quinta-feira, 25 de agosto de 2011

DE GUTEMBERG À ERA DIGITAL



ARTIGO PUBLICADO POR KARLA O. ARMANI NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" EM 5 DE AGOSTO DE 2011


            Nas reflexões sobre os tempos atuais podemos perceber que está acontecendo a nossa volta uma verdadeira revolução cultural na prática da leitura. Afinal, por mais que a maioria da produção literária seja feita sob a forma de livros, cresce demasiadamente o índice de obras digitalizadas na internet e disponíveis à leitura. Mas, será que a imaterialidade do livro é mesmo algo positivo ao nosso relacionamento com a leitura e a escrita? Vejamos um breve histórico do livro...
            A origem do livro está diretamente relacionada à invenção da prensa na Europa do século XV, uma época de transição entre o pensamento medieval e o mundo moderno. A prensa era um instrumento mecânico utilizado para imprimir livros, seu funcionamento dependia dos “tipos”, que eram pequenas letras do alfabeto esculpidas em madeira, nas quais eram passadas tintas em sua superfície e depois eram comprimidas contra o papel. Foi desta maneira que o alemão Johann Gutemberg (1397-1468) criou prensa de livros no ano de 1440.
            Antes do surgimento da imprensa, os textos além de serem produzidos à mão tinham o formato de rolos, o que impedia uma pessoa de ler e escrever ao mesmo tempo, visto que as duas mãos estariam ocupadas. Com a invenção da prensa por Gutemberg, uma verdadeira revolução cultural aterrissou na Europa, pois além dos livros serem impressos em formato de códex (cadernos em capítulos), era também garantida a publicação rápida dos mesmos, fato que facilitou a acessibilidade da leitura por parte da população. Segundo um texto de Monteiro Lobato da década de 70, na época em que os livros eram manuscritos pelos monges medievais “uma bíblia, por exemplo, custava tanto quanto uma casa. Por esse motivo, existiam exemplares nas igrejas para quem os quisesse ler, mas eram presos a argolas por meio de correntes de ferro, para que ninguém os roubasse”. Coincidência ou não, o primeiro livro impresso por Gutemberg foi a Bíblia.
            Paralelo a isso, nos tempos atuais uma nova revolução cultural orbita a prática da leitura, trata-se de um momento em que os textos estão sendo produzidos, transmitidos e recebidos pelo formato eletrônico. De acordo com os estudos do célebre historiador frânces Roger Chartier, o mundo de hoje se afasta cada vez mais do formato tradicional do livro impresso afim de se aproximar dos textos digitalizados disponíveis na internet. Chartier ainda afirma: “Os textos eletrônicos não tem materialidade, constituem-se em fragmentos não necessariamente dispostos em sequência. Não se tem noção do tamanho final do texto como se tem ao pegar um livro nas mãos”.
            Para determinadas pessoas os textos digitalizados na internet são a melhor forma de se pesquisar, visto que, de certa maneira, podem ser mais fáceis de serem encontrados. Por outro lado, a leitura na internet pode prejudicar o autor do livro, pois ele corre o risco de sua obra em vez de ser comprada, ser na verdade copiada. Entretanto, o que é válido ressaltar, é a nova maneira de leitura e relacionamento com a escrita que o formato eletrônico está trazendo à tona na sociedade, uma leitura fragmentada e talvez nem tão processada pelo leitor. Por fim, ainda existe a opção de se escolher entre o tradicional impresso ou o moderno digital, mas é interessante que pensemos na importância de nossas bibliotecas e livrarias, além do restrito acesso às obras digitalizadas que as pessoas de classes desfavoráveis terão de enfrentar.      

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