sexta-feira, 31 de outubro de 2008

A Esposa e o Coronel

A vizinha cidade de Bebedouro foi fundada em 1884 e também vivenciou o atuante sistema político da época: o Coronelismo. Em poucas palavras, o Coronelismo foi um fenômeno histórico visto em várias cidades do Brasil, a partir do século XIX, onde muitas pessoas eram, por vezes, manipuladas politicamente por uma determinada elite agrária conforme as peculiaridades de cada local.
O caso de Bebedouro é um tanto quanto interessante, na medida em que apresenta uma particularidade curiosa. Segundo os estudos da licenciada em História, Marilena Correia, o mais famoso Coronel da cidade era o Cel. João Manoel, uma personalidade que na época exerceu grande influência e realizou importantes projetos para Bebedouro, como a instituição da Estação Ferroviária da Cia. Paulista em 1902.
Pois bem, todo este cenário demonstra um constante desenvolvimento do município. Contudo, a estudiosa do caso indagou: Quem assegurava o poder do Coronel? Foi então, que percebeu a participação ativa das mulheres como sustentação do poder coronelístico. Aprofundando o tema, notou-se a instituição “Senhoras da Caridade” como um agente de informações para o Coronel. Tal instituição era constituída por sua esposa, Maria Novaes Manoel, e algumas outras mulheres. Deste modo, elas organizavam festividades e passeios afins de sempre estarem atentas à vida social da cidade e, depois, instruir o Coronel, informando-lhe dos mais diversos casos.
Ainda mais interessante é um artigo publicado no primeiro jornal de Barretos, “O Sertanejo”, em fevereiro de 1902, onde o autor escreve sobre as comemorações da inauguração da Cia. Paulista de Bebedouro. Ao descrever os brindes levantados na festa, ele ressalta, in verbis: “Por ultimo fallou ainda a intelligente menina Geny Manoel, filha do Cor. João Manoel, saudando tambem a Companhia. Todos em geral, mas especialmente a ultima, foram, ao terminar, calorosamente, applaudidos.” Esta citação pode ilustrar também os estudos sobre as mulheres, de fato a filha do Coronel fora muito aplaudida, talvez porque tinha forte atividade na vida comum dos bebedourenses, sustentando também o poder de seu próprio pai.
Por fim, um tanto esquecidas pela história tradicional, as mulheres dos tempos passados estão sendo valorizadas pela historiografia das mentalidades. Parafraseando o final do artigo do jornal “O Sertanejo”: “um HURRAH enthusiastico” às mulheres que lutaram, de algum modo, pela política de cada época!

REFERÊNCIA: Apresentação da tese de Marilena de Almeida Correia, na “Semana de História” da FAFIBE – em setembro de 2008 e
Documentos do Museu “Ruy Menezes”.

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