sábado, 27 de novembro de 2010

LIVROS DE HISTÓRIA: UMA NOVA TENDÊNCIA


            A História, como uma disciplina científica que estuda o passado e sua relação com os homens, ao longo do tempo foi tema de muitos livros publicados desde a Idade Antiga até os dias de hoje. Naturalmente, estas publicações foram reflexos de suas respectivas épocas e as tendências que se encontram em uma, vêem-se pouco em outra. Assim, conforme as necessidades de cada período a escrita da história se baseia em um tipo de linguagem    que pode atrair ou não o público alvo.
            Leitor amigo, você tem lido livros de História nos últimos tempos? Reparou que ultimamente muito se tem falado de personagens históricos, identidades coletivas e culturas regionais? Porque este tema tem despertado tanto interesse? A resposta esta na fácil linguagem e na identificação entre o que está escrito e a identidade da pessoa que esta lendo.
            Até pouco tempo atrás, os livros de História publicados por editoras populares eram em demasia comprometidos com as teses de doutoramento e, por isso, sua linguagem científica era carregada de termos específicos e de difícil compreensão. Este tipo de publicação é ainda muito bem aceito pelas academias de História, pois respeitam os desígnios científicos da disciplina e passam pelo crivo de profissionais especializados em determinadas temáticas. As publicações científicas são significativamente importantes para a formação de historiadores e a atualização permanente da historiografia.
            No entanto, cresce no Brasil uma nova tendência de livros de História, que, paralelo às publicações de mestrado e doutorado, também é caracterizada pela cientificidade. Historiadores têm se comprometido em publicar edições sobre assuntos específicos e novos, jamais estudados em livros didáticos. Estes assuntos, porém, são verbalizados em linguagens de fácil acesso, carregados de ilustrações e nem tanto interligados com teorias da história. Essa falta de comprometimento com os conceitos e teorias é que, vez ou outra, delibera críticas das academias de História. Acontece que, os historiadores desta nova tendência publicam livros deste tipo na intenção de descongelar o passado e trazê-lo às pessoas, mostrando a elas as histórias mais interessantes do país, de algumas famílias, de regiões e da origem da nossa identidade coletiva.
            Neste ramo, destacam-se as historiadoras brasileiras Lilia M. Schwarcz e Mary Del Priore, sendo a última autora de livros que destacam a cultura das mulheres na história do Brasil, a trajetória do suposto Dom Pedro III, a vida amorosa de Euclides da Cunha, entre outros. São temáticas que revelam detalhes interessantes aos olhos de qualquer leitor, o transporta ao passado numa saborosa viagem no tempo fazendo com que ele passe a gostar de História. Enfim, os livros de História atuais, campeões de vendas nas editoras brasileiras, são aqueles que, escrito por historiadores e entrelaçados pelos ditames da literatura, atraem o leitor e faz com que ele se identifique com a comunidade em que vive, contribuindo assim com a reflexão à cidadania – uma vida coletiva construída pela mesma história.   

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO", EM BARRETOS/SP, EM 26 DE NOVEMBRO DE 2010. 

OS JORNAIS NO SERTÃO


            O que as páginas amareladas de um jornal podem dizer sobre a história dos nossos antepassados? Com certeza, têm muito a dizer. Os jornais de Barretos surgiram desde muito cedo, isto é, com menos de cinqüenta anos da fundação da cidade, e cada um deles representa a respectiva mentalidade da época em que fora escrito. Ao lado dos marcos históricos de cada período, os jornais retratavam os acontecimentos diários da cidade, as tendências políticas e expunha em colunas sociais a vida das famílias tradicionais. É assim que se encaixam as peças do complexo quebra-cabeça que compõem a história que temos em comum: a nossa cidade.
            No início do século XX, os jornais eram, sobretudo, veículos de propagação de ideais políticos. Dominada pelas elites coronelísticas, a imprensa barretense refletia o cenário político de ideais e partidos oposicionistas e, muitas vezes, um jornal nascia da intenção de atacar um líder político. O próprio jornal O Sertanejo, o primeiro a ser publicado em Barretos, em sua natureza era republicano, nos seus três primeiros anos foi dirigido pelo Cel. Silvestre de Lima. Este coronel, por sua vez, escrevia artigos criticando certas políticas dos primeiros anos da República, como exemplo a “política dos governadores” do governo de Campos Sales, e, por isso mesmo, acabou perdendo a direção de O Sertanejo para o líder político oposicionista de Barretos, o Dr. Antonio Olympio. E essa “oposição” perdurou por anos...
            Na década de 20, nascia o jornal O Popular dirigido pelo Sr. Riolando de Almeida Prado, prefeito de Barretos de 1926 a 1930. Este jornal, regido pelos ditames do Partido Popular, em sua primeira edição já tecia críticas à oposição, isto é, ao mesmo Dr. Antonio Olympio. Este, no entanto, possuía como meio de comunicação e disseminação de suas idéias políticas o jornal A Tribuna. E, assim, os líderes políticos usufruíam da imprensa como uma ferramenta de críticas aos adversários e estandarte de suas próprias realizações. Fato que em todas as épocas se repetiu, cada qual a sua maneira, de acordo com as inflexões de seus tempos.
            Com o passar das décadas, a imprensa barretense aos poucos crescia e se diversificava. Segundo os estudos do pesquisador Osório Rocha, até 1950 foram publicados e lançados oitenta e um jornais ou folhas em Barretos. Dentre estes, muitos tinham o compromisso político, outros, porém, serviam como boletins de associações ou anúncios de colunas sociais. Os nomes destas folhas, certamente, ainda são lembrados pelos barretenses de memórias mais vastas e vividas, e as denominações mais curiosas são: A Lágrima (1917), O Ferrão (1922), A Metralha (1927), O Espantalho (1928), O Xilique (1932), Zabumba (1932), O Olho (1933), O Alfinete (1935) e Pepineira (1935).  
            Quantos jornais! Quanta memória! Quantas histórias! Quantos foram perdidos... O que eles têm a nos dizer? Que a imprensa barretense é parte de um contexto político e historicamente denso e que, por isso, merece ser estudada e preservada.

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO", BARRETOS/SP, EM 19 DE NOVEMBRO DE 2010.

NOSSA REPÚBLICA, NOSSA PÁTRIA


            Na próxima segunda-feira o Brasil comemorará os cento e vinte e um anos da Proclamação da República como um feriado nacional. Em 15 de novembro de 1889, através de um golpe ou uma “conspiração”, os militares e seus importantes aliados tomaram o poder do Imperador Pedro de Alcântara e proclamaram a República do Brasil formando o governo provisório republicano. E o que aconteceu depois disso? Democracia? Eleições? Constituintes? Ditadura? Digamos que foi um pouco de tudo...
            Muitos aplicam na República a ideia do início da democracia brasileira, e a autenticidade desta afirmação pode ser interpretada de várias maneiras. Com a Proclamação da República, o governo do país deixou de ser centralizado na figura de um rei e passou a ser regido pelo Senado, pelas magistraturas e demais instituições políticas que teoricamente deveriam ser eleitas pelo povo. Porém, isso demorou para de fato acontecer, pois, destes 121 anos de República, 49 foram de eleições indiretas.
            Outra conseqüência da República foi o despertar de um patriotismo que atingia a vida dos cidadãos brasileiros. Este patriotismo logo surgiu no início do regime republicano, pois, era vigente na época as influências da corrente social “positivista”, onde a ideia de nação era colocada em primeiro plano. O patriotismo crescia no Brasil com o passar das décadas do século XX, na literatura foi exaltado pelas penas de poetas como Bilac e também satirizado por outros poetas. Nas escolas a noção do Brasil como uma pátria perfeita criada por heróis era colocada desde os livros-didáticos até no discurso dos professores.
            Em períodos ditatoriais, o patriotismo poderia ser usado como forma de manipulação da massa através de discursos de líderes autoritários que criaram a ideia de “nação” como uma união de pessoas que obedecia um mesmo ideal, sendo este ideal o estratagema política da vez. Até pouco tempo atrás, todas as manhãs os alunos, organizados em filas, cantavam o hino nacional e faziam a oração da manhã antes de entrar para a sala de aula. Isto era um sinal de respeito à pátria, reflexo de um passado extremamente patriota. Acontece que, o significado de patriotismo no Brasil mudou conforme cada época, cada estilo de vida, inclusive, há tempos atrás, o patriotismo foi muito criticado por descartar os regionalismos, as diversidades do país.
            Então, o que é ser patriota nos dias de hoje? Digamos que, para ser patriota é necessário conhecer a sua pátria, ou seja, a sua história. É conhecer, por exemplo, o que foi a Proclamação da República e porque este dia é feriado até hoje. Ser patriota nos dias de hoje, não é ser nacionalista ao extremo, é exigir seus direitos, como o de ter sua representatividade na democracia da nossa República e ir às urnas escolher os dirigentes políticos da pátria. Dentre tantas práticas patriotas, ser patriota não é só ter orgulho de ser brasileiro, é ter consciência dos problemas do país e lutar pela sua superação a fim de garantir a melhoria da vida da nossa República Federativa do Brasil, que tanto lutou para nascer.

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO", BARRETOS/SP, EM 12 DE NOVEMBRO DE 2010.

PALAVRAS NA HISTÓRIA


            As palavras tentam nos dizer muito sobre tudo aquilo que intentamos saber, no entanto, nem sempre estamos preparados e dispostos a entender os significados que elas nos trazem. No mundo atual, as informações correm soltas e as palavras são lidas dia-a-dia na tentativa de traduzir aquilo que vivemos, uma linguagem composta por significados que transcendem a própria realidade. Ou seja, as palavras que compõem belas mensagens, grandes reflexões e frases exclamativas são a tradução da nossa história do tempo presente.
            Ao longo da história da humanidade aconteceram algumas transformações sociais, políticas, econômicas e culturais que caracterizaram as grandes revoluções. Podemos avaliar algumas delas e verificar as palavras que tentavam exprimir a situação presente e o futuro almejado. Pois bem, peguemos o exemplo mais comum ao se estudar História, a Revolução Francesa. Neste momento histórico, a burguesia e as camadas populares exclamavam nas ruas parisienses: Liberdade, Igualdade e Fraternidade, isto é, o desejo do povo de se libertar de um governo corrupto e ocioso. Já a monarquia francesa, vivente de outra mentalidade, respondia a este momento de outra forma, por exemplo, quando indagada sobre o que se deveria fazer com os franceses que nem pão tinham para comer, a Rainha Maria Antonieta respondeu: “Oras, se não tem pão, dê bolos a eles!”. Certamente, estas palavras da Rainha francesa ficariam para a história, já que influenciou ainda mais a vontade do povo para um novo regime: a República! É claro que as palavras Liberdade, Igualdade e Fraternidade, na época em que foram exclamadas, não pareciam alcançar o êxito que alcançaram mais tarde, afinal, caros leitores, já imaginaram como poderiam estar o mundo hoje se não fossem elas?
            Em outra abordagem, as palavras que traduziam certas vontades da elite ditatorial brasileira eram: “Brasil, ame-o ou deixe-o!”, o que será que essas palavras queriam dizer? É de se imaginar, não é? Além disso, também tivemos no Brasil certas linguagens que demonstravam o estilo de vida da época, por exemplo, no século XIX as pessoas usavam muito as expressões “maldito”, “bendito” e os nomes das mulheres quase sempre terminavam em “de Jesus”. Isto parece demonstrar a grande influência religiosa que as pessoas da época possuíam em suas mentalidades.
            Enfim, quais serão as palavras que utilizamos hoje e que traduzem a nossa história? Talvez até possamos identificá-las, mas como será a interpretação dos historiadores do futuro sobre as nossas realizações, conflitos e desejos? Como diziam os bacharéis no fim do século XIX: “Alea jacta est”, a sorte está lançada!

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO", BARRETOS/SP, EM 5 DE NOVEMBRO DE 2010.

APERTOS E DESAPERTOS


            Mulheres, vocês conseguiriam imaginar como seria o nosso dia-a-dia se tivéssemos que usar espartilhos? Em muitas telas de pintores famosos dos séculos XV em diante aparecem mulheres fidalgas dotadas de belos vestidos com uma fina silhueta e um belo colo.  Como outra referência, a literatura brasileira do século XIX também enaltece a mulher sedutora como aquela que era portadora de uma delicada cintura. As novelas de época são outras fontes históricas que ilustram esta condição feminina no universo patriarcal. Junto a tamanha sedução também existe a mentalidade religiosa de outras épocas, então o que pensar a respeito dos símbolos do universo feminino ao longo dos tempos?
            Sabe-se que os espartilhos foram usados por mais de quinhentos anos pelas mulheres e que, em algumas épocas, eles eram peças que as acompanhavam desde a primeira menstruação até a morte. Tanto a composição do espartilho tanto o que ele significava são ícones que mudavam conforme as mentalidades das épocas. Por exemplo, no início, isto é, ainda na Idade Média, a mentalidade religiosa predominava em todos os hábitos dos europeus, inclusive nas roupas. Então, as mulheres usavam por baixo do vestido uma espécie de envelope de couro e panos duros para não moldar suas formas e preservar seus pudores.
            Com o passar do tempo, túnicas com cordões e corpetes amarrados tornaram-se parte do vestuário feminino e aos poucos obrigatórios no guarda-roupa das mulheres abastadas. Estes vestuários eram feitos por alfaiates da época, porém, a história diz que eles não eram nada sensíveis, fato que fez surgir as “corsetières”, mulheres que costuravam os espartilhos e inventavam opções mais leves e novos apetrechos. No Brasil, as mulheres passaram a usar espartilhos a partir de 1808, com a vida da família real, pois, foi neste momento que chegaram as revistas de moda européia. Junto aos espartilhos vieram os chapéus de pluma, as luvas e os sapatos de salto alto, estes artefatos notoriamente remetiam a significados da improdutividade e sedentarismo.
            A moda do espartilho afrouxou-se somente a partir do século XX, quando as mulheres assumiram suas condições de trabalhadoras, muitas vezes porque os homens estavam em guerras. Como trabalhadoras, elas necessitavam de roupas mais frouxas e confortáveis e mesmo aquelas mulheres mais ricas abandonaram o apertado vestuário, já que não tinham mais as criadas para ajudá-las no ritual diário de colocar o espartilho. E assim crescia o movimento em libertação da cintura...
Hoje a condição da mulher esta intimamente ligada com o trabalho externo e com a necessidade de roupas cada vez mais confortáveis e elegantes. Afinal, o que deveria predominar no mundo atual da moda é: ser elegante é estar confortável.

REFERÊNCIA: Revista Aventuras na História, reportagem de Érica Georgino. Nov. 2010.

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO" (BARRETOS/SP), EM 29 DE OUTUBRO DE 2010. 

MODERNIDADE?


            Caro leitor, você acha que vivemos numa sociedade altamente moderna? Sem se comprometer com grandes teorias de especialistas, poderíamos imaginar que modernidade é quando uma dada sociedade passa a vivenciar um novo momento por conta de evoluções tecnológicas, as quais, além de transformar a vida de um povo, também quebram parte das tradições e costumes antigos. Como a tecnologia esta sempre evoluindo, poderíamos pensar que a nossa sociedade é a mais moderna, certo? Errado! Na realidade, ao longo da história da humanidade, todas as sociedades passaram por transformações e todas elas viveram com o melhor que podiam de acordo com as condições das tecnologias de suas épocas. Por isso, todas as épocas tiveram aquilo que consideravam como “atrasado” e como “moderno”. Este cenário é visível até mesmo em Barretos, uma vez que passamos por épocas diferentes no que diz respeito à tecnologia, aos modos de vida, a habitação, aos serviços públicos, dentre outros.
            Em certo artigo, ainda com seu pseudônimo de Caa-Ubi, Osório Rocha narrou sua chegada a Barretos e, no início, não gostou tanto do pequeno arraial, pois, como ele mesmo narrou: “Não sei como é que você agüenta isso! Que atraso! Ruas esbura]cadas e poeirentas, ceras de tabuas, escuridão, falta de banda de música, de banheiro e de engraxate! Eu não quero ficar aqui!”. Mas, ficou, e para sempre. Ele mesmo disse que “com o tempo a gente vai se acostumando, e depois não quer mais ir-se embora”. Além disso, tempos depois, ele foi o maior defensor do patrimônio histórico da cidade, criticando as construções modernas “no coração da cidade”.
            O fato é que tudo o que Osório disse que não tinha na época em que ele chegou aos poucos foi tomando cores, pois, Barretos se adaptava às condições de cada contexto histórico e todas as novidades que surgiam era motivo de glória. Por exemplo, a iluminação só chegou em 1911, mas as propagandas de jornais exaltavam a iluminação dos teatros à gás acetileno, que, na época, era o que mais tinha de moderno. Já na década de 40, o Cine-Barretos valorizava em sua propaganda o ar-condicionado do cinema, tão exuberante para a época. E assim fomos caminhando, até que na década de 60, a palavra da vez era “progresso” e as propagandas das máquinas agrícolas, redes de combustíveis, veículos automotores foram tomando conta do cenário “moderno”.
            Como disse Urbano F. Canôas, em outro artigo, “a pavimentação e o asfalto alijaram a poeira e a lama, dando à cidade o seu aspecto de limpeza e civilização”. O interessante de tudo isso, é que já no começo do século XX, quando a cidade ainda vivia sob poeira e lama, a mais notória mudança já era tida como um “aspecto de civilização”. Em outras palavras, todas as épocas consideravam suas mudanças, e conseqüentemente o rompimento com o passado “atrasado”, como algo “moderno” e honroso.
            Por fim, percebemos que pensar em modernidade é algo relativo, já que cada “evolução” aconteceu com as condições devidamente apropriadas a cada época. Logo, cada mudança foi suficientemente importante para promover outras, outras e outras...

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO", BARRETOS/SP, EM 22 DE OUTUBRO DE 2010.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

UMA CASA DE CARIDADE (II)


            Na semana passada falamos neste espaço sobre a fundação e os trabalhos assistencialistas da Sociedade Espírita “25 de dezembro”. Estes trabalhos faziam parte da formação da própria doutrina e destinavam-se, sobretudo, ao auxílio da comunidade. Como exemplo, a Sociedade Espírita criou o primeiro “hospital” da cidade em 1911, a Casa de Caridade, na qual atendia os doentes necessitados. Para especificar os trabalhos desenvolvidos pelos médicos e funcionários da Casa de Caridade, utilizaremos o Livro de Registros dos Pacientes de 1919, acervo da própria instituição.
            Neste documento consta o atendimento de aproximadamente duzentos e quarenta pessoas no período de um ano e meio, e os registros dos pacientes eram classificados em: nome, filiação, naturalidade, estado civil, cor, profissão, residência, nome do médico, diagnóstico e datas de entrada e saída. Assim sendo, o livro dos pacientes pode nos demonstrar as estatísticas em relação à imigração, o atendimento a população negra e a pessoas de outras regiões, os tipos de profissões e doenças da época.
            Os resultados são os seguintes: os motivos ou doenças que mais afetavam a população na época eram impaludismo (malária), ferimento por bala de fogo, sífilis, reumatismo, bronquite, gripe, pneumonia, tuberculose e, até mesmo, parto natural. Sobre a população atendida verificamos que 56% era de cor “branca”, 20% era “preta”, 19% era “parda”, e pouco mais de 4% era “morena”, “acobreada” e “mulata”. Além disso, a maioria dos pacientes residia em Barretos, mas, doentes de vinte e duas cidades da região, entre o norte de São Paulo e sul de Minas Gerais, também foram atendidos. Dentre o total de pacientes, existiam trinta imigrantes, sendo a maioria italianos, espanhóis, portugueses e turcos, além destes, encontramos também um ou outro imigrante da França, Japão, Alemanha, Ilha da Madeira, Áustria e Argentina. As profissões eram de fato interessantes, uma vez que mostram as necessidades de trabalhadores específicos no momento de transição de uma vida rural à urbana, as principais foram: lavrador, jornaleiro (termo da Idade Média, referente àquele que trabalha por jornada de trabalho), doméstica, comerciantes e empregados, cozinheiro e demais como choffeur, pedreiro, escriturário e peão de boiadeiro.
            Depois de extinta a Casa de Caridade, quando se inaugurou a Santa Casa de Misericórdia de Barretos em 1921, a Sociedade Espírita fundou em suas dependências, no dia 01º de abril de 1922, a “Escola Mixta 25 de Dezembro”, que na ocasião contava com 50 alunos de ambos os sexos, aos quais, desfavorecidos socialmente, recebiam a educação primária. A escola funcionou até meados da década de 30, quando contava já com 83 alunos, e procurava-se um novo professor voluntário que se comprometesse com a educação a par da instrução do Estado e a moral cristã espírita.
            Quantos trabalhos! Quantas histórias! É assim que finalizamos estas poucas linhas com o reconhecimento do trabalho de mais uma instituição que, além de assistir a comunidade, construiu também a nossa história. Á Sociedade Espírita 25 de dezembro!

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO" (BARRETOS/SP), EM 15 DE OUTUBRO DE 2010.

domingo, 10 de outubro de 2010

UMA CASA DE CARIDADE (I)



             No início do século XX em Barretos surgiram algumas instituições que desenharam um novo cenário para o antigo arraial, que, então, passou a ter “forma” de cidade. Estas instituições, desde o início, transformaram o cotidiano de parte da população barretense, que, aos poucos, se adaptava a uma vida mais... “urbana”. De uma sociedade que até então, no século XIX, tinha sua administração regida pela Igreja, os barretenses passaram a ter acesso ao cartório, ao paço municipal, ao cemitério, ao Grêmio Literário, enfim, cada associação com sua respectiva função.
Dentre estas, nota-se também o alvorecer da Sociedade Espírita “25 de dezembro”, que, com a liberdade de culto garantida pela Constituição de 1891, foi fundada em 1906 por membros ligados as outras associações culturais surgidas na mesma época. A doutrina espírita que surgiu na França ainda no século XIX, ganhava novos adeptos no Brasil a partir de estudos filosóficos, científicos e experimentais discutidos por intelectuais da época, e em Barretos sua adesão também era expressiva. Havia, portanto, a necessidade de abrigar uma instituição comprometida com sérios estudos das causas sobrenaturais, e que tinha por finalidade a pregação da caridade e a divulgação das obras da doutrina.
Foi então que, em 25 de dezembro de 1906 foi fundada a primeira Sociedade Espírita de Barretos, hoje uma das mais antigas casas espíritas em funcionamento do Brasil, e sempre atuante em trabalhos assistencialistas que mantiveram compromisso com a comunidade. A começar pela criação do primeiro hospital de Barretos, a Casa de Caridade, fundada em 1911 e extinta em 1920, quando em 1921 houve a fundação da Santa Casa de Misericórdia de Barretos. Durante o período de seu funcionamento, o diretor-clínico da Casa de Caridade foi o médico maranhense Raymundo Mariano Dias e, segundo o livro de registro dos pacientes, atuavam como médicos sete homens: Dr. Henrique de Menezes Pamplona, Dr. Marcos Candido Martins, Dr. José Gurjão, Dr. José Caldas, Dr. Guilherme Gonçalves, Dr. Alves Martins e Dr. Frederico Toledo. Dentre os quais, pelo menos três estavam presentes no primeiro corpo clínico da Santa Casa.  
            O livro de registro dos pacientes, acervo particular da instituição, é datado de 1919 a 1920 e nele constam informações preciosas da época. Quer saber mais sobre alguns detalhes da Casa de Caridade e outras atividades da Sociedade Espírita “25 de dezembro” no passado? Então... aguarde até a próxima semana! Estaremos aqui neste mesmo espaço.

REFERÊNCIAS: Acervo particular da Sociedade Espírita “25 de Dezembro”.

      ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO" (BARRETOS/SP), EM 08 DE OUTUBRO DE 2010.

AS FONTES DA NOSSA HISTÓRIA


            É hábito entre alguns barretenses guardar os antigos pertences de família como se fossem peças raras de valor simbólico, preciosas aos olhos da memória da cidade. Outros, porém, não se atém a tamanho cuidado, uma vez que nem passa pela mente a ideia de que certos objetos poderiam ser uteis sê somados a contextos históricos. Em poucas palavras, guardar peças ou documentos dos antepassados é significativamente positivo do ponto de vista da história local, ainda mais se ter como conseqüência a “divisão” destes pertences com a comunidade, seja através de doações ou empréstimos para trabalhos acadêmicos sérios e comprometidos com a verdade histórica.
            Fotografias, documentos, jornais, cartas, objetos, gravações, ilustrações, mapas, projetos arquitetônicos e demais registros são fontes de estudos para historiadores que intentam resgatar a integridade de determinados períodos históricos. Assim sendo, os pertences antigos de uma família guardados cuidadosamente ao longo de muitos anos podem se transformar em instrumentos de trabalho a um historiador, que os utiliza com o maior cuidado possível, sempre respeitando o material e o comprometimento com a família. Deste modo, o historiador se torna uma espécie de “detetive” tentando juntar o máximo de peças possíveis para formar o quebra-cabeça do recorte histórico que ele escolheu. Além dos documentos e objetos em si, o historiador utiliza como ferramentas as luvas - para proteger a si mesmo e o próprio material que deve ser manuseado com zelo; máscaras - caso o material seja muito antigo e um tanto tóxico; lupas - para decifrar as antigas caligrafias escritas à caneta de pena, dentre outros. É necessário ainda, a total concentração na leitura e análise dos documentos, as anotações de detalhes, a memorização de dados relevantes no trabalho e o entendimento do contexto histórico da época estudada, pois os documentos isolados não falam por si só.
            As fotografias podem revelar detalhes que vão além do que está explicito, por exemplo, podem mostrar os modos de vestir e comportamento das pessoas, as diferenças sociais, os tipos de comemorações festivas, as crenças religiosas e culturais, os hábitos alimentares e muito mais. Já os registros escritos são fontes mais precisas, onde o historiador necessita encontrar “perguntas” que serviriam como referências para as possíveis respostas dadas por estes documentos.
            É, portanto, exemplo de um trabalho sério o projeto da história da Santa Casa de Misericórdia de Barretos que completa 90 anos de acolhimento em 2011. Por isso, as famílias barretenses que dispuserem de materiais históricos, como os já citados, e aceitarem emprestá-los para serem usados como fontes de estudos, estão convidadas a procurar a instituição para colaborarem com o projeto. Pois, a história de uma instituição tradicional como a Santa Casa, comprometida com o trabalho de historiadores, só poderá ser resgatada se estiver conjunta à história das famílias barretenses, para que assim mais um passo da história de Barretos possa ser dado.

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO" (BARRETOS/SP) EM 01 DE OUTUBRO DE 2010.
            

terça-feira, 28 de setembro de 2010

O PÃO NOSSO DE CADA DIA




            O alimento que está sempre presente na mesa da família brasileira é o pão, seja no início ou no fim do dia, nas refeições dos estudantes, das crianças ou mesmo no local de trabalho; o pão é parte da cultura brasileira, do nosso cotidiano. O pão fez parte da história da humanidade em várias civilizações e foi apreciado por diversas culturas que fizeram dele representações como alimento sagrado, salário, diversão e muitos outros símbolos.
            A prática agrícola mais comum entre as primeiras civilizações da Antiguidade Oriental, Mesopotâmia e Egito, era a produção de cereais como o trigo e a cevada. Em cerca de 4000 a.C, no Egito, apareceram os primeiros relatos sobre a produção do pão, através da mistura assada de farinha de trigo, água, sal e um pouco de fermento. O processo de fermentação demorou a ser dominado, mas, quando isso aconteceu, os egípcios começaram a inventar novas receitas para o pão, comendo-o assado com frutas como o figo e tâmaras. Os felás (camponeses) que viviam às margens do Rio Nilo, conseguiam cultivar o trigo através de safras regulares e isso logo facilitou a exportação do excedente de produção ao Mediterrâneo. Foi assim que os gregos, os romanos e toda a Europa conheceram o trigo e a arte de fermentar o pão, espalhando-se por todas as partes do planeta.    
            A expressão “o pão nosso de cada dia”, pode nos dizer muito além do que aparenta, ela também remete à luta de muitos trabalhadores que desde a Idade Antiga entregaram o suor de seus trabalhos em troca de pão. Nos tempos da Antiguidade, especificamente no Egito, o salário dos trabalhadores era nada mais do que três pães e duas canecas de cerveja ao fim do dia! E há quem diga que a primeira greve existente na história da humanidade aconteceu nesta época, quando trabalhadores egípcios se recusaram a voltar a trabalhar, pois, os patrões não lhes pagaram seus pães.
            Outros acontecimentos históricos envolvendo o pão podem ser vistos no período da Antiguidade, como exemplo, o relato bíblico onde Jesus Cristo consagra o pão como o “pão da vida” e o distribui a seus apóstolos transformando o alimento na representação de sua própria carne. Quando chegou à Europa, o pão encontrava-se também em cultos oferecidos à deusa grega Deméter, ou Ceres na mitologia romana, deusa do interior da terra “a mãe que faz crescer o povo”. Ainda mais, os romanos utilizaram o pão como um símbolo político, instituindo a política do “pão e circo” na tentativa de controlar a população trabalhadora e faminta através da distribuição do pão e do entretenimento com as lutas dos gladiadores.
            Enfim, tantas outras passagens históricas envolveram o pão e suas representações simbólicas ao longo das transformações culturais das antigas civilizações até os tempos atuais. O interessante é notar que hoje consumimos e aderimos à prática da alimentação do pão com muita naturalidade, mal sabíamos que o pão fez parte de vários acontecimentos históricos e atravessou processos culturais significativos até se intensificar como um hábito alimentar em nosso cotidiano.

REFERÊNCIA: Revista “Aventuras na História” / out. 2010.

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO" (BARRETOS/SP)  EM   24 DE SETEMBRO DE 2010.

O VOTO COMO UM DIREITO E DEVER



“Pior que tá, fica sim!”
(Novo ditado popular)

            Dias atrás um aluno do 6º ano me perguntou: “Professora, porque a Grécia Antiga está tão presente em nossos dias?”.  Ele estava se referindo às palavras de origem grega, a arquitetura neoclássica que ainda está presente em alguns prédios antigos do centro de Barretos, a política “democrática” em que vivemos e que tanto esta sendo discutida neste período pré-eleitoral e tantas outras coisas que sutilmente nos lembram a Grécia Antiga.  É muito produtivo fazer um diálogo entre os tempos passados e o nosso presente, uma vez que isso nos oferece visões sob diferentes ângulos de um assunto atemporal.
            Nesse sentido, o principal assunto que é estudado na Grécia Antiga é o surgimento da democracia na pólis de Atenas. A democracia em Atenas surgiu de um modo interessante, onde as novas classes sociais emergentes protestavam as condições limites de sua participação política. Em conseqüência, após várias reformas políticas, foram criadas algumas associações onde os próprios cidadãos elaboravam e votavam em suas leis. No entanto, o conceito de “cidadão” excluía a maioria da população, ou seja, somente 10% dos homens gregos tinham direitos políticos. Mesmo nestas condições, a política grega era considerada uma “democracia direta”, pois seus cidadãos tinham o contato direto com suas leis e seus direitos.
            Com o passar dos tempos e o crescimento da população, a forma política da democracia se transformou em “representativa”, onde o povo tinha o direito de escolher seus representantes através do voto. É claro que esse direito de votar também foi modificado de acordo com as épocas históricas, isto é, o voto no século XIX não é o mesmo que no século XXI, posto que, no Brasil, a própria Constituição Republicana vem sendo alterada desde seu surgimento em 1891.
            O que os gregos da Idade Antiga poderiam pensar sobre a democracia representativa? Será que conseguiriam imaginar uma democracia onde os cidadãos não decidem diretamente sobre suas necessidades, leis, direitos e deveres?
            É certo que não podemos julgar uma época com os olhos de outra, afinal na Idade Antiga a mentalidade cultural e a sociedade eram outras, muito diferente da nossa realidade. Mas, mesmo com todas estas diferenças entre épocas, poderíamos aprender algo bem simples com os gregos para usarmos nestas eleições atuais: mesmo não decidindo diretamente em nossas leis, projetos, direitos e deveres, o poder e a representatividade de nossa decisão está na importância que atribuímos ao nosso direito de votar, pois, se ser cidadão é cumprir nossos direitos e deveres civis e políticos, que façamos isso da maneira mais séria e digna possível! Pensemos.

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO" (BARRETOS/SP) EM  17 DE   SETEMBRO DE 2010.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

OS DESFILES DE 07 DE SETEMBRO: PORQUE NÃO?



 “Lembrai que em cada um de vós vive e palpita um pedaço da pátria”
(Ginásio e Escola Normal “Maria Auxiliadora” em desfile cívico na década de 50)

            Mais um “7 de setembro” se passou em comemoração da “Independência” do Brasil proclamada pelo Imperador Dom Pedro I em 1822. Algumas cidades ainda mantêm a tradição do Desfile Cívico para exaltar a data nacional, entretanto, a composição dos desfiles atuais é muito distinta dos desfiles das épocas passadas. Assim sendo, a cidade de Barretos também passou por épocas onde uma das principais comemorações do ano eram os desfiles de “7 de setembro” ou o aniversário da cidade.
            As décadas de 30, 40, 50 e 60 constituíram um período de forte nacionalismo no Brasil, e a maneira mais “solene” de expressar tamanha “honra” pela pátria era compondo exuberantes desfiles cívicos, que demonstravam a fidelidade, a ordem, a temência, o respeito e, sobretudo, o “reconhecimento” dos grandes vultos políticos da pátria. Nesse sentido, figuras como Dom Pedro I, Getúlio Vargas, Duque de Caxias e José Bonifácio sempre apareciam nos desfiles como verdadeiros anfitriões da pátria amada brasileira.
            Em Barretos não foi diferente. As expressões nacionalistas manifestadas de vários jeitos exclamavam por si só o patriotismo na pacata cidade, que, organizava sérios desfiles para representar o civismo barretense. A principal fonte histórica para estudar esta época são as fotografias dos desfiles, que hoje fazem parte do acervo iconográfico do Museu “Ruy Menezes”, e a história oral dos barretenses que viveram este período. Nas fotografias vê-se que faziam parte dos desfiles as escolas e algumas associações da cidade, tais como o Tiro de Guerra, a antiga Acirb, as colônias japonesas e árabes, os grêmios estudantis e muitos outros.
            Os alunos apresentavam-se sempre em fila, uniformizados, cantando e tocando na fanfarra; e há quem diga que só tocava na fanfarra quem tinha notas altas na escola (acreditem se quiser, mas muitos alunos se empenhavam na escola para em troca tocar na fanfarra do desfile). O desfile muitas vezes terminava em frente ao Paço Municipal (atual Museu), na Praça Francisco Barreto, para os munícipes e os alunos ouvirem o pronunciamento de alguma autoridade. As fotografias revelam também homens soltando fogos, desfile de tratores, anúncios de filmes do Cine-Éden e homens fantasiados de Pedro I. As meninas do Ginásio “Maria Auxiliadora” demonstram organização e beleza com seus uniformes de saia plissada preta, gravata, blusa branca e boina no cabelo, cantando em coro às ordens do maestro no centro da Praça.
            Enfim, muitos episódios interessantíssimos aconteciam nos desfiles cívicos em Barretos, que mesmo sendo muitas vezes utilizados para fins exclusivamente políticos, fizeram parte da nossa história. E as perguntas que não querem calar são: E porque não continuar? Porque temos que acabar com os desfiles cívicos? Porque não produzir um desfile baseado na realidade hoje? Porque não revelar a nossa própria história através dos desfiles? Porque não?

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO" (BARRETOS/SP), EM 10 DE SETEMBRO DE 2010.

sábado, 4 de setembro de 2010

O AROMA DO CAFÉ NA HISTÓRIA


             Caro leitor, qual é a primeira bebida que você toma logo pela manhã? Se você respondeu café, significa que você está entre a maioria dos brasileiros que adotaram esta bebida cotidianamente em suas vidas. Seja por lendas ou por relatos históricos, a verdade é que o nosso bom e velho cafézinho já foi portador de várias faces e nomes, dentre eles, gahwa para os árabes, “vinho da Árabia”, “licor do Oriente” e “licor dos trópicos”. Mas, como tudo isso começou...?
            Há muito tempo, os homens recorreram às lendas para explicar seus hábitos culturais e isso não foi diferente com o café. Algumas lendas são contadas sobre sua origem, mas a que se predomina é a lenda do pastor Kaldi. Segundo a tradição oral, a descoberta do café aconteceu aproximadamente no século III d.C na região do sudoeste da Etiópia, quando o pastor de cabras, Kaldi, percebeu que seus animais estavam um tanto agitados e despertos do que o costume. Kaldi, aflito por não saber o motivo do comportamento de seus animais, acreditava que poderia ser causas sobrenaturais ou reações de umas frutinhas que suas cabras estavam comendo de uns arbustos. Resolveu, então, provar ele mesmo da estranha frutinha e verificou que ele também sentia mais energia que o normal. Em seguida, Kaldi e sua esposa levaram os grãos da curiosa planta para os monges e, estes, jogaram os grãos no fogo, pois, acreditavam ser “obra do demônio”. Entretanto, o agradável aroma exalado pelos grãos enquanto eram torrados chamou a atenção dos demais monges e, por isso, acabaram por aceitá-lo, já que aquilo não teria um perfume tão bom vindo do inferno! Depois de recolhidos, os grãos torrados foram esmagados e fervidos em água, e esta “poção” agradou mais ainda os monges, uma vez que, além de ter um gosto bom, os deixavam mais acordados para as rezas.  
            Historicamente, as plantações de café surgiram na Arábia, chegou na Europa no século XVI, e, depois de passar pela América Central, o Brasil estava sedento por esta novidade...
            O modo com que o café chegou ao Brasil é ainda revisto por alguns historiadores brasileiros, mas, o documento oficial a respeito data de 1727, onde o Governador do Grã-Para, querendo roubar mudas de “caffe” da Guiana Francesa, incumbiu a seguinte missão ao Sargento Francisco de Mello Palheta: “...se acauzo entrar em quintal ou jardim ou rossa ahonde houver Caffee com pretexto de provar alguma fruta, verá se pode esconder algum par de graons com todo o disfarce e toda cautella”. Alguns artigos contam que Palheta trouxe “clandestinamente” o café para o Brasil, assim como lhe foi pedido, mas, segundo o relato de um antigo historiador, Palheta teria seduzido a mulher do governador da Guiana-Francesa e, assim, conseguido algumas mudas de café para o nosso país. Que belo “Dom Juan” foi Dom Palheta hein?!
            E assim o café chegou até nós, seja na pequena vila de Kaldi, ou pelos encantos de “Dom” Palheta, o fato é que o envolvente aroma do café atravessou todas as fronteiras, driblou as diferentes culturas e encanta a todos os brasileiros nos melhores momentos do dia.

REFERÊNCIAS: www.territoriocafe.com e trabalho acadêmico da Grace Barth
ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO"(BARRETOS/SP), EM 03 DE SETEMBRO DE 2010. 

OS NOSSOS 156 ANOS!


            Nesta semana Barretos completou seus 156 anos de fundação e é neste momento que os barretenses tendem a olhar ao passado e perceber quantas conjunturas históricas passaram a cidade neste um século e meio de oficial fundação. 156 anos pode parecer pouco se pensarmos em contextos históricos a níveis mundiais, mas, se refletirmos quais os contextos históricos que a micro-história de Barretos viveu paralelamente a macro-história do Brasil, veremos que fizemos parte de uma longa história junto à história paulista. Disputas por terras, concessões políticas, competições partidárias, migrações, censuras jornalísticas, estratégias de urbanização, arquiteturas condicionadas pela posição social, lutas de trabalhadores grevistas, alianças com governos ditatoriais e ao mesmo tempo revolta contra a ditadura, participação em guerras mundiais, crescimento industrial, e em contrapartida a manutenção do setor agrário; enfim, tudo isso e muito mais a cidade passou nestes 156 anos. Para os barretenses terem noção de como nossa história é densa, podemos destrinchar parte dessa história, assim, como se fossem breves pinceladas de um quadro que ainda está sendo preparado...
            A começar pela própria fundação que aconteceu no Período Imperial, onde Francisco José Barreto e sua família, sertanistas de Minas Gerais, aceitaram o desafio de abrir em picadas o norte do sertão paulista em busca de terras para viver. E assim foi o Período Imperial em Barretos, com a população caipira e religiosa da Vila do Espírito Santo dos Barreto vivendo em pequenas fazendas envoltas a Capela do Divino Espírito Santo e com alguns líderes políticos que logo migraram para cá dando vivas a “Sua Majestade”. Este quadro se transformou na transição do século XIX para o século XX, onde a República iniciou algumas mudanças na mentalidade dos habitantes da, agora, cidade de Barretos. Passamos a ter imprensa em 1900, Paço Municipal em 1907, Grêmio Literário em 1910, luz elétrica em 1911, Casa de Caridade (funcionando como hospital) em 1911, teatros em 1913, dentre outros.
            Entre inúmeros episódios, tivemos na década de 20 a “revolução” do Capitão Filogônio e a visita do escritor tão famoso da época Coelho Neto. Na década de 30, tivemos mais de dez mandatos diferentes no cargo de prefeito, e os admiradores do Presidente Getúlio Vargas o homenageava com sua fotografia colocada ao meio das salas de convenções. A década de 40 florescia com o Cine-Barretos, mas preocupava-se com os barretenses combatentes da 2ª Guerra na Itália. Os anos dourados invadiram a cidade com o “foot” em frente à fonte luminosa da Praça Francisco Barreto. Na década de 60 tinha até prefeito utilizando a “vassourinha” do Jânio Quadros como propaganda política. Neste período até os anos 80, vivemos o período ditatorial, mas coisas boas também aconteceram por aqui, como a fundação de escolas e grupos teatrais.           
            Barretenses, mesmo com tão poucas linhas, perceberam quão forte são os nossos 156 anos? Quantos mistérios ainda precisamos desvendar? Então, convido a todos a continuar fazer parte desta história, uma história que começou com um Chico Barreto e que perpetua com os seus descendentes, nós, os barretenses. Parabéns Barretos!

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO" (BARRETOS/SP), EM 27 DE AGOSTO DE 2010.

EXPOSIÇÃO “TRIBUTO A BEZERRINHA”


            O vento gelado finalmente chegou a Barretos e o clima de agosto revigora nas emoções dos habitantes do Chão Preto. Junto com os bons ventos de agosto, encontrou-se também por aqui muita inspiração e isso rendeu aos barretenses belíssimas homenagens que inauguraram a semana da Festa do Peão como um “despertar” à cultura local. Refiro-me à Exposição “Tributo a Bezerrinha” sediada pelo Museu “Ruy Menezes” que ficará exposta até o dia 29 de agosto e depois irá para as escolas.
            Foi fantástica a ideia de relembrar a trajetória de vida de um barretense tão distinto quanto foi Bezerrinha, não só pelas criativas composições musicais que retratavam tão bem Barretos, o personagem do peão de boiadeiro e muitos outros temas, bem como pelas curiosas passagens de sua biografia. Entre elas, uma parte em destaque na Exposição, foi a participação de Bezerrinha na Segunda Guerra Mundial em 1945 com o cargo de “Serviço de entretenimento de tropa”, ou seja, sua função era tocar e compor músicas aos soldados. Convenhamos, caros leitores, seu talento serviu de aconchego e até “alegria” em meio à tristeza de uma guerra mundial, então, podemos imaginar como Bezerrinha foi importante neste momento histórico.
            Outra passagem interessante da biografia do compositor barretense foi referente à música “Perfil de São Paulo”. Conta-se que o cantor Agnaldo Rayol, na década de 60, ao gravar um disco para o Presidente da República Costa e Silva pediu ao mesmo que escolhesse suas músicas preferidas, logo, a primeira resposta do Presidente foi “Perfil de São Paulo”! São muitos os casos curiosos contados por amigos e pela família de Bezerrinha, principalmente em relação aos prêmios renomados recebidos em festivais musicais e em memória da participação da 2ª Guerra Mundial, como a “Chave de São Paulo” recebida pelo prefeito da capital na época Mario Covas.
            O destaque da noite que inaugurou a Exposição foi a D. Lygia Bezerra de Menezes, esposa de Bezerrinha, e a mesma Lygia que carinhosamente o compositor marcou o nome em sua marmita quando se encontrava na 2ª Guerra Mundial. Sim, a história da marmita que tanto é contada nas monitorias do Museu e arranca suspiros das pessoas apaixonadas, veio à tona e emocionou todos os convidados. Muitos amigos e familiares estiveram presentes na ocasião para prestigiar os painéis da Exposição e a linda obra que o artista Renato Amisy pintou inspirando-se na música “Festa do Peão” popularmente conhecida como “Vento Gelado”.
            A equipe do Museu Ruy Menezes a nossa gratidão e os parabéns pela iniciativa de resgatar, mais uma vez, a memória de um barretense que ficou conhecido não só pelas passagens de sua biografia, mas por todo o contexto em que pode somar a sua vida com os longos passos da história. Aos barretenses fica a expectativa e o convite de engrenar-se neste contato cultural que nos foi oferecido e valorizar sempre o incentivo à nossa própria história.     

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO" (BARRETOS/ SP), EM 20 DE AGOSTO DE 2010.

sábado, 14 de agosto de 2010

A GRAFIA DE NOSSAS VIDAS


            Já dizia Karl Marx que o homem é o motor da história, ou seja, os fatos históricos são resultados das ações humanas em determinadas épocas e sociedades. Por outro lado, podemos notar que os fatos históricos em si também influenciam a história da vida de cada um, como se algumas passagens de nossas vidas possuíssem algo em comum com a vida das outras pessoas. Então, talvez a melhor maneira de compararmos até que ponto os fatos históricos aproximam as histórias das nossas vidas seja a produção de nossas próprias biografias; um estudo que cresce em sobressalto na historiografia brasileira.
              Ora, quem nunca recorreu às biografias quando quis entender mais sobre as obras e pensamentos de escritores, músicos, poetas e pintores? Por exemplo, para ir além das entrelinhas da obra de um determinado escritor, costumamos estudar a biografia do mesmo afim de encontrarmos pontos mais claros que revelam as suas justificativas e suas reais intenções. São os fatos decorrentes na infância, os lugares em que crescemos ou ainda o próprio momento histórico que acabam por determinar as atitudes dos homens, que, quando somadas podem até mesmo transformar a realidade de uma época. Trocando em miúdos, são nas pequenas atitudes individuais que nascem as grandes transformações.
            É interessante analisar várias biografias de uma mesma época e perceber que, por mais diferentes que sejam os acontecimentos das vidas pessoais, os fatos históricos influenciam da mesma maneira. São exemplos disso, as biografias dos cantores da MPB na década de 60 exilados do país por conta da ditadura militar; as imigrações européias em razão das péssimas condições de países abarrotados em fins das guerras mundiais; e os textos exacerbados em patriotismo em virtude do nacionalismo exaltado nos anos 30. Enfim, são inúmeros os exemplos que poderiam ser dados sobre várias épocas históricas que influenciaram e recompuseram a vida das pessoas.
            Em Barretos, no início do século XX, foi muito comum as publicações em jornais de biografias de políticos, já que este era um bom jeito da população conhecê-los melhor. Á isso, podemos acrescentar que, as biografias, isto é, os modos de escrever e transparecer os fatos da vida de uma pessoa; são também envolvidas no “clima” da própria época e devem ser sempre analisadas com olhos críticos. De fato, a biografia, se não comprometida com a verdade histórica, pode ser um instrumento perigoso de manipulação e ilusão do senso comum.
            Atualmente, as biografias são escritas de modos diferentes, demonstrando a diversidade das fases da vida, bem como os erros e os acertos, da maneira mais natural possível; sempre relacionando a história pessoal (micro) com os fatos históricos da sociedade (macro). Por fim, as biografias, tão utilizadas nas aulas de histórias de hoje, além de permitir o conhecimento mais claro das vidas pessoais, também refletem o quão parecidos social e historicamente nós, homens e mulheres, podemos ser.

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO" (BARRETOS/SP) EM 13 DE AGOSTO DE 2010.

domingo, 8 de agosto de 2010

EM AGOSTO!


            Leitores, já tiveram aquela sensação de se lembrar de algo ao sentir um cheiro ou um gosto, ouvir uma música ou ver uma cena? Essas sensações são despertadas quando nossa memória afetiva entra em ação e nos recordamos de certos momentos parecendo que estamos os revivendo novamente. Por conta disso, as vezes um singelo verso de uma música leva os pensamentos às alturas e aguça os nossos sentidos fazendo com que entremos no “clima” de um dado momento. É assim que muitos barretenses sentem um clima especial neste mês de agosto, vejam só...
            “Vento gelado batendo em meu rosto me diz que é agosto...”, o que isso nos lembra? Porque os versos de Bezerrinha nos trazem recordações tão sutis? Seja por trazer lembranças dos tempos da escola quando aprendíamos a cantar estes versos ou seja pela própria intenção da música de nos colocarmos no clima da Festa do Peão, Bezerrinha nos transpõe a uma realidade agradável em que os barretenses compartilham de sensações em comum. Estas sensações são referentes às características que formam a identidade do barretense, isto é, tudo aquilo que possuímos em comum e construímos juntos: a nossa história.
            Ora, segundo os registros da história da cidade, foi em agosto de 1854 que tudo começou! Foi neste período que a Vila do Espírito Santo dos Barreto foi fundada e desde os anos 40 do século XX os barretenses relembram esta data como feriado municipal. Por isso, a comemoração da fundação da cidade aliada a famosa Festa do Peão que anima Barretos desde os anos 50, explicam o clima que se faz presente na cidade no mês de agosto, tão especial.  
            É em agosto que a história da cidade é comentada, analisada e revista entre os próprios barretenses como uma busca pela identidade dos povos sertanistas a fim de criar entre nós um saudável sentimento de bairrismo. É em agosto que as crianças aprendem quem foram Chico Barreto e Ana Rosa, onde é o marco zero da cidade, porque o Divino Espírito Santo é o nosso patrono. E, por fim, é também em agosto que aprendemos a cantar os versos escritos por Osório Rocha, tocados por Aymoré do Brasil e descritos como o Hino de Barretos, para depois ficarem guardados em nossa memória afetiva: “Por Barretos bandeirante, desbravador do Sertão! Pela Pátria, Avante! Avante! Levantando o coração”

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO" (BARRETOS/SP), EM 06 DE AGOSTO DE 2010.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

AS LUZES, DESDE MUITO TEMPO ATRÁS...



            Caros leitores, vocês conseguem imaginar como que os nossos antepassados conseguiam viver sem energia elétrica? Certamente, a nossa imaginação vai a mil só de imaginar o cotidiano sem ter sequer a iluminação de uma lâmpada. No entanto, a falta de uma lâmpada não era motivo de impedimento para diversão, pois toda sociedade cria suas tecnologias e as adapta a sua realidade, isto é, vivem normalmente dentro de suas condições e tentam melhorá-las sempre. É como nos mostra Osório Rocha nas linhas do “Barretos de Outrora”, onde diz que no salão central do Paço Municipal (atual Museu Ruy Menezes) e nas casas dos antigos coronéis eram realizados elegantes bailes às luzes dos candeeiros. Outra menção às condições de iluminação do início do século XX em Barretos é encontrada no jornal “O Sertanejo”, no qual exibia anúncios de teatros que destacavam a iluminação à “gás acetileno”. Ou seja, a cada tecnologia que surgia era vigente também o entusiasmo da população e a estratégia dos estabelecimentos culturais em destacar tal “novidade”. E a cada época da história da humanidade nascia uma diferente e avançada forma de iluminação, desde muito tempo atrás...
            Na Pré-História, os hominídeos tacavam fogo em um punhado de madeira e faziam fogueiras distribuídas nos espaços entre suas cabanas. Com o passar dos tempos e dos costumes, as fogueiras foram substituídas pelo archote (tocha de fogo feita de fibra, carvão e brasas grudadas em chifres), já que era necessário a mobilização da tocha para os homens adentrarem as florestas a noite.
            As velas foram aparecer somente na Idade Antiga, no Egito, e depois surgiram as lamparinas à base de óleo. No início, as velas eram produzidas com mistura de banhas de animal e fios vegetais, porém, o odor que exalavam não era nada agradável. Foi então que, os homens da Antigüidade descobriram maneiras de produzir velas com cera de abelha, um produto caro e de difícil produção, porém, exalava um cheiro bom ao queimar. Somente na Grécia Antiga que se passou a utilizar velas em festas comemorativas e homenagens à deusa Ártemis. Já a tradição de apagar a velhinha nos aniversários se iniciou na Alemanha, ainda na Idade Média. A partir do século XIX, com a extração do petróleo, as tecnologias voltadas para a eletricidade se tornaram mais avançadas e as velas, agora feitas de parafinas e com custos mais baratos, também passaram a ter diversos tipos de cores, duração e cheiro.    
            Logo, notamos que os processos utilizados para a iluminação dos ambientes em vários períodos históricos, caminharam junto com as necessidades de cada época e foram úteis o suficiente para criar outro e outro e outro... Agora, só nos resta a valorização de todos esses caminhos percorridos na história da humanidade a fim de nos conscientizarmos diante o desperdício de energia elétrica e o incentivo à criação de novas formas de reaproveitamento, afinal a nossa realidade precisa disso.


REFERÊNCIAS: Revista “Aventuras na História”, ago/2010, p. 24. 

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO" (BARRETOS/SP) EM 30 DE JULHO DE 2010.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

SEJAMOS CONTADORES DE HISTÓRIAS!


“Nem toda palavra é aquilo que o dicionário diz...”
(Música: “Sonho de uma flauta”, O Teatro Mágico)

            Nesta semana, o Museu Histórico, Artístico e Folclórico “Ruy Menezes”, Departamento Municipal de Cultura, ofereceu a oficina “Técnicas para Contadores de Histórias: lendas locais” ministrada pela educadora e atriz e arte educadora Poliana Savegnago da Silva. As atividades serviram para ressaltar a importância cultural dos contadores de histórias e aprimorar algumas técnicas que permitem o encantamento das crianças e também o público adulto. Caros leitores, vocês se lembram das histórias que lhes eram contadas quando crianças? Porque será que elas se prendem tanto em nossas memórias?
            As respostas mais próximas a estas perguntas baseiam-se no “encantamento” entre o contador e o ouvinte da história, já que o papel do ouvinte é muito importante no momento do conto, pois, quem sabe ouvir também sabe contar. Isto é, todas as pessoas são contadoras de histórias, sejam histórias do dia-a-dia ou contos infantis e históricos; o fato é que, muitas vezes, contamos histórias que ouvimos de outras pessoas e ao recontar novamente fazemos ao nosso modo. Em outras palavras, já dizia o ditado: “Quem conta um conto aumenta um ponto” e no final a história pode sair muito diferente da inicial.
            Nesse sentido, a individualidade humana atua constantemente no momento da “contação” de histórias, uma vez que cada um conta a sua maneira. Mas, para que haja a reciprocidade entre o contador e o ouvinte, é necessário o conhecimento do contador diante à história contada, ou seja, ter as noções básicas da introdução, do clímax e do desfecho da história. Além disso, a pessoa que conta uma história utiliza de estruturas (ferramentas) que podem ser objetos, músicas, brincadeiras ou livros e a apresentação desta história também deve ser previamente estudada pelo contador. Por exemplo, a história pode ser apresentada na forma tradicional dos contos ou através de teatros, danças e outras formas de brincadeiras.
            Paralelo a isto, o “contar histórias” pode ser utilizado também na sala de aula de História através da ferramenta do livro-didático. Imaginem o professor como o contador de histórias e intermediário entre o livro e o aluno, o livro-didático como a linha de costura entre ambos e o aluno como ouvidor e “re-contador” das histórias. Trocando em miúdos, de acordo com a respectiva faixa etária dos alunos, é possível que uma disciplina científica como a História seja transmitida em forma de “contação de histórias”, sendo necessário somente o estudo prévio da história contada, a apresentação dos argumentos diante o livro didático e uma pitada de lúdico para promover o encantamento e o desejo de “re-contar” a história. Afinal, é através do desejo de “re-contar” a história que ela fica sempre presente em nossa memória, resistente.
           
ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO" (BARRETOS/SP), EM 23 DE JULHO DE 2010.