sábado, 27 de novembro de 2010

MODERNIDADE?


            Caro leitor, você acha que vivemos numa sociedade altamente moderna? Sem se comprometer com grandes teorias de especialistas, poderíamos imaginar que modernidade é quando uma dada sociedade passa a vivenciar um novo momento por conta de evoluções tecnológicas, as quais, além de transformar a vida de um povo, também quebram parte das tradições e costumes antigos. Como a tecnologia esta sempre evoluindo, poderíamos pensar que a nossa sociedade é a mais moderna, certo? Errado! Na realidade, ao longo da história da humanidade, todas as sociedades passaram por transformações e todas elas viveram com o melhor que podiam de acordo com as condições das tecnologias de suas épocas. Por isso, todas as épocas tiveram aquilo que consideravam como “atrasado” e como “moderno”. Este cenário é visível até mesmo em Barretos, uma vez que passamos por épocas diferentes no que diz respeito à tecnologia, aos modos de vida, a habitação, aos serviços públicos, dentre outros.
            Em certo artigo, ainda com seu pseudônimo de Caa-Ubi, Osório Rocha narrou sua chegada a Barretos e, no início, não gostou tanto do pequeno arraial, pois, como ele mesmo narrou: “Não sei como é que você agüenta isso! Que atraso! Ruas esbura]cadas e poeirentas, ceras de tabuas, escuridão, falta de banda de música, de banheiro e de engraxate! Eu não quero ficar aqui!”. Mas, ficou, e para sempre. Ele mesmo disse que “com o tempo a gente vai se acostumando, e depois não quer mais ir-se embora”. Além disso, tempos depois, ele foi o maior defensor do patrimônio histórico da cidade, criticando as construções modernas “no coração da cidade”.
            O fato é que tudo o que Osório disse que não tinha na época em que ele chegou aos poucos foi tomando cores, pois, Barretos se adaptava às condições de cada contexto histórico e todas as novidades que surgiam era motivo de glória. Por exemplo, a iluminação só chegou em 1911, mas as propagandas de jornais exaltavam a iluminação dos teatros à gás acetileno, que, na época, era o que mais tinha de moderno. Já na década de 40, o Cine-Barretos valorizava em sua propaganda o ar-condicionado do cinema, tão exuberante para a época. E assim fomos caminhando, até que na década de 60, a palavra da vez era “progresso” e as propagandas das máquinas agrícolas, redes de combustíveis, veículos automotores foram tomando conta do cenário “moderno”.
            Como disse Urbano F. Canôas, em outro artigo, “a pavimentação e o asfalto alijaram a poeira e a lama, dando à cidade o seu aspecto de limpeza e civilização”. O interessante de tudo isso, é que já no começo do século XX, quando a cidade ainda vivia sob poeira e lama, a mais notória mudança já era tida como um “aspecto de civilização”. Em outras palavras, todas as épocas consideravam suas mudanças, e conseqüentemente o rompimento com o passado “atrasado”, como algo “moderno” e honroso.
            Por fim, percebemos que pensar em modernidade é algo relativo, já que cada “evolução” aconteceu com as condições devidamente apropriadas a cada época. Logo, cada mudança foi suficientemente importante para promover outras, outras e outras...

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO", BARRETOS/SP, EM 22 DE OUTUBRO DE 2010.

Nenhum comentário: