ARTIGO PUBLICADO POR KARLA O. ARMANI NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" EM 29 DE JULHO DE 2011
Conforme os anos se passam neste século XXI, a história torna-se mais presente na realidade das pessoas, visto que as cidades dos dias de hoje aproximam-se cada vez mais de suas memórias na busca por uma identidade e pela compreensão de sua origem. Nesse sentido, a figura do historiador também se enaltece na sociedade, uma vez que ele é o responsável por traduzir as confusas fontes em textos escritos à comunidade. Mas, no que diz respeito à busca pelas fontes, os caminhos nem sempre são tão retilíneos ao historiador, são na verdade rodeados de curvas tortuosas e dificuldades.
Ser um historiador nos dias de hoje não é de fato algo fácil. O motivo talvez seja a recente regulamentação da profissão, onde os estudos relativos ao passado estão aos poucos adentrando a nossa cultura. Para que o historiador consiga desvendar e resgatar certos acontecimentos pretéritos ele depende, sobretudo, das fontes (documentos, jornais, fotografias, entrevistas e outros), porém, estas nem sempre “caem do céu” direto em suas mãos. Antes existem duas principais dificuldades: uma que está ligada à desvalorização de documentos antigos, que acabam sendo esquecidos ou jogados no lixo, e outra vinculada à excessiva valorização dos arquivos familiares ou de instituições, em que o medo de perdê-los ou de serem mal interpretados resulta na guarda burocrática de tais documentos, que de tão escondidos também tornam-se omissos.
Assim sendo, essas atitudes nos levam a refletir... por que a história pode incomodar tanto? Muitas podem ser as respostas para esta indagação, mas talvez a principal esteja ligada ao fato de que a história possui, simultaneamente, o poder de legitimar e diluir poderes e tradições. A história conforme é orientada pode criar símbolos, dissolver crenças ou mitificar um herói. O fato é que, hoje, os textos que a história produz estão seguindo uma tendência diferente e é isso que as pessoas precisam entender e se acostumar.
A preocupação que envolve o historiador atual, seja qual linha teórica ele segue, e principalmente aqueles que estudam a história local, é a de resgatar o passado se comprometendo o máximo possível com a análise crítica daquilo que as fontes dizem. O respeito pela verdade é sim uma fixação do historiador, entretanto, o profissional sábio é aquele que enxerga que não há como construir uma história fechada, com um passado retamente escrito. A história é uma construção cultural, os fatos que nela são dissertados seguem uma determinada linha de pesquisa e orientação, e sempre é baseada na visão do historiador do presente. A história deve ser respeitada como uma ciência que busca o descongelar o passado, dinamizando-o, e não imitá-lo.
Desta feita, não há o que temer. Na atualidade, escrever história é demonstrar mais como os homens pensavam no passado do que como agiam. Hoje, procura-se entender as práticas, os simbolismos das sociedades, as experiências individuais e coletivas; não existe mais a necessidade de escrever uma história de grandes nomes e feitos. A história não é mais a mestra da vida. Não há mais espaço para uma história que divulga uma visão unilateral, agora, o passado quando revisto pelas lentes nem sempre tão claras do historiador investiga o que há por dentro dos homens e que como eles expuseram para fora.
(Esse artigo foi um desabafo de uma historiadora, do presente).
Um comentário:
Ótimo amiga! como eu já havia dito à você: o texto é muito pertinente com as discussões atuais sobre história. Novos desafios para o historiador se impõe. A grande diluição do mundo globalizado, coloca novos desafios nas interpretações históricas e aguçam a necessidade de explicar as origens dos processos atuais e conferir identificação às populações cada vez mais multietnicas, multinacionais, multiculturais etc, inclusive para a defesa de algo muito caro à nós, o patrimônio histórico, a memória do nosso povo (no nosso caso o barretense). Algo realmente dificil, pois o acesso as fontes é valioso para podermos levar isso adiante, mas "eles" não tem consciência da importância da memória para a vida atual em sociedade, e em um ponto eu discordo de vc: eles tem o que temer! Temem justamente à critica textual, a que vc se refere, no trato com as fontes. Talvez a reprodução gloriosa fosse algo que "eles" não quissesem abrir mão e temorosos do desfecho de uma pesquisadora tão competente como você, acabam omitindo ou invejando os documentos PÚBLICOS,e tão mesquinhamente tratados como pessoais. Eu espero, sinceramente, que o nosso POVO, faça valer o seu direito à memória HISTÓRIA E PÚBLICA e um dia mude a característica árdua do nosso caminho de pesquisadores. Super BeijO!
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