quarta-feira, 5 de outubro de 2011

A PAISAGEM



ARTIGO PUBLICADO PELA PROFª KARLA O. ARMANI NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS EM 1º DE OUTUBRO DE 2011
  
            Olhar uma paisagem e se identificar com ela é praticamente uma das melhores sensações da experiência humana. Segundo o dicionário, paisagem é uma “extensão de território que se abrange com um lance de vista”, ou seja, é a visão única de um conjunto de cenas. Quando se olha uma paisagem, geralmente procuramos os pontos comuns que nela estão representados, visto que é o conjunto que da harmonia à visão. Deste modo, quando passeamos ao centro de nossa cidade, Barretos, a paisagem dos prédios mais antigos enobrece a nossa visão, no sentido de demonstrar que o passado resistiu ao tempo e está ali para ser lembrado, revisado e visto.
            Nos tempos do início do século XX, Barretos era uma pequena cidade que experimentava a modernidade com o poder aquisitivo dado a sua elite pecuarista. Com as rendas da pecuária e o novo sistema político republicano, a economia girava num salto à frente e isso fazia com que a cidade crescesse no comércio, nas instituições públicas, escolares, culturais, esportistas e etc. Foi neste momento que os grandes casarões dos coronéis começaram a ser construídos, com a arquitetura neoclássica que fazia erguer os olhos de quem passava defronte ao centro barretense.
Os jornais anunciavam o nascimento de um novo prédio urbano como algo extremamente frutífero à cidade e a seus habitantes. Os bairros se modelavam conforme as posições sociais dos indivíduos, bem como a exclusão de determinadas pessoas em espaços destinados somente as classes ditas “diferenciadas”. Os barretenses passaram a consumir produtos de casas comerciais de armarinhos, isto é, lojas que vendiam quinquilharias como tecidos, couros, remédios, alimentos e todos os artigos de necessidades e desnecessidades da época. 
A cidade crescia e todos estes prédios no centro da cidade ali permaneciam, pois o processo de urbanização foi acontecendo ao redor do centro. Porém, a partir da segunda metade do século XX, uma nova onda de modernidade assolava as mentalidades dos brasileiros e muitos daqueles prédios vieram a baixo. A justificativa, nem sempre verídica, era de que os prédios não mais ofereciam segurança e estavam a despencar, além da necessidade de aumento da estrutura destes prédios, visto que a população crescia em demasia. Foi a partir da década de 70, que tudo veio a baixo: o 1º Grupo Escolar, a fonte luminosa e o busto da independência da Praça Francisco Barreto, o 1º prédio da Santa Casa, o prédio do Grêmio, um casarão aqui e outro acolá. Mas, não pensemos que todos os barretenses daquela época foram a favor destas demolições. Verifiquem as palavras de Olivier Heiland numa carta publicada no jornal “O Diário” em 28/3/1972, onde ele lutava para a construção do novo grupo escolar em outro lugar para que o primeiro não fosse demolido: “O 1º grupo escolar já prestou o seu grande serviço durante mais de 60 anos. [...]. Não devemos permitir que o seu brilhante passado, possa ser empanado tendo no futuro a lamentar a nossa falta de visão”.
E nós aqui do futuro lamentamos a sua demolição. E tantas outras demolições que se sucedem no centro da cidade em nome da modernidade, do crescimento populacional, do comércio. É certo que a paisagem não é mais a mesma, entretanto, continua encantando os olhares dos mais sensíveis barretenses que se identificam com a nossa história. Que os habitantes sejam mais conscientes e que o poder público crie leis de preservação de patrimônio, antes que a paisagem se transforme mais uma vez. À paisagem do centro de Barretos, a nossa resistência.

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