Sertanejo” em 22/9/1901, p. 2)

            É de impactar a declaração acima, publicada em revista de grande circulação nacional e reproduzida no jornal da cidade. É claro que há de se contextualizar a época, afinal ainda havia uma demarcação do patriarcalismo. Mesmo assim, o simples trecho da entrevista de um “homem conhecido” à época, é em 2019 um convite para uma reflexão.
            Mais um 8 de março chegou, momento de exclamações de estatísticas alarmantes, compartilhamento de histórias de lutas e desconstrução de paradigmas que ainda insistem em aparecer. É uma data de exposição de temas que, de tão falados atualmente, às vezes ganham a alcunha de “clichês”, mas, que, na realidade são mais profundos do que pensamos. São temas históricos e filosóficos. Violência, legislação, proteção, cidadania, trabalho, maternidade, empoderamento, padrões; todos são conceitos com necessidade de reconstrução ao papel da nova mulher: o de onde ela quiser.
            O fragmento de 1901 retrata como no passado às mulheres cabia a função de se preocupar com a estética (beleza e asseio) e com o casamento/marido (honestidade/bom comportamento). O acesso ao estudo e ao trabalho era tão somente aos homens, quase que masculinizando o sentindo de “direito”. É sabido que agora, perante às leis e órgãos públicos, tais conceitos não se aplicam exclusivamente às mulheres. Não mais. Porém, no reduto íntimo, na educação familiar, nas brincadeiras entre amigos, o que pensa você sobre as mulheres? O mesmo que aquele trecho de 1901? Não mesmo? É hora de pormos em prática o respeito tão arduamente conquistado. Não é mimimi. É direito (e feminino)!