sábado, 27 de novembro de 2010

OS JORNAIS NO SERTÃO


            O que as páginas amareladas de um jornal podem dizer sobre a história dos nossos antepassados? Com certeza, têm muito a dizer. Os jornais de Barretos surgiram desde muito cedo, isto é, com menos de cinqüenta anos da fundação da cidade, e cada um deles representa a respectiva mentalidade da época em que fora escrito. Ao lado dos marcos históricos de cada período, os jornais retratavam os acontecimentos diários da cidade, as tendências políticas e expunha em colunas sociais a vida das famílias tradicionais. É assim que se encaixam as peças do complexo quebra-cabeça que compõem a história que temos em comum: a nossa cidade.
            No início do século XX, os jornais eram, sobretudo, veículos de propagação de ideais políticos. Dominada pelas elites coronelísticas, a imprensa barretense refletia o cenário político de ideais e partidos oposicionistas e, muitas vezes, um jornal nascia da intenção de atacar um líder político. O próprio jornal O Sertanejo, o primeiro a ser publicado em Barretos, em sua natureza era republicano, nos seus três primeiros anos foi dirigido pelo Cel. Silvestre de Lima. Este coronel, por sua vez, escrevia artigos criticando certas políticas dos primeiros anos da República, como exemplo a “política dos governadores” do governo de Campos Sales, e, por isso mesmo, acabou perdendo a direção de O Sertanejo para o líder político oposicionista de Barretos, o Dr. Antonio Olympio. E essa “oposição” perdurou por anos...
            Na década de 20, nascia o jornal O Popular dirigido pelo Sr. Riolando de Almeida Prado, prefeito de Barretos de 1926 a 1930. Este jornal, regido pelos ditames do Partido Popular, em sua primeira edição já tecia críticas à oposição, isto é, ao mesmo Dr. Antonio Olympio. Este, no entanto, possuía como meio de comunicação e disseminação de suas idéias políticas o jornal A Tribuna. E, assim, os líderes políticos usufruíam da imprensa como uma ferramenta de críticas aos adversários e estandarte de suas próprias realizações. Fato que em todas as épocas se repetiu, cada qual a sua maneira, de acordo com as inflexões de seus tempos.
            Com o passar das décadas, a imprensa barretense aos poucos crescia e se diversificava. Segundo os estudos do pesquisador Osório Rocha, até 1950 foram publicados e lançados oitenta e um jornais ou folhas em Barretos. Dentre estes, muitos tinham o compromisso político, outros, porém, serviam como boletins de associações ou anúncios de colunas sociais. Os nomes destas folhas, certamente, ainda são lembrados pelos barretenses de memórias mais vastas e vividas, e as denominações mais curiosas são: A Lágrima (1917), O Ferrão (1922), A Metralha (1927), O Espantalho (1928), O Xilique (1932), Zabumba (1932), O Olho (1933), O Alfinete (1935) e Pepineira (1935).  
            Quantos jornais! Quanta memória! Quantas histórias! Quantos foram perdidos... O que eles têm a nos dizer? Que a imprensa barretense é parte de um contexto político e historicamente denso e que, por isso, merece ser estudada e preservada.

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO", BARRETOS/SP, EM 19 DE NOVEMBRO DE 2010.

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