quarta-feira, 30 de novembro de 2011

O DESTINO INCERTO DOS IMIGRANTES


ARTIGO PUBLICADO POR KARLA O. ARMANI, EM 21 DE OUTUBRO DE 2011, PELO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" 

            Leitor amigo, você tem sobrenome de origem estrangeira? Quantas famílias você conhece com sobrenomes italianos, portugueses e de outras nacionalidades? Por que é tão comum em nosso ambiente conhecer alguém com estes sobrenomes? A resposta para tais questões certamente está no fato da população brasileira ser um mosaico cultural, isto é, resultado de imigrações e migrações ao longo de toda a história do Brasil. O Estado de São Paulo, em específico, foi a região do Brasil que mais recebeu imigrantes europeus entre os séculos XIX e XX, e a nossa cidade de Barretos está entre as cidades paulistas que se tornaram pólo de atração a estes colonos.
            Em meados do século XIX, o Brasil, país recém independente, possuía como principal produto de exportação e motor da economia o “café”. As fazendas de café avançavam do Vale do Paraíba rumo ao Oeste Paulista num ritmo crescente e os cafeicultores aumentavam sua exportação de modo exorbitante a cada ano, fato que resultou numa busca constante por mão de obra barata e de alto teor de produção. Já pensando como capitalistas, os fazendeiros de café verificaram que a mão de obra imigrante era mais barata que os escravos, visto que o preço do escravo estava alto em razão do fim do tráfico negreiro e a escravidão estava com os dias contados. Deste modo, num processo gradual, o governo brasileiro passou a incentivar a vinda de imigrantes europeus para o Brasil.
            Nos anos 80 do século XIX, foram criadas políticas imigrantistas e propagandas para atrair os sonhos dos europeus que sofriam com a fome, a miséria e o desemprego em vários países, como a Itália e a Alemanha. Assim, o Brasil recebia a cada ano muitas famílias européias, que além de passar dificuldades culturais como a adaptação para o clima quente dos trópicos e o domínio de outra língua, sofriam também com a exploração do trabalho e dívidas que eram criadas assim que aportavam ao Brasil.
            Em Barretos, a história é adaptada para o contexto da pecuária e da indústria frigorífica. O grande número de imigrantes que Barretos recebeu foi em virtude do frigorífico instalado na cidade já na década de 10, uma vez que era necessário contratar operários que de alguma maneira já haviam lidado com manuseio de máquinas industriais. Além dos registros do próprio frigorífico, outro índice que revela o número de imigrantes na cidade é o livro de pacientes internados na Santa Casa de Misericórdia de Barretos. Num período de 10 anos (1921-1931), 15,9% das internações registradas no hospital eram de imigrantes portugueses, italianos, espanhóis, alemães, russos, romenos, sírios, japoneses, entre outros. É interessante ainda destacar, que os lituanos constituíam um grupo de importante expressão entre os imigrantes internados. Além do mais, a principal doença que eles contraíam era o impaludismo (malária) e, vez ou outra, apresentavam esmagamento, cortes e ferimentos.
            Dentro desta breve linha do tempo, podemos entender porque até nos dias de hoje encontramos sobrenomes europeus nas nossas famílias e em demais círculos sociais. A história destes imigrantes é refletida em nosso próprio tempo, afinal a comunidade em que vivemos nada mais é do que a composição de todas estas culturas. Muitos de nós somos ascendentes destes povos que emigraram de seus países e traçaram um destino incerto no Brasil, e boa parte dos brasileiros de hoje é resultado disso.

Fonte: Pesquisa da Santa Casa realizada por mim e discentes da Faculdade Barretos.

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