domingo, 13 de setembro de 2020

BARRETOS: UM MOISACO DE GENTE

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" EM 27 DE AGOSTO DE 2020 (página 2) PELA PROFª KARLA ARMANI MEDEIROS  

            Zé de Ávila, trovador e poeta, disse em seu “Ode a Barretos”, de 1989: “Não só peões e boiadeiros, / de outros naipes gente havia / por recantos costumeiros / transitando noite e dia”. Uma trova que, pequenina, retrata a amplitude que foi Barretos no passado. Referia-se ele à cidade no início de sua formação urbana, um lugarejo que surgiu de um arraial sertanejo e décadas depois já chamava a atenção nacional frente seu potencial econômico da pecuária. Fator este que justifica a pluralidade da sua gente.

            Barretos é resultado de uma integração de povos, cuja migração aconteceu em fases diferentes. Em 1830, o povoado inicial formou-se pela migração de entrantes mineiros, haja vista a procedência dos Barretos e dos Librina. Mineiros que, transpondo o Rio Grande, abriram picadas de matas virgens dessa ponta nordeste de São Paulo, e fixaram moradia no vale dos ribeirões que hoje cortam os asfaltos do centro. A relação com Minas Gerais ainda se reafirmava no final do século XIX, quando a pecuária já era uma atividade expressiva na recente comarca e as transações com o Triângulo Mineiro estavam veementes. O velho jornal “O Sertanejo” noticiava as idas e vindas de personagens de cá para lá (Frutal, Uberaba, Santa Rita de Sapucaí).

            A mesma pecuária foi fator para atração de outros grupos, vindos de diferentes estados e cidades paulistas, rumo à “Chicago brasileira”. Muitos destes personagens, no início do século XX, eram graduados em universidades e possuíam profissões liberais. Aos poucos, Barretos dotava-se de tipografias de jornais, escritórios de advogados, escolas particulares, consultórios médicos e dentários, ateliês fotográficos e casas comerciais. Não tardou para que esse grupo, alinhado com o republicanismo, tomasse as rédeas da política local, ocupando as cadeiras da Câmara, da Prefeitura e participando das instituições que surgiam. Ao olhar as assinaturas dos artigos de jornais, das atas das entidades e as fotografias amareladas deste tempo, encontram-se sempre os mesmos nomes e rostos. Hoje, estampados como nome de escolas e ruas.

Por outro lado, o frigorífico, de 1913, trouxe para a cidade os imigrantes, servindo-se, principalmente, como classe operária de suas máquinas industriais. Italianos, portugueses, espanhóis, lituanos e romenos, diversificavam ainda mais a mistura social que era Barretos, habitando especialmente o bairro “Outro Mundo”. Os imigrantes também estavam presentes nas atividades liberais, como professores, engenheiros e arquitetos. Aliás, a arquitetura de estilos estrangeiros vigente nos casarões e palacetes centrais era o que modernizava o ar daquela cidade de origem caipira, que tentava marcar sua posição avançada no mapa do estado e do país.

Junto a esta miscelânea de gente, trilhava as ruas de terra seca os peões de boiadeiro, os quais, vindos das comitivas, em seus cavalos e mulas, de chapéus, botas e largas vestimentas, circulavam na cidade, reafirmando o sertanismo local. A figura do peão era constante em qualquer década daquele passado, era o que marcava a identidade da cidade. Tanto que se tornou inspiração para músicas e personagem icônico da primeira festa popular organizada pela Prefeitura para caracterizar a cidade.

            Naquela transição de séculos, Barretos era um local isolado, distante da capital, almejando uma estação de trem, mas já atraente para novos moradores – nossos antepassados. O fato é que, nestes 166 anos, outros tantos momentos serviram como fases de impulso para “novos barretenses”. Barretos sempre será um mosaico de gente, é terra de gente diversa, como já disse o mesmo poeta: “És o lugar bom e lindo / com que eu vivia sonhando / e ao que um dia acabei vindo / e por ter vindo ficando”.

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