sábado, 27 de novembro de 2010

APERTOS E DESAPERTOS


            Mulheres, vocês conseguiriam imaginar como seria o nosso dia-a-dia se tivéssemos que usar espartilhos? Em muitas telas de pintores famosos dos séculos XV em diante aparecem mulheres fidalgas dotadas de belos vestidos com uma fina silhueta e um belo colo.  Como outra referência, a literatura brasileira do século XIX também enaltece a mulher sedutora como aquela que era portadora de uma delicada cintura. As novelas de época são outras fontes históricas que ilustram esta condição feminina no universo patriarcal. Junto a tamanha sedução também existe a mentalidade religiosa de outras épocas, então o que pensar a respeito dos símbolos do universo feminino ao longo dos tempos?
            Sabe-se que os espartilhos foram usados por mais de quinhentos anos pelas mulheres e que, em algumas épocas, eles eram peças que as acompanhavam desde a primeira menstruação até a morte. Tanto a composição do espartilho tanto o que ele significava são ícones que mudavam conforme as mentalidades das épocas. Por exemplo, no início, isto é, ainda na Idade Média, a mentalidade religiosa predominava em todos os hábitos dos europeus, inclusive nas roupas. Então, as mulheres usavam por baixo do vestido uma espécie de envelope de couro e panos duros para não moldar suas formas e preservar seus pudores.
            Com o passar do tempo, túnicas com cordões e corpetes amarrados tornaram-se parte do vestuário feminino e aos poucos obrigatórios no guarda-roupa das mulheres abastadas. Estes vestuários eram feitos por alfaiates da época, porém, a história diz que eles não eram nada sensíveis, fato que fez surgir as “corsetières”, mulheres que costuravam os espartilhos e inventavam opções mais leves e novos apetrechos. No Brasil, as mulheres passaram a usar espartilhos a partir de 1808, com a vida da família real, pois, foi neste momento que chegaram as revistas de moda européia. Junto aos espartilhos vieram os chapéus de pluma, as luvas e os sapatos de salto alto, estes artefatos notoriamente remetiam a significados da improdutividade e sedentarismo.
            A moda do espartilho afrouxou-se somente a partir do século XX, quando as mulheres assumiram suas condições de trabalhadoras, muitas vezes porque os homens estavam em guerras. Como trabalhadoras, elas necessitavam de roupas mais frouxas e confortáveis e mesmo aquelas mulheres mais ricas abandonaram o apertado vestuário, já que não tinham mais as criadas para ajudá-las no ritual diário de colocar o espartilho. E assim crescia o movimento em libertação da cintura...
Hoje a condição da mulher esta intimamente ligada com o trabalho externo e com a necessidade de roupas cada vez mais confortáveis e elegantes. Afinal, o que deveria predominar no mundo atual da moda é: ser elegante é estar confortável.

REFERÊNCIA: Revista Aventuras na História, reportagem de Érica Georgino. Nov. 2010.

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO" (BARRETOS/SP), EM 29 DE OUTUBRO DE 2010. 

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