ARTIGO PUBLICADO POR KARLA O. ARMANI NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" EM 5 DE AGOSTO DE 2011
Leitor amigo, você já ouviu falar em micro-história? A própria palavra “micro” já induz ao pensamento de que se trata de uma história mais voltada ao específico, ao local, ao particular. Pois bem, a micro-história é um novo ramo da historiografia que tem ganhado espaço nos trabalhos acadêmicos de vários países. Ela tem reativado os ânimos de muitos historiadores, pois permite o contato direto destes com as fontes históricas, além de proporcionar uma escrita prazerosa a qualquer tipo de leitor. Nesse sentido, ao escrever com um olhar recortado em determinado tempo e espaço, o historiador ganha mais proximidade com seu objeto de estudo e propicia à comunidade o resgate de partes de sua memória e de sua identidade.
Ao voltar os pensamentos para o modo com que as pessoas estudaram e ainda estudam História, verifica-se que a macro-história, ou seja, o estudo da história pela ótica do global e nacional, ainda predomina na sala de aula; talvez por ser o modo mais didático então conhecido. O problema desse método é que ele pode criar generalizações, que, por sua vez, podem nublar a realidade de um dado momento histórico.
Por exemplo, se aprendemos que a principal riqueza que impulsionava a economia brasileira no final do século XIX era o café, como explicar que no mesmo período o que movimentava a economia em Barretos era a pecuária? Ao escolher um determinado assunto, o historiador passa a trabalhar com fontes primárias e secundárias, fato que lhe permite encontrar resultados que, na maioria das vezes, fogem daquilo que acontecia no contexto histórico da época. O estudo do local e do particular revela acontecimentos então desconhecidos pelas generalizações e modelos explicativos.
Os estudos sobre a micro-história surgiram na Itália, país que valoriza muito a cultura local, pois foi o berço do Império Romano e da Renascença. Historiadores italianos como Carlo Ginzburg, Giovani Levi e Edoardo Grendi, a partir dos anos 60 se aventuraram em estudos particulares sobre “comunidades”, “indivíduo”, “família” e resgataram na história personagens e temas que há tempos eram apagados da escrita, tais como os hereges, feiticeiras e camponeses. O exemplo mais citado entre os micro-historiadores é a obra de Ginzburg, “O queijo e os vermes”, que narra a vida de um moleiro italiano do século XVI que é condenado pela inquisição por ter criado uma teoria sobre a origem da vida que se desviava dos preceitos católicos. No livro de Ginzburg, é perceptível todo o contexto sobre a mentalidade religiosa do período medieval e o poder do clero, mas o interessante é que o leitor nota estas realidades a partir da vida do moleiro, que na verdade fugia à maioria dos camponeses da época que eram analfabetos.
Enfim, o olhar micro enxerga a história não como uma massa homogênea do passado que se encaixa a todos os tempos e lugares, mas como uma realidade composta de múltiplas experiências e representações que são passíveis de análises minuciosas. Afinal, a micro-história demora muito tempo para ser elaborada pelo historiador e por isso não pode ser confundida com a história local ou regional. Por mais difícil que seja escrever como micro-historiador, pois essa tendência exige certa maturidade na escrita, a micro-história tem demonstrado que é o modo mais refinado de se produzir uma boa escrita e conquistar o público leitor em geral.
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