quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

MUSEUS E CULTURA: O QUE ESPERAR?


ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" EM 25 DE DEZEMBRO DE 2018 (página 2) PELA PROFª KARLA ARMANI 
    

            2018, ano tenso, polêmico e desafiador para o Brasil, principalmente devido as eleições. A qualquer custo, polêmicas e debates foram levantados nas redes sociais, fosse entre especialistas ou simples opinantes. Tudo era motivo de discussão: partido político, poder judiciário, Congresso Nacional, corrupção, greve dos caminhoneiros, merenda escolar, emigração venezuelana, etc. Enfim, tudo. (Ou melhor, quase tudo).
Incêndio no Museu Nacional no dia 2 de setembro de 2018
(Fotografia do site do jornal "El País")
            Pouco se falou sobre “cultura”. E dentro deste pouco, a generalização foi dada à “Lei Rouanet”. Entre posts mais polêmicos, o que se via eram comentários sobre fraudes e corrupções nesta lei, além de ataques violentos à classe artística (como se fossem eles os culpados). Como se a Lei Rouanet fosse o único problema e assunto exclusivo na pasta da “Cultura”. Pouco (ou nada) se viu ou se falou sobre literatura, cinema, teatro, dança, artes plásticas e as outras tantas linguagens culturais. Menos ainda sobre museus, arquivos e história. (Somente no trágico incêndio do Museu Nacional no Rio de Janeiro).
            Pelo menos naquele momento, o tenebroso incêndio no Museu Nacional talvez tenha levantado questionamentos na imprensa sobre a real situação dos museus no Brasil. Mas isso não foi o suficiente, pois segurança e estrutura não são os únicos problemas que os “templos históricos” enfrentam. É só olhar para nossa região – o interior paulista – e observar quantos museus estão fechados ou funcionando inadequadamente: com quadro reduzido de funcionários (alguns sem qualificação), sem limpeza e higienização, sem reserva técnica, sem estrutura de arquivo e com horários limitados de atendimento (isso quando os telefones funcionam), sem projetos educacionais e digitalização de acervo.
            Se os governos municipais, muitos esgotados em dívidas, não conseguem melhorar tal situação, o governo estadual tão pouco. Agora, com a possível extinção do Ministério da Cultura, a dúvida é: o que esperar de melhora neste setor no Brasil? Somente a esperança de que as pessoas e os governantes entendam que cultura também alimenta. Nutre. Educa. Não só o cérebro; assim como a economia.
          
Link da publicação no jornal O Diário:
http://www.odiarioonline.com.br/noticia/80406/MUSEUS-E-CULTURA-O-QUE-ESPERAR

sábado, 22 de dezembro de 2018

RELÓGIO DA MATRIZ: O REGULADOR PÚBLICO

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" EM 19 DE DEZEMBRO DE 2018 (página 2) PELA PROFª KARLA ARMANI 


Praça da Matriz nos anos 1920, quando o relógio ainda 
não existia na torre da matriz.
(Fonte: Arquivo do Museu "Ruy Menezes")
 “Hoje as nossas ruas, posto que não sejam calçadas, estão regularmente decentes: vemos os largos principaes – da Republica e Matriz, symetricamente arborizados com abundancia d’agua [...]. Entretanto, força é confessar, ressentimos ainda dum melhoramento, que é inadiável [...]. Referimo-nos a um bom Regulador Público, que, como em toda a communhão  social, se encontra no fontisfício da egreja principal”.
(“O Sertanejo”, 4 de outubro de 1906, p. 2).

            Era o ano de 1906 quando o jornal “O Sertanejo”, com edição de Mário de Oliveira e redação de Elias Pimenta, publicou esta reportagem vislumbrando a instalação de um relógio na torre da matriz de Barretos; hoje catedral. “Inadiável”, segundo seus dizeres. Mal sabiam eles, que tal “melhoramento” demoraria vinte anos para acontecer. Já que fotografias e a obra “Coração de Barretos” (J. P. Lombardi), deixam claro que o relógio só foi instalado numa das torres da igreja entre 1926 a 1928. 20 anos depois!

            Mais do que a demora da instalação do relógio em relação ao texto de 1906, o intrigante é como o mesmo era tido como necessário: “Um regulador publico no centro duma cidade, é o thermometro que encaminha os operários para a atividade do trabalho. Não é tudo: marca as horas das refeições, ensina o espaço de tempo prescripto pelo medico para um pobre que não tem relógio dar remédio a um doente; guia o roceiro da hora em que chegou a cidade e o orienta daquela em que deve regressar a seu lar”, p. 2.

Matriz de Barretos com o relógio Michellini já instalado.
(Fonte: Arquivo do Museu "Ruy Menezes").
            Naquela época, Barretos não tinha energia elétrica, nem estação ferroviária, o paço municipal ainda estava em construção e o serviço de água era deveras polêmico. Por outro lado, a pecuária fazia girar o comércio, médicos, professores e advogados já se viam por aqui, assim como casas comerciais e instituições de diversas naturezas. E, por isso, o belo relógio Michelini ali instalado na década de 20 não representava tão somente a passagem das horas e o badalar do sino; era ele o símbolo do tempo da “urbanidade”, o anúncio de “civilização” para aquela cidade que se “despia de suas vestes sertanejas”

Fonte:
O SERTANEJO, jornal hebdomadário de Barretos, ano 1906. Arquivo do Museu "Ruy Menezes".

Link da publicação no jornal "O Diário": 
http://www.odiarioonline.com.br/noticia/80250/RELOGIO-DA-MATRIZ-O-REGULADOR-PUBLICO

terça-feira, 11 de dezembro de 2018

VALDOMIRO SILVEIRA, O CONTISTA REGIONAL (PARTE II)

ARTIGO PUBLICADO PELA PROFª KARLA O. ARMANI NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" EM 11 DE DEZEMBRO DE 2018, PÁGINA 2.


            O primeiro conto do regionalista Valdomiro Silveira foi publicado num jornal de Casa Branca, aos 14 anos. Somente em 1920, publicou seu primeiro livro “Os Caboclos”; seguido por “Nas Serras e nas Furnas” (1931), “Mixuangos” (1937) e “Leréias: histórias contadas por eles mesmos” (1945, obra póstuma). Conforme seus contemporâneos, parte dos contos era publicada em jornais do interior. O nosso “O Sertanejo” foi um deles, já que não só de política tratava o jornal barretense, literatura era também constante por ali.
            Em 1903, quando fazia somente dois meses que a direção do jornal “O Sertanejo” tinha sido transferida do Cel. Silvestre de Lima para o dr. Antônio Olympio (ambos republicanos, mas com posições e lideranças diferentes), os contos de Valdomiro começaram a ser reproduzidos no jornal. Nos meses de maio e agosto, o jornal “O Sertanejo” publicou os contos “Ao correr das águas”, “Com deus e as almas” e “Truque”.
            Não há como não ler seus contos no jornal, visto a linguagem ser tão fidedigna às expressões da época. Chama a atenção. É envolvente a leitura. Nos três contos, os narradores são de alguma maneira relacionados ao passado, os personagens pertencentes ao mundo rural e caipira, e o cenário relacionado à natureza, rios, ribanceiras, matas, pousos e estradas. O conto “Com deus e as almas”, por exemplo, é tão real ao falar dos tropeiros, que chega a citar pousos em cidades, distritos e fazendas perto de nossa cidade, como “Franca”, “Olhos D’Agua” e “Estiva”. Esta habilidade em reproduzir a fala e o universo do caipira, segundo uma obra da filha de Valdomiro – Júnia Silveira Gonçalves – foi adquirida em anotações que seu pai fazia em festas populares e quermesses, as quais participava enquanto vivia no interior de São Paulo, quando fora promotor público.
O fato de reproduzir a oralidade caipira de forma literária, tornou-a passível de estudo e cientificidade. Criou uma memória caipira original, pertencente a identidade regionalista de São Paulo, e ao mesmo tempo, verteu o olhar para o caipira sem estigma. Eternizou a oralidade caipira para o futuro. E cá estamos, estudando-a. [fim].

Fontes:
O SERTANEJO, periódico hebdomadário de Barretos. Edições entre maio a agosto de 1903. Acervo do Museu "Ruy Menezes".

Link da publicação no jornal "O Diário":
http://www.odiarioonline.com.br/noticia/80041/VALDOMIRO-SILVEIRA-O-CONTISTA-REGIONAL-PARTE-II

quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

VALDOMIRO SILVEIRA, O CONTISTA REGIONAL (PARTE I)

ARTIGO PUBLICADO PELA PROFª KARLA O. ARMANI NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" EM 05 DE DEZEMBRO DE 2018


Valdomiro Silveira
(foto do site "uol")
            Republicano e partidário, “O Sertanejo” - primeiro jornal de Barretos -, nascia no ano de 1900 como uma folha que noticiava, sobretudo, política; os sonhos e as desilusões da jovem República que se anunciava no Brasil desde 1889. Entre algumas notas sociais sobre eventos, viagens, nascimentos, casamentos, funerais, quermesses e visitantes ilustres, vez ou outra, o jornal publicava alguns folhetins literários.
            Dentre os literatos ali citados, um desperta a atenção por sua particularidade: a linguagem caipira. Sua escrita reproduzia a oralidade do caipira, junto com seus personagens e o universo rural. Chamava-se Valdomiro Silveira. Ao pesquisar o nome de tal contista na atualidade, é notada a grandeza de seu trabalho literário ao legado paulista.
            Nascido em Cachoeira Paulista, em 1873, Valdomiro passou sua infância no interior, mas formou-se em 1895 em Direito na Faculdade do Largo São Francisco na capital, conforme a maioria dos intelectuais letrados da época. Conta a historiadora Célia R. da Silveira, em seu mestrado (1997), que ao cursar a faculdade, o distanciamento do mundo rural permitiu que o contista passasse a enxerga-lo com nostalgia e sentimento. Características ímpares de sua literatura. Aliás, Silveira pertencia a uma geração de autores nacionalistas – literatos, historiadores e antropólogos – que escrevia a fim de elaborar uma identidade cultural ao paulista. Identidade esta, a qual em tempos remotos era associada aos “heróis bandeirantes”, mas que naquele alvorecer do século XX, tendia a outro personagem igualmente rural e desbravador da natureza: o caipira.
            Contudo, de todos os autores, Valdomiro Silveira se diferenciava por colocar o “caipira” como personagem autêntico, com feição de brasilidade. Isso não se evidenciava somente pela descrição da fala original caipira, mas também pela recriação poética do universo rural; que naquele período tornava-se “obscuro” pelos traços iniciais da economia de mercado e urbanização. Era assim que, em seus contos, Valdomiro evidenciava o passado como um tempo melhor que o presente. [continua].

Fontes e bibliografia:
O SERTANEJO, periódico de Barretos. Edições de 3/5/1903, 17/5/1903 e 23/8/1903. Acervo do Museu "Ruy Menezes".
JORNAL O LINCE (site). Artigo: SILVEIRA, Célia Regina. "A epopeia caipira em Valdomiro Silveira". 

Link no site do jornal "O Diário": 
http://www.odiarioonline.com.br/noticia/79868/VALDOMIRO-SILVEIRA-O-CONTISTA-REGIONAL-PARTE-I

quinta-feira, 29 de novembro de 2018

BARRETOS E ANÁLIA FRANCO (PARTE V)

PELA PROFª ESP. KARLA ARMANI MEDEIROS, EM 28 DE NOVEMBRO DE 2018, NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS", PÁGINA 2
Asilo Creche de Anália Franco em Barretos
 entre as décadas de 1910 e 1920
Fonte: MONTEIRO, E. C., 2004, p. 102.

 
 Segundo uma fonte isolada, (um bilhetinho guardado na urna de lançamento da pedra fundamental da Santa Casa, em 1918, assinado pela diretora Maria José d’Oliveira), o “Asilo-Creche Anália Franco” de Barretos fora inaugurado em 13 de novembro de 1916. Tratava-se este de uma filial da “Associação Feminina Beneficente e Instrutiva do Estado de São Paulo”, presidida pela educadora Anália Franco, direcionada ao público feminino em educação, assistência e cultura.
            Barretos foi uma das cidades interioranas que teve a chance de instalar um desses modelos educativos e filantrópicos criados por D. Anália. A diretora Maria José, era uma das professoras e fiscais de confiança de Anália. Fora instituída para dirigir a filial de Barretos, mas já havia trabalhado com ela antes, em 1905, como professora no Liceu, na Escola dos Analfabetos, na Escola dos Comerciantes na capital e diretora de escola rural.
            O Asilo-Creche dirigido por D. Maria José tinha a presidência de João Machado de Barros (o qual já vimos ter protegido as ações de D. Anália na cidade, assim como Francisco Honorato e Raymundo Mariano Dias - espíritas). Inicialmente, o instituto fora abrigado nas dependências do Teatro Santo Antônio (esquina da rua 20 com a avenida 17). Entretanto, por intermédio do presidente, foi transferido em prédio próprio; na casa da rua 6 com a avenida 19. Naquele ano de 1916, o Asilo-Creche já abrigava uma das maiores quantidades de assistidos da rede interiorana, com um total de 87 beneficiados internos e externos, entre meninas, órfãs, viúvas e alguns poucos meninos.
Em 1919, aos 66 anos, D. Anália Emília Franco Bastos, falece em São Paulo e o Asilo-Creche de Barretos continua a ser dirigido por D. Maria José e demais diretoras. Até que, em 1934, com muitas dificuldades financeiras e estruturais, o mesmo foi entregue à instituição católica que o abrigou transformando-o no Educandário Sagrados Corações, que até hoje trabalha com crianças no mesmo local do antigo asilo-creche de Anália Franco. [fim].

Bibliografia básica e fontes: 
MONTEIRO, Eduardo Carvalho. Anália Franco: a grande dama da educação brasileira. São Paulo: Madras, 2004.
ROCHA, Osório. Barretos de Outrora. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1954.
ROCHA, Osório (in memorian)Reminiscências, volume II. Ribeirão Preto: Cori Editora, 199(?).
Arquivo da Santa Casa de Misericórdia de Barretos - documentos históricos.

Link do artigo no jornal O Diário: 
http://www.odiarioonline.com.br/noticia/79670/BARRETOS-E-ANALIA-FRANCO-PARTE-V-


terça-feira, 20 de novembro de 2018

BARRETOS E ANÁLIA FRANCO (PARTE IV)

PELA PROFª ESP. KARLA ARMANI MEDEIROS, EM 20 DE NOVEMBRO DE 2018, NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS", PÁGINA 2
          
 Era o ano de 1914 quando Anália Franco visitou nossa cidade, acompanhada da banda musical e grupo teatral da sua “Associação Feminina Beneficente e Instrutiva de São Paulo”. Osório Rocha, nosso memorialista e jornalista, em suas “Reminiscências” relata que fora nomeado membro do Conselho Diretor do Asilo que esta educadora pretendia abrir na cidade. Anália, suas assistidas e os grupos artísticos da Associação Feminina tiveram espaço de apresentação no Teatro Santo Antônio, situação em que ela fora homenageada.
Loja Maçônica "Fraternidade Paulista", década de 1920.
(Fonte: Jornal "Barretos Memórias", ago/1988, p.4,
acervo Museu "Ruy Menezes").
            Contudo, a instalação do “Asilo-Creche” (uma das instituições modelos da Associação presidida por Anália) não foi tão facilmente empreendida em Barretos. Visto ser Anália Franco uma senhora assumidamente espírita, mas de bandeira laica na instituição. Naquela época, adeptos do espiritismo não eram bem aceitos na sociedade por conta do domínio católico, das práticas espirituais associadas a “misticismos”, da aproximação com instituições secretas como a maçonaria e do apego ao cientificismo.
João Machado de Barros,
prefeito de Barretos entre 1914 a 1917.
(Fonte: galeria de prefeitos
do Museu "Ruy Menezes")
Osório Rocha, descreve as dificuldades de Anália em nossa cidade naquele ano de 1914: “As associações católicas mostram-se muito contrariadas e lançam boletins de protesto contra D. Anália Franco, que chegara com o propósito de abrir, como abriu, um asilo” (Barretos de Outrora, p. 285). Enaltece ainda, o apoio que a mesma recebeu do Sr. João Machado de Barros (prefeito da cidade e republicano), que “protegeu D. Anália e conseguiu boas instalações numa casa à esquina da rua 6 com a avenida 19” (Reminiscências, vol. 2, p. 11). O apoio da Loja Maçônica “Fraternidade Paulista” à D. Anália Franco, assim como da Sociedade Espírita “25 de Dezembro”, foi também essencial; conforme estudo biográfico sobre a educadora.
Com esta guarida e espaço para apresentação de suas ideias, mesmo com resistência, Anália Franco, com seus 63 anos, instala uma filial do “Asilo-Creche” em Barretos. Vamos conhecer mais sobre ele? [continua].

Bibliografia básica e fontes: 

MONTEIRO, Eduardo Carvalho. Anália Franco: a grande dama da educação brasileira. São Paulo: Madras, 2004.
ROCHA, Osório. Barretos de Outrora. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1954.
ROCHA, Osório (in memorian). Reminiscências, volume II. Ribeirão Preto: Cori Editora, 199(?).
ROCHA, Osório (in memorian). Esboços, volume I. Ribeirão Preto: Cori Editora, 199(?).
A VOZ MATERNAL, periódico oficial da Associação Feminina Beneficente e Instrutiva do Estado de São Paulo, 1903-1905. Acervo do Arquivo do Estado de São Paulo.

Link do artigo no jornal O Diário: 
http://www.odiarioonline.com.br/noticia/79446/BARRETOS-E-ANALIA-FRANCO-PARTE-IV

quinta-feira, 15 de novembro de 2018

BARRETOS E ANÁLIA FRANCO (PARTE III)

PELA PROFª ESP. KARLA ARMANI MEDEIROS, EM 13 DE NOVEMBRO DE 2018, NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS", PÁGINA 2

Dr. Raymundo Mariano Dias,
líder espírita em Barretos.
(Foto do jornal "Correio de Barretos"
1942, Acervo Museu "Ruy Menezes")
O nosso jornal “O Sertanejo” fora usado como veículo de propaganda das obras da “Associação Feminina Beneficente e Instrutiva do Estado de São Paulo” (1901), presidida pela educadora Anália Franco e direcionada às órfãs e mulheres do estado e no interior. Exemplo que demonstra o quanto as ações educativas de Anália Franco foram, de certo modo, acolhidas em Barretos. Afinal, em 1907, por intermédio de Francisco Honorato – político local e fundador da Sociedade Espírita “25 de Dezembro” (1906), chegou a ser fundada na cidade uma sede da “Escola Maternal” da Associação Feminina.
Todavia, sabemos que a Educação não era a única bandeira de Anália Franco. Ela defendia abertamente os princípios da República, e isso era um dos fatores que a tornava bem aceita em vários municípios. O que não se podia dizer o mesmo em relação à religião por ela professada, o espiritismo - ainda não tão aceito. Anália sofrera perseguições. Aliás, pelo próprio exemplo de Barretos, enxergamos nas ações dos membros da Sociedade Espírita (Honora
Francisco Honorato, líder espírita e membro
forense de Barretos. (Foto revista O Malho,
15/7/1911, acervo da Biblioteca Nacional do RJ)
to e R. Mariano Dias), a proteção necessária à educadora para a propagação da educação feminina e a instalação de suas unidades de ensino na cidade.
Apesar do conteúdo caritativo e religioso da Associação Feminina, Anália em suas publicações de jornais, revistas e livros, caracterizava-a como uma instituição laica de ensino às mulheres; por entender a necessidade da laicidade dentro da Educação. Tratava-se de uma mulher culta, versada em leitura pedagógica, inspirada em teorias humanísticas e de grandes pedagogos - como o suíço Pestalozzi (1746-1827). Portanto, Anália Franco fora aquém da prática de ensino, ao produzir (ela mesma) os manuais para professoras, livros didáticos, contos infantis e todo tipo de material pedagógico da instituição.
Em seus textos, percebe-se a presença do conceito de “educação moral”, uma mistura de sólidas bases pedagógicas com um véu religioso/moral, mas sem crença definida, cujo objetivo era instruir e assistir à população feminina tão vulnerável em várias faixas etárias. O que de fato conseguiu, pelo menos até 1919, ano de sua morte. [continua].

Bibliografia básica e fontes: 

MONTEIRO, Eduardo Carvalho. Anália Franco: a grande dama da educação brasileira. São Paulo: Madras, 2004.
O SERTANEJO, periódico hebdomadário de Barretos, 1903. Acervo do Museu "Ruy Menezes".
CORREIO DE BARRETOS, periódico de Barretos, 1942. Acervo do Museu "Ruy Menezes".
A VOZ MATERNAL, periódico oficial da Associação Feminina Beneficente e Instrutiva do Estado de São Paulo, 1903-1905. Acervo do Arquivo do Estado de São Paulo.
O MALHO, periódico do Rio de Janeiro - ano X, 15/7/1911. Acervo da Biblioteca Nacional. 

Link da publicação no Jornal O Diário:
http://www.odiarioonline.com.br/noticia/79257/BARRETOS-E-ANALIA-FRANCO-PARTE-III



terça-feira, 6 de novembro de 2018

BARRETOS E ANÁLIA FRANCO (PARTE II)

PELA PROFª ESP. KARLA ARMANI MEDEIROS, EM 06 DE NOVEMBRO DE 2018, NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS", PÁGINA 2
          
1ª ed. de "A Voz Maternal" de 1/12/1903
da Associação Feminina Beneficente e Instrutiva de SP
(Fonte: Arquivo do Est. de SP)
 
  Em citações de livros memorialistas de várias cidades ou textos acadêmicos, a educadora Anália Franco é estudada na história regional por uma razão especial: ter sido a responsável pelo estabelecimento de uma centena de instituições de ensino fundadas pela “Associação Feminina Beneficente e Instrutiva de São Paulo” (1901). Voltada ao público de meninas, órfãs, mulheres desvalidas e viúvas, tal Associação era mantida por subvenções municipais e do estado, além de doações particulares e fundos angariados por campanhas, quermesses e apresentações de seus grupos musicais e teatrais.
Iniciadas em São Paulo, as obras da Associação Feminina se estenderam para o interior, onde atuavam de forma paralela à educação do estado e dos municípios – sistemas ainda pouco efetivos; principalmente às meninas. Em alguns casos, era notável que as próprias autoridades municipais reivindicassem uma unidade de ensino da Associação em troca de infra-estrutura. Situação que geralmente acontecia naquelas povoações já guarnecidas por vias férreas, para facilitar a fiscalização da presidente e suas “professoras-fiscais”. Estas, eram formadas como professoras pelos Liceus da própria Associação, e depois algumas se tornavam as futuras diretoras das instituições no interior.
"O Sertanejo" de 6/12/1903
 anunciando a leitura de
"A Voz Maternal".
(Fonte: Museu "Ruy Menezes")
O contato de Anália Franco com os municípios, muitas vezes, se dava pelo envio de cartas e circulares às redações dos jornais interioranos. Além do intermédio dos centros espíritas (religião de Anália) e da maçonaria (interessada na instrução pública, apesar do conservadorismo feminino). Exemplo assim foi verificado em Barretos através do jornal “O Sertanejo”, que, além de anunciar a leitura do jornal “A Voz Maternal” da Academia Feminina, ainda publicava circulares abrindo subscrições para doações pessoais à causa das instituições da Profª Anália. Sobre isso, o resulto foi positivo, tendo como exemplo a reprodução de uma carta da presidente ao redator Dr. Pedro Licínio agradecendo a vultuosa doação por “compreender que os órfãozinhos morreriam na miséria se a caridade dos bons não lhes abrisse as áureas azas” (14/8/1904, p. 3). [continua].

quarta-feira, 31 de outubro de 2018

BARRETOS E ANÁLIA FRANCO (PARTE I)

PELA PROFª ESP. KARLA ARMANI MEDEIROS, EM 31 DE OUTUBRO DE 2018, NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS", PÁGINA 2
 
Anália Emília Franco Bastos (1853-1919)
Foto da capa do livro "Anália Franco: a grande dama da
educação brasileira" de Eduardo Carvalho Monteiro (2004).
“É para admirar o altruísmo de D. Anália Franco!... Não desanima! Superando barreiras, calcando obstáculos, caminha sempre firme, modesta, serena, espalhando benefícios [...]. Deus que a proteja... (Angélica Sophocle, O Sertanejo, 10/5/1903, p1).

            É de se admirar as palavras estimadas a uma das maiores educadoras do país, sra. Anália Emília Franco Bastos, no primeiro jornal de nossa cidade. Exemplo que demonstra a ligação desta professora e pedagoga com a história de nossa cidade, a qual se inicia nas páginas de O Sertanejo, se estende pela década de 1910 e a faz tornar-se patronesse de uma de nossas escolas municipais. Vamos conhecer essa relação numa série de artigos?!
            Anália Franco (*Rezende-RJ, 1/2/1853 / +São Paulo-SP, 20/1/1919) é considerada por estudiosos como pioneira na instrução pública feminina, partindo não só para a educação de meninas e órfãs, mas para o acolhimento de mulheres desvalidas e viúvas. Desde o final do século XIX, praticou no estado de SP um trabalho envolvendo Educação, Assistência Social e Cultura voltada às mulheres na capital e interior.
            Filha de mãe professora, formada Normalista em 1875 na capital, Anália Franco tão logo tornou-se professora pública e fundadora da Revista “Álbum das Meninas” (1898). Neste periódico, dedicou-se a escrever sobre a necessidade da educação voltada às mulheres, como meio de erradicar o analfabetismo e promover oportunidades de trabalho contra a pobreza e a favor da emancipação para aquelas que assim optassem. Um trabalho feminista, de cunho caritativo e religioso (espírita), em pleno século XIX e XX.
            Em 1901, junto a senhoras em São Paulo, Anália funda a “Associação Feminina Beneficente e Instrutiva de São Paulo”. Instituição pela qual são criadas 110 unidades de ensino, entre escolas maternais, liceus, escola primária, escola profissionalizante, asilos-creches, colônias educadoras, etc. Sendo os Liceus, responsáveis pela formação das professoras dentro dos métodos pedagógicos da Associação Feminina para numa rede educativa atuarem em todo estado – incluindo a nossa Barretos. [continua].

Bibliografia básica: 
MONTEIRO, Eduardo Carvalho. Anália Franco: a grande dama da educação brasileira. São Paulo: Madras, 2004.
ROCHA, Osório. Barretos de Outrora. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1954.
O SERTANEJO, periódico hebdomadário de Barretos, 1903. Acervo do Museu "Ruy Menezes".


quinta-feira, 25 de outubro de 2018

PELA EDUCAÇÃO (PARTE II)

PELA PROFª ESP. KARLA ARMANI MEDEIROS, EM 24 DE OUTUBRO DE 2018, NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS", PÁGINA 2


Capa do Álbum "Centuria de Honra" de 1930 -
Acervo do Museu "Ruy Menezes"

     Nos arquivos do Museu “Ruy Menezes” moram diversas relíquias que compõem a história da cidade. Isoladas, elas não fazem sentido, mas quando estudadas e contextualizadas, são capazes de eternizar importantes momentos do passado da cidade. Dentre tais relíquias, um álbum pequeno, de folhas já bem amareladas, intitulado “Álbum da Centúria de Honra da Sociedade Escolas de Barretos: traços rápidos de algumas senhorinhas barretenses” - sob o pseudônimo de Cáa-Ubi” - nota-se como um ícone sobre o assunto que abordamos na semana passada: a fundação do “Ginásio Municipal de Barretos”, o primeiro curso secundário gratuito da cidade. Uma revolução aos jovens que, aqui, só podiam concluir seus estudos gratuitamente no primário (pelo menos até 1931).
     Esse pequeno álbum foi um exemplo das várias atitudes tomadas pelo dr. Osório Rocha e seus parceiros da “Sociedade Escolas de Barretos” afim de conseguirem meios para seus objetivos. Ele reunia cem perfis em versos de moças da cidade, individualmente compostos por este advogado e jornalista, que tinha também como paixão o ensino. Foi por esses e outros esforços de seus aliados, que a “S.E.B”, em 1931, conseguiu lutar contra certas convenções e comodismos e instalar o “Ginásio Municipal de Barretos”.

     Por intermédio do Prof Augusto Reis Neves, Osório e seus aliados conseguiram abrir o “Ginásio Municipal de Barretos”. Com a primeira turma formada em 1933, o ginásio funcionava nas dependências do Hotel Fellini. Em 1947, o Ginásio Municipal foi encampado pelo governo do estado e passou a ter como sede o prédio na esquina da rua 20 com a avenida 27. No ano seguinte, integrou-se a ele a Escola Normal. Em 1952, foi autorizado o curso científico, tornando-se colégio, com o nome “Colégio Estadual e Escola Normal Mário Vieira Marcondes”. Anos mais tarde passa a ser “Instituto de Educação” e hoje “Escola Estadual Mário Vieira Marcondes”.


(Fontes: “Reminiscências” – volume 2 de Osório Rocha e “Álbum Comemorativo do 1º Centenário da Fundação de Barretos” de 1954).

quinta-feira, 18 de outubro de 2018

PELA EDUCAÇÃO (PARTE I)

PELA PROFª ESP. KARLA ARMANI MEDEIROS, EM 17 DE OUTUBRO DE 2018, NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS", PÁGINA 2


Ginásio Municipal de Barretos na década de 40
(Fonte: "Correio de Barretos" 4-11-1943, p.2 -
acervo Museu "Ruy Menezes")

Dr. Osório F. Rocha
(Fonte: "Correio de Barretos, 5/1/1947, p. 1)
Acervo Museu "Ruy Menezes")
     Mais um “15 de outubro” se passou e diversas homenagens foram rendidas a professores de todo país. Profissionais que têm na Educação a bandeira do conhecimento, da cidadania e da transformação social. Talvez o que há de mais belo em ser professor, seja a capacidade de atingir transformações individuais em cada aluno, e, ao mesmo tempo, processos interessantes que podem mudar a sociedade para melhor. Professores são agentes orgânicos de renovações sociais e de cultura. Semeiam e revelam cultura.
Vamos, então, conhecer um exemplo disso voltando os olhos para a história da cidade? Trata-se de um projeto inovador nos anos 1930, encabeçado por um advogado e jornalista, mas que antes de tudo fora professor; dr. Osório F. da Rocha (1885-1976).
Na década de 30, Barretos era dotada de um Grupo Escolar (estadual) para ensino primário e instituições particulares de ensino, mas não possuía “ensino secundário” gratuito (similar ao Ensino Fundamental II) para crianças maiores de 10 anos. Para barretenses continuarem seus estudos após o “primário”, era necessário procurar instituições de outras cidades. Foi o dr. Osório Rocha, João Baroni, Jerônimo Barcellos e outros aliados, os responsáveis em criar a “Sociedade Escolas de Barretos” (SEB) em 1930 e através dela fundar o primeiro ginásio municipal em 1931.
A palavra mais cabível àquele momento é “luta”, visto que Osório deixou registrado em suas “Reminiscências” os tortuosos caminhos que percorreu para conseguir fundar a SEB e viabilizar o ginásio para Barretos. Autoridades municipais não prestavam auxílio, alguns diziam que não era necessário pelo fato da vizinha Bebedouro já possuir o tal “ensino secundário”. Assim ele contava: “Escrevi artigos, fiz discursos, versos, procurei um e outro, [...]. Nada disso impressionava, nada abalava o cimento armado da indiferença, do egoísmo, da apatia barretense (Reminiscências, Vol 2, p. 120).
Quais outros mecanismos Osório Rocha e os aliados da SEB tiveram que articular para conseguir a instalação do curso ginasial na cidade? Veremos na próxima semana.

quarta-feira, 10 de outubro de 2018

30 ANOS DA CONSTITUIÇÃO CIDADÃ

PELA PROFª ESP. KARLA ARMANI MEDEIROS, EM 10 DE OUTUBRO DE 2018, NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS", PÁGINA 2

Ulisses Guimarães com a Constituição de 1988 - foto da Revista Época
    
            No dia 5 de outubro, a Constituição Cidadã completou 30 anos de promulgação. Três décadas concluídas justamente na semana de uma conturbada eleição presidencial no Brasil. Na qual, mais uma vez, a “polarização” foi vista não só no resultado do pleito presidencial, mas também no discurso das propostas dos presidenciáveis e no resultado eleitoral por região. Uma conturbação que também sacudiu o Congresso Nacional com a ascensão de partidos menores, tanto da área conservadora quanto da progressista.
            Diante tal cenário, a comemoração dos 30 anos da nossa constituição democrática não poderia vir em melhor momento. Isso porque, mais do que seus importantes conceitos do Direito, é cabível agora um retorno ao contexto histórico da elaboração de nossa “lei suprema” de 1988. Por um único motivo: relembrar os brasileiros que aqueles direitos individuais propostos, analisados e aprovados pelos 559 congressistas foram conquistados mediante algo que naquela época era novo no Brasil: a democracia.
            No ano de 1988, a política brasileira ainda se expurgava dos 21 anos do regime ditatorial finalizado com o último presidente militar em 1985. Era necessário criar uma Constituição que redemocratizasse a política e garantisse os direitos individuais dos cidadãos. Presidida pelo deputado paulista Ulysses Guimarães, a Assembleia Constituinte promulgou a carta constitucional com nove títulos, cujo teor abrangia não só a democracia, bem como atingia setores sociais antes marginalizados, como as mulheres, analfabetos, índios e quilombolas. Democracia e integração, pareciam ser a sua bandeira.
            O que nós precisamos reconhecer é que a Constituição de 1988 é a sexta de regime republicano. Em outras palavras, na história da República no Brasil outras cinco cartas constitucionais foram “facilmente” derrubadas. Então, quem garante que nossos direitos ali prescritos estão protegidos de forma permanente? Somente a continuação do exercício da democracia nos permite essa garantia. Que saibamos valorizá-la, pois essa democracia hoje é rotineira, mas há 30 anos era uma bandeira de luta. E que luta!

quarta-feira, 3 de outubro de 2018

DESDE SEMPRE, CATIRA!


PELA PROFª ESP. KARLA ARMANI MEDEIROS, EM 3 DE OUTUBRO DE 2018, NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS", PÁGINA 2


Grupo "Espora de Prata"- fotografia no site de O Diário

             Qualquer barretense que se depara com uma apresentação de catira, de imediato identifica aquela dança e ritmo popular como pertencente à cultura da cidade. Isso porque, até hoje vemos e ouvimos a catira em rodas de música, eventos públicos ou qualquer acontecimento que envolve cultura popular, comunidade e tradição.
            A origem da catira, também conhecida como “cateretê”, remonta à influência indígena, africana e europeia – devido à miscigenação dos povos no Brasil colonial. É uma dança tradicional de várias regiões interioranas do centro-oeste e sudeste, mas em São Paulo é mais conhecida devido a história dos boiadeiros, lavradores e bandeirantes.      E, claro, que Barretos - conhecida zona da pecuária nacional desde os séculos XIX e XX – abrigou a catira como identidade cultural. Algumas fontes históricas comprovam essa antiga relação, como por exemplo a citação de Osório Rocha em seu “Barretos de Outrora” (p. 136) sobre a prática da catira no arraial desde o século XIX. Assim como uma nota social do jornal “O Sertanejo”, que, ao anunciar um casamento, elencava a catira e sua viola como aparatos de alegria na festa: “à noite, finalmente, organizaram-se alegres e variadas diversões, que constaram de jogos e danças, inclusive o retumbante CATIRA ao som da viola popular, e as quais se prolongaram na melhor ordem e geral contentamento até à manhã do dia seguinte” (30/11/1902, p. 3). Até em casamento!
            Extremamente ligada à realidade sertanista de Barretos, desde quando os moradores viviam naqueles distantes anos “1800 e tantos”, a catira tornou-se parte da cultura local. Não só pelos animados passos de dança pareada, mas por envolver a música da viola popular, a vestimenta dos lavradores e boiadeiros e todos os comportamentos de uma comunidade que expressa na dança e nos dedilhados da viola sua própria estirpe.
            Hoje em dia, Barretos ainda conta com apresentações de catira em eventos culturais, como é o caso do grupo “Espora de Prata”. Grupo este, que em toda apresentação, nos faz lembrar de como a catira está em nós desde sempre. E, para sempre.

quarta-feira, 26 de setembro de 2018

MEMÓRIAS DA VIDA

Já entrevistei bons personagens da história da cidade. Muito me orgulho disso!
ARTIGO PUBLICADO  PELA PROFª ESP. KARLA ARMANI MEDEIROS, EM 26 DE SETEMBRO DE 2018, NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS", PÁGINA 2

            Hoje, reservo-me no direito de escrever em primeira pessoa. A justificativa de tal “ousadia” é por pretender falar sobre sentimentos. Sobre pessoas. É certo que nestas poucas linhas, sempre me atrevo a escrever sobre a história da cidade. Mas é por justamente acreditar que a história de uma cidade se faz pela história das pessoas, é que hoje pretendo uni-las: a cidade, o passado e as pessoas.
            Semanas atrás, procurou-me um senhor, já octogenário, muito inteligente, vivaz e de excelente memória. Munido de fotografias, registros de todos os tipos e fresca memória, sua intenção era obter minha ajuda – como  historiadora – para escrever um livro sobre sua vida. Vida essa que perpassava a história política de Barretos, bem como aspectos do esporte, filantropia, educação, etc. Infelizmente, não pude ajudá-lo, já que estou afastada de diversas atividades por causa da maternidade, de meus filhos pequenos.
            Ofereci ajuda básica, como leitura do material já previamente pronto, revisão de texto (algo que daria para fazer em casa). Mas foi nítida sua decepção. Ele precisava de ajuda na escrita do computador, coleta de informações, roteiro de escrita e organização do material. E eu, mesmo empolgada com sua história, justificando repetidas vezes a fase difícil na qual me encontro e indicando outros colegas, não pude ajudá-lo.
            Diante disso, fiquei pensando... quanto material (físico e oral) a história da cidade perde quando não registra as memórias dos mais velhos? Quanto a própria família desses idosos perde em não ouvir a sua experiência pessoal e conhecer a contribuição dos mesmos à cidade? Seria tão bom se netos não só ouvissem seus avós, bem como registrassem o que eles viveram para poder contribuir à identidade e história do lugar em que vivemos.
            Espero que minhas indicações sejam usadas para que este senhor mantenha viva sua história, tão rica também à cidade. E que não só ele, como qualquer barretense mais velho, seja reconhecido como importante fonte de vida e memória na própria família!

quarta-feira, 19 de setembro de 2018

(UM POUCO DE) BARRETOS EM 1918

ARTIGO PUBLICADO  PELA PROFª ESP. KARLA ARMANI MEDEIROS, EM 19 DE SETEMBRO DE 2018, NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS", PÁGINA 2

         
Arquivo da Sta Casa de Btos
 Interessante imaginar o cenário da nossa cidade há 100 anos atrás, não é?
Sobre aquele povoado de 24 mil habitantes, poucas fontes ainda existem em arquivos públicos. Especificamente sobre 1918, há alguns exemplares de jornais arquivados na Santa Casa. São eles: “O Commercio” de Cincinato Homem com chefia de redação do Cel. Almeida Pinto e “O Imparcial” de Gumercindo e Jesuíno Ferraz, e José Dias Leme como redator chefe.
Arquivo da Sta Casa de Btos
Ambos jornais apresentavam notícias importantes da cidade (visto a construção da Santa Casa), além de notas sobre viagens, doenças, falecimentos, nascimentos e casamentos de personalidades barretenses e editais públicos. Informações relevantes também são vistas nos anúncios de profissionais liberais e casas de comércio.
Apesar de Barretos naquele momento ser um importante entreposto da pecuária, com diversos invernistas, negociantes de gado e enormes fazendas, percebe-se quão o centro da cidade se traduzia em aparato comercial (e quiçá industrial). Só nestes dois jornais são notáveis anúncios de escola, engenho de beneficiamento de arroz, selaria, armazéns, serraria e depósito de madeira, tipografia, restaurante, loja de semente, loja de instrumentos musicais, farmácia, pensionato, oficina mecânica, oficina de serralheria e ferraria, relojoaria e mercadinho. Sem contar os anúncios de atividades liberais tal qual advogado, professor, médico, dentista, farmacêutico, pintor e fotógrafo. A prática cultural também é vista nos jornais pela programação (interessante!) dos teatros Éden e Santo Antônio, que exibiam filmes e apresentações teatrais. Afora informações sobre circos (exemplo: Circo François) e companhias particulares as quais por aqui perambulavam.
Diante tantos locais e nomes, é possível imaginar um pouco sobre como era Barretos em 1918, pelo menos na realidade do centro da cidade, e quanto à direção que a mesma caminhava rumo ao comércio, recreação, sociabilidade e a urbanidade em si.
Em dois singelos jornais, muito da história da cidade se constrói. É certo que sim.