quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

O ADVENTO DA REPÚBLICA: GRUPOS ESCOLARES


ARTIGO PUBLICADO PELA PROFª KARLA O. ARMANI NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" NO DIA 9 DE DEZEMBRO DE 2011

            Quando proclamada, apesar de não mudar o cenário das representações políticas, a República brasileira fez surgir novas instituições nos confins do país. O Estado mais atingido pelas mudanças republicanas foi São Paulo, uma vez que o café assegurava poder aquisitivo para tais modernidades. O ponto de partida para transformar uma província “mofada” do Império em um Estado “moderno” republicano, era a implantação de um sistema educacional que garantisse acesso as mais isoladas localidades. Nasciam, assim, os grupos escolares da primeira república, instituições educacionais que, desde 1893, tinham a missão de universalizar o ensino por meio de uma educação padronizada e formação de professores.
            Barretos, então recente comarca, não ficou fora deste projeto e já em 1912 teve seu 1º Grupo Escolar instalado na Praça da República (Praça Francisco Barreto), grupo este que possuía um prédio de arquitetura especialmente desenhada para representar o ideário educacional da república. Pouco mais de vinte anos depois, Barretos já contava com três grupos escolares, além dos grupos escolares do Frigorífico e de Itambé, oito escolas estaduais, quatro escolas municipais e sete escolas particulares em toda sua região. Todas as escolas de Barretos e região pertenciam a Diretoria Regional de Ensino de Jaboticabal e, esta, por sua vez, fazia uma série de visitações e depois registrava os relatórios sobre todas as condições das escolas.
            Sabendo disso, vamos nos ater no ano de 1939, quando o presidente do Brasil era Getúlio Dorneles Vargas e o prefeito de Barretos era Fabio Junqueira Franco. O segundo e o terceiro grupos escolares foram instalados respectivamente em 1935 e 1939, ambos surgiram pelo crescimento de matrículas do 1º grupo escolar que não sustentava mais esta demanda. Em 1912, quando criado, o número de matrículas do 1º grupo foi de 257 alunos, já em 1939 este número foi para 827 alunos, sendo que no grupo só existiam 10 salas de aulas. Além disso, o grupo escolar contava com gabinete dentário, espaço para sopa, assistência médica (na época, pelo pediatra dr. Julio Costa), práticas de escotismo, bibliotecas, apresentação de trabalhos artesanais e de músicas orfeônicas.
            Os grupos escolares de Barretos precisam ser melhores estudados no contexto da primeira república do Brasil, visto que possuem muitas referências sobre a época e particularidades interessantes. Barretos, mais uma vez, se mostrava como uma localidade intrínseca aos acontecimentos da história do Brasil e ser sede de grupos escolares era refletir a modernidade de uma terra, mesmo que isolada. Enfim, aos antigos grupos escolares, que hoje são as escolas estaduais “dr. Antonio Olympio”, “E. Municipal Prof. Fausto Lex e “E. E. Cel Almeida Pinto” o nosso reconhecimento.
           
FONTE: www.arquivoestadosp.gov.br/educacao

HISTÓRIA E CIDADANIA



ARTIGO PUBLICADO PELA PROFª KARLA O. ARMANI NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" EM 2 DE DEZEMBRO DE 2011

            Leitor amigo, você é da época em que era obrigatório na escola entoar o hino nacional pelo menos uma vez por semana? Já reparou que está prática vem acabando nos últimos tempos? É bem verdade que muitas transformações alcançam a escola de ontem com a escola de hoje, mas talvez uma das mudanças que mais deixam “saudade” é a cerimônia do canto do hino nacional, hino à bandeira e o hino à independência. Isto porque, era um momento em que todas as crianças, professores e funcionários, independente de classe social e religião, juntavam-se em coro para demonstrar o respeito e o amor à pátria.
            Certamente, muitos e diferentes motivos rondam a causa deste costume estar com os dias contados. O motivo de âmbito geral pode ser a esfera da globalização em que vivemos, onde a multiplicidade de informações é tão grande e o contato com diversas culturas é tão intenso que as identidades de cada comunidade perdem-se no tempo. Junto com essa falta de identidade, o patriotismo, que é justamente o contrário – é a honra de um povo unido em prol da pátria, também acaba caindo por terra.
            Outra causa para este descaso, agora um tanto particular, é o próprio ensino de história. De pouco tempo para cá, a história passou a ser ensinada de uma maneira diferente, em vez de mitificar heróis e ideologias dominantes, ela desconstrói estas imagens. É dever do professor, por exemplo, explicar que o hino nacional foi escrito num momento em que os republicanos do Brasil precisavam criar uma identidade ao povo, de modo que os libertasse daquele passado colonial.
            No entanto, isto não significa que o autor só quis construir esta ideia de identidade, não podemos descartar também as idéias de amor e respeito à pátria “amada e idolatrada”. Deste modo, o ensino de história atual pode ser usado a favor da cidadania, que, neste caso é entendida como “um novo patriotismo”, já que é a cidadania que garante o respeito à pátria. Por mais que o patriotismo que se vivenciou no passado não seja o mesmo de hoje, ainda é válido que as escolas possuam o hábito de entoar o hino nacional, estimular os alunos a entenderem sobre os feriados e os símbolos nacionais.
            Do que adianta cantar o hino nacional sem entender suas palavras e o contexto histórico em que foi escrito? Do que adianta ficar em casa no feriado da proclamação da república sem nem saber que evento foi este na história do Brasil? E o Tiradentes, por que ele foi considerado o mártir da independência? Questões como estas jamais podem se perder no cotidiano escolar, visto que são de suma importância para o desenvolvimento de um cidadão em formação. Pois, ser cidadão é conhecer, sobretudo, a história de sua pátria, seus problemas, suas diversidades, suas glórias e toda a cultura que ali foi construída ao longo do tempo.  É assim que história e cidadania andam juntas pela escola!

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

ÁFRICA: UMA CULTURA MILENAR

ARTIGO PUBLICADO POR KARLA O. ARMANI, EM 25 DE NOVEMBRO DE 2011, PELO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" 


“Sonho com o dia em que todos levantar-se-ão e
 compreenderão que foram feitos para viverem como irmãos”.
Nelson Mandela.
            A semana se iniciou com as comemorações do dia da Consciência Negra no Brasil, 20 de novembro. Se a data foi instituída como uma comemoração é porque temos algo a ser relembrado, ou melhor, rediscutido. Não é possível falar da “consciência negra” sem voltarmos os olhos à mãe de tudo isso: a África. É da África que foram retirados povos e famílias inteiras trazidos ao Brasil, fato que levou-nos ao mosaico cultural e populacional que somos hoje. Mas, por que quando se fala da África o que vem à mente de muitas pessoas são fatos negativos? Por que não falar da África como o berço da humanidade e das primeiras civilizações? Por que não enxergar a África como um continente com sua cultura própria?
            Cultura milenar, este seria um bom termo para definir a história da África, aliás as várias áfricas que habitam aquele imenso continente. Todo professor de História é instruído, por lei, a falar sobre a cultura africana e afro-brasileira na sala de aula (lei 10.639/03). Isto porque o passado da escravidão colonial que sofremos e a globalização do mundo de hoje – que a todo tempo compara povos e nações como se todos fossem obrigados a serem países industrializados e neoliberais – incute na mentalidade das pessoas uma imagem negativa da África.
            Quando se estuda história, a principal diretriz que o professor deve seguir e o aluno aprender é que cada povo possui a sua dinâmica na história, cada cultura é única e não deve ser comparada com outra numa escala de superior ou inferior. A África, por maiores que sejam seus problemas sociais e econômicos na atualidade, precisa ser enxergada como um importante espaço na construção da história da humanidade. Foi naquele loco que a vida humana surgiu, se desenvolveu e imigrou para outras regiões.
            Já ouviram falar no “Vale da Grande Fenda”? É uma região localizada na Etiópia, Quênia e Tanzânia onde foram encontrados os fósseis humanos primitivos mais antigos do mundo, o australopithecus. E a civilização egípcia com toda a sua exuberância e vestígios históricos, de onde é? Muitas pessoas esquecem-se de associar que o Egito, aquela civilização dos poderosos faraós, se localiza na África; assim como a cidade de Ifé (hoje na atual Nigéria), que na Antiguidade era um centro aglutinador dos diferentes reinos que gravitavam ao seu redor.
            É claro que o processo de escravização dos africanos, bem como a disputa pelos territórios da África ao longo dos séculos XV ao XIX, contribuiu muito para um atraso no desenvolvimento tecnológico e econômico dos países. Mesmo assim, a dinâmica histórica da África deve ser ressaltada perante os nossos jovens, para que cresçam identificando a importância das diferenças culturais dos povos e, ao mesmo tempo, como somos ligados – pois somos descendentes do mesmo ancestral primata, aquele que saiu da África. 

BANDEIRA: A IDENTIDADE NACIONAL

ARTIGO PUBLICADO POR KARLA O. ARMANI, EM 19 DE NOVEMBRO DE 2011, PELO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" 


                               
Salve lindo pendão da esperança!
Salve símbolo augusto da paz!
Tua nobre presença à lembrança
A grandeza da Pátria nos traz...
            Você provavelmente se lembra deste verso, talvez da época das comemorações cívicas do colégio ou das aulas de História. Foi escrito por Olavo Bilac e apresentado pela primeira vez em 1906, trata-se da primeira estrofe do Hino da Bandeira do Brasil, uma música composta pelo carioca Francisco Braga ainda no alvorecer do século XX. 19 de novembro é o dia em que se comemora o dia da bandeira no Brasil e por isso poderíamos voltar nos tempos da proclamação da República brasileira a fim de compreender como a bandeira se encaixa nisso tudo.
            A bandeira do Brasil foi criada poucos dias após a proclamação da República e isso já demonstra sua ligação com este fato. Em 19 de novembro de 1889 o desenho projetado pelos positivistas Raimundo Teixeira Mendes e Miguel Lemos tornou-se oficialmente a bandeira da “República dos Estados Unidos do Brasil” e desde então adotamos este símbolo como uma identidade nacional. Identidade, esta era a palavra que os republicanos tanto procuravam pelo Brasil afora e que foi surtir efeito na bandeira nacional, no hino, na figura heróica de Tiradentes e outros tantos símbolos criados nesta época.
            O Brasil era um país de povo misto e isolado, um povo que assistiu a passagem do império para a república “bestializado”, isto é, sem entender nada do que estava acontecendo na política brasileira. Era necessário, pois, criar símbolos que fizessem a população se identificar com o país e abraçá-lo numa ânsia de nacionalismo e patriotismo. Foi neste contexto que a bandeira brasileira surgiu, cheia de significados e significantes ao povo brasileiro.
            Muitos dizem sobre as cores e os desenhos da bandeira. A poesia de Olavo Bilac no próprio hino da bandeira diz que “em teu seio formoso retratas, este céu de puríssimo azul, a verdura sem par destas”. Desde a época de sua criação, as cores e os significados da bandeira sempre se resumiram em que o azul representa a esfera celeste, o verde as matas brasileiras, as estrelas são os Estados e a cor branca a paz. Mas, muitos historiadores não conseguem dissociar a bandeira criada na república da bandeira do Império, em que as cores verde e amarelo significariam respectivamente a Casa Real de Bragança (dinastia de Pedro I) e a Casa Real de Habsburgo (dinastia da imperatriz Leopoldina). Uma bandeira republicana de inspiração imperialista?
            Enfim, a bandeira do Brasil é de fato um símbolo nacional, inspirou tradições e revelou novas identidades ao povo brasileiro. É por essas e outras que deve continuar entre as nossas comemorações históricas do Brasil. À bandeira nacional, nossas condecorações.

PROCLAMAS À REPÚBLICA

ARTIGO PUBLICADO POR KARLA O. ARMANI, EM 11 DE NOVEMBRO DE 2011, PELO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" 


O Marechal Deodoro da Fonseca proclamou hontem a República!!!”. Qual seria a sua reação se, de repente, fosse parar em suas mãos um jornal antigo com esta manchete? Este fato aconteceu comigo há três ou quatro anos atrás, quando eu trabalhava no Museu Ruy Menezes, e desde então este assunto tem tomado conta das minhas pesquisas nos últimos tempos. Certa vez, uma senhora adentrou ao museu e me entregou um jornal todo dobrado e bem amarelado dizendo que ela havia encontrado numa lixeira na rua e que por ser antigo ela queria doar ao museu. Fiquei feliz com a atitude dela, e fiquei mais feliz ainda quando abri e li a espetacular manchete que o jornal continha. Agradeci imensamente aquela senhora por ter salvado um documento histórico de tamanha importância, que quase foi jogado no lixo, finalizei argumentando que ela tinha acabado de salvar a história da república brasileira!
O jornal chama-se “Dom Casmurro”, publicado no Rio de Janeiro, o redator chefe era Jorge Amado e o jornalista da matéria de capa era Luis Edmundo. A edição era de 16 de novembro de 1889 e continha detalhadamente os acontecimentos da passagem do Brasil monárquico para a República. O interessante são as imagens caracterizadas no jornal, como por exemplo, o Marechal Deodoro da Fonseca passeando em um cavalo em meio à multidão de pessoas. A história contada no jornal foi revisada por historiadores brasileiros e hoje se admite que o processo de transição para a república brasileira não teve a participação do povo, que, na realidade assistiu a tudo isso “bestializado”, como já dizia Aristides Lobo naquela época.
É certo que a República brasileira, quando proclamada, não foi idealizada da maneira como os republicanos históricos imaginavam que seria. A propaganda republicana no Brasil vinha acontecendo desde 1870 quando foi lançado o Manifesto Republicano. Neste documento constavam as assinaturas de vários políticos brasileiros, que viam na República a melhor saída para os seus interesses e para o “verdadeiro” bem geral da nação. Acontece que em 15 de novembro de 1889 a República brasileira foi proclamada pelo militar Marechal Deodoro da Fonseca, que era amigo do imperador e estava longe de ser um republicano histórico. Mas, os acontecimentos naquela madrugada se passaram tão rapidamente que foi possível ficar para a história a fase mais famosa deste momento: “o Brasil dormiu império e acordou República”.
            Está próximo o feriado de 15 de novembro. Muitos estão felizes por ser feriado e poucos sabem o que significou esta data para a história do Brasil. O feriado de 15 de novembro serve para comemorarmos, isto é, memorarmos juntos, a proclamação da República no país. Proclamada em 1889, a república brasileira pôs fim a um sistema monárquico e instaurou um novo regime político que desde então orienta a política nacional. O fato do Brasil hoje ter em sua história a experiência republicana é resultado deste período turbulento, que deixou marcas e fontes a serem estudadas.                    

REFLEXÕES DE NOVEMBRO

ARTIGO PUBLICADO POR KARLA O. ARMANI, EM 4 DE NOVEMBRO DE 2011, PELO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" 


            Em novembro muitos fatos históricos aconteceram ao longo da trajetória humana na Terra. É possível estabelecer uma vasta linha do tempo utilizando os trinta dias do mês de novembro. Por exemplo, foi no dia 3 de novembro de 1812 que o exército de Napoleão Bonaparte foi derrotado pelos russos; em 4 de novembro de 1920 o arqueólogo Howard Carter descobriu a suntuosa tumba do faraó Tutancâmon; no dia 15 de novembro de 1889 é proclamada a República brasileira; em 20 de novembro de 1695, Zumbi, líder do quilombo dos Palmares, é morto por tropas portuguesas e em 30 de novembro de 1900 morreu o famoso escritor irlandês Oscar Wilde. De tantos exemplos, poderíamos dissertar sobre o dia 1º de novembro de 1512, uma data que ficaria marcada na história da arte de todos os tempos, o dia em que o afresco de Michelangelo foi exibido ao público pela primeira vez.
            Esta data foi muito importante porque uma obra como os afrescos da Capela Sistina marcaram uma nova visão do homem perante a arte, a religião, a cultura e até mesmo à sociedade. Neste período da história, as obras de arte demonstraram a capacidade de criação do homem, é o momento em que o individualismo do artista se torna vigente nas próprias pinturas. O homem passa a ser visto como o centro do universo, distanciando-se aos poucos daquela visão medieval que se pautava puramente na religião como orientação exclusiva da arte e da ciência.
             “Renascimento” foi o termo utilizado pela historiografia para denominar esta época de inovação na mentalidade, que, diga-se de passagem, vigorava exclusivamente no espaço europeu. O nome “renascimento” foi utilizado pelo historiador francês Michelet, que viveu no século XIX, e escreveu várias obras sobre o período medieval tendo como fonte as obras de arte européias que ele conheceu em suas várias viagens pelas cidades medievais. A palavra “re-nascimento” foi escolhida para designar este período pelo fato de “renascer” nesta época os valores da cultura greco-romana, todo o valor dado ao homem (antropocentrismo), a sua capacidade de criação, aos estudos anatômicos do corpo humano, bem como a perfeição das formas do corpo (hedonismo) foram resgatados pelos artistas dos séculos XV e XVI em diante. Nas pinturas e esculturas de Michelangelo é possível verificar a perfeição das formas humanas, visto que o artista dissecava cadáveres a fim de examinar os detalhes do corpo humano para serem retratados da maneira mais perfeita possível.
            Enfim, o Renascimento é somente um dos vários temas que será retratado neste espaço do jornal “O Diário” no mês de novembro. Muito se tem a falar sobre a história do mundo, do Brasil e de Barretos. Que o mês de novembro traga muitas reflexões que sirva-nos como inspirações e reflexões!
           
Fonte: Revista Aventuras na História – nov/2011

NA ERA DO RÁDIO: OS JINGLES DOS PRESIDENTES

ARTIGO PUBLICADO POR KARLA O. ARMANI, EM 28 DE OUTUBRO DE 2011, PELO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" 



“Bota o retrato do velho outra vez, bota no mesmo lugar.
O sorriso do velhinho... faz a gente trabalhar”
            Quem possui mais de setenta anos provavelmente já ouviu o verso acima cantado como marchinha de carnaval. Esta marchinha foi muito difundida nos anos 50 como propaganda ao governo de Getúlio Vargas, que venceu as eleições de 1950 com 48% de aprovações. Este é só um dos vários jingles utilizados nos anos dourados para ilustrar o imaginário social diante às campanhas presidencialistas no Brasil. Nesta época, o rádio não era só o cenário de grandes vozes, radio-novelas ou de notícias, era também o principal meio de comunicação em massa e o propagador dos ideais políticos.
            A era do rádio no Brasil foi conseqüência do aumento do ritmo da industrialização do país no momento posterior à 2ª Guerra Mundial. Com a crescente importação de rádios, televisões e demais produtos tecnológicos, o Brasil vivia o surgimento da indústria cultural, onde os meios de comunicação em massa levaram à consolidação da sociedade de consumo. Ou seja, de modo geral, as pessoas necessitavam adquirir bens tecnológicos que traduzissem os novos valores impostos por essa indústria cultural. É claro que boa parte da população brasileira estava excluída desse consumismo por conta das míseras condições de vida e isolamento social, mas é válido destacar que a indústria cultural desta época conseguiu chegar a pontos até então inatingíveis no Brasil.
            Muitas pessoas nos dias de hoje se recordam das canções e dos artistas do rádio dos anos 50, isso porque a acessibilidade a este meio de comunicação ocasionou profundas transformações nas formas de viver da sociedade. Os jingles cantados no rádio eram uma maneira do político estar mais próximo do trabalhador, da dona de casa e até mesmo das crianças que ouviam o rádio. Era ao redor deste aparelho e principalmente da televisão que a família ficava reunida para ouvir ou assistir os programas que passavam a ser semanais e/ou diários. É claro que isso também poderia gerar a alienação social, onde muita gente perdia o senso crítico frente aos apelos à comunicação em massa.
            Jingles como o que encima este texto e outros como “varre, varre, vassourinha, varre, varre a bandalheira... que o povo já está cansado de sofrer desta maneira... Jânio Quadros é a esperança deste povo abandonado” adentraram para a história do Brasil e no imaginário da população. Enfim, espera-se que todos eles sejam estudados e encarados como fontes históricas do período dos anos dourados e da indústria cultural.

O DESTINO INCERTO DOS IMIGRANTES


ARTIGO PUBLICADO POR KARLA O. ARMANI, EM 21 DE OUTUBRO DE 2011, PELO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" 

            Leitor amigo, você tem sobrenome de origem estrangeira? Quantas famílias você conhece com sobrenomes italianos, portugueses e de outras nacionalidades? Por que é tão comum em nosso ambiente conhecer alguém com estes sobrenomes? A resposta para tais questões certamente está no fato da população brasileira ser um mosaico cultural, isto é, resultado de imigrações e migrações ao longo de toda a história do Brasil. O Estado de São Paulo, em específico, foi a região do Brasil que mais recebeu imigrantes europeus entre os séculos XIX e XX, e a nossa cidade de Barretos está entre as cidades paulistas que se tornaram pólo de atração a estes colonos.
            Em meados do século XIX, o Brasil, país recém independente, possuía como principal produto de exportação e motor da economia o “café”. As fazendas de café avançavam do Vale do Paraíba rumo ao Oeste Paulista num ritmo crescente e os cafeicultores aumentavam sua exportação de modo exorbitante a cada ano, fato que resultou numa busca constante por mão de obra barata e de alto teor de produção. Já pensando como capitalistas, os fazendeiros de café verificaram que a mão de obra imigrante era mais barata que os escravos, visto que o preço do escravo estava alto em razão do fim do tráfico negreiro e a escravidão estava com os dias contados. Deste modo, num processo gradual, o governo brasileiro passou a incentivar a vinda de imigrantes europeus para o Brasil.
            Nos anos 80 do século XIX, foram criadas políticas imigrantistas e propagandas para atrair os sonhos dos europeus que sofriam com a fome, a miséria e o desemprego em vários países, como a Itália e a Alemanha. Assim, o Brasil recebia a cada ano muitas famílias européias, que além de passar dificuldades culturais como a adaptação para o clima quente dos trópicos e o domínio de outra língua, sofriam também com a exploração do trabalho e dívidas que eram criadas assim que aportavam ao Brasil.
            Em Barretos, a história é adaptada para o contexto da pecuária e da indústria frigorífica. O grande número de imigrantes que Barretos recebeu foi em virtude do frigorífico instalado na cidade já na década de 10, uma vez que era necessário contratar operários que de alguma maneira já haviam lidado com manuseio de máquinas industriais. Além dos registros do próprio frigorífico, outro índice que revela o número de imigrantes na cidade é o livro de pacientes internados na Santa Casa de Misericórdia de Barretos. Num período de 10 anos (1921-1931), 15,9% das internações registradas no hospital eram de imigrantes portugueses, italianos, espanhóis, alemães, russos, romenos, sírios, japoneses, entre outros. É interessante ainda destacar, que os lituanos constituíam um grupo de importante expressão entre os imigrantes internados. Além do mais, a principal doença que eles contraíam era o impaludismo (malária) e, vez ou outra, apresentavam esmagamento, cortes e ferimentos.
            Dentro desta breve linha do tempo, podemos entender porque até nos dias de hoje encontramos sobrenomes europeus nas nossas famílias e em demais círculos sociais. A história destes imigrantes é refletida em nosso próprio tempo, afinal a comunidade em que vivemos nada mais é do que a composição de todas estas culturas. Muitos de nós somos ascendentes destes povos que emigraram de seus países e traçaram um destino incerto no Brasil, e boa parte dos brasileiros de hoje é resultado disso.

Fonte: Pesquisa da Santa Casa realizada por mim e discentes da Faculdade Barretos.

UM “CLIC” PARA O FUTURO




ARTIGO PUBLICADO POR KARLA O. ARMANI, EM 14 DE OUTUBRO DE 2011, PELO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" 

            Leitor amigo, já parou para pensar o quanto as fotografias estão presentes no nosso dia a dia? Se existe algo que é registrado com a intenção de ser visto no futuro é a fotografia, pois o momento do “clic” é intencionalmente realizado na tentativa de eternizar determinados momentos que são considerados importantes. Desde o século XIX, em vários lugares do mundo, as fotografias registram cenas de famílias, das escolas, de instituições públicas, da imprensa, dos círculos turísticos e de diversas esferas da vida privada.
            Por conta desta intenção de se registrar momentos para a posteridade, a fotografia é uma importante fonte de pesquisa ao historiador. Em específico, aos historiadores da metade do século XX em diante, porque foi a partir deste período que certas correntes historiográficas começaram a utilizar a fotografia como fonte. Para examinar a fotografia, todos os itens que perpassam a sua trajetória são essenciais para um estudo minucioso. Assim, a produção da cena, os personagens, gestos, atitudes, efeitos especiais, cores, expressões, o ângulo, a circulação e o destino podem denotar a intencionalidade do fotógrafo.
            Ao analisar as imagens fotográficas, o historiador tem a necessidade de compreender a mensagem que elas querem transmitir e captar seus significados mais implícitos, uma vez que elas podem estar imbuídas de ideologias e simbologias.  Desta maneira, as fotografias podem ser vistas como “documento” ou como “monumento”. Analisada como “documento”, a imagem revela aspectos da vida material de um determinado tempo do passado que uma descrição verbal não daria conta, como por exemplo: a arquitetura, a indumentária, formas de trabalho, locais de produção, infra-estrutura urbana e etc. Afinal, nem sempre as palavras são a melhor forma de se definir uma cena, na maioria das vezes a imagem fala por si só. Já como “monumento”, a imagem reflete um passado que determinada sociedade queria demonstrar de si mesma para o futuro.
            Como exemplos de imagens “monumentos”, existem os cartões postais de várias cidades brasileiras em fins do século XIX e início do século XX. No passado, os cartões postais eram tão importantes que eram utilizados como meios de comunicação (cartas) e até mesmo como presente para um parente que residia em lugares distantes. Estes cartões revelavam paisagens das cidades em processo de modernização, isto é, com palacetes públicos, casarões dos coronéis e barões do café, escolas e hospitais construídos aos moldes da arquitetura francesa. Em Barretos, o acervo iconográfico do Museu “Ruy Menezes” guarda cartões-postais de 1917, que exibem o centro da cidade de Barretos como um lugarejo em processo de urbanização, dotado de estabelecimentos comerciais, sociais, educacionais e culturais. Tudo para demonstrar a ideologia republicana e capitalista da época.
            Enfim, as fotografias podem revelar muito sobre os nossos modos de vida, hábitos, ideologias e valores culturais. Mesmo com padrões de modelos fotográficos ou não, as fotografias servem para mostrarem à população futura da forma mais natural possível como era o passado. O “clic” da máquina fotográfica, o ponto de vista do fotógrafo e a revelação da imagem possibilitam um elo entre o presente e o futuro, na intenção de eternizar tempos que não voltam mais. 

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

A PAISAGEM



ARTIGO PUBLICADO PELA PROFª KARLA O. ARMANI NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS EM 1º DE OUTUBRO DE 2011
  
            Olhar uma paisagem e se identificar com ela é praticamente uma das melhores sensações da experiência humana. Segundo o dicionário, paisagem é uma “extensão de território que se abrange com um lance de vista”, ou seja, é a visão única de um conjunto de cenas. Quando se olha uma paisagem, geralmente procuramos os pontos comuns que nela estão representados, visto que é o conjunto que da harmonia à visão. Deste modo, quando passeamos ao centro de nossa cidade, Barretos, a paisagem dos prédios mais antigos enobrece a nossa visão, no sentido de demonstrar que o passado resistiu ao tempo e está ali para ser lembrado, revisado e visto.
            Nos tempos do início do século XX, Barretos era uma pequena cidade que experimentava a modernidade com o poder aquisitivo dado a sua elite pecuarista. Com as rendas da pecuária e o novo sistema político republicano, a economia girava num salto à frente e isso fazia com que a cidade crescesse no comércio, nas instituições públicas, escolares, culturais, esportistas e etc. Foi neste momento que os grandes casarões dos coronéis começaram a ser construídos, com a arquitetura neoclássica que fazia erguer os olhos de quem passava defronte ao centro barretense.
Os jornais anunciavam o nascimento de um novo prédio urbano como algo extremamente frutífero à cidade e a seus habitantes. Os bairros se modelavam conforme as posições sociais dos indivíduos, bem como a exclusão de determinadas pessoas em espaços destinados somente as classes ditas “diferenciadas”. Os barretenses passaram a consumir produtos de casas comerciais de armarinhos, isto é, lojas que vendiam quinquilharias como tecidos, couros, remédios, alimentos e todos os artigos de necessidades e desnecessidades da época. 
A cidade crescia e todos estes prédios no centro da cidade ali permaneciam, pois o processo de urbanização foi acontecendo ao redor do centro. Porém, a partir da segunda metade do século XX, uma nova onda de modernidade assolava as mentalidades dos brasileiros e muitos daqueles prédios vieram a baixo. A justificativa, nem sempre verídica, era de que os prédios não mais ofereciam segurança e estavam a despencar, além da necessidade de aumento da estrutura destes prédios, visto que a população crescia em demasia. Foi a partir da década de 70, que tudo veio a baixo: o 1º Grupo Escolar, a fonte luminosa e o busto da independência da Praça Francisco Barreto, o 1º prédio da Santa Casa, o prédio do Grêmio, um casarão aqui e outro acolá. Mas, não pensemos que todos os barretenses daquela época foram a favor destas demolições. Verifiquem as palavras de Olivier Heiland numa carta publicada no jornal “O Diário” em 28/3/1972, onde ele lutava para a construção do novo grupo escolar em outro lugar para que o primeiro não fosse demolido: “O 1º grupo escolar já prestou o seu grande serviço durante mais de 60 anos. [...]. Não devemos permitir que o seu brilhante passado, possa ser empanado tendo no futuro a lamentar a nossa falta de visão”.
E nós aqui do futuro lamentamos a sua demolição. E tantas outras demolições que se sucedem no centro da cidade em nome da modernidade, do crescimento populacional, do comércio. É certo que a paisagem não é mais a mesma, entretanto, continua encantando os olhares dos mais sensíveis barretenses que se identificam com a nossa história. Que os habitantes sejam mais conscientes e que o poder público crie leis de preservação de patrimônio, antes que a paisagem se transforme mais uma vez. À paisagem do centro de Barretos, a nossa resistência.

ANOS 50: BARRETENSES NA NOVA BRASÍLIA



ARTIGO PUBLICADO PELA PROFª KARLA O. ARMANI NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" EM 23 DE SETEMBRO DE 2011

            Durante o governo do presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira (1956-1960) o Brasil passou por momentos interessantes em sua economia e na sociedade. Ficou para a história, pelo menos aquela do livro-didático, que dentre todas as ações do referido presidente, duas são as mais importantes: o impulso à industrialização do país e a construção da capital do Brasil, Brasília. Inaugurada em 21 de abril de 1960, Brasília tornou-se a nova capital do Brasil, sucedendo o Rio de Janeiro, e atraindo para si diversos olhares da população brasileira que se via curiosa em conhecê-la.
            Curiosidade esta que chegou aqui, em Barretos no final da década de 50. Em um artigo descritivo do jornal “O Correio de Barretos” de 1º de junho de 1958, Ruy Menezes, então diretor do jornal, contava a “aventura” que ele e os srs. José de Assis Canoas, Raphael de Moura Campos e Iris Meinberg realizaram ao visitar a nova capital do país, que ainda estava sob construção. Tudo começou com um convite feito pelo dr. Iris Meinberg, que na época era político e integrante da NOVACAP (Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil), considerado, então, como um dos fundadores de Brasília.
            Partiram de avião de Barretos no dia 22 de maio num céu um tanto chuvoso, chegando à Brasília quase duas horas depois. Como relato naquele jornal, Ruy Menezes proferiu as palavras do primeiro impacto da paisagem e depois a noção de complexidade da obra: “... julgávamos Brasília uma confusa porção de palácios se levantando do chão, em meio a ferros e madeiras e de permeio como um formigueiro humano, tudo isso, entretanto, limitado por uma reduzida área de terreno. Uma aldeia, quando muito, tudo primitivo, muito rústico, cheirando a mata e a bugre. Essa foi nossa previsão, assim, foi, de imediato, alterada. É que percebemos, ali, o esqueleto branco, gigantesco, do palácio (Alvorada) e, perto, um edifício colossal de hotel. Longe, uma cidade inteira se postando, presa a extensa ramificação de estradas. Mais adiante, novos núcleos de habitação, uma babilônia, um alternar contínuo de campos e de casas, de máquinas e automóveis, uma balbúrdia, enfim. Tivemos noção, nessa hora, de que a coisa era muito mais complexa e que, ao contrário daquele primitivismo, havia, ali, já índices seguros de civilização, recursos e uma realidade estupenda se firmava em definitivo”. Quanto mais os barretenses se aproximavam das construções e dos trabalhadores, mais rápido sentiam a imensidade daquela obra.
            Em seguida, o artigo de Ruy Menezes explicava sobre o “catetinho”, isto é, o pequeno palácio de madeira que servia como morada do presidente Juscelino, que passava por Brasília uma semana sim e outra não. Conheceram o edifício e se hospedaram ali por perto e depois passaram a verificar a vegetação da região, que tinha como planta símbolo a flor “paepalantus”. Nas outras edições do jornal foram retratados mais detalhes sobre essa visita e nos jornais na época da inauguração da capital, novas impressões foram registradas. O interessante é notar que os barretenses fizeram uma visita à capital no momento de sua construção, isto é, quando tudo aquilo ainda era projeto de Niemeyer e Lucio Costa, morada de uma série de trabalhadores e um “sonho” do presidente Juscelino.

            

EXPLICAÇÕES HISTÓRICAS



 ARTIGO PUBLICADO PELA PROFª KARLA O. ARMANI NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" EM 16 DE SETEMBRO DE 2011

            Dentro da sala de aula e defronte a tantos jovens de múltipas personalidades, todo professor de história quando se aventura a ensinar aspectos diversos sobre o passado sempre argumenta que a importância deste é na realidade utilizá-lo como fonte para se entender o presente. Por isso, questões vivenciadas no presente, geralmente levantadas em assuntos cotidianos ou pela mídia, sempre suscitam olhares ao passado, visto que é na linha do tempo que residem as origens dos problemas e transformações sociais. O fato é que quando se levanta uma questão atual na sala de aula e se desenvolve um argumento fincado no passado, as aulas ficam mais interessantes e chamativas.
            Como exemplos que animam as aulas de história temos os nossos hábitos culturais, que no caso de nós brasileiros vieram principalmente dos costumes indígenas e dos portugueses. Além disso, expressões da língua portuguesa ditas coloquialmente possuem significados históricos, que se perpetuaram no tempo e ultrapassaram as barreiras do espaço. Assim, entender a etimologia, isto é, a origem e formação das palavras, é identificar as mudanças das expressões ao longo do tempo.
            Por exemplo, por que classificamos os dias como domingo, segunda-feira, terça-feira, quarta-feira, quinta-feira, sexta-feira e sábado? A explicação advém dos períodos da Antiguidade Romana à época medieval, um período que vivenciou as religiões politeístas e a ascensão do cristianismo. Desde a época do Império Romano, os dias da semana eram batizados como uma homenagem aos deuses, com exceção do “domingo” (dia do senhor) criado por Constantino no século III quando ele se converteu à religião cristã, e o “sábado” que remete ao “shabbat” dos judeus. Os dias eram então denominados: domingo, lues (dia da lua), martes (dia de Martes), mércores (dia de Mercúrio), joves (dia de Júpiter), vernes (dia de Vênus) e sábado. Estas denominações sofreram mudanças a partir do século V, quando um bispo de Braga (Portugal) organizou uma campanha para trocar os nomes pagãos para cristãos. Deste modo, em Portugal, e depois em suas colônias, os dias passaram a ser concebidos por expressões da liturgia católica: “feria secunda ou secunda feria” e assim por diante, sendo que “feria” em latim significa “dia de festa ou de descanso”.
            No mundo ocidental atual, somente em Portugal e nos países que outrora foram suas colônias que se utiliza este sistema de classificação de nomes da semana; em contrapartida, nos demais países ainda são adquiridos os nomes dos deuses da mitologia nórdica e romana. Estas informações, portanto, nos fazem perceber que as pinceladas da história da humanidade são recorrentes no nosso tempo atual, atuando na linguagem do dia-a-dia e nas expressões mais rotineiras do presente.

REFERÊNCIA: Revista Aventuras da História – set/2011. 

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

NO TÚNEL DO TEMPO DA EDUCAÇÃO FÍSICA


ARTIGO PUBLICADO PELA PROFª KARLA O. ARMANI NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" EM 9 DE SETEMBRO DE 2011

“A educação física sempre existiu. Nasceu com o homem. Através dos tempos sofreu inúmeras modificações até chegar à época atual”.
            A frase acima foi dita por uma professora de educação física a qual a “época atual” que ela se referia era o ano de 1958. Em uma entrevista concedida à repórter Jandira B. de Oliveira, do jornal “O Correio de Barretos”, a professora Maria Aparecida falava das constantes transformações da educação física e os desafios que ela sofria naquele período. Trata-se, pois, de um assunto de suma importância até nos dias de hoje, ainda mais porque no dia 1 de setembro foi comemorado o dia do “educador físico”. Assim, falar sobre a educação física e tudo o que ela representa na vida escolar e no cotidiano atual é destacar a figura do profissional “educador-físico” como uma pessoa preocupada com a saúde e, sobretudo, com a educação dos jovens.
            De forma sucinta e objetiva a professora Cidinha, como era conhecida na época, resumiu o histórico da educação física: “os gregos davam um valor inestimável à prática dos exercícios físicos; depois, quando o Cristianismo tomou conta, a educação física caiu em desuso. No Renascimento, reapareceu com Vitorino Defeltre, que demonstrou suas vantagens para ambos os sexos e para todas as idades. No período moderno, a educação física continuou progredindo, sendo criados vários ‘métodos’, que são atualmente usados com algumas modificações; por exemplo: o método francês, o sueco e o calistênico que adotamos nas escolas com algumas alterações, adaptando-os da melhor forma possível nos programas de ensino”. Além de promover a história da educação física de forma condizente com as divisões dos tempos históricos como se fazia na época, a professora Cidinha ainda ressaltava que a disciplina tinha como missão também desenvolver não só as qualidades físicas, bem como as intelectuais, apoiando-se na máxima do poeta romano Juvenal: “mens sana in corpore sano” (uma mente sã num corpo são).
            Nos anos 50, isto é, na época de atuação da professora Cidinha citada no jornal barretense, a educação física era praticada de maneira diferente a que conhecemos hoje, principalmente em relação às meninas – o “tabu” da época. As alunas tinham que usar uma espécie de “bombacha”, um calção exageradamente comprido até os joelhos, o qual não permitia o conforto necessário para se praticar exercícios. A professora declarava que este hábito era anti-higiênico e anti-pedagógico, visto que os exercícios não poderiam ser praticados de maneira correta e contínua. O desabafo da professora no jornal pode incitar nos profissionais da educação física de hoje certa satisfação pela evolução da disciplina no conteúdo escolar e pela luta de uma colega que desafiava os tabus dos anos dourados na busca por melhores condições de ensino e práticas pedagógicas da educação física.
             Na atualidade, a educação física é uma disciplina em destaque nas escolas, uma vez que promove a interação dos alunos, que são instigados à concentração, atenção e cooperação dentro das atividades práticas em grupo. Mesmo com certo atraso, eu gostaria de parabenizar os colegas professores de educação física, em nome da minha querida amiga Profª Arine Paleari, que fazem parte da luta pela educação neste país. Do passado para o futuro, que a luta de vocês para sempre vigore!
           
Referência: Correio de Barretos de 6/4/1958 p.4-12. Acervo Museu Ruy Menezes.

ERRATA: NO JORNAL SAIU QUE O DIA DO EDUCADOR FÍSICO É 2 DE SETEMBRO QUANDO NA VERDADE FOI DIA 1º DE SETEMBRO.

TRABALHO TEM QUE DAR TRABALHO



ARTIGO PUBLICADO PELA PROFª KARLA O. ARMANI NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" EM 2 DE SETEMBRO DE 2011

“À educação cabe fornecer, de algum modo, os mapas de um mundo complexo e constantemente agitado e, ao mesmo tempo, a bússola que permite navegar através dele”. (Jacques Delors)
No início desta semana um programa semanal de televisão abordou a questão da compra de trabalhos escolares por via da internet. Mais uma vez, a internet, que é uma ferramenta revolucionaria no acesso ao saber na Idade Contemporânea, é usada de forma indevida, traiçoeira e para fins negativos. Esta forma errônea de usar a internet é algo que confunde e ofusca os verdadeiros fins da educação, que, entre suas várias missões, está em transformar a informação no verdadeiro conhecimento.
            Se a busca pelo conhecimento é um dos pontos de partida da educação, cabe ao aluno não confundir “informação” com “conhecimento”. A informação é o conceito em si, solto num emaranhado de palavras, e a partir de sua leitura inicial, o constante pensar sobre o conceito e os exercícios de relações e comparações deste conceito com outros é o que gera o conhecimento. O que a maioria dos alunos de hoje precisa entender é que o fato de copiar uma informação sem pensá-la, sem captá-la a sua realidade, sem aplicá-la no seu cotidiano é o que mata toda sua capacidade de ser um educando. O ato restrito de copiar um trabalho anula a aptidão do aluno em escrever, tornando-o incapaz de ser o autor de suas próprias ideias e o construtor de novos saberes.
            Segundo o escritor e pedagogo Jacques Delors, existem quatro pilares básicos da educação, que resumidamente são: aprender a conhecer (o interesse ao conhecimento, aquilo que liberta da ignorância), aprender a fazer (o fato de correr riscos, de ter coragem em executar o conhecimento, de errar na busca de acertar), aprender a conviver (o respeito a todos, à diversidade e o exercício da fraternidade) e aprender a ser (a sensibilidade, a responsabilidade social, a capacidade crítica da realidade, a prática da imaginação).  O ato de se conectar à internet, procurar um trabalho e copiá-lo sem ao menos ler e dar os devidos créditos ao autor, demonstra o desinteresse pelo conhecimento, a falta de coragem em escrever e arriscar-se a errar e tentar novamente, o desrespeito com quem escreveu o texto e a anulação total de sua capacidade crítica, imaginativa e de responsabilidade com sua sociedade.
            Por um lado, na sala de aula o professor é o meio de exposição das informações e o ponto de partida ao conhecimento, afinal é ele quem desperta o interesse no aluno e o encoraja ao risco de errar e acertar, atuando como um mediador. Por outro lado, é o aluno quem constrói o seu conhecimento por meio de seu próprio interesse, coragem e responsabilidade. Todos devemos ser os autores de nossas próprias teses ou divagações, uma vez que o pensar não se limita a si só, ele se materializa em nossa escrita e volta ao nosso espírito como o verdadeiro CONHECIMENTO. Que os nossos alunos façam seus trabalhos escolares como uma construção do saber, pois trabalho tem que dar trabalho!

157 ANOS DE DIVERSAS HISTÓRIAS



 ARTIGO PUBLICADO PELA PROFª KARLA O. ARMANI NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" EM 27 DE AGOSTO DE 2011

            Quando agosto entra em cena no calendário muito se fala sobre a história de Barretos, uma vez que a data de fundação oficial da cidade se encontra no dia 25, comemorada ontem por sua vez. Nesta época, aumentam-se os trabalhos requeridos pelos professores de História, as pesquisas realizadas na internet em busca de textos históricos, as visitas ao Museu Ruy Menezes encantando os pequenos barretenses, enfim é uma procura intensa sobre elementos da origem da cidade. As pessoas passam a buscar a famosa “história de Barretos”, mas, o que é de fato a história de Barretos? O que as pessoas querem dizer com “história de Barretos”? Seria possível desvendar e traduzir 157 anos de história política, econômica, cultural e social em tão poucas linhas?
            Em termos gerais, as pessoas denominam os cento e cinquenta e sete anos da cidade como a “história de Barretos”, quando na verdade a história que compõe o espaço de Barretos é constituída por períodos diferentes uns dos outros. Não é possível estabelecer os 157 anos da cidade como uma história única, linear e progressiva, isto é mitificar o passado e julgar que todos os historiadores a escreveram da mesma maneira. Se a “história de Barretos” fosse única, fechada e encarada como “verdadeira”, o texto escrito seria o mesmo desde o primeiro historiador que a produziu até os dias de hoje.
            É válido ressaltar que cento e cinquenta e sete anos de história é a composição de épocas vividas por pessoas que encararam de diferentes modos os períodos políticos (Império, República Velha, Estado Novo, Populismo, Ditadura Militar, Redemocratização), econômicos (expansão da pecuária, da agricultura, do comércio, da indústria, dos setores empresariais) e sócio-culturais (influências da imprensa, da literatura, dos valores religiosos, das descobertas científicas e etc). Porquanto, quando as pessoas se aventuram a pesquisar sobre a história dos cento e cinquenta e sete anos de Barretos, inicialmente, devem-se perguntar: Qual momento histórico estudarei? Quais as fontes que existem sobre determinado período? Quem já escreveu sobre isso?
            É importante que os barretenses tenham em mente que ao longo do século XX, e agora no XXI, vários momentos históricos de Barretos foram contados por diversas pontas de penas e canetas. O próprio modo de se contar e escrever a história é em si uma fonte de estudo, pois cada historiador é ligado ao período em que vive e às evidências que aparecem em seu presente. Assim, a história que se escreve hoje não é a mesma de ontem e muito menos a que será lida no amanhã. Em agosto, quando o momento sobre a origem da cidade é colocado em pauta pela imprensa, pelas autoridades políticas, pelas homenagens do comércio, pelos trabalhos escolares e pela curiosidade das pessoas, pensemos, sobretudo, na complexidade que a configura, nas fontes históricas que conseguimos até hoje e nos diferentes modos de escrever sobre ela. Afinal, Barretos tem história e, sobretudo, uma escrita da história.
            Parabéns aos barretenses pelos nossos 157 diversos anos!

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

AO DIA DO HISTORIADOR



ARTIGO PUBLICADO POR KARLA O. ARMANI NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" EM 19 DE AGOSTO DE 2011

            Hoje, 19 de agosto, é comemorado o dia do historiador. A data institucionalizada pela lei nº 12.130 do dia 17 de dezembro de 2009, possui um significado muito especial mediante à valorização da figura do profissional que resgata o passado, insistindo em lembrar aquilo que as pessoas tem o costume de esquecer. O dia 19 de agosto é em si um dia especial, pois trata-se do nascimento de um dos grandes escritores da História do Brasil, o pernambucano Joaquim Aurélio Barreto Nabuco de Araujo. Este, por sua vez, viveu no Brasil do século XIX e dedicou-se à política nacional, bem como à intelectualidade das ciências humanas.
            O fato do dia 19 de agosto ser reservado a homenagens à figura do historiador revela por si só o quão valorizada encontra-se esta categoria no Brasil dos últimos tempos. Nos recentes decênios, o historiador tem ganhado espaço de trabalho dentro das escolas, rádios, televisões (tele-jornais e novelas), imprensa e das mais diversificadas instituições. Busca-se o profissional do passado para desvendar os processos políticos, econômicos, as tradições familiares, o nascimento de instituições públicas e privadas; tudo com o objetivo de encontrar a origem das coisas e criar identidades.
            A profissionalização do historiador tem crescido tanto que, no primeiro trimestre deste ano, foi aprovada uma lei que regulamenta esta profissão. Fato que além de profissionalizar esta categoria, especifica quem de fato é historiador, isto é, os indivíduos graduados ou com especialização e titulação em mestrado e doutorado em História. Essa regulamentação é muito importante nos dias de hoje, pois valoriza o estudo dos cursos de graduação e pós-graduação em História, já que o profissional formado possui melhores orientações quanto a sua área de atuação.
            Mas, nem tudo é tão fácil quanto parece. Muitos historiadores de hoje, mesmo com os avanços dos últimos tempos, ainda enfrentam dificuldades principalmente no que diz respeito à remuneração. Historiadores brasileiros, principalmente os que não são vinculados a órgãos públicos patrocinadores de pesquisas, precisam encarar suas pesquisas mais como hobby do que como salário. O que de fato sustenta o historiador brasileiro hoje em dia ainda é a sala de aula, isto é, sua atuação como professor pesquisador. Talvez um motivo deste problema esteja vinculado ao fato de que no passado parte dos historiadores, ou pelo menos aqueles que escreviam sobre história mesmo não sendo formados, não era regulamentada e quando escrevia determinada obra não cobrava pela pesquisa e pelo texto escrito.
            Mesmo assim, as vantagens são maioria nos rumos que a profissão do historiador tem tomado. Sua imagem é cada vez mais requisitada na sociedade, inclusive na sala de aula, onde os alunos estão sempre dispostos a saber qual historiador buscou determinada informação e quais métodos de pesquisas ele utilizou para criar suas teorias. Afinal, como disse o poeta alemão Heinrich Heine: “o historiador é o profeta que olha para trás”.

A MICRO-HISTÓRIA



ARTIGO PUBLICADO POR KARLA O. ARMANI NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" EM 5 DE AGOSTO DE 2011


            Leitor amigo, você já ouviu falar em micro-história? A própria palavra “micro” já induz ao pensamento de que se trata de uma história mais voltada ao específico, ao local, ao particular. Pois bem, a micro-história é um novo ramo da historiografia que tem ganhado espaço nos trabalhos acadêmicos de vários países. Ela tem reativado os ânimos de muitos historiadores, pois permite o contato direto destes com as fontes históricas, além de proporcionar uma escrita prazerosa a qualquer tipo de leitor. Nesse sentido, ao escrever com um olhar recortado em determinado tempo e espaço, o historiador ganha mais proximidade com seu objeto de estudo e propicia à comunidade o resgate de partes de sua memória e de sua identidade.
            Ao voltar os pensamentos para o modo com que as pessoas estudaram e ainda estudam História, verifica-se que a macro-história, ou seja, o estudo da história pela ótica do global e nacional, ainda predomina na sala de aula; talvez por ser o modo mais didático então conhecido. O problema desse método é que ele pode criar generalizações, que, por sua vez, podem nublar a realidade de um dado momento histórico.
            Por exemplo, se aprendemos que a principal riqueza que impulsionava a economia brasileira no final do século XIX era o café, como explicar que no mesmo período o que movimentava a economia em Barretos era a pecuária? Ao escolher um determinado assunto, o historiador passa a trabalhar com fontes primárias e secundárias, fato que lhe permite encontrar resultados que, na maioria das vezes, fogem daquilo que acontecia no contexto histórico da época. O estudo do local e do particular revela acontecimentos então desconhecidos pelas generalizações e modelos explicativos.
            Os estudos sobre a micro-história surgiram na Itália, país que valoriza muito a cultura local, pois foi o berço do Império Romano e da Renascença. Historiadores italianos como Carlo Ginzburg, Giovani Levi e Edoardo Grendi, a partir dos anos 60 se aventuraram em estudos particulares sobre “comunidades”, “indivíduo”, “família” e resgataram na história personagens e temas que há tempos eram apagados da escrita, tais como os hereges, feiticeiras e camponeses. O exemplo mais citado entre os micro-historiadores é a obra de Ginzburg, “O queijo e os vermes”, que narra a vida de um moleiro italiano do século XVI que é condenado pela inquisição por ter criado uma teoria sobre a origem da vida que se desviava dos preceitos católicos. No livro de Ginzburg, é perceptível todo o contexto sobre a mentalidade religiosa do período medieval e o poder do clero, mas o interessante é que o leitor nota estas realidades a partir da vida do moleiro, que na verdade fugia à maioria dos camponeses da época que eram analfabetos.
            Enfim, o olhar micro enxerga a história não como uma massa homogênea do passado que se encaixa a todos os tempos e lugares, mas como uma realidade composta de múltiplas experiências e representações que são passíveis de análises minuciosas. Afinal, a micro-história demora muito tempo para ser elaborada pelo historiador e por isso não pode ser confundida com a história local ou regional. Por mais difícil que seja escrever como micro-historiador, pois essa tendência exige certa maturidade na escrita, a micro-história tem demonstrado que é o modo mais refinado de se produzir uma boa escrita e conquistar o público leitor em geral.

DE GUTEMBERG À ERA DIGITAL



ARTIGO PUBLICADO POR KARLA O. ARMANI NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" EM 5 DE AGOSTO DE 2011


            Nas reflexões sobre os tempos atuais podemos perceber que está acontecendo a nossa volta uma verdadeira revolução cultural na prática da leitura. Afinal, por mais que a maioria da produção literária seja feita sob a forma de livros, cresce demasiadamente o índice de obras digitalizadas na internet e disponíveis à leitura. Mas, será que a imaterialidade do livro é mesmo algo positivo ao nosso relacionamento com a leitura e a escrita? Vejamos um breve histórico do livro...
            A origem do livro está diretamente relacionada à invenção da prensa na Europa do século XV, uma época de transição entre o pensamento medieval e o mundo moderno. A prensa era um instrumento mecânico utilizado para imprimir livros, seu funcionamento dependia dos “tipos”, que eram pequenas letras do alfabeto esculpidas em madeira, nas quais eram passadas tintas em sua superfície e depois eram comprimidas contra o papel. Foi desta maneira que o alemão Johann Gutemberg (1397-1468) criou prensa de livros no ano de 1440.
            Antes do surgimento da imprensa, os textos além de serem produzidos à mão tinham o formato de rolos, o que impedia uma pessoa de ler e escrever ao mesmo tempo, visto que as duas mãos estariam ocupadas. Com a invenção da prensa por Gutemberg, uma verdadeira revolução cultural aterrissou na Europa, pois além dos livros serem impressos em formato de códex (cadernos em capítulos), era também garantida a publicação rápida dos mesmos, fato que facilitou a acessibilidade da leitura por parte da população. Segundo um texto de Monteiro Lobato da década de 70, na época em que os livros eram manuscritos pelos monges medievais “uma bíblia, por exemplo, custava tanto quanto uma casa. Por esse motivo, existiam exemplares nas igrejas para quem os quisesse ler, mas eram presos a argolas por meio de correntes de ferro, para que ninguém os roubasse”. Coincidência ou não, o primeiro livro impresso por Gutemberg foi a Bíblia.
            Paralelo a isso, nos tempos atuais uma nova revolução cultural orbita a prática da leitura, trata-se de um momento em que os textos estão sendo produzidos, transmitidos e recebidos pelo formato eletrônico. De acordo com os estudos do célebre historiador frânces Roger Chartier, o mundo de hoje se afasta cada vez mais do formato tradicional do livro impresso afim de se aproximar dos textos digitalizados disponíveis na internet. Chartier ainda afirma: “Os textos eletrônicos não tem materialidade, constituem-se em fragmentos não necessariamente dispostos em sequência. Não se tem noção do tamanho final do texto como se tem ao pegar um livro nas mãos”.
            Para determinadas pessoas os textos digitalizados na internet são a melhor forma de se pesquisar, visto que, de certa maneira, podem ser mais fáceis de serem encontrados. Por outro lado, a leitura na internet pode prejudicar o autor do livro, pois ele corre o risco de sua obra em vez de ser comprada, ser na verdade copiada. Entretanto, o que é válido ressaltar, é a nova maneira de leitura e relacionamento com a escrita que o formato eletrônico está trazendo à tona na sociedade, uma leitura fragmentada e talvez nem tão processada pelo leitor. Por fim, ainda existe a opção de se escolher entre o tradicional impresso ou o moderno digital, mas é interessante que pensemos na importância de nossas bibliotecas e livrarias, além do restrito acesso às obras digitalizadas que as pessoas de classes desfavoráveis terão de enfrentar.